Os cachorros são como nós. Bom, humanos ainda são evidentemente bem ruins em detectar e evitar perigo, mas aparentemente nós e os dogs podemos concordar em uma coisa: reggae. De acordo com um estudo feito pela Associação de Proteção aos Animais escocesa e a Universidade de Glasgow, os cachorros mostraram "as mudanças de comportamento mais positivas" quando tocaram reggae e soft rock pra eles. De acordo com a BBC, os cachorros que participaram do estudo também ouviram Motown, pop, e música clássica.
Pessoalmente, nós achamos que essa é uma quantidade de gêneros muito pequena. Não há nada de rap, metal ou eletrônico aqui. Nunca saberemos se certos caninos na verdade curtirão mais um doom metal, por exemplo, ou uma trapzera. Po, eles podiam ter criado o ambiente correto para a existência de umDog-Selected Ambient Works. Pode ser que ainda aconteça, porque o estudo também mostrou que cachorros "tem suas próprias preferências musicais individuais". Se aprendemos algo com isso, foi que os dogs, assim como os humanos, também tem uma cópia de Legend, do Bob Marley, em suas casas. Dog Marley. Agora assista esse cachorro dançando "Cabeça de Gelo", do Cleiton Rasta:
Sexta-feira já é geralmente o dia oficial de curtir um trap farofa sem ser julgado, mas esta sexta (27) em especial está duplamente permitida a trapzera porque: 1) o Migos finalmente lançou seu aguardado segundo disco, Culture, depois de o single "Bad and Boujee" ter hypado demaaaaais e 2) algum desocupado da internet fez uma edição do clipe de "Bad and Boujee" com o Lil Uzi Vert, que fez uma participação na faixa, cantando só o seu YAH YAH YAH YAH YAH a música inteira!!! Por quê não, não é mesmo?
Assista abaixo:
E você pode ouvir o disco abaixo (ou no serviço de streaming de sua preferência):
Aí ó, você piscou e ó janeiro indo embora. Como passa rápido o ano. Aí você vai ver acabou 2017 e você já vai ter que votar de novo. Mas pelo menos tem Copa do Mundo.
Mas isso é ano que vem só.
Vamos voltar aqui pra esse período de alagamentos, queda de árvores e Carnaval. Essa semana rolou mais uma leva de tentativas de hits para o Carnaval porém sinceramente, não rolou não. Vai ficar nesse negócio de "pai te amando" mesmo.
No mais, vamo deixando vocês aí com essa listinha pra lá de eclética com as boa da semana. Deixa salvando aí pra ouvir offline no seu #celu quando for voltar pra casa.
---ESSAS AQUI TÃO BOAS---
Real Estate - "Darling" Decidi começar a chamar esse tipo de som de "indiezinho tchubaruba". Tem que tar no clima, se ouvir tristinho talvez você não curta tanto assim.
Tashaki Miyaki - "Girls On TV" Somzinho shoegazinho mas shoegazinho bