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As coisas malucas e os lugares distantes do ‘Disco do Tênis’ do Lô Borges

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Fotos: Anna Mascarenhas

Nesta edição de Disquecidos, o cantor e compositor Lô Borges relembra sua particular lira dos 20 anos e fala do álbum conhecido pela psicodelia e pela capa com dois tênis brancos  

Lô Borges tinha acabado de fazer o Clube da Esquina, dividindo os créditos com um já conhecido Milton Nascimento, quando recebeu uma proposta da Odeon. A parada era a seguinte: os executivos da gravadora estavam interessados numa estreia solo do moleque de 20 anos que havia composto e cantado músicas como "O Trem Azul" e "Paisagem da Janela". Pra ser lançada ainda naquele 1972, diga-se. Entre surpreso e orgulhoso, o artista belo-horizontino não titubeou e resolveu seguir adiante. Ele assinou o contrato — mesmo sem qualquer canção na manga ou na gaveta — e gravou um álbum que marcou sua carreira. Sim, o autoentitulado mas que acabou ficando conhecido como Disco do Tênis deu muita onda.

E também trabalheira. Há tempos fora de catálogo, sem reedição em vinil e tendo sido lançada no país em CD pela última vez em 2002, a obra nasceu de uma espécie de corrida de obstáculos empreendida pelo músico. Com a ajuda do letrista e irmão Márcio Borges e de uma galera do quilate de Beto Guedes, Toninho Horta, Tenório Jr. e Robertinho Silva, ele em várias ocasiões precisava compor uma canção de manhã e já levá-la ao estúdio à noite. Foi assim que surgiram 15 faixas transbordando psicodelia, surrealismo e espírito estradeiro, tudo misturado a porções de rock progressivo, jazz, folk, forró, hard rock e harmonias vocais à la beatles. "Era uma oficina de criação, existia um forte clima de criatividade. [Mas] Eu ficava estressado às vezes pelo fato de não ter as músicas", diverte-se hoje Lô Borges.

Sentado numa sala de eventos do Matsubara Hotel, em São Paulo, o cantor aproveitou a passagem pela capital paulista pra nos receber e contar uma pá de coisas sobre seu álbum homônimo. O papo sobre o Disco do Tênis, aliás, coincidia com a inédita decisão de tocá-lo ao vivo na íntegra. Se no começo da década de 1970, Lô não botou o repertório em cima do palco porque preferiu largar tudo e fazer um outro tipo de turnê, agora ele o revive nos arranjos originais, interpretados por um azeitado sexteto capitaneado pelo músico Pablo Castro. É pauleira só, como deu pra notar nos shows que rolaram no Sesc Vila Mariana, nos dias 13, 14 e 15 de janeiro, e o homem não vai parar por aí. Além destas, estão previstas apresentações pra celebrar o clássico em Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e outras cidades brasileiras.   

Em nosso encontro, Lô faz agradecimentos, ri de perrengues, conta a história da primeira parceria com Milton e, aos 65 anos, abre suas memórias. Ele fala também de Neil Young, da ditadura, de sumir da gravadora pra só voltar a lançar outro disco solo em 1979, de Dorival Caymmi, da aventura de cruzar o Brasil sendo um hippie e até de como descolou aqueles surrados tênis da capa do disco.

Dá um play aí e escute o álbum pra emendar com a leitura:

Com quantos anos você começou a tocar, Lô?
Cara, eu comecei a tocar com nove, dez anos. Comecei a me interessar pelo violão porque sou de uma família em que meus irmãos mais velhos tocavam. Meu irmão Marilton [Borges] tocava, então, minha casa tinha instrumentos musicais. Lá, aconteciam ensaios de bandas do meu irmão — na época, nem se falava banda, era conjunto — e eu gostava de ver o pessoal tocando. Mas gostava mais quando acabavam os ensaios porque os instrumentos ficavam todos pra mim (risos). Aí eu ficava brincando com os instrumentos, aprendendo os acordes. Comecei meu aprendizado na música pela parte mais difícil harmonicamente, pela bossa nova. Depois, eu virei beatlemaníaco, botei uma palheta na mão pra acordes mais simples, que são as canções dos Beatles. Mas antes [disso] aprendi bossa nova, que era uma outra história, mais complexa e de harmonia muito mais rica do que a música dos Beatles. Acho que isso foi uma coisa boa pra mim.

Tem uma história de que você começou a querer se transformar num artista graças ao cinema. Que filmes foram esses que te inspiraram?
Foi um filme: "A Hard Day's Night" [de 1964 e dirigido por Richard Lester], dos Beatles, que no Brasil se chamava "Os Reis do Iê-Iê-Iê". Eu assisti a esse filme com 12 anos e vi tanta música maravilhosa ali que me tornei beatlemaníaco. Eu entrei na sessão das 14h e saí na sessão das 22h. Fiquei no cinema o tempo todo. Além das canções maravilhosas, dos caras serem lindos fisicamente, com cabelo de franjinha, que não se usava na época, ainda tinha um monte de mulher correndo atrás deles. Olha só que coisa fascinante!   

Ali mudou a chave.
Pra você ter uma ideia, eu já conhecia o Beto Guedes desde os 10 anos de idade. Quando o Milton [Nascimento] e o meu irmão Márcio [Borges] me presentearam com o disco do "A Hard Day's Night", o levei na casa do Beto. Num primeiro momento, ele teve uma reação meio estranha. O Beto [disse] "pô, esses cabeludos aí são viados!" Eu falei "cara, não interessa se eles são viados ou não. Escuta o disco! Depois, você me fala". Na terceira música, o Beto já era mais beatlemaníaco do que eu. Foi amor à primeira vista. Então, 15 dias depois, eu e ele, com 12 anos, montamos uma bandinha, o primeiro cover dos Beatles em Belo Horizonte. Chamava The Beavers. A gente era tão criança que cantava num programa chamado Petilândia [da TV Itacolomi]. Cantava em programas de televisão, de rádio, em almoços dançantes em clubes. A gente teve uma pequena carreira — se os Beatles acabaram meio que precocemente, The Beavers acabaram muito mais precocemente porque minha mãe [Maria Borges, a dona Maricota] condicionava [ir] cantar em programa de TV, de rádio e de auditório a boas notas na escola. Meu irmão Yé, o Marcos [Borges], era do The Beavers também e tanto eu quanto ele não tirávamos boas notas. Aí o Beto Guedes ficou puto com minha mãe! Falou "sua mãe acabou com a carreira de nossa bandinha". Assim The Beavers acabou. Durou um ano e pouco.

E sua primeira composição rolou com quantos anos?
A minha primeira composição foi com 15, 16 anos. Tenho um pouco de dúvida se foi "Equatorial", que eu vim a gravar bem depois, no A Via-Láctea [seu segundo disco, de 1979], se foi o "Clube da Esquina", o "Alunar" ou o "Para Lennon e McCartney". Mas é mais ou menos por aí.

E a primeira parceria com Milton Nascimento?
Foi mais ou menos na mesma época em que tava começando a compor. Eu sentado na esquina [no cruzamento da Rua Paraisópolis com a Rua Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte], e ele já com a carreira sólida, um nome nacional, com "Travessia" [segundo lugar no Festival Internacional da Canção de 1967]. Ele nem morava mais em Belo Horizonte, mas sempre que voltava, ele ia à casa da minha família. Chegava e "cadê o Lô?". "Ah, o Lô tá na esquina, ele não sai de lá, no lugar que eles chamam de Clube da Esquina. O Lô fica o tempo todo tocando violão lá". Um dia, o Milton foi me procurar na esquina e eu tava começando a harmonia da canção "Clube da Esquina". Ele falou comigo: "pô, eu queria tanto tocar junto com vocês. Queria inventar umas coisas com você, mas eu já sou um cara conhecido, tenho vergonha de ficar aqui na esquina. Vamos lá pra casa da sua mãe" (risos). Aí nós fomos pra casa da minha mãe, ele pegou o outro violão, ficamos tocando os dois violões e fizemos a canção. Nossa primeira parceria: "Clube da Esquina". Isso à tarde. No final da tarde, meu irmão Márcio Borges chegou do trabalho e viu o Milton fazendo música com o Lô. Ele ficou tão emocionado que pegou caneta, papel e começou a escrever a letra na hora. E ela retrata muito bem [a situação]: "Noite chegou outra vez/De novo, na esquina/Os homens estão". Então, essa primeira parceria com o Milton foi marcante. Inclusive, tem uma história curiosa. Quando tava anoitecendo, e a letra, ficando pronta, acabou a energia elétrica. E já tava escuro. Meu irmão não conseguia ler o que estava escrevendo e aí minha mãe inaugurou uma profissão que nunca existiu nas artes: iluminadora de letra. Foi a única profissional nisso. Ela pegou uma vela, acendeu e ficou iluminando o papel e a caneta em que meu irmão tava fazendo a letra. Aí ficou pronta a primeira parceria Milton/Lô/Márcio. Naquela época, era muito comum comemorar bebendo e a gente fez isso imediatamente após a composição. Fomos pro bar e tomamos todas!

O tempo passou, o Milton te chamou pra fazer o "Clube da Esquina", vocês gravaram e lançaram o disco. Como é que foi a turnê do álbum?
O disco não teve turnê. Ele teve um pequeno lançamento, que durou menos de um mês, no teatro Fonte da Saudade, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Depois, no mesmo ano, eu gravei o Disco do Tênis. Eu tava apertado de costura porque tinha um contrato pra cumprir, mas cheguei a participar desses shows. Mesmo estando muito envolvido em compor.   

Quando você assinou o contrato pro Clube da Esquina já havia a história de que teria de lançar um álbum solo também ou isso foi uma ideia posterior da Odeon?
Foi posterior. No começo, a Odeon não queria fazer o Clube da Esquina, do Milton Nascimento com um cara absolutamente desconhecido chamado Lô Borges. Eles não queriam aquilo de jeito nenhum! O Milton, que era artista da Odeon, é que falou "se vocês não quiserem, eu vou trocar de gravadora. Vou fazer uma proposta pra outra gravadora". Aí os caras falaram "não, nós não podemos perder o Milton. O Lô Borges vem por acréscimo nessa história". Mas os caras ficaram surpresos com o resultado porque eles viram que minhas músicas eram bacanas, bonitas, interessantes. Eles gostaram tanto da minha participação que me ofereceram um contrato. Só que foi uma coisa meio precoce. Quando fiz as músicas do Clube da Esquina eu tava começando a minha vida de compositor. Não tinha repertório suficiente pra fazer um álbum de inéditas. Tanto que o Disco do Tênis foi uma correria do caramba porque eu compunha a música de manhã, meu irmão [Márcio] fazia a letra à tarde, e à noite eu ia pro estúdio e me juntava aos músicos, meus amigos, que tavam gravando comigo. A gente fazia o arranjo, um pequeno ensaio e gravava. Foi uma maratona.        

Como era o ambiente no estúdio? Era meio caótico?
Era uma oficina de criação. Porque veja só: de manhã, eu não tinha música. Aí fazia a música. De tarde, fazia a letra. E eu chegava e mostrava a música pro pessoal aprender, pra gente criar os arranjos juntos, tudo na hora. Então, existia um clima de criatividade forte, mas também um clima caótico mesmo. Tipo "pô, o que vamos fazer com essa música?". Eu estava apresentando umas músicas meio malucas, complexas, bem diferentes do que eu apresentei no Clube da Esquina, que eram canções mais palatáveis. O Disco do Tênis é meio experimentalista. [Havia] Canções de um minuto, faixas de 30 segundos. Mas o pessoal cooperou muito comigo. Eu tenho agradecimentos a fazer a essa turma: ao Beto Guedes, ao Toninho Horta, ao Novelli, ao Nelson Angelo, ao Tenório Jr., ao Sirlan [creditado na ficha técnica do disco apenas com seu sobrenome, De Jesus], ao Vermelho, ao Flávio Venturini. Esses caras ficavam à minha disposição. Quando eu chegava no estúdio, já estavam todos me esperando assim: "Qual é a que o Lô vai apresentar hoje? O que nós teremos?". Foi muito criativo o Disco do Tênis, foi desafiador, me botou pilha pra caramba. Eu ficava estressado às vezes, pelo fato de eu não ter as músicas, de ter essa obrigação de fazer a música de manhã e a letra à tarde. Mas vejo o resultado e foi um disco inovador, que apontou pra várias tendências. Eu fui psicodélico, roqueiro, baião, eu fui um monte de coisas nesse disco. Uniu muitas facetas de um compositor. É um disco plural. O Clube da Esquina tem uma coisa mais parecida, de baladas; o Disco do Tênis, não. É um álbum um pouco hermético. Já vi as pessoas chamarem de nostálgico, de tristonho. Já vi vários adjetivos, mas todos falam que é um disco inovador.

Vamos falar do processo criativo e das faixas do disco propriamente. A primeira canção, "Você Fica Melhor Assim", é um rockão, mas o álbum também tem forró, faixas instrumentais, influência de jazz. Além de Beatles, o que você tava ouvindo na época?
Uma coisa que as pessoas se surpreendem comigo é quando falo que ouvia muito Beatles e Chico Buarque. Nessa época, eu também ouvia Jimi Hendrix, ouvia pra caramba o Axis: Bold as Love. Curtia Crosby, Stills, Nash & Young — o álbum deles que eu mais escutava era o 4 Way Street. Ouvia o trabalho do Crosby, Stills & Nash sem o [Neil] Young. Gostava dos discos do Young, do Harvest e de outros. Curtia Emerson, Lake & Palmer. E do Brasil, ouvia a Tropicália, as coisas do Caetano, do Gil, do Milton. E também escutava Yes — acho maravilhoso o The Yes Album.

Agora, queria que você falasse um pouco de "Canção Postal", sua única parceria no disco com Ronaldo Bastos.
É uma canção feita um pouco nessa pilha, de ter que fazer uma canção. Ainda bem que tava inspirado! Fiz uma canção de manhã, aí mostrei pro Ronaldo. Não gravei no mesmo dia porque acho que o Ronaldo não gostaria de fazer essa pilha de compor a música de manhã e a letra à tarde. Gravei um cassete, entreguei pra ele e me devolveu com a letra alguns dias depois. Não podia ser uma semana depois, já que a gente não tinha muito tempo pra gravar o disco. Aí fiz uma canção que considero bonita. Uma vez, encontrei com o [Gilberto] Gil, e ele falou "pô, gostei muito do Disco do Tênis. Principalmente, de 'Você Fica Melhor Assim' e de 'Canção Postal'". Ele fez um elogio pra mim.

No disco, também tem um certo clima sombrio. Na faixa "Homem da Rua", você canta "O incêndio calado no homem que passa por mim". Isso tinha a ver com a ditadura?
Totalmente. A ditadura era uma coisa muito barra-pesada. Era sanguinária: amigos sendo presos, amigos sendo mortos. Havia um clima de nenhuma liberdade individual, não se respeitava nada. Eu fiz esse disco tomando prensa da polícia porque era cabeludo — a polícia prendia os cabeludos. Na época, se morassem mais de três pessoas numa casa, já era célula terrorista... Tanto o clima do Clube da Esquina quanto o do Disco do Tênis era de intimidação da ditadura em cima das pessoas que usavam cabelo grande ou que se reuniam pra tocar. Eles odiavam os músicos porque sabiam que os músicos os odiavam também. E eles odiavam os artistas. Então, o clima de ditadura contaminou um pouco o meu texto no Disco do Tênis. Eu falei tudo por metáfora, mas no "Homem da Rua" eu falo "o estranho silêncio na rua" porque não podia se manifestar, não podia ter manifestação. As viagens eram todas pra dentro, interiores. Cito [também] a canção "Como o Machado", em que a letra é absolutamente desesperada: "Por que ando triste?/Eu sei/É que eu vivo na rua/Espera um pouco mais...". Quando fui fazer o show agora, eu não queria cantar o texto dessa letra porque a minha cabeça é outra, a ditadura se foi. Mas cheguei à conclusão que deveria cantar do jeito que ela é mesmo. Hoje, temos um Brasil conturbado, confuso. O Brasil tá sempre passando por problemas. Mas a ditadura foi o pior dos problemas que tivemos. Eu asseguro a você.

"Não Foi Nada" é um baião envenenado e todo mundo cita os versos "Sonhei que eu nunca existi/E vi que eu nunca sonhei". De onde veio a ideia pra letra? Tem algo de surrealismo?
Eu acho que tem. A música se chama "Não Foi Nada", e a letra é "Sonhei que eu nunca existi/E vi que eu nunca sonhei". Tem gente que compara com o "penso, logo existo" [de René Descartes]. É algo que não sei definir, mas achei que seria a única coisa que caberia no texto dessa música. Tá dizendo "poxa, eu acho que existo" (risos). "Penso, logo existo." E a última coisa que fiz foi colocar o nome. Na hora em que vi "sonhei que eu nunca existi/E vi que eu nunca sonhei", falei "Não Foi Nada". O título é a conclusão que cheguei: "Não Foi Nada".

"Pra Onde Vai Você" é uma vinheta progressiva, de só 38 segundos. Quando começou o disco, você queria fazer algo nesse estilo, conciso, mas cheio de ideias?
Eu queria fazer uma coisa cheia de ideias. Como não conseguia fazer música religiosamente todos os dias, tinha vez que eu ia pro estúdio e fazia vinhetas, que compunha ali na hora mesmo. Eu gosto dessa vinheta, da guitarra do Beto Guedes, da harmonia. Acho que tudo no Disco do Tênis é meio inovador. Pra mim, não tô dizendo pra música. Às vezes, eu pensava "como é que eu fiz isso? De onde é que tirei isso?". Eu me perguntei o Disco do Tênis inteiro. Eu mesmo não sabia de onde é que tava tirando umas músicas.    

Onde você conheceu Danilo Caymmi, que tocou flauta em "Calibre"?
Conheci Danilo Caymmi através do Milton. Fui morar no Rio de Janeiro, com o Milton, pra compor as músicas do Clube da Esquina e aí conheci vários amigos dele. Inclusive, tive a honra de o Bituca [Milton] me levar na casa do Dorival Caymmi. Eu toquei o "Um Girassol da Cor de seu Cabelo" no violão do Dorival Caymmi pra ele próprio, o Algodão, como o pessoal o chamava. Toquei, e ele falou "linda canção, menino!". Agora, o Danilo é um cara maravilhoso. Quando fui à casa do pai dele, ele tava também. No Clube da Esquina, ele também tava. Então, era um cara que encontrava nos shows do Milton, no Teatro da Praia, ali em Ipanema. Ele não participou do Disco do Tênis o tempo todo eu não sei por quê. Nesse dia [da gravação de "Calibre"], ele apareceu e cabia uma flauta. Olha a coincidência das coisas: cabia uma flauta nesse dia.         

E o irmão dele, Dori Caymmi, fez o arranjo orquestral de "Faça seu Jogo".  
Ah, sim, eu tive na casa do Dori [Caymmi] e mostrei pra ele a música "Faça seu Jogo". Ele gostou muito e fez o arranjo, que eu considero primoroso. Ele escreveu uma outra música em cima da melodia de "Faça seu Jogo": [Lô começa a cantarolar, imitando o arranjo orquestral] "pambambambampam pambambambampam pambambambampam". Isso é uma outra música! O arranjo dele é tão inspirado que ele fez uma outra composição. Eu considero o arranjo dele um apoio pra minha composição, mas é também quase uma outra composição. Se você tirar minha melodia e deixar só o arranjo dele, já é uma música.   

Você levou a música já com a intenção de ele fazer o arranjo ou só foi mostrá-la a um amigo?
Não, eu fui à casa dele com a intenção de que fizesse o arranjo. Fui lá bater na porta já pedindo "quero que você faça um arranjo pra mim". Ele foi supergeneroso e fez um arranjo maravilhoso.

Quando escuto "Faça seu Jogo", eu penso em rock rural, em On the Road , do Jack Kerouac. Poderíamos ver nela uma síntese do momento que você estava passando?
Quando eu estava gravando o Disco do Tênis, teve um período em que fui a Belo Horizonte. Eu tava gravando no Rio, só que eu queria que tivesse composições de piano no álbum, e a casa em que eu tava morando — do meu irmão, Márcio [Borges] — não tinha piano. Aí fui pra Belo Horizonte, passei 20 dias lá e fiz quatro composições no piano. Uma foi "Faça seu Jogo". Eu vou falar uma coisa pra você que não falei pra ninguém. Eu fiz a música como se estivesse tocando alguma coisa do Neil Young. Minha influência pra composição era o Neil Young, de quem sou completamente fã. Principalmente, daquela fase inicial dele. Era tão maravilhoso. Então, eu fiz "Faça seu Jogo" muito na praia do Neil Young. Não sei se consegui, mas a intenção era fazer uma coisa próxima dele tocando piano.

"Não se Apague esta Noite" é uma balada, cheia de violões, que, de repente, ganha uma roupagem jazz. Você a compôs pensando em free jazz ou rock progressivo? Como veio a ideia pra aquela mudança de andamento?
Aquilo foi inspiração mesmo. Eu fiz uma balada e, no final, senti que podia entrar uma coisa com outro pique pra encerrar a música. Foi totalmente intuitivo. Na hora em que terminei a balada, [Lô bate palmas e cantarola o início da parte jazz] "tamtamtamtamtamtamtam". Isso veio da inspiração mesmo, não foi uma coisa que pensei "ah, agora vou fazer uma coisa mais jazzística". Nada é pensado no Disco do Tênis; é tudo intuitivo. Tudo que tá ali é intuição, é catarse criativa. Tudo acontecia intuitivamente e fui seguindo minha intuição o disco inteiro.   

Sobre o que é "Aos Barões", Lô?
Se a gente for pegar a letra, que é minha, "Uma rua/Um buraco/Ficam sentadas/Umas pessoas/E eu fico vivendo com elas/E a gente é a paisagem", é o retrato do que a gente vivia. Porque a gente — eu e meus amigos de Santa Tereza, em Belo Horizonte — se tratava de "barão". "E aí, barão? Vamo ali, barão? Tudo certo, barão?" Era tratando a coisa das pessoas da minha geração, que gostavam de fumar um baseado na rua. Quanto à composição, eu acho uma coisa bem original. Na parte musical, acho que o único cara que faz uma canção daquela é o Lô Borges, entendeu? Ela é bem loborgiana mesmo.

Já "Eu sou como Você É" é uma das suas canções mais lembradas e me faz pensar em família.
É totalmente família porque, conforme falei pra você, eu fazia as músicas de manhã, o Márcio Borges chegava e fazia as letras à tarde, e a gente gravava à noite. Mas teve um dia em que fiz a música de manhã, o Márcio não chegou à tarde, e eu tinha gravação à noite. Aí fiz a letra em homenagem a ele: "Meu irmão, eu sou/Como você é/Saí do mesmo escuro". "Mesmo escuro" ficou bem evidente que era o útero da minha mãe, né? (risos) Então, é uma música totalmente familiar, em homenagem ao meu irmão. Fiz uma letra de amor pro meu irmão. Eu sou como você é, Márcio Borges.

Depois que o "Disco do Tênis" saiu, você caiu no mundo.
Totalmente. Precisava disso.

A ideia era evitar que a música virasse um negócio?
Eu me senti muito sufocado porque, pra fazer o Clube da Esquina, eu tive tempo pra compor [ele, Milton e Beto Guedes se hospedaram por quatro meses numa casa, em Niterói, no Rio, apenas pra fazer as músicas do álbum], mas pra fazer o Disco do Tênis, não. Com 20 anos de idade e fazendo música de manhã, letra à tarde e arranjo e gravação à noite, você há de convir que é uma coisa meio sufocante pra um cara que era pouco mais que um adolescente. Então, quando terminou o Disco do Tênis, eu falei "pois bem, a primeira coisa que vou fazer é não botar minha cara na capa. Vou colocar um tênis pra simbolizar que quero uma vida libertária, que quero estrada, que quero virar hippie". Foi o que eu virei. Acabou o Disco do Tênis, sumi do Rio de Janeiro e das gravadoras. Não queria saber de produção musical. Eu queria saber de ir pra Arembepe [no município de Camaçari], na Bahia, fumar maconha com os hippies. Aí virei hippie. Foi a melhor coisa que fiz na vida: fazer um hiato na minha carreira. Porque ia enlouquecer se tivesse que fazer um disco a cada ano, com 20 anos de idade. Fui pego de surpresa com esse contrato de fazer um disco em que botei o tênis na capa. A gravadora deve ter detestado essa capa. Falou: "pô, esse cara é maluco." E mais do que isso, eu sumi da gravadora. Se eles quisessem divulgar o disco comigo, eu não estaria disponível porque tava em Arembepe com os hippies. Eu abandonei a carreira. A verdade é essa.

Você foi pra Porto Alegre também, né, Lô?
[Faz um joia enquanto bebe água] Eu não fui só pra Arembepe. Viajei pra vários lugares do Brasil, entre eles, Porto Alegre. Eu tinha uma cota de discos, pra divulgação, e chegava nas rodinhas de violão, nas praças onde estavam os hippies da cidade, me juntava a eles e começava a tocar violão. Falava "ah, eu fiz o Clube da Esquina", mas ninguém conhecia direito ainda o Clube da Esquina. E muito menos o Disco do Tênis. Aí eu saía distribuindo cópias. A minha divulgação era assim: chegava na rodinha de maconheiros e dava o Disco do Tênis pros caras (risos). Foi minha divulgação underground.

Você foi pra Belém também.
Pra Fortaleza, pra vários lugares. Rodei o Brasil, sempre de ônibus. Eu era um cara duro, não tinha dinheiro pra pagar passagem aérea. Chegava nos lugares, ficava em albergue, acampava em praia ou em comunidade hippie. Procurava os cabeludos pra saber onde é que eu ia me hospedar. Eu falava "onde é que estão os cabeludos dessa cidade?" (risos) Caí na estrada.  

Numa entrevista, você chegou a dizer que sua estreia é "um disco de malucos pra malucos". Como vê o disco hoje?

Eu continuo achando isso, um disco de malucos pra malucos. O Disco do Tênis nunca vai perder essa coisa de ser meio lisérgico, meio maluco, meio histriônico. Você sai de uma balada, entra num baião, cai no "Pra Onde Vai Você", que tem 38 segundos, vai pra uma faixa como "Toda Essa Água", que é a última do álbum. É um disco de maluco e eu não sei qual sensação as pessoas têm ao ouvir em casa. Porque nem todo mundo é maluco igual eu sou, entendeu? Vou até dizer uma frase que meu filho de 18 anos, o Luca, falou pouco tempo atrás, quando ele tinha 10. Perguntaram a ele "o que você acha das músicas de seu pai?" Aí ele falou uma coisa que acho perfeita pra definir minhas músicas. "Meu pai faz coisas malucas, de lugares distantes." (risos) Acho que o Disco do Tênis é que são coisas malucas, de lugares distantes.

E a foto da capa? Foi uma ideia coletiva?      
Na ficha técnica, quem assina a produção da capa é o Cafi e o Ronaldo Bastos. Mas a ideia de botar o tênis na capa foi minha porque não queria fazer um disco em que pusesse minha cara. O tênis foi fotografado pelo Cafi [o mesmo fotógrafo da capa de Clube da Esquina. Não sei o que o Ronaldo e o Cafi vão achar dessa minha fala, mas assumo totalmente a ideia de botar na capa meu par de tênis. Pra mim, simbolizava um abandono da carreira naquele momento.

É um Adidas, né?
É um Adidas. Quando eu adquiri esse tênis, ele já não era novo. Era de um primo meu, que foi passar uns dias no Rio, onde eu morava. E aí eu falei "pô, que tênis bonito, Sergio!". E ele respondeu "gostei muito de uma camisa sua ali". Naquela época, se usava trocar coisas, né?

Rolou um escambo.
[Lô gargalha] É. Aí eu falei "pô, me passa esse tênis aí que eu te passo aquela camisa que você gostou". Foi uma coisa assim. Agora, esse cadarço de barbante de enrolar [saco de] pão eu não sei de onde é que eu tirei, não. Acho que quando peguei o tênis, ele já tava bem detonado.


O boombap rege os caminhos da nova beat tape do baiano Dr. Drumah

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Foto: Heder Novaes/Dilvugação

Buscando referências na era de ouro do boombap, o produtor e baterista Dr. Drumah aka Jorge Dubman chega aqui no Noisey com mais um álbum preenchido por uma sequência de raps instrumentais da mais pura elegância rueira. Como o título sugere, 90's Mindz é um trabalho totalmente influenciado pelas produções da saudosa década em que o jazzy hip hop mostrou sua força.

O novo disco é resultado da pesquisa de timbres e samples que o produtor desenvolve atualmente e de um processo cuidadoso de escolhas de temas, climas e ordens que narram toda uma história através das batidas. Trata-se de um trampo imagético que traz à mente cenas de Spike Lee, clipes do Yo! MTV, vídeos de skate e outras referências do original hip hop.

E num momento em que o rap por aqui parece andar meio esquecido de como é bom ouvir uns scratchs e colagens, seja entre rimas ou em músicas instrumentais, Drumah não se permitiu dar esse vacilo. "Como eu já planejava desenvolver essa atmosfera 90's no disco, não poderia deixar de ter um DJ parceiro, então convidei meu amigo DJ Sense, que é um verdadeiro turntablist de Belo Horizonte. A gente já havia trabalhado junto no EP do MC Monge e dessa vez ele inseriu scratchs em quatro músicas do disco", revela.

Já tendo assinado batidas de MCs e grupos de diversos países, ele reconhece que a valorização da importância do trabalho beatmaker no Brasil ainda deixa a desejar. "Eu percebo que lá fora o rap instrumental é mais bem aceito. Existe uma cena de batalhas de beats, sessões live com beatmakers e o respeito pelo trabalho de quem faz as batidas é diferente. O público só vai assimilar melhor essa vertente do rap aqui quando as mídias, os eventos e os próprios MCs também derem mais valor e oportunidade a essa arte", opina.

Além do lançamento digital que você confere aqui, 90's Mindz também vai ganhar vida em formato cassete, bastante comum na gringa entre os admiradores do rap instrumental. "Eu conversei com o Sono TWS (Beatwise Recordings) sobre a intenção de lançar esse trampo em fita cassete e ele fez a ponte para que isso se tornasse possível com o pessoal do selo 77 Rise Recordings, que é de Los Angeles e tem essa cultura de lançamentos nesse formato", conta Drumah. Em breve, uma cota de fitinhas chega no Brasil e você já pode chegar no contato nas redes dele se quiser reservar a sua.

O novo álbum do Obama Lee Baden dá sequência à sua miscigenação musical

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Depois de propor um amálgama de bass music com ingredientes afro, bossa-nova, samba e hip hop no EP Afro Sam Bass, o experimentador musical Obama Lee Baden dá sequência à ideia iniciada lá atrás e segue com a proposta. Alma, percussão e groove se entrelaçam mais uma vez em seu novo álbum, sem nome – ou "homônimo", como curtem dizer por aí quando um disco não tem batismo –, feito de recortes, texturas, vozes e instrumentais. São oito faixas construídas com "empréstimos" de artistas como João Bosco, João Nogueira, Alice Coltrane, Thaíde & DJ Hum, Rage Against The Machine, e até trechos de filmes, como o interlúdio extraído do longa-metragem Estamos Juntos (2010), de Toni Venturi, e a fala tirada de Timbuktu (2010), dirigido por Abderrahmane Sissako.

Ele mesmo não consegue indicar muita diferença conceitual do Afro Sam Bass ao presente trabalho. "Como as músicas foram mudando durante o processo, acho que acabaram ficando mais ou menos com a mesma pegada", diz. "Talvez a diferença seja que esse é menos dançante e mais contemplativo, já que, inicialmente, a música que amarrava tudo aqui era 'Nuvem'." O próprio artista se encarregou dos recortes e reassociações sonoras, gravou e produziu tudo praticamente só. Ele contou com participações especiais apenas no trompete e no vocal, funções para as quais recrutou os mestres Luizinho Nascimento e Baobá Nagô, respectivamente.

"Os dois foram indicação do Wagner Bagão (Dubalizer), o cara que me ajudou nessa mix/máster", destrincha. "Ouvi o trampo dos caras e a sintonia foi imediata. Eles toparam a empreitada e agora tô aí, todo orgulhoso da parceria. Ficou bonito demais!", comemora felizão o resultado. As vozes foram captadas no estúdio Audiofya, e, os sopros, na casa do Luizinho. O resto foi tudo na casa do Obama. Ele contou que o processo foi bem demorado, tem música no play cujo primeiro rascunho data de 2011.

"A mixagem começou em novembro de 2015, mas aí durante essa fase surgiu 'São Paulo', que antes tinha outro nome", explica. "Fiz tudo numa noite só. Aí no dia seguinte eu ouvi e pensei: 'essa tem que entrar'. E, como durante a composição eu já tava imaginando ela cantada, não tinha como ser instrumental, senão eu ia me arrepender pra sempre. Então segurei o disco até conseguir a letra, e nisso foram-se muitas noites e dias. Meses, praticamente!".

Mete o play pra sacar como ficou:

Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #19

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Oi turma.

Trago aqui pra vocês mais uma listinha cheia dos lançamentos dessa semana. Se na semana passada teve várias PORCARIAS, essa semana tamos cheios de discos bem TOP. O que complica bem minha vida a nível de crítico de lançamentos, porque se fosse vários #singles top dava pra falar de um monte de coisa. Mas não... foram vários #discos top. #Discos top leva mó tempo pra ouvir legal.

Então tem bastante coisa aí, mas menos do que eu gostaria. Se eu fosse ouvir tudo que eu gostaria o SEXTA LANÇAMENTOS só ia sair na segunda-feira. E aqui na NOISEY nós levamos os prazos a sério.

Porque o importante é você, leitor.

Eu te amo.

Vem com a gente:

----BOAS BEM BOAS DA SEMANA----

Murs - "Lemon Juice"
Agora sim temos um rap com excelente base melódica de altíssimo nível. Os cara fala legal. Eu não sei o que eles falam, mas falam legal.

New Kids On The Block - "One More Night"
Formação original do NKOTB com irmão do Mark Wahlberg, Jordan Knight e os caralho fazendo um belo popzão de qualidade que nem lembro mais qual foi a última boy band #qualidade mesmo que ouvi. Parabéns pros vovôzinho aí.

Father John Misty - "Total Entertainment Forever"
Essa semana eu vi um vídeo do Father John Misty tocando no Saturday Night Live e fiquei decepcionado quando vi que não é ele que toca o piano, porque eu ouvia os singles e ficava achando que era mó Elton John largando o #sentimento no piano. Mas é só meio Elton John, só. Mas tá bom já. Mó som.

Fleet Foxes - "Third of May / Odaigahara"
Era pra ter um tracinho em cima do "O" de "Odaigahara", mas eu não achei isso daí no meu teclado não. Sou contra músicas com sinais gráficos não convencionais. Porém essa nova do Fleet Foxes tá bem da boa mesmo, folkzão da mais alta qualidade top. Parece que ouvi quatro músicas de uma vez. Mas é uma faixa só mesmo.

El Guincho - Hiperasia by Wellness Pirate OST
Não manjo nada desse El Guincho então não sei se de fato esse disco é uma trilha sonora de desfile de moda. Porque leva bem jeito de ser. Várias faixas curtas de música eletrônica meio que dançante porém nem tanto assim.

Slowy & 12Vince - Undercover Blues
Rap alemão com a famosa batida #jazzy. Ouvindo me lembrou o som do Quinto Andar (saudades DJ Castro). Caso você não esteja muito afim de ouvir um alemão rimando, tem a versão do disco só com as instrumentais. Bom de tar ouvindo.

The Shins - Heartworms
Pelos singles imaginei que o disco seria meia boquinha, mas na verdade é bem bom o disco sim. Musiquinhas bem boas de tar ouvindo, bem animadas pra frentex.

Darkest Hour - Godless Prophets and the Migrant Flora
Metalzão foda mesmo. As vezes dão uma salpicadinha de #farora, mas é bem de levinho. Nem incomoda tanto assim. Bom disco.

Laura Marling - Semper Femina
Baita disco. Esse aí pode salvar pra ouvir durante a semana. Folkzinho, violão, vocal lindo, melodias muito muito boas. Top top memo.

Ondatrópica - Baile Bucanero
Bom disco pra quem já sentiu uma saudadezinha do Carnaval. Musica latina com os metais aí, todo pá. Bem legal. Fica bom mesmo de "De Mar a Mar" em diante, eu achei. Mas tenho que ouvir de novo com calma esse aí.

Nova Collective - "The Further Side"
Prog instrumental mas bem do bom mesmo. Infelizmente, esse é um dos últimos que ouvi hoje, quando a pressa e a fome bateram mais forte. Então ouvi esse disco naquelas. Mas acho que vale a pena pra quem curte um prog mesmo.

Nelly Furtado - "Phoenix"
Nelly Furtado lançando a #lentinha do disco. É bom porque é a Nelly Furtado né, se fosse outra cantora não seria bom não.

Little Dragon - "Sweet"
Música de ritmo #dance, ritmo que faz muito sucesso entre os jovens.

Jamsha - "Pal Carajo El Trap Ella Quiere Tra"
Pal Carajo El Trap Pal Carajo El Trap Pal Carajo El Trap Pal Carajo El Trap Pal Carajo El Trap Pal Carajo El Trap. Esse é o reggaeton que queremos. Pode vir com mais.

Deep Purple - "All I Got Is You"
Meti até um wikipedia pra ter certeza se era o Ian Gillan no vocal mesmo, porque nas vezes que entrou o vocal me incomodou muito. Já o instrumental tá rockão altos nível.

Tennis - Yours Conditionally
Mais um disco que me surpreendeu hoje. Teve muitas surpresas hoje. Pra mim. ENFIM: ótimo disco. Topzão mesmo desses mais de indie.

Gonjasufi - Mandela Effect
Disco cheio dos convidados que realmente não sei explicar bem qual que é a desse cara. Deve tar afim de ser o UNKLE novo milênio se pá. Enfim o disco é bom bem bom. Eletrônico porém #diferentes #estilos.

----AS BOA MAS NEM TANTO ASSIM----

The Afghan Whigs - "Demon in Profile"
É boa é boa. Não é aquela maravilha e tudo mais, mas também você não vai ficar puto ouvindo. Acho. Espero.

Soulwax - "Missing Wires"
É boazinha só. Esqueminha Soulwax aí meio discopunk, meio sei lá o que. Não me pegou não.

Haikaiss - "Ouro Raro"
É até que ok o sonzinho sim. Tudo muito #suave. Batidinha suave, uns vocalzinho "uooooouoo" suave também. Aceitável.

Bush - Black And White Rainbows
Outro disco que saiu melhor do que eu imaginei. Mas nesse caso eu imaginava um disco horroroso e, na verdade, os rockinhos são bem ok. Mas nada que seja uma maravilha não. É ok.

Dulce Maria - DM
Bom disco de pop radiofônico. Todas as músicas dá aquela impressão de "no rádio rola legal hein". Música indicada pra ouvir enquanto faz outra coisa, porque se for só ouvir o disco aí pode enjoar.

Os Travessos - "Jogou Pesado"
Espero que essa parceria entre Os Travessos e Sorriso Maroto vá além dessa música. Pagode romântico bem gostoso de tar se ouvindo.

Hélvio Sodré - Som e Silêncio
O sonzinho MPB FM e o selão SONY MUSIC me fizeram ficar em dúvida por várias vezes se eu estava de fato ouvindo um disco gospel. Não parecer gospel é um bom sinal em um disco gospel brasileiro. É isso que quero dizer.

Péricles - "Costumes Iguais"
Boazinha. Mas sempre fico esperando algo mais do cara que gravou "Linguagem dos Olhos". Ainda espero. Vai rolar.

Peter Frampton - "I Saved a Bird Today"
É bonitinha. Folk meio que bem comum. Mas bonitinha.

Goldfrapp - "Ocean"
É uma música que vai, num vai, vai, num vai, vai, num vai... No fim não vai. Espero que no contexto do disco a música vá.

----AS BEM MEDIANA----

Kid Ink - "Before The Checks"
Putz. Num é ruim não. Mas gente... por favor...

Mark Lanegan - "Beehive"
Acho que é o mesmo esquema lá do Screaming Trees. Dessa vez vou ter que confessar que nunca me interessei muito pelo Screaming Trees, não. Só curto "Nearly Lost You" e bem naquelas também. Se você curtia as outras da banda aí vale a pena sim. Se não, aí acho que não.

Stargate - "Waterfall"
Eu gosto de ouvir a Sia cantando, mas essas músicas aí tão chatas demais. Deus do céu.

Nicki Minaj / Drake / Lil Wayne - "No Frauds"
Música igual a várias outras músicas e etc.

Lorde - "Liability"
Baladinha no piano que eu nem percebi a hora que acabou de tão desinteressante que foi.

Kell Smith - Kell Smith
Começa com "Respeita as Mina" que é boa até. Voltando pra Nelly Furtado, essa música meio que lembrou as do Whoa, Nelly. Voltando pra Kell Smith, todas as outras músicas são bem chatas infelizmente.

Charli XCX - Number 1 Angel
Okzinho. Pop bem feitinho. Podia ser MAIS, porém fica nessas parada aí de sempre.

Bob Dylan - "Stardust"
Bom, com esse single já tenho total certeza que o Bob Dylan #pode fazer um disco de standards. Mas não #deveria fazer um disco de standards.

311 - "Too Much To Think"
Rapaz... tá bem pop isso aí hein. Beeeeem pop. Bem Jonas Brothers. Ma MUITO pop. Triste.

Humberto Gessinger - Desde Aquela Noite
Rock BR 80 pra quem quer mais Rock BR 80. Eu não quero.

Deb and The Mentals - Mess
Rockinho nada de mais.

Acidental - Alguém / Texto de um Blog Qualquer
Pop rockinho bem qualquer coisa.

Alcione & Alexandre Pires - "Paixão de Dartagnan"
Num rolou não hein. Faltou aquele #sentimento #na #voz. Uma pena.

Lobão & Roger - "O Bobo"
=)

Adivinha só. Quem que é. O BOBO. Dúvido você saber qual que é a temática.

=)

Vamo lá: Primeiramente Fora Temer. Segundamente, a voz do Roger tá bem estranha, eu achei. Terceiramente, como é música de zoeira, então sei lá. De som nem é de todo mal, mas é outro Rock BR que eu tô muito de boa. (Vote 13. 13 é o do Lula.)

----AS MAIS RUINS QUE TEVE----

Vespas Mandarinas - Daqui Pro Futuro
Bom, tu vê a capinha mó MGMT Time To Pretend.AVI cê pensa "bom, num vai ser pop rock né". E num é que é uma porra dum pop rock? Pop rock brasileiro bem aquelas babinha que você já ouviu na rádio rock de sua cidade. Com muita baladinha de violão, violinozinho, refrão com "tchuptchurup tchu" e daí pra baixo.

Lucas Lucco - "Mariana"
A pior música sobre se apaixonar por uma prostituta já feita no hemisfério sul.

Por que as batalhas de rimas estão mais populares do que nunca

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Batalha da Matrix. Foto: Reprodução do Facebook/Daniel Oliveira

A cultura de batalha de rimas surgiu quase que concomitantemente ao nascimento do rap, tanto por meio das "diss", faixa em que um rapper ataca outro, ou pelas rinhas de freestyle entre MCs que se enfrentavam nas ruas do Bronx, o berço do hip-hop, em Nova York, nos anos 1970. No Brasil, não foi diferente: com a popularização do gênero no país lá nos anos 90, vieram também as batalhas. Só que elas só começaram a se tornar mais organizadas e passaram para o status de eventos com um certo modus operandi e regularidade, com o surgimento da pioneira Batalha do Real, em 2003, no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, uma das batalhas que foi precursora na expansão da cultura de rinhas freestyle entre os MC's foi a Batalha do Santa Cruz, que acontece nos entornos da estação do metrô de mesmo nome, há mais ou menos onze anos. Lá foi onde o Emicida começou e, por ser um dos primeiros MCs oriundos de batalhas a conseguir reconhecimento aqui no Brasil e na gringa, ele é tido um dos principais responsáveis por conseguir colocar às batalhas, que antes eram restritas às suas vizinhanças, num patamar mais elevado dentro da construção do hip-hop nacional.

"De verdade, o Emicida foi o cara que mais conseguiu subir por causa de batalha e freestyle", disse o produtor cultural de 42 anos Paulo Maliq, um dos organizadores da Batalha da Estação, em Francisco Morato. "A cultura freestyle nunca tinha sido o centro no circuito do rap. O Emicida que levou luz a isso e fez a molecada se empolgar com as batalhas".

A convite da Nike, o Emicida selecionou quatro batalhas da Grande São Paulo para participarem do Air Max Day: além daquela que o criou, a do Santa Cruz, o rapper também convidou a da Roosevelt, a da Estação e a da Matrix. Conheça um pouco da história de cada uma abaixo:

Batalha do Santa Cruz

Foi a batalha que revelou, além do próprio Emicida, nomes como Rashid, Bitrinho, Flow MC e Bivolt. No hip-hop paulistano, é uma das mais antigas e que ganhou mais relevância, principalmente depois de o Emicida ter estourado. A Batalha acontece há onze anos todo sábado, a partir das 20h30, na saída do metrô Santa Cruz.

"As regras são 30 segundos para cada MC. Dois rounds. Se houver empate, vai pro terceiro round. Apenas um vence", explicou Gah MC, integrante do Afrika Kidz Crew, grupo que cuida da organização do evento. "Não pode falar da namorada, nem ofender a mãe ou homofobia. Essas paradas são complicadas de se dizer na batalha, então é o que pedimos pra que os MCs evitem dizer".

No final de setembro do ano passado, o Noisey acompanhou a Bivolt num sábado na Santa Cruz e ainda fizemos um vídeo 360º pra você sentir o clima da batalha. Saca só:

Batalha da Roosevelt

Bem mais nova que a da Santa Cruz, a Batalha da Roosevelt acontece todas as quartas-feiras, às 20h, na praça Franklin Roosevelt, bem no centro de São Paulo. Pode rolar perto à Igreja da Consolação, da guarita da PM ou do colégio Caetano de Campos.

Nascida em 2013, a batalha conta com a apresentação de Nino CrewOlina, Rafael Castro e gravação e produção de Michael Carvalho, que rimavam na Santa Cruz. "É a primeira rinha de Sampa sanguinolenta, totalmente sem regras", disse Carol Freitas, que cuida das redes sociais da Batalha.

Com beatbox ou à capela, a batalha rola em dois rounds. Se tiver empate, tem terceiro round. "Antes do evento, a gente passa um boné para recolher desde de dinheiro até outros tipos de colaborações do público, como balas, chicletes ou cigarros. No final, o vencedor leva tudo o que foi arrecadado", explicou Carol.

Batalha da Matrix

A Batalha da Matrix começou proveniente de rolês de um grupo de amigos denominado Sociedade Alternativa de Campom, que se reuniam pra tomar um goró e fazer rima. Um dia, no ano de 2013, o grupo resolveu começar a organizar um evento um pouco maior, com o intuito de tentar reunir mais gente pra fazer freestyle junto com eles.

São quase quatro anos que, toda terça-feira, às 19h30, a praça da Igreja Matriz, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, vira palco da Batalha. " No começo, colavam entre 30 e 50 pessoas. O número foi crescendo e, atualmente,  de 50 para 100, o número foi crescendo e atualmente reúne em média 600 pessoas por edição, podendo chegar a um ápice de até 1500 pessoas em datas comemorativas ou com convidados especiais', disse Lucas Fonseca do Vale, um dos organizadores e o produtor musical responsável por levar o pen-drive com as bases para a batalha.

"Não existe perfil para participar. Se inscrevem- os 16 primeiros MCs que chegam e pedem para participar. Só tem regras: completo respeito à família do oponente. Também não pode usar drogas ao redor da batalha, pra tentarmos evitar problemas de repressão policial [que, infelizmente, vivem acontecendo]".

Batalha da Estação, Paulo Maliq

A Batalha da Estação acontece na cidade de Francisco Morato, na Grande São Paulo, bem na frente da estação da CPTM de mesmo nome da linha 7-Rubi. Ela existe há dois anos e reúne vários coletivos de diferentes elementos da cultura hip-hop da cidade (break, MCs, grafite, DJs, etc), na tentativa de expandir o movimento do freestyle na região. "A gente traz nomes importantes do rap pra participar da batalha, sempre tentando resgatar a antiga escola do hip-hop e fazer a difusão pra galera mais nova, misturando com a nova escola do rap", disse o produtor cultural Paulo Maliq, um dos idealizadores do evento.  

Assim como na Batalha da Matrix e na do Santa Cruz, na da Estação também não podem rolar homofobia, racismo, machismo, xenofobia. "Também não pode xingar mãe, nem familiares. A gente tenta valorizar mais a rima com conteúdo, com teor histórico, o flow e a improvisação. Sempre prevalecendo o bom senso e a diversão", disse Maliq.

Realizada em todas as últimas sextas-feiras do mês, a batalha conta com bases feitas pelo DJ Clevinho e DJ MF. "Começamos com a participação de umas 60 pessoas. Hoje, a gente traz mais ou menos mil pessoas por evento. Estamos tentando expandi-la para outras cidades da região, levando o nosso 'know-how' para outros coletivos", comentou o produtor. "O mais importante da Batalha da Estação foi que ela conseguiu trazer essas rinhas de freestyle, que ficavam mais restritas à região Sul de São Paulo, para o noroeste da cidade".  

Para os quatro organizadores, um fato é unânime: as batalhas de rimas estão mais vivas, mais populares e mais organizadas do que nunca. "Exemplos de sucesso como o do Emicida fizeram a geração mais nova ter muito mais interesse nas batalhas", disse Paulo Maliq. "Geralmente, é a primeira janela pra você entrar no rap e conhecer a cultura de MC", disse Lucas do Vale. "Ali, os menores conseguem se inspirar e começarem a fazer suas próprias rimas. E a gente tá vendo, no dia-a-dia, que o movimento tá crescendo.

"A Batalha do Santa Cruz é uma escola que já formou muita gente", disse Gah MC. "Mas ela foi só a primeira. Eu sou de uma época em que só havia três batalhas em São Paulo. Hoje, são inúmeras. E cada uma delas tem como objetivo trazer aprendizado e dar mais acesso à cena de rap pra galera. Essas calçadas já mudaram e continuam mudando muitas vidas por aí".

As quatro batalhas fazem parte do projeto Air Max Day 2017 , promovido pela Nike. Semanalmente, feras da música contemporânea brasileira se reúnem para projetos especiais que celebram o legado do Air Max. 

Neste sábado, a Casa Air Max na Avenida Paulista recebe integrantes das batalhas para uma rinha especial, com apresentação do Emicida, discotecagem da rapaziada da Discopédia e transmissão ao vivo pela internet. Também estaremos com uma cobertura ao vivo no Facebook Live e no Stories do Instagram da VICE Brasil, fique ligado.

O Theuzitz se leva menos a sério no clipe de ‘Sinedoque, SP’

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Foto do próprio Theuzitz.

O Theuzitz lançou no ano passado seu primeiro disco, Peso das Coisas, que o colocou além do termo rock triste. Com um álbum marcado não apenas por influências como Lupe de Lupe e o gaúcho Yoñlu, o paulista de Jandira, experimenta e foge de amarras (tipo aquelas guitarrinhas emo 90's dos Kinsellas que todo mundo curte hoje em dia). A fita é: o lançamento do rapaz é diferente de quase tudo o que saiu em 2016 no rock indie do Brasil e, nesta segunda-feira (13), ele aparece aqui no Noisey para mostrar ao mundo o clipe da faixa "Sinedoque, SP", que teve direção do próprio Theuzitz e uma ajuda do Argentino Crespo (Quasar), do LVCASU e da Paula Falbo.

Em um vídeo que tem três momentos narrativos distintos, Theuzitz revela que a influência para a música e pro clipe foi a relação entre São Paulo e Jandira. "A ideia era de fazer esse caminho inside/outside, de introspecção do início da música ao sentimento puro e quase infantil do final da canção. São Paulo é uma cidade que oferece esse contraste enorme dentro dela mesma, e de forma incomparável em relação a cidades como Jandira. Queria discutir isso, tanto na canção quanto no vídeo, de uma maneira não-redundante ou maniqueísta. Tudo só coexiste. Hoje todo mundo se leva a sério demais e acredito que o que nós menos precisamos é de pose pra sermos vistos ou reconhecidos por qualquer coisa."

Dirigir o próprio clipe tem a ver com um fator determinante para Theuzitz: sua formação em artes visuais, que o ajuda inclusive na hora de compor e tocar. "Para as composições, acredito que a influência maior e mais notória se situa na construção das letras. Tudo o que eu escrevo é muito imagético e parte muito desse processo de associação de situações e pensamentos diversos. A forma de tocar também foi sendo influenciada à medida que eu tento chegar nessa 'visão' dos sons específicos que vão surgindo na minha cabeça. 'Sinédoque, SP' talvez seja a canção mais ortodoxa do disco nesse sentido de timbres, mas a influência visual se faz presente demonstrada já no próprio título que é uma referência ao filme Synecdoche, New York , do Charlie Kaufman", conta.

Assista ao clipe de "Sinedoque, SP" no player abaixo:

O Emicida fez uma playlist só com os melhores rappers brasileiros de todos os tempos

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O Emicida é com certeza um dos principais rappers no Brasil nos, pelo menos, últimos cinco anos. O rapper paulistano, que começou a rimar nas batalhas de improvisos do Santa Cruz, onde se tornou um dos principais vencedores, já se apresentou em rede nacional e foi até pra gringa fazer show: feito inédito pra um MC oriundo de rinhas de freestyle no país.

Então, quem melhor do que o melhor MC brasileiro da atualidade para tentar traçar um breve panorama dos GOATs [Greatest Of All Time ou "melhores de todos os tempos", em português] rappers do país? A pedido da Nike e no clima da Batalha de MCs que rolou no último sábado (11) na Casa Air Max, o Emicida fez uma playlist no Spotify com alguns dos artistas que fizeram e fazem história no gênero, tentando montar mais ou menos uma genealogia do hip-hop no Brasil. Tem gente das antigas como Racionais MCs, Sabotage e Black Alien, e uma galera mais nova, mas já bem conceituada, como Karol Conka e Rincon Sapiência.

E, nos baseando nos artistas incluídos na playlist (até mesmo por que seria uma tarefa hercúlea traçar uma árvore definitva com todas as relações do hip hop no Brasil), o Noisey preparou um infográfico pra você entender as ligações que existem entre os artistas da lista: por exemplo, a gravadora Cosa Nostra, que lançou todos os discos do Racionais MCs depois de Sobrevivendo no Inferno (1997) , também foi responsável por lançar O Rap é Compromisso (2001), do Sabotage. O KL Jay, do Racionais, participou da faixa "Fuga" (1999), do Xis, e ambos aparecem em Sujeito Homem (2001), disco de estreia do Rappin Hood, no qual também rola uma colaboração do Black Alien [que fez feat com o Sabotage em "O Rap É Compromisso]. E por aí vai.  De uma maneira ou de outra, todos os grandes nomes, tanto da nova ou da velha escola do rap nacional, estão de alguma maneira interligados. Veja abaixo o infográfico (ou clique aqui para ver em Full HD 4K qualidade fera) e ouça a playlist:

Clique na imagem para ver em resolução maior. Arte por Juliana Lucato.

A playlist é parte da série Rebels on Air, que comemora o Air Max Day 2017, promovido pela Nike. Semanalmente, feras da música contemporânea brasileira se reúnem para projetos especiais que celebram o legado do Air Max, icônico sneaker da marca lançado em 1987. O tema dessa semana, GOATS ("melhores de todos os tempos", na sigla em inglês), homenageia o lançamento do Air Max 1 Master, que une num só tênis as características mais desejadas da história do modelo. 

No último sábado, na Casa Air Max em São Paulo, o Emicida reuniu os quatro melhores representantes do freestyle brasileiro numa batalha de MCs ao vivo, que segue o clima do lançamento do Air Max 1 Master. Um experiente MC, que veio das batalhas, reunindo e apresentando o que há de novo no cenário e como tudo se conecta num só momento.

DJs agora podem ganhar dinheiro com suas mixes do Soundcloud

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O SoundCloud anunciou nessa segunda (13) que DJs e produtores poderão monetizar as próprias mixes e remixes no serviço de streaming. A partir de hoje, o SoundCloud está expandindo seu programa de compartilhamento de receitas para incluir artistas que criam "sets gravados e ao vivo, remixes e outros conteúdos gerados por usuários".

Stephen Bryan, Diretor de Conteúdo da SoundCloud, disse ao  THUMP: "Esta será a primeira vez que convidamos DJs e produtores que criam remixes e sets no SoundCloud para começar a rentabilizar e participar da receita que estamos gerando através de anúncios e assinaturas."

Leia o restante da matéria no THUMP


Laura Marling fala sobre explorar a perversão de nossos desejos em 'Semper Femina'

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Fotos por Hollie Fernando

A carreira da cantora e compositora inglesa começou na adolescência ao ganhar elogios por conta da sabedoria em seu disco de estreia Alas I Cannot Swim, de 2008. Marling  vinha da nova cena folk londrina do final dos anos 2000, a mesma que deu à luz nomes como Mumford and Sons e Noah and the Whale. Sua estreia jovialmente desafiadora e emocionante foi indicada ao Mercury Prize, fato que se repetiria em seu segundo álbum I Speak Because I Can e no quarto Once I Was an Eagle. Sua obra é caracterizada por sua relação com o violão (e a guitarra em Short Movie, de 2015) e as postulações, filosofias e histórias relatadas por ela: "Failure", de  Alas I Cannot Swim, fala de um romance com um músico fracassado e os fracassos que podemos atribuir a nós mesmos; "The Beast" de  A Creature I Do Not Know conjura imagens desconfortáveis míticas e demoníacas, ainda que familiares, do homem; já "Saved These Words" em  Once I Was an Eagle é um triunfante declaração a um amante que se foi. Marling, agora aos 27 anos, não esconde seus discos passados, falando com bastante carinho sobre eles e seus antigos eus.

"[Meus discos] são como antigos diários, marcas de sua época. Não os escuto com frequência, o que seria bem esquisito, especialmente porque foram escritos de forma a exorcizar algo que foi de fato exorcizado. Não quero reviver aqueles momentos."

Semper Femina é o disco mais disciplinado e conciso de Marling.  Diferente de seus projetos anteriores, estes foi intencionalmente editado e estruturado de outra forma. Marling afirma que seu produtor, Blake Mills, conhecido por trabalhos com nomes como Sky Ferreira, Fiona Apple, Conor Oberst e Alabama Shakes, decidiu deixar de fora quaisquer acordes estranhos que a artista tem o costume de adicionar, seguindo assim uma estrutura mais tradicional que, de acordo com a própria Marling, deixou seu som mais palatável do que nunca. A sonoridade alterna entre folk, country e blues, dificultando determinar seu gênero exato, o que fica evidente no principal single do disco, "Soothing", uma faixa sutil e suave, quase que um jazz que começa com um baixão grave antes dos vocais serenos de Marling entrarem. Na emocionada "The Valley", que fala sobre uma mulher ver outra sofrer e a sensação de desamparo disso tudo, a guitarra de Marling suaviza sobre um crescendo de cordas enquanto canta "Te amo pela manhã / te amo durante o dia / te amaria pela noite / se ao menos ela ficasse" [ I love you in the morning/I love you in the day/ I'd love you in the evening/ if only she would stay].


Ela admite, porém, que isto é um trabalho e uma parte ruim de ser uma pessoa pública é a necessidade de definição, muitas vezes aos olhos de outros. Não que Marling viva na defensiva; por outro lado, ela é uma pessoa atenciosa, amigável e bastante humilde, ainda que ciente de sua posição. "Isto é o máximo [de divulgação] que já fiz para um disco porque preciso pagar minha banda e não rola mais tanta grana no meio musical", comentou. "Não estou reclamando, tenho sorte de estar onde estou, mas preciso vender um certo número de discos ou shows para ter uma carreira de verdade, é a realidade da época em que vivemos. Daí tenho que fazer algumas coisas meio chatas em termos promocionais em que tem gente perguntando coisas no automático, entende? E isso é de quebrar o coração, é dureza. Se alguém me fala algo como 'então me fala...' e daí seguem uma listinha pedindo pra falar de música tal e tal. Esperam que você queira se vender dessa forma."

Porém Marling nem precisa se vender assim porque ela se vendeu para seus ouvintes. No começo da semana, antes de nossa entrevista, ela tocou com sua banda no Rockwood Music Hall no Lower East Side de Manhattan em um show patrocinado pela WFUV, que irá ao ar em meados de março. O público, composto por umas 100 pessoas, se mostrou empolgado quando ela subiu ao palco, mas demonstrou respeito quando a música começou. Ao passo em que ela dominava o palco, assumia determinada postura, muitas vezes mirando nas luzes do palco, antes de tocar gentilmente as cordas de sua guitarra enquanto segurava firmemente seu braço. Seu público estava ali pelo clima de intimidade derivado das canções e filosofia de sua mente e voz. Marling, como A Imperatriz, sempre coloca seus sentimentos em primeiro lugar; intuitiva, emocional e proporcionadora de percepções, dando ao público calmamente aquilo que esperavam.

Sarah MacDonald é redatora do Noisey Canadá.  Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago "Índio" Silva

O que o Kendrick Lamar está pensando para o seu próximo disco?

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Matéria originalmente publicada no Noisey US.

To Pimp a Butterfly, terceiro disco de Kendrick Lamar e muitíssimo bem recebido pela crítica, acabou por atingir status de clássico logo após seu lançamento, em março de 2015. Desde lá, fãs têm buscado por pistas de como será seu sucessor, mas sabendo como a Top Dawg Entertainment funciona, não rolou lá muito avanço nesse sentido. Para nossa sorte, Kendrick está na capa da última edição da T Magazine junto de Beck e Tom Waits, comentando um pouco os temas que podem fazer parte desse próximo disco.

Durante a conversa, ao responder o que passava em sua cabeça, Kendrick disse "Tenho pensado muito nos meus irmãozinhos. Um deles, maior do que eu, tem 22 anos, o outro, tem 11. Família". Ele prosseguiu, "Penso agora, com o rumo que as coisas tomaram nos últimos meses, meu foco é retornar à minha comunidade e às outras comunidades pelo mundo em que estão sendo construídas as bases. 'To Pimp a Butterfly' tratava dessa questão. Estou num momento em que não trato mais disso", comentou. "Vivemos em uma época em que excluímos um grande componente disso que chamamos de vida: Deus. Ninguém fala disso porque é algo que está quase em conflito com o que rola no mundo em termos de política, governo e sistema." 

Kendrick comentou ainda que o disco é "bastante urgente", então questionando se o entrevistador tinha filhos, ao que respondeu ter uma filha. Kendrick então falou "É isso que penso quando escrevo. Um dia talvez eu tenha uma filha. E se for uma filha mesmo — engraçado você ter dito isso — ela irá crescer, será uma criança que amo, sempre a amarei, mas ela vai chegar naquele momento de experimentar as coisas. E aí ela vai falar e fazer coisas com as quais não concordo, mas a realidade é essa e sempre soubemos que ela chegaria nesse ponto. E isso é perturbador, mas você tem que aceitar. Aceitar e ter suas soluções de como lidar e agir com tudo isso."

Kendrick continuou: "Quando digo 'garota', é uma analogia para aceitar o momento em que ela amadurecerá. Amamos mulheres, sua companhia. Em algum momento eu posso vir a ter uma garota que irá crescer e me falar de seus atos com a figura masculina — coisas que a maioria dos homens não quer ouvir. Aprender a aceitar e isso e não fugir, é isso que quero que este disco passe."
Infelizmente, o jornalista não chegou a ouvir o material novo. A entrevista, em inglês pode ser lida na íntegra aqui.

Siga o Noisey no  Twitter

Tradução: Thiago "Índio" Silva

Veja o clipe de 'Trindade Parte 1', do Rodrigo Ogi

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Essa terça-feira (14) é um dia especial pro Rodrigo Ogi: além de completar 37 primaveras, ele lança o clipe de "Trindade Parte 1", dirigido por Allan Carvalho, da Trovens FIlmes e filmado em apenas dois dias. No vídeo, além de ver o Tiagão de motorista, a gente consegue captar todo aquele clima da faixa e da noite de São Paulo.

Apesar de muita gente ter esperado outro vídeo seguindo o mesmo esquema de animação de "Trindade Parte 2", dessa vez o clipe foi feito de uma forma mais convencional, com atores e uma pá de imagem louca da cidade de São Paulo de noite. O Ogi explica porque. "Animação infelizmente tá fora do meu orçamento. É um processo lindo, porém muito caro".

Quem escuta os sons do Ogi sabe as referências que ele traz do universo dos quadrinhos e chegaram até a sugerir pra ele fazer as três partes de "Trindade" nesse esquema. Isso aí não vai rolar, entretanto, se pá teremos novidades. "Penso em lançar o Crônicas da Cidade Cinza nesse formato. Estou amadurecendo a ideia, planejando como lançar", conta o rapper, que revela que o ciclo do RÁ! está praticamente encerrado. "Tô em processo de criação do meu próximo disco, então o foco agora tá nisso. Pode ser que eu lance o vídeo de "Correspondente de Guerra", mas nada certo".

Assista ao clipe de "Trindade Parte 1" abaixo.

A Anohni te manda uma faixa inédita se você mandar um e-mail com um sonho seu

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A artista inglesa Anohni anunciou hoje no Facebook que se os fãs a mandassem um "gesto de vulnerabilidade anônima", ela responderia com uma faixa sua, exclusiva e ainda não lançada. Ela pediu que fossem enviados e-mails a ela com "uma frase ou duas sobre o que você mais ama, ou suas esperanças para o futuro", ela mandará uma bônus track do EP  Paradise chamada "I Never Stopped Loving You".

Leia o restante da matéria no THUMP.

Felipe Neiva mistura MPB e neopsicodelia de garagem na nova (e política) faixa, "Fora!"

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Não foi só aqui em São Paulo que parte dos eleitores (principalmente os de esquerda) ficou um tanto frustrada com o resultado das eleições municipais de 2016 — no caso, com a vitória do atual prefeito João Dória (PSDB) em cima do ex, Fernando Haddad (PT). No Rio de Janeiro, a eleição do Marcelo Crivella (PRB), que disputou o segundo turno contra o Marcelo Freixo (PSOL), também deixou desiludida uma parcela do eleitorado carioca. Foi desse sentimento de decepção com a política aqui o Felipe Neiva compôs "Fora!", sua primeira faixa inédita depois do lançamento do mEu EP ou À Vida e Seu Potencial Sarcástico Infinito (2016). Você ouve e assiste à performance da faixa abaixo, com exclusividade no Noisey.

Explorando acordes mais comuns da MPB junto com influências da neopsicodelia lo-fi, Neiva explicou que a vontade de fazer uma canção com cunho mais político — diferente do seu EP, no qual ele trata de assuntos mais introspectivos — veio desde 2013, com as Jornadas de Junho. "Desde aquela época, eu tinha uma vontade antiga de colocar o 'Vocês não passarão' numa letra, porque foi um mote e uma das palavras de ordem que mais me tocaram naquele momento", disse o cantor e guitarrista. 

"Durante as últimas eleições municipais aqui do Rio, toda aquela vontade de ir pras ruas me voltou muito fortemente. Me veio até um desejo de que aquele momento de potência retornasse, com os black blocs quebrando bancos, com o povo colocando fogo na ALERJ [Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro], essas coisas", explicou Neiva, que disse que somado a isso veio também a vontade tentar aliviar da enorme desesperança que rolou quando o Freixo perdeu o segundo turno. "Precisei escrever uma canção leve, que me libertasse, falasse do quanto eu queria simplesmente poder viver a minha vida em vez de ter esses frequentes baques e decepções que a política traz."

Talvez mais "roqueira" que o seu trabalho anterior, a música também foi o resultado da experiência de Neiva de explorar o rock sob uma perspectiva mais revolucionária. "Eu tava ouvindo bastante Kendrick Lamar nesta época e fiquei pensando o quanto o rock ocupa um lugar de conservadorismo, o quanto o público de rock é reacionário, preconceituoso e o quanto eu queria, de alguma forma, que o rock pudesse ter (ou voltar a ter, sei lá), a potência discursiva que o rap tem", explicou o compositor. A faixa deve fazer parte do primeiro disco cheio do Neiva, que está preparando para lançá-lo ainda em 2017.

Assista à performance de "Fora!", na estreia da série Inhame Sessions (projeto idealizado pelo Rubens Adati, guitarrista do Vladvostock e da banda do Ale Sater), abaixo:

Ficha Técnica
Captação de áudio: Ablan Namur e Rubens Adati
Mixagem e masterização: Rubens Adati
Captação de vídeo: Yasmin Kalaf
Edição de vídeo: Rubens Adati
Guitarra e Voz: Felipe Neiva
Guitarra: Victor Oliver
Baixo: Marcos Thanus
Bateria: Marcelo Trengrouse

Dois anos depois do avião do cocô, perguntas continuam sem resposta

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(Foto acima: usuário do Flickr aero_icarus)

Esta matéria foi originalmente publicada na VICE UK .

Faz dois anos que nossas vidas mudaram para sempre. Talvez você não tenha sentido na época — as forças gigantescas que mantêm um avião planando entre as nuvens são imperceptíveis para nós aqui no chão; os eventos anais catastróficos que levaram ao seu pouso eram apenas como um pontinho no coletivo de átomos do universo — mas aconteceu, e estávamos todos vivos para ver, e isso nos mudou para sempre. Alguns mistérios assombram a psique coletiva humana mais que outros; quebra-cabeças que nunca serão resolvidos, não importa quantas mentes brilhantes trabalhem neles: o caso Tamam Shud, JFK, DB Cooper. Acrescente a isso: Quem Deu uma Cagada Tão Cabulosa que Obrigou um Avião da British Airwaves Indo Para Dubai Dar Meia Volta.

Leia também: "Histórias de quando me caguei"

Recapitulando: alguém cagou num voo para Dubai dois anos atrás, e a merda era tão desgraçada que o avião teve que voltar e pousar de novo em Londres. É isso que sabemos, segundo a BBC:

- Um voo da British Airways foi obrigado a retornar por causa de um "cocô fedido".

- O avião estava indo do aeroporto Heathrow para Dubai na quinta-feira num voo de sete horas.

- Abhishek Sachdev, que estava a bordo, tuitou: "Que loucura. Nosso voo da BA para Dubai teve que voltar a Heathrow por causa de um cocô fedido no banheiro".

Abhishek não respondeu aos nossos pedidos de comentário. Então aqui vai a matéria da BBC de novo:

- Ele disse ao jornal: "O piloto fez um anúncio requisitando a equipe sênior na cabine, e a gente sabia que tinha algo estranho.

- "Uns 10 minutos depois ele disse: 'vocês devem ter notado um cheiro bastante forte vindo de um de nossos banheiros'.

- "Ele disse que era um 'excremento líquido fecal'. Essas foram as palavras que ele usou."

- O avião tinha decolado a apenas 30 minutos quando deu a volta.

- O próximo voo disponível só sairia 15 horas mais tarde, então os passageiros tiveram que ser colocados num hotel para passar a noite.

Um porta-voz da BA — e, novamente, a BA não quis comentar o assunto; ninguém quer falar sobre isso, o que sugere ainda mais que algo está sendo acobertado — disse à Radio 1 na época: "Naquela altitude a cabine precisa ser pressurizada, então o problema é que qualquer coisa assim é um problema de saúde e segurança, porque apenas 50% do ar está sendo reciclado e limpo".

Então sabemos o que aconteceu: alguém deu um cagão que colocou em perigo o ar do avião. Sabemos o resultado: o avião deu a volta e pousou, e os passageiros do voo passaram a noite num hotel perto de Hearthrow. E sabemos o que se seguiu: um mistério que cativou uma geração. Mas o que ainda não sabemos? Que perguntas continuam sem respostas? Leitores, me ajudem aqui com esse mistério:

QUAL O PROCEDIMENTO QUE O PILOTO TEM QUE SEGUIR QUANDO DECIDE DAR VOLTAR PORQUE ALGUÉM CAGOU NO BANHEIRO INTEIRO?

OK, eu assisti Sully: O Herói do Rio Hudson, que é um filme sobre um cara tímido pousando um avião num rio. Ele fez isso porque o avião bateu numa caralhada de pássaros logo depois de decolar, e aí o motor parou, e eles não tinham combustível nem para voltar para o aeroporto nem para chegar ao próximo, então o Sully — o protagonista do filme Sully se chama Sully — cuidadosamente derrubou o avião no rio. O filme é péssimo, aliás; odiei. Poderia ter sido bem legal — só um tiozinho gritando "POUSEI A PORRA DE UM AVIÃO NA PORRA DE UM RIO E NINGUÉM MORREU, SAI DA MINHA FRENTE!" por duas horas —, mas em vez disso, eles fizeram toda uma porra patriótica "USA!!!", e no final o verdadeiro Sully e os verdadeiros passageiros aparecem, e eles agradecem o Sully e começam a aplaudir, e o que podia ser um filme de ação muito foda vira um tremendo chororô. América.

Bom, a principal coisa que aprendi com Sully é que em caso de emergência e/ou grandes decisões sobre o destino de um avião e todo mundo dentro dele, os pilotos têm que se decidir rápido e ficar calmos. O Sully do filme Sully fez exatamente isso, e por isso eles fizeram um filme chamado Sully. O piloto do voo Heathrow-Dubai naquele dia fatídico de 15 de março também tomou uma decisão rápida, por isso estamos falando dele agora. Mas qual é a logística por trás disso? A comissária de bordo teve que inspecionar o banheiro primeiro? Em que ponto eles tiveram que passar essa informação para o piloto? Tem um código especial para uma situação assim na aviação? "Senhor, desculpe incomodar, mas temos um 104 no banheiro número 5"? O piloto fez contato pelo rádio pedindo apoio adicional? "Pessoal, nós, hum... bom, temos um, ah. Olha, vou ser sincero com vocês: alguém deu um cagão monstro no banheiro aqui. Merda pra todo lado. Acho que não é bom respirar esse ar. Podemos voltar para casa?" E aí teve aquele som de " skrt" pelo rádio e uma pausa bem, bem longa, até que alguém na torre de comando respondeu: "Sim", ele disse: "Sim, é melhor voltar mesmo, cara. Não podemos deixar esse tanto de merda chacoalhando por aí".

CONSIDERE O SEGUINTE: PROVAVELMENTE TINHA UMA FILA NAQUELE BANHEIRO DO AVIÃO

O 747-400 tem 31 banheiros a bordo, o que às vezes difere a depender da planta do avião. Num máximo de 416 passageiros, essa é proporção mediana de passageiros/banheiros, mas se isso varia — li que um 747-400 tinha apenas seis banheiros, e acho que o espaço dos banheiros é importante caso você tenha que colocar outras instalações ali — o que acontece, e todo mundo que já pegou um avião sabe, é que filas pra usar o banheiro se formam.

Agora, banheiros de avião são um puta lugar estranho: são do tamanho de um armário de vassoura, com portas dobráveis, pias que fazem aquele barulho horrível em vez de apenas deixar a água vazar, curiosas luzes amarelas, etc. e tal. É difícil mijar ou cagar na maioria das vezes. Demora um tempo para terminar seu serviço num banheiro de avião. Você está fazendo uma coisa natural num ambiente alienígena.

Então acrescente uma fila de pessoas que se formou pela situação de banheiros insuficientes ao tempo extra que leva para cagar num banheiro de avião, e você tem o que é conhecido como "uma fila ligeiramente maior".

Num avião, nosso foco fica à deriva. Você mergulha num filme, ou finge que é uma daquelas pessoas que conseguem ler no avião e depois cai no sono, ou só olha para frente e espera a comida chegar. É um mundo curioso, sem nenhuma ancoragem no chão lá embaixo. Você está parado numa fila de banheiro. Parece que já faz um tempo. Você vai olhar pra cara de cada pessoa que está na sua frente e atrás de você naquela fila, por puro tédio.

Estou dizendo o seguinte: ainda lembro das caras das duas pessoas atrás de mim quando eu estava esperando para mijar no último voo que peguei, em outubro. Você acha que a pessoa que tomou o voo do cocô pra Dubai, e era a primeira na fila do banheiro depois do Cagão Misterioso, e viu o caos que ele ou ela deixou: você acha que essa pessoa não saberia quem cagou? Ela sabe. Alguém naquele avião — a pessoa estava numa fila e perdeu o foco, e aí algo terrível aconteceu naquele banheiro — e alguém sabe quem fez aquele cocô.

QUE TIPO DE REUNIÃO ELES TIVERAM NA BRITISH AIRWAYS PARA DECIDIR A REPARAÇÃO PARA OS PASSAGEIROS?

Imagine vários níveis de executivos(as) de blazer e saias, gritando numa sala com ar-condicionado num aeroporto em algum lugar, água da torneira num jarra na mesa, pessoas apontando umas para as outras, se sentindo entre confusas e furiosas, dizendo: "Quer dizer, era um cocô. Quantas pessoas vamos ter que colocar num Travelodge?"

O QUE A PESSOA QUE FEZ O COCÔ COMEU DIRETAMENTE ANTES DE CAGAR?

Ano passado, no aniversário do avião do cocô, especulei sobre a identidade do Cagão — tentando fazer um retrato vago do criminoso — e eu disse que achava que só podia ter sido um homem: e me desculpe por isso.

Muitas, muitas mulheres entraram em contato comigo desde então para falar sobre "diarreia menstrual", um jeito único de cagar das mulheres. Isso jogou meus cálculos anteriores pela janela: o gênero do cagão não pode ser realmente definido. Agora só podemos especular sobre a dieta da pessoa que fez um avião pousar com sua merda.

Algumas possibilidades vêm se acumulando: muita, e eu digo muita Guinness com curry; aqueles ursinhos de goma zero açúcar da Haribo; "comida sueca", o meme do "frango mal passado" que temos visto por aí; lembro de ler um aviso num pacote de balas de menta Polos dizendo que elas tinham propriedade extremamente laxativas em altas doses, então o cagão do avião pode ter comido uma quantidade fantástica de balas Polos. Temos que imaginar que tinha alguma coisa digestivamente errada pois: a merda em questão era A) fétida e B) não estava inteiramente dentro da privada. A pessoa que fez isso não caga assim normalmente. Podemos presumir que — mesmo agora, dois anos depois — ela ainda se sente mal com essa história. Mas que alimento ou combinação de alimentos fez isso acontecer?

QUEM. FEZ. O. COCÔ.

Eu não sei mais. Isso vai me assombrar pelo resto da vida. Já me passaram dicas no passado, mas elas não levaram a lugar nenhum: uma perseguição pelo Facebook, verificando as tags de quem esteve nas atrações turísticas de Dubai, procurando nomes que não existem. Um cara quis me dizer que sabia quem era o cagão, mas que só poderia identificá-lo através de enigmas elaborados, como um troll da ponte, sobre a universidade onde eles estudaram e o lugar onde tinham crescido. Talvez eu nunca saiba. Podemos nunca ficar sabendo. Vou enlouquecer na pedra desolada do Cagão do Avião.

Se for você, por favor, me dê uma entrevista. Garanto absoluto anonimato. Não vou alertar as autoridades. Sou um entrevistador simpático. Sou um cara bacana. Você pode me ligar estilo Garganta Profunda no telefone da redação. Não preciso saber seu nome. Só preciso saber as emoções: o pânico, o desespero, aquela noite no Travelodge se sentindo um criminoso. Como, anos depois, você se sente sobre o caso? Você está pronto para falar? Por favor, Cagão do Avião, por favor: entre em contato comigo. Estou aqui. Resolva esse mistério antes que a gente comemore o ano três.

@joelgolby

Acompanhe essa saga desde o começo:

Alguém num Voo da British Airways Deu uma Cagada Tão Cabulosa que o Avião Teve de Voltar

Anus Horribilis: Um Ano Depois, Fizemos uma Análise Sobre O Mistério do Cagão do Avião

Tradução: Marina Schnoor

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Ouça "Escama", a sinfonia do gueto de Luiz Lins com Diomedes Chinaski e Baco

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Mazili, Diomedes e Luiz na gravação do clipe de "Baby". Foto: Rostand Costa/Divulgação.

O nordeste não para. O trap nordestino não para. O Mazili não para. E a prova disso é que o Luiz Lins separou essa quinta-feira (16) para lançar seu novo som, "Escama", com participações do pernambucano Diomedes Chinaski e do baiano Baco Exu do Blues. A faixa é uma produção do Mazili — responsável pela maioria dos traps responsas vindo da parte de cima do país — ao lado do JNR Beats e você confere a música com exclusividade no Noisey.

Claro que com um time desse a gente não ia deixar batido a oportunidade de trocar uma ideia com cada um dos MCs. Esse papo você pode ler aqui embaixo, logo depois de dar um play no som.

Por que chamar o Baco e o Diomedes pra faixa? De quem foi a ideia? O lance da escama tem a ver com a gíria "escama de peixe" e o tráfico?
Luiz Lins: Eu tive a ideia do refrão voltando de um show. Senti que tava pronto pra fazer algo assim. Mazili entrou na produção com JNR e ficou daquele modelo. Eu já fecho com Diomedes, Mazili fez a ponte com Baco, e o trabalho fluiu. "Escama" é o retrato de uma real. De certa forma, a gente é condicionado a achar que não pode conquistar, por questões estruturais da sociedade, por isso o som tem um contexto sociocultural. "Escama" é uma sinfonia do gueto. Sou eu dizendo que não acredito em mentira branca. A gente pode e vai conquistar tudo. Eu e meus iguais. Tudo nosso, nada deles.

A música tem um lance gangsta da vivência nas ruas e da malandragem. De um tempo pra cá, o nordeste passou a ser um dos locais com essa temática mais em alta, vide o disco do Chave Mestra do ano passado. Por que você acha que rola isso?
Luiz: A galeragem é uma cultura bem difusa, e em Pernambuco é bem presente. A gente fala porque é a real da gente. Foi o que a gente viu e vê, vive ou viveu. Grupos como o Chave e são o reflexo dessa real. Não é ficção.

Baco, você chega pesado nas referências nesse som. "Essa bunda é pra morar, não quero alugar", a referência dupla ao seu som "999" e ao Jay-Z em "99 Problems", só pra citar algumas. Por que você acha que a citação a outros sons, MCs e versos são importantes na hora de você compor?
Baco Exu do Blues: Acho que é questão de admiração. Você deixar a referência clara a outro MC é uma forma de mostrar que se identifica com aquela arte. Compus uma imagem, na real nesse verso é um personagem na sua rotina.

Eu vejo que há uma união vindo do pessoal do nordeste, da galera se fortalecer, um participar do som do outro, coisa que não vejo muito aqui em São Paulo, por exemplo. A ideia é essa mesmo? Meter uma Pro-Era do nordeste?
Baco: Mano eu vejo muito dessa união em São Paulo pra falar a verdade, mas acho que não só o nordeste, todo o Brasil tá começando a se unir com os trabalhos que têm afinidade.

Diomedes, na sua estrofe você fala sobre ter pensado em ser bandido. No "Caldo de Cana" você dá uma orelhada na molecada que fica na praça o dia todo — e você mesmo fala que já fez isso pra caralho. Hoje o rap fala sobre uma pá de fita e, apesar do som versar sobre conseguir grana, seu papo é positivo pra molecada. Você acredita que tem essa obrigação de usar seu som pra colocar a molecada num caminho menos doloroso?
Diomedes Chinaski: Sim. Tipo, grande parte dos amigos morreram e muitos tão morrendo todo dia. Inclusive mataram um ontem na praça. Os meninos são muito ociosos. Os meninos possuem pouco conhecimento sobre a vida em geral. Eles não saberiam escrever este texto. Eles não sabem se relacionar bem, eles não conseguem ter a minha visão. Eu consegui porque em algum momento li livros. O que acontece é que depois que isso de "galeragem" em Pernambuco esfriou, os meninos precisam de uma nova forma de ser "famoso" pra impor respeito, pra atrair as meninas, pra continuar usando roupas de marca e, nisso, morrem traficando e fazendo pequenos assaltos. E no meu bairro eles me veem como porta-voz, conselheiro. Vendo os amigos de infância morrendo assim não consigo ficar calado, a parada me emociona de fato. Amigos que matam amigos. Isso é o pior de tudo. Imagina o que é a mãe saber que quem matou seu filho foi aquele amigo dele da outra rua? Por desavença de tráfico! Esta minha resposta está mal amarrada, me perdoem, mas tou escrevendo realmente emocionado, usando fluxo de pensamento. Logo, sim, preciso fazer os caras entenderem que estamos caminhando pra lugar nenhum. Não temos diplomas.

Você tem lançado um monte de som. Saiu o "Caldo de Cana", o som com o Coruja e agora esse com o Luiz Lins. O Chinaski não descansa? É aquela fita: camarão que dorme a onda leva?
Diomedes: Eu sou muito ansioso e produzo muito. Sempre fui assim. Mas às vezes não funciona bem. Mazili tem razão [ele sempre fala pro Chinaski que não é interessante ficar lançando uma pá de coisa num ritmo frenético]. Mas ainda assim lanço bastante. Creio também que quando você tinha tanta coisa pra mostrar as pessoas e agora tantas pessoas querem ouvir o que tenho a dizer que meio que lancei esse ano muita coisa pra pelo menos me aproximar dos demais rappers já em evidência. Arte é terapia. É o divã.


Perguntei a amigos por que eles pararam de beber e usar drogas

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Esta matéria foi originalmente publicada na VICE Canadá .

No começo do ano, tentei ficar sóbrio durante o mês de janeiro. Os excessos das festas de final de ano me deixaram zoado e imaginei que uma semana sem substâncias seria uma boa oportunidade de limpar minha mente e recarregar as baterias. Apesar de não me considerar alguém que bebe muito, rapidamente percebi quanto da minha vida social girava ao redor do álcool. Mesmo que eu não enchesse a cara em toda festa na casa de alguém, jantar, encontro e até show ou filme, isso geralmente envolvia pelo menos um drinque. Minha tentativa de ficar sóbrio durou duas semanas. Desisti num aniversário de um amigo, quando um estranho me disse que eu estava cortando o barato da galera. Então fumei um e mais tarde tomei uma cidra.

Minha tentativa fracassada me fez pensar sobre sobriedade em geral. Acredito que o estigma contra o uso de drogas não ajuda em nada, e já tive experiências realmente positivas bêbado ou chapado, mas por causa de tendências ao vício e problemas de saúde mental na minha família, sempre estive muito consciente de quanto e com que frequência eu me entregava. Não pretendo parar com nenhum dos meus hábitos, mas sempre achei que poderia se quisesse. O fato de não ter conseguido passar um mês sem beber me fez reconsiderar isso. Também me fez querer saber mais sobre por que e como as pessoas ficam sóbrias.

Leia também: "Tratando o vício em drogas com ibogaína"

A maioria das histórias de sobriedade que eu tinha ouvido vieram de palestras na escola ou contos sensacionalistas na TV. As histórias abaixo vieram de conversas reais que tive com amigos sobre por que eles pararam de beber e usar drogas. Às vezes as histórias parecem muito maiores ou menores do que eu esperava que elas fossem.

Krissy Howard , escritora do The Hard Times

Desde a primeira vez que chapei eu soube que queria me sentir assim sempre que pudesse. Fumei um bowl com amigos, fomos para o shopping e lembro que rir demais. Sempre me senti desconfortável comigo mesma, tanto sozinha como com outras pessoas, então poder desligar essa ansiedade parecia a chave para uma vida melhor.

Tudo começou muito divertido e social. Inicialmente eu só bebia e fumava maconha. Ocasionalmente eu tomava ácido ou analgésicos. Com 19, injetei heroína pela primeira vez. Não me tornei viciada de cara, mas eu sabia que tinha adorado, e usava sempre que podia. Depois veio o oxy e o xanax. De algum jeito, consegui ter empregos durante todo esse período, mas foi ficando mais e mais difícil chegar na hora.

Depois de um tempo, eu não conseguia mais funcionar sem heroína e me sentia doente. Perdi o emprego. Sofri para pagar os aluguéis. Comecei a fumar crack. Eu ficava trancada no banheiro fumando por dias. Só saía para ficar olhando as pessoas pelo olho mágico da minha porta da frente. Raramente eu estava me divertindo, mas se parasse eu me sentia doente e não sabia mais o que fazer.

Lembro de estar na sacada do meu apartamento em Austin e pensar que aquela era minha vida. Eu ia morrer uma viciada e estava estranhamente de boa com isso. Racionalizei pensando que minha vida era atormentada pelo carma de outra pessoa. Alguém tinha feito algo realmente horrível centenas de anos atrás e sua punição foi reencarnar como eu. Senti que realmente estava cruzando a fronteira para o outro lado de alguma coisa naquele momento, como se realmente estivesse pronta para usar mais [droga] e morrer.

Meu corpo parou de funcionar como o de uma pessoa de vinte e poucos anos normal. Eu não menstruava por meses seguidos. Em certo momento pesei 40 quilos. Eu tinha feridas pelo corpo que não cicatrizavam. Meu corpo simplesmente não funcionava. O resto da minha vida também não. Manter relacionamentos de qualquer tipo era absolutamente impossível. Sem amigos. Sem dinheiro. Sem objetivos. Me afastei da minha família por um tempo.

Tive três overdoses, a última aconteceu no banheiro do meu pai. Aceitei ajuda simplesmente porque queria que meu pai se sentisse melhor. Mudei de volta para minha cidade Natal no estado de Nova York. Eu tinha a intenção de ficar sóbria, mas não funcionou assim. Eu estava em cima do muro naquele ponto, acho, e levei muito tempo para realmente me comprometer. Finalmente fiquei sóbria em 19 de maio de 2010. Estou em recuperação desde então.

Acho que a parte mais difícil é decidir fazer outra coisa nos momentos em que você quer desesperadamente chapar. Lembro que parecia que meus sentimentos iam me matar. Lembro de sentir que ia fisicamente pegar fogo se não comprasse um papelote ali mesmo. Depois de praticar tomar essas decisões diferentes por um tempo, a obsessão por chapar não era tão insuportável. Mas fiquei muito puta por não poder tomar um drinque com os amigos. Teve muita coisa que não pude fazer por um tempo porque álcool e drogas estavam ali e era tentador demais, como ir a shows e até dirigir por certos bairros. Não parecia assim na época, mas agora reconheço que foi ficando mais fácil quanto mais tempo eu não usava, e encontrei novos jeitos de lidar com as coisas.

Brian Finch , Ativista

Eu tinha treze anos e morava em Winnipeg, onde nasci, quando descobri que minha irmã fumava maconha. Imediatamente perguntei a ela se eu podia fumar também. Na primeira vez que fumamos, não senti nada. Fiquei desapontado. Mas guardei um beck para mais tarde. Meus pais eram divorciados e meu pai esqueceu de me buscar um final de semana. Chateado e magoado, peguei aquele outro beck. Fumei. Fiquei realmente chapado. Quinze minutos depois ouvi uma batida na porta e era ele. Ele me levou para uma apresentação de cães onde fiquei realmente paranoico. O efeito passou enquanto eu assistia a infinita competição de obediência. Quando voltei para casa, fui até o quarto da minha irmã e pedi mais maconha. Não parei mais depois disso.

Meu relacionamento com drogas continuou e se metamorfoseou com o tempo. Me envolvi na cena dos clubes gays e comecei a tomar MDA, o precursor do MDMA. O uso foi ficando mais hardcore. Comecei a vender drogas. Com o dinheiro vivi um tempo longe de tudo no sul da França. As coisas ficaram calmas nessa época. Achei que minha história com drogas tinha acabado. Voltei para casa. Fiquei bem por alguns anos até entrar num relacionamento abusivo com um viciado. Ele tinha o mesmo sobrenome daquele serial killer. Manson. Eu não sabia que ele era viciado até morar com ele. Ele morreu recentemente. Não faço a menor ideia se drogas estavam envolvidas.

Minha incapacidade de dizer não me levou a águas muito perigosas. As drogas foram ficando mais pesadas: primeiro GHB, cerca de mil dólares por mês. Depois metanfetamina. Qualquer coisa que a gente conseguisse arranjar. Cheguei a um ponto tão baixo que parei de me importar e tive minha primeira overdose. Parei de respirar. Percebi como era fácil morrer e tinha pensamentos suicidas. A pressão de ganhar dinheiro para pagar nossas drogas, que estavam custando milhares de dólares, era alta. Entrei para a indústria do sexo. Coloquei um anúncio em algum lugar e comecei daí. Eu estava fazendo muito dinheiro, viajando muito. Nova York e Amsterdã se tornaram meu segundo lar.

A coisa em ser um viciado é que tem essa voz muito alta na sua cabeça dizendo que você não tem um problema. Eu não era um viciado. Era fácil acreditar.

Leia também: "Por que a geração Z não curte beber ou usar drogas"

Tenho memórias enevoadas dessa época da minha vida. Conheci um outro garoto de programa em Manhattan e logo nos tornamos os dois principais acompanhantes de Nova Jersey. Acabei trabalhando por vontade própria como bartender numa Festa do Branco em South Beach. Chapado de metanfetamina, me vi num clube de fetiche de couro chamado Chains. Eu estava cheirando cocaína com o gerente no escritório. Eu estava usando apenas botas de cano alto e um anel peniano. Conheci muita gente desse jeito. Conheci um casal de motoqueiros tatuados e musculosos. Fiquei com eles por quatro semanas tendo conversado apenas uns dez minutos com eles. Nunca soube como acabei lá.

Tudo era ótimo no começo, mas aí veio a lenta morte espiritual. Eu era um homem de todo lugar e lugar nenhum com aquelas viagens. Me tornei parte de uma subcultura desatrelada da sociedade mainstream. Cheguei num ponto onde percebi que tinha parado de ter qualquer esperança, sonhos ou objetivos. Chamei isso de meu momento Peggy Lee.

A combinação de viagens e drogas pesadas afetou gravemente minha saúde. Voltei para Toronto para desmoronar e me levantar, só para pegar um voo e fazer tudo de novo. Eu estava viciado na coisa toda. Há consequências sérias para a minha saúde que duram até hoje. São coisas com que terei que viver para o resto da vida.

O processo de ficar sóbrio foi longo. O primeiro passo é o caminho da redução de danos. O primeiro passo que dei foi me livrar da metanfetamina, cocaína, GHB e ecstasy. O problema é que quando parei de usar drogas, também parei de ver os amigos que usavam essas drogas. Fiquei sozinho, sem ninguém para ocupar o lugar deles. Por um tempo me senti muito solitário. Comecei a usar o método dos doze passos. Dez anos depois, aqui estou. Foi muito duro chegar aqui. Não sinto falta de nada, exceto da ilusão de escapismo. Se pelo menos aquilo fosse real. Isso e a energia para sair e fazer coisas tarde da noite, mas estou ficando velho.

Chris Popadak, Baterista do Hawthorne Heights

No meu aniversário de 19, um dos meus colegas de apartamento me deu LSD de presente. Até aquele ponto da minha vida, eu só tinha experimentado maconha, mas naquela noite eu me diverti muito, e comecei uma relação séria com drogas que durou anos. Depois que comecei com LSD, acrescentei uma segunda droga, depois uma terceira e uma quarta, então não parecia assustador. Eu tinha gostado do ácido, então por que não tentar outras coisas?

Por volta dessa época, fiquei amigo de um grupo onde todo mundo usava heroína. Fiquei curioso. Lembro que a primeira vez que pedi para um cara comprar para mim ele disse não. Ele continuou dizendo não por um tempo. Ele disse que não queria ser o responsável por criar um viciado. Acabei dizendo que se ele comprasse um papelote para mim, eu compraria um para ele também. Malditos viciados. Ele concordou e como com todas as drogas que experimentei, adorei heroína.

Eu tinha sorte ou azar de ter muitos junkies na minha vida. Eu vi os aspectos ruins logo no começo, e por muito tempo isso me impediu de ser sugado para aquele mundo. Eu tinha um hábito clássico de final de semana. Continuei assim por anos, então estava convencido de que tinha tudo sob controle, mas pensando agora, eu mal estava sobrevivendo. Não conseguir pagar as contas, ser despejado de apartamento atrás de apartamento. Ainda assim, eu sempre conseguia dinheiro para chapar ou encher a cara. Dói pensar como eu estava sendo egoísta.

Por anos o foco real da minha vida foi andar de skate e chapar de algum jeito. Eu tocava em bandas aqui e ali, e tinha na cabeça que queria aperfeiçoar minha bateria, mas em alguns momentos minha vida estava tão zoada que eu nem conseguia manter um kit de bateria em casa. Eu estava à deriva. Tem várias histórias que eu poderia contar, mas para ser honesto, o principal disso tudo foi uma grande perda de tempo.

Leia também: "Dá para reverter os efeitos de longo prazo das drogas com exercício, alimentação saudável e vitaminas?"

As mudanças vieram lentamente. Duas coisas que realmente me influenciaram nisso: eu vi que estava destruindo meu relacionamento com meu filho. Lembro quando ele era só um bebê, com uns dois anos. Um dia ele estava chorando, como todo bebê faz, e eu estava muito puto com ele porque não conseguia lidar com o barulho. Eu não conseguia lidar com o choro do meu filho e estava puto com ele. A ficha caiu na minha cabeça e eu soube que isso não tinha nada a ver com meu filho. As drogas me deixavam de pavio curto e irritado. Esse foi o começo de perceber que eu realmente tinha um problema. Não parei de usar drogas naquela época, mas comecei a cortar certas substâncias, uma por uma. Logo depois disso, tive um final de semana de balada pesada, e acordei me sentindo horrível. Percebi que tinha pago para acordar me sentindo na merda. Essa foi a última gota, e eu tomei a decisão de largar tudo de uma vez ali, e isso é algo que ficou comigo desde então.

Quando parei de beber e usar drogas foi quando realmente levei a sério me tornar um músico. Eu estava numa banda com dois caras que eram straight edge. No começou eu tinha alguns sentimentos negativos contra caras straight edge, baseado em experiências passadas, mas eles me mostraram o lado positivo do straight edge que nunca conheci.

Não vou me chamar de militante, mas sou contra qualquer uso de substâncias neste ponto. E a comunidade straight edge tem sido muito positiva para mim. Sinto que para qualquer um querendo largar qualquer substância, a pessoa precisa estar num ponto onde realmente odeia o que está fazendo. Largar as drogas não é só não usar. Você pode ter que cortar laços com pessoas que chama de amigos, e realmente cortar muita energia negativa.

Marilla Wex , correspondente estrangeira do The Beaverton

Ficar sóbria parece um negócio realmente cabeludo antes de você realmente fazer isso. Antes de tomar a decisão, eu achava que tinha que acontecer alguma merda realmente grande para chegar ao fundo do poço e decidir parar de beber. Acho que eu tinha assistido episódios demais de Intervenção. Aí falei com um amigo que me disse que percebeu que chegar aos 40 bebendo estava deixando ele deprimindo. E me identifiquei com aquilo.

Notei que a reação do meu corpo ao álcool tinha mudado dramaticamente — parecia que eu ficava bêbada muito mais rápido. Eu ficava agressiva e tinha as piores ressacas. Tive que fazer algumas tentativas, mas acabei fazendo a ligação de que a parte divertida de beber não compensava as horríveis consequências físicas. Para mim, o processo de ficar sóbria foi uma questão de me decidir. Sem AA, sem 12 passos, sem Jesus. Só perceber que eu não queria mais a paranoia, a depressão e me sentir fora de controle.

Parar de beber foi uma das melhores coisas que fiz para mim mesma. Posso acordar de manhã, lembrar das coisas da noite passada e não ser sugada pela paranoia de "Merda... será que aquela pessoa ficou ofendida? Fiquei parecendo uma idiota? Eu parecia bêbada?" Sou dona do meu comportamento porque sei que estava totalmente sóbria.

Dito isso, a parte mais difícil de parar de beber é a reação das outras pessoas. Sempre fui muito insegura, e aguentar as provocações teria sido impossível aos 20 poucos anos no Reino Unido. Mas na minha idade e no Canadá é mais fácil, mas ainda tenho que ouvir os comentários mais escrotos: "Seu eu bebo, você também bebe! Você já se divertiu alguma vez na vida? E maconha, e cocaína? Como a gente vai transar desse jeito?" Não me considero uma alcoólatra, mas às vezes me sinto tentada a responder a essas babaquices dizendo "Sabe, já é difícil resistir à bebida todo dia sem otários como você tirando sarro de alcoólatras".

E sendo honesta aqui: podemos falar sobre a falta de bebidas sem álcool descentes nos bares? Sei que esse é um problema estúpido de primeiro mundo, mas ter que pagar 10 paus por uma Coca de máquina sem gás é um chute no saco. Se estou num bar descente peço um drinque virgem misterioso, e um bom bartender vai gostar do desafio de preparar um drinque no qual você tem que adivinhar os ingredientes. Uma vez me apresentei num bar onde eles tinham uma torneira de kombucha. Achei que tinha morrido e ido pro céu. Às vezes sinto falta do gosto da cerveja, mas a kombucha é muito bom porque você tem o gosto de levedura e a efervescência do gás.

Felix Hagan, Vocalista do Felix Hagan and the Family

Nunca vi a bebida como um prazer em si. Era um meio de ficar bêbado. A ideia de beber pelo simples prazer era completamente alienígena para mim, mas eu gostava da sensação de estar bêbado, o calor morno nos ossos, a sensação de conforto e a confiança que isso trazia. Na puberdade, eu me sentia constrangido e infeliz no meio das pessoas, e descobri que bebendo eu podia ser simpático e divertido. Foi por volta dessa época que fiquei seduzido pela ideia do artista bêbado. Eu não via problema nenhum em beber sozinho. Mas em vez de escrever grandes romances ou compor ótimas músicas, eu estava assistindo do DVD do Senhor dos Anéis com comentários. Eu só estava fingindo que era aquilo que eu idolatrava.

Leia também: "Nunca Vi Ele Bêbado": uma Entrevista com o Editor de Charles Bukowski

Minha primeira banda depois do colégio foi uma queda súbita na realidade de shows em clubes de verdade. Me joguei com tudo no hedonismo, como se tivesse que ser o arquétipo sem sentido do rock star bêbado. A apresentação era apenas uma pequena parte disso. Eu queria a festa, eu queria aventura, eu queria ser a estranha caricatura heroica que eu tinha inventado. Apesar de sair do palco pensando que tinha arrasado, fico constrangido lembrando disso agora. Já vi filmagens da coisa inchada e balbuciante atrás do microfone, perdendo as notas e ocasionalmente caindo no chão.

Apesar de ver agora quão horrível eu era no palco, os shows pareciam gloriosos. Mas a questão de viver como um alcoólatra é que as partes boas são apenas ilhas num mar de esquecimento cinza. Cheguei ao ponto de beber até desmaiar todo dia. Meu primeiro ano na faculdade foi um desastre. Me acostumei a deixar uma taça de vinho cheia ao lado da cama, para virar quando acordasse e conseguir funcionar, depois levar uma garrafa de Sprite com gim para as aulas. Meus pais foram os primeiros a apontar quão destrutivo meu hábito de beber tinha se tornado. Eles começaram a trancar o armário onde guardavam as bebidas da casa. Quando achei a chave, eles instalaram um cadeado com combinação.

Essa guerra armamentista culminou num dia em que acordei no chão coberto de sangue. Aparentemente eu estava dirigindo um quadriciclo no jardim, completamente bêbado, e entrei direto numa grande cerca de arame farpado. Tenho as cicatrizes do acidente nos braços até hoje. Deixei o quadriciclo preso na lama, depois tentei puxá-lo com um carro até que ele atolasse também. Quando entrei em casa, usei um machado enorme para abrir o cadeado de combinação e bebi todo o gim que tinha lá. Meus pais chegaram em casa e me acharam completamente destruído, chorando; mesmo assim continuei bebendo.

Foi minha namorada que finalmente conseguiu me guiar para o processo de sobriedade. Ela foi mencionando meu hábito com o álcool gradualmente depois de uma série de incidentes. Ela disse que notou que algo estava errado quando me deixou numa estação de trem e eu comprei uma garrafa de vinho e uma de vodca para a viagem, o que mais tarde ela descobriu que não era uma brincadeira. A última gota foi quando estávamos na casa dos meus pais, e devíamos voltar para casa dirigindo naquela noite. Quando ela foi tirar um cochilo, secretamente bebi duas garrafas de champanhe para parar de tremer. Foi só quando devíamos dirigir de volta para casa que ela notou quanto eu estava bêbado. Ela ficou de coração partido e voltou sozinha de trem para casa. Não era mais divertido. Eu tinha 21 anos e entrando na reabilitação pela primeira vez dois dias depois.

Passei cinco semanas naquele lugar (menos um dia muito estranho em que saí para tocar com a minha banda da época no nosso primeiro show em Glastonbury) aprendendo como existir sem bebida. A parte mais difícil foi quando deixei a segurança da clínica. Na minha cabeça, eu estava procurando uma desculpa para ter uma recaída. Três meses depois que saí da clínica, eu ia fazer um show e cheguei mais cedo no Water Rats em Kings Cross. O lugar tinha aquele cheiro de pub, aquele aroma glorioso de cerveja velha que se infiltra no cérebro, e assim acabei bebendo tanto quanto antes. Dessa vez bebi em segredo. Eventualmente meu pai me achou tropeçando no caminho para casa. Foi uma das poucas vezes que o vi chorando. Na segunda vez na reabilitação, a ficha realmente caiu. Isso foi há oito anos e meio.

Ter a mente limpa me permitiu parar de fingir ser um músico e realmente me tornar um. Como com qualquer coisa, para se tornar bom em algo, principalmente algo criativo, você precisa de autocontrole e disciplina. E foi isso que aprendi através do meu processo, apesar de não sentir que sou realmente responsável pela minha recuperação. Foram as pessoas ao meu redor, minha família e amigos, a equipe maravilhosa da clínica e as pessoas do AA. É um processo. Cada viciado tem uma história sobre o que o levou até aquele ponto, mas todos têm praticamente a mesma história sobre como melhoraram.

O maior erro da mente de qualquer viciado é achar que você está sozinho. As comunidades do AA, NA e Al-anon estão bem na sua porta, e sem as pessoas do AA eu não estaria aqui agora. Ficar sóbrio é muito difícil sozinho, mas nunca precisa ser assim. Eles têm reuniões todos os dias, em todo lugar. A ajuda, o amor e o apoio estão ali. Você só precisa procurar.

Primeira imagem cortesia de Krissy Howard.

Graham Isador e um escritor que mora em Toronto. Siga o cara no Twitter .

Tradução: Marina Schnoor

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Kamasi Washington, Saul Williams e Cymande são as principais atrações do Nublu Jazz Festival

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Em sua terceira edição, o festival Nublu Jazz Festival, que já trouxe o inglês Tricky, Brian Jackson e o trio BADBADNOTGOOD, volta a colocar grandes nomes da "música urbana" nacional e internacional no palco do Sesc Pompeia e São José dos Campos. Dessa vez, quem protagoniza é o saxofonista americano Kamasi Washington (e sua banda The Next Step), que trouxe seu nome aos holofotes com o disco The Epic (2015) e a participação no seminal To Pimp a Butterfly, do rapper Kendrick Lamar, também do ano retrasado. Ele se apresenta nos dias 8 e 9 de abril no Sesc Pompeia e no dia 6 no de São José dos Campos. 

Abrindo para o Kamasi no Pompeia, no sábado (8), estará o rapper-poeta-spoken-word americano Saul Williams, que lançou no ano passado o projeto digital MartyrLoserKing. As atrações principais dos outros dois dias do festival são o grupo de funk jamaicano/guianês/londrino Cymande e banda de jazz americana The Cookers. Confira o resto da programação abaixo:

Programação Sesc Pompeia

6 de Abril (quinta), às 21h30
Shows: Cymande (GBR) e Sambas do Absurdo (BRA)
DJ: Dvbz [a partir das 20h30]

7 Abril (sexta), às 21h30
Shows: The Cookers (EUA) e Plim (BRA)
DJ: PG [a partir das 20h30]

8 Abril (sábado), às 21h30
Shows: Kamasi Washington (EUA) e Saul Williams (EUA)
DJ: Tamenpi [a partir das 20h30]

9 Abril (domingo), às 19h
Show extra: Kamasi Washington (EUA)
DJ: Tamenpi [a partir das 18h]

Programação Sesc São José dos Campos

6 de Abril (quinta), às 20h30
Shows: Kamasi Washington (EUA) e Saul Williams (EUA)
DJ: Tamenpi [a partir das 20h]

7 Abril (sexta), às 20h30
Shows: Cymande (GBR) e Sambas do Absurdo (BRA)
DJ: Dvbz [a partir das 20h]

8 Abril (sábado), às 20h30
Shows: The Cookers (EUA) e Plim (BRA)
DJ: PG [a partir das 20h]

Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #20

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Alô povo lindo da República Federativa do Brasil.

Com grande honra, estou aqui a passar mais uma listinha de lançamentos da semana, tentando mostrar um pouco do que a grande mídia (algoritmos do Spotify) tenta esconder da gente. Às vezes é até bom esconder da gente e só mostrar que saiu um remaster do Hermeto Pascoal (aliás saiu mesmo, de "Brasil, Universo"). Mas às vezes também a gente acaba perdendo alguma coisa MUITO foda. Então tem sempre que estar de olho, tal qual praticantes de pesca esportiva.

Essa semana no caso não teve nada MUITO foda não. Mas, com o que teve dá pra gente curtir um pouquinho sim, dar um relax, não ter que interagir com outras pessoas no transporte público, entre outros benefícios de ter sempre um sonzinho novo pra ouvir.

DITO ISSO: vamos à lista.

----MELHORES QUE TEVE ESSA SEMANA----

Feist - "Pleasure"
Ó sinceramente gostaria de ter ouvido algumas vezes com calminha antes de falar qualquer coisa. Mas não temos tempo não. Então é o seguinte: é uma música que vai crescendo (uia!) com o tempo, mas a forma com que o #climinha é construído, a princípio, eu gostei médio. Mas termina legal.

Depeche Mode - Spirit
O que me agradou nesse disco é ser DE FATO um disco #novo do Depeche Mode. Tem 0% de influência das músicas atuais (tipo "ah vamos meter um vocal com pitch acelerado, tá super na moda") e ao mesmo tempo não é um disco anos 80. Manja? É novo, mas é Depeche Mode.

Real Estate - In Mind
Um bom compilado de rock #gostosinho. Tudo bem calminho, bem de boa, bem guitarrinhas levemente distorcidas pra animar seu dia bosta.

Chloe Martini - Never Twice the Same
Músicas bem legais desse EP da Chloe Martini. Bem pra cimão mesmo, e só vocal feminino que deixa mais daora e pá.

Conor Oberst - Salutations
Uns folk aí que a maior parte eu achei boazinha, mas acho que é mais porque não tô nessas pegada do folk aí ultimamente não. Prometo ouvir esse com mais calma, porque passei meio por cima essa aí.

Ty Segall - Sentimental Goblin EP
Eu me fiz por várias vezes a pergunta "mas porque eu gostei dessa e não gostei de um monte de outros lançamentos que é a mesma linha?". Bom, eu sei lá. Mas gostei dessa. Das outras que é a mesma linha, não. E esse EP são só duas músicas só né, super de boas.

ANOHNI - Paradise
Estranho né? E essa capa aí das fotinha? Mó estranho né? A onda aí parece que é ser estranho mesmo. Mas tão bonita a voz, eu acho.

Arca - "Reverie"
Outro que tá na pegada do esquisito. Esquisito por esquisito, vote no Marquito. Música lentinha mas boa de ouvir.

Obituary - Obituary
Metalzão de altíssima qualidade, gutural bem feitinho, bumbo duplo e solos alta virtuose. Soa (a nível de SOAR) como um disco gravado nos anos 80 ou 90, mas se pá é o meu fone de ouvido que é o modelo mais simples.

Alexandre Pires - "El Problema Eres Tu"
Linda canção de Alexandre Pires com certeza irá cativar o público latino com seu ritmo envolvente (e beleza).

----AS BEM MEDIANAS QUE TEVE NA SEMANA----

U-KISS - solo&unit
Um EP ok de boy band. Já ouvimos melhores na vida.

Ida Maria - "You"
Boazinha. Na segunda vez que você ouve já fica mais chatinho.

Rebecca Black & KHS - "If We Were a Song"
Se a voz é falsa cheio dos efeito ou não, eu já não sei. Mas a música tá bem legalzinha de pop.

Zara Larsson - "So Good"
Popzinho ok bem de rádio FM mesmo. Bem Rihanninha a voz.

Blink-182 - "Parking Lot"
Não é das melhores coisas do mundo mas pelo menos tão fazendo um hardcorezinho.

Fresno - "Deixa a Alma Escapar"
Legal não é, mas também não é uma merda. Mas é mais pela #potência #vocal do vocalista aí que eu acho que canta bem mesmo. Mas a violinha tocando é chatíssima.

Naiara Azevedo - "Mordida, Beijo e Tapa"
Bom arrochinha de se ouvir na playlist de arrochinha 2017.

Preto no Branco - "Fé na Vida"
A letra é beeeem fraquinha, mas enfim é gospel né, tem que ter a #mensagem. Musicalmente, é muito bom esses cara aí, vou ficar de olho neles.

Pitbull - "Climate Change"
É Pitbull com consciência social. Sonoramente, é igual às mais comuns do Pitbull.

Munhoz & Mariano - "Box do Chuveiro"
A #variação #da #batida no refrão ficou top. Se a letra num fosse meia boca aí não ia ter pra ninguém. Infelizmente, letra meia boca.

Cacife Clandestino - "Marginal"
Batidinha okzinha, mas nada demais. O que ele canta eu nem prestei atenção.

Incubus - "Glitterbomb"
Rock aí que eu acho que vai agradar quem gosta de Incubus. Não gosto de Incubus.

Aldo, The Band - Giant Flea
Disco muito bem feitinho de discopunk e rock mais dançantinho. Num é nada nível DFA Records, mas enfim tem lá seus momentos.

Spoon - Hot Thoughts
Sinceramente tô ouvindo aqui e achando tudo chato chato chato. Nada que me empolgou não.

Èko Afrobeat - "Sambou África"
Comecei a ouvir com uma expectativa boa, porém a intro parecia que não acabava nunca, aí entra o canto onde o nome "África" é repetido 88 bilhões de vezes num intervalo de 30 segundos. Depois melhora, mas depois eu já tinha perdido toda a concentração sobre o que estava acontecendo.

Flosstradamus - "Back Again"
Esquema Flosstradamus de sempre aí. Batidão comendo fudido. É legalzinha.

Mura Masa & Charli XCX - "1 Night"
É um pop ok, vai. Não vai mudar a vida de ninguém também. Vamo pra próxima.

Brad Paisley - "Heaven South"
Bom country de se ouvir, caso você esteja afim de ouvir um country hoje

Miami Horror - The Shapes
Não é ruim não mas já deu também desses electropop aí de banda. Cansou um pouquinho já.

Felicita - Ecce Homo
É um disco da PC Music que é praticamente cinco faixas instrumentais de piano. Cheguei a achar que o Spotify subiu um arquivo errado mas é isso aí mesmo. Faixas instrumentais de piano. Tem uma no meio que não é, mas só fica legal se ouvir o EP na íntegra desde o início.

Giovani Cidreira - "Vai Chover"
Indie bem feitinho. Por que que tem um eco fudido na voz eu já não sei. Mas tem lá sua gracinha.

CJ Ramone - American Beauty
Que que eu vou falar? Se quiser ouvir, ouve aí, se não quiser não ouve. Se você reconheçe o nome (vai que tem alguém aqui que não reconheça) então já sabe que tipo de som vai ter aqui.

----O SINGLE DO LINKIN PARK QUE TEVE NA SEMANA----

Linkin Park - "Battle Symphony"
Ó que bom que teve mais um single desse Linkin Park novo que daí a gente pode refletir um pouco mais sobre o que tá acontecendo. Alguém da banda, que nem vou pesquisar quantos Linkin Park ainda tão na banda, faz porque faz muita questão de manter o nome. Pra conseguir uns shows sei lá. Então o cara grava umas músicas pop completamente diferentes do que fazia antes e eu duvido que tenha CORAGEM de tocar isso ao vivo pra uns cara que tá afim de ouvir "Breaking The Habit". Isso sequer é música de banda, porque dá pra alguem fazer sozinho no computador. A música é até que ok, a nível de popzinho, mas é OFENSIVA até pra quem nunca gostou de Linkin Park. Aliás, seria mais digno se eles fizessem igual o Smash Mouth e passassem a lucrar com o fato das músicas terem virado meme de internet.

----AS QUE REALMENTE NÃO DEU NÃO----

Sango - De Mim, Pra Você
Pra mim já deu do Sango e seu chillwavezinho com batuquinho brasileiro. Tá a um passo de ser o Kaleidoscópio do novo milênio.

Weezer - "Feels Like Summer"
É popzinho eletrônico e é chatinha e é no mesmo nível dessas várias que tão saindo nos últimos anos.

2 Chainz - "It's a Vibe"
Bem qualquer coisa.

Thaeme & Thiago - "Sarcasmo"
Decepcionado com essa música fraquíssima da melhor dupla de música sertaneja (categoria duplas mista).

Similares - Similares
Rockinho brasileirinho nada de novinho inclusive bem chatinho.

Erasure - "Love You To The Sky"
O refrão é uma dureza. A música é meia boca, mas o que pega mais é na hora do refrão. O refrão é uma dureza. Aquele refrão que repete 3x a última palavra. Dureza.

Circa Waves - "Fire That Burns"
Meia bocaça essa música. Essa semana tá cheio de música meia bocaça.

Melanie C - "Hold On"
Baladinha pop que tava indo muito bem até a hora que a Mel C parou de cantar e entrou um cara. A partir daí ficou uma bosta.

Dança, estética e resistência negra na Batekoo

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Artur Santoro, Maurício Sacramento, Monique Evelle e Wesley Miranda. Foto: Vinicius.jpeg

Salvador é a capital com a maior população negra do Brasil. Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) de 2010, quase 80% da população soteropolitana se considera da cor preta ou parda. Além disso, a cidade é a que contém o maior número de descendentes de africanos no mundo fora da África, superando Nova York e Nova Jérsei, por exemplo. "Mesmo assim, a maior parte de eventos e da produção cultural alternativa — shows, etc — da cidade fica concentrada na mão de brancos ricos, que meio que se apropriam da cultura de origem africana em benefício próprio, e é consumida por uma galera branca", explicou o produtor e DJ de 22 anos Maurício Sacramento. Foi justamente com o intuito de produzir uma festa de jovens negros periféricos, feita por negros e para negros, que ele e o também produtor Wesley Miranda, 24, resolveram criar a Batekoo. 

O começo da Batekoo pode ter se dado meio que pelo acaso: em dezembro de 2014, o Wesley tava fazendo aniversário e se mudando pra São Paulo, por isso quis dar uma festa de despedida. Pra ajudá-lo a organizar a comemoração, ele chamou o Maurício, que já tinha mais ou menos uma vontade de criar um projeto alternativo de música negra que tocasse muito funk, hip-hop, trap, kuduro, dancehall e outros ritmos para "literalmente 'bater o cu no chão'", de acordo com Maurício, e feita exclusivamente por negros na periferia da cidade.

"No final de 2014, o afropunk e essa onda de empoderamento estavam começando a bombar na internet. Pra promover a primeira edição da Batekoo, eu e uma amiga fizemos um teaser com toda uma estética 'urbana', junto com esse discurso social do movimento negro. E acabou que a festa bombou muito", explicou Maurício. O produtor resolveu continuar sozinho produzindo a festa na capital baiana, até que em agosto de 2015 a festa ganhou a sua primeira edição em São Paulo, encabeçada pelo Wesley. 

Wesley Miranda e Maurício Sacramento. Foto: Vinicius.jpeg

"Percebi que em São Paulo também tinha uma necessidade de se criar esse espaço de jovens negros-para-negros, apesar de a periferia daqui se dar de um jeito diferente da de Salvador", disse Miranda, que começou a organizar as festas no centro da capital paulistana. "Por isso, chamei a Renata Prado, que é uma mina preta e periférica daqui pra me ajudar na produção e a entender essa demanda do jovem preto/a LGBT paulistano."

Hoje em dia, além de Salvador e São Paulo, a festa acontece no Rio de Janeiro e em Brasília. "Apesar das peculiaridades regionais — por exemplo, em Salvador, a gente toca mais baianidades e kuduro. Aqui em São Paulo, rola mais dancehall e, no Rio de Janeiro, mais funk — É engraçado perceber que o conceito de exaltação da juventude negra underground se mantém em todas as cidades,", disse Wesley. "A ideia da festa foi se moldando ao mesmo tempo que eu e outros jovens negros fomos nos aproximando e vendo a necessidade de afirmar a nossa negritude, até chegar na Batekoo que a gente faz hoje: um lugar que, além de toda a questão estética preta, tenta ser livre de racismo, misoginia e LGBTfobia", falou Maurício.

A Batekoo se tornou tão popular no último ano que eles estrearam seu trio elétrico no último carnaval de São Paulo — recebendo em torno de 40 mil pessoas nos entornos do Largo do Paysandu — e parte da galera da produção das edições paulistanas da festa foi convidada para fazer a coreografia do clipe de "Farofei", último single da Karol Conka, um dos ícones para os idealizadores da Batekoo.

"A Karol Conka tem tudo a ver com a gente, em quesito de linguagem e imagem. Tanto que ela já fez show numa Batekoo em Salvador", disse Wesley Miranda. "A questão da música 'tombadora', que ela bombou lá em 2014 com 'Tombei', e dos ritmos que ela trabalha no som dela também se encaixam em todo poder que a gente tenta reivindicar por meio dessa festa". Outro rapper que também serve de inspiração para o evento é o Rico Dalasam, tanto pelo fato de ele ser negro e gay quanto pelas suas roupas e preferências de estilo nos clipes. "A MC Carol também é outra que a gente adora demais e tocamos muito nas festas. Além de ela ser gorda, preta e periférica, ela chega com um discurso super feminista e muito positivo para as mulheres, que são a maior parte (quase 70%) do nosso público."

Maurício, Monique, Juliana Araújo e Artur Santoro. Foto: Vinicius.jpeg

Maurício acredita que a razão pela qual o público da Batekoo é majoritariamente feminino está no fato de que lá as mulheres negras se sentem seguras e livres para rebolar até o chão sem sofrerem de julgamentos ou assédio de homens héteros. "Acredito que essa dança seja muito libertadora pra elas, assim como é pra homens gays também. Na Batekoo, as minas podem dançar sem ninguém chamá-las de 'vadias'. E os gays também batem o cu no chão sem medo de serem xingados de 'afeminados' —como se ser afeminado fosse algo ruim —, ou coisa do gênero." 

Além da dança, outro meio de empoderamento, tanto pras mulheres quanto pros homens na Batekoo, é a exaltação do cabelo afro, tanto que rola até uma "batalha de tranças" entre os frequentadores. "É um lugar pra gente exaltar a nossa imagem mesmo. Pra que a gente se sinta bonito e 'normal'", disse Wesley.

Apesar de saber que a festa é um momento passageiro, Wesley acredita que espaços alternativos como a Batekoo são fundamentais para jovens negros. "A gente sabe que, quando a festa acabar, tudo vai voltar ao normal. O racismo vai voltar, porque a sociedade continua a mesma. Mas acho que é necessária que haja esses espaços de exaltação da nossa autoestima, até porque é difícil fazer militância política com a autoestima baixa. E é interessante ver como a gente conseguiu transformar algo que começou como uma festa de despedida em um movimento estético/social".

A festa da Batekoo na Casa Air Max é parte da ação que comemora o Air Max Day 2017, promovido pela Nike. Semanalmente, feras da música contemporânea brasileira se reúnem para projetos especiais que celebram o legado do Air Max, icônico sneaker da marca lançado em 1987. O tema dessa semana é "Colaboração" e celebra o Air Max 1 Atmos. Ele foi o grande vencedor do Vote Back do Air Max Day 2016, votação global que escolheu qual edição especial voltaria às prateleiras nesse ano. O Atmos foi lançado pela primeira vez em 2006 via uma co-criação coma equipe japonesa da loja Atmos.

Neste sábado (18), na Casa Air Max em São Paulo, vai rolar uma Batekoo com pocket show do Rico Dalasam. 

No próximo domingo (26), quem se apresenta é a Karol Conka que, junto com a Batekoo, criou uma coreografia especial pra uma música da rapper sobre empoderamento feminino.

A vida de chofer é um trampo difícil no novo clipe dos norte-americanos do minihorse

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Enquanto o conjunto norte-americano minihorse prepara seu álbum de estreia, anunciado para este ano pela Friendship Fever, o Noisey traz a público a premiere do clipe para a faixa "Thriller". A música é a terceira entre as cinco do EP Big Lack. Devo admitir que o trio, formado por Ben Collins (voz, guitarra), Christian Anderson (baixo) e John Fossun (bateria), escolheu um tema bem maluco para esse vídeo.

Um chofer se arruma e sai para uma noite de trabalho. Só que alguns trabalhos são mais difíceis do que outros. A rotina do protagonista inclui pegar uma mulher que escapa de um incêndio e um cara que bebeu até quase morrer num bar. Porém, quando passa por uma criança caminhando solitária na rua, para o bem ou mal, ele não a pega.

Lançado o enigma. Agora, falando da música, "Thriller" ilustra bem o estilo da banda de Ypsilanti, Michigan, que traz influências tão diversas — mas coerentes na química — como Lemonheads, Guided by Voices, Teenage Fan Club, Elliot Smith, Grandaddy, My Bloody Valentine, Cardigans, Paul McCartney e Someone Still Loves You Boris Yeltsin.

Isso significa que os amantes daquele tipo de indie rock meio melancólico, no entanto ensolarado, se sentirão contemplados. Em outras palavras eu diria que o minihorse faz um som bem melodioso, intenso e carregado no fuzz.

Mesmo há pouco tempo na ativa, o grupo expõe uma concisa identidade, e teve seus primeiros grandes momentos recentemente, abrindo para o Grandaddy no festival Noise Pop, em São Francisco, e com as duas apresentações que fez no SXSW.

Veja o clipe:


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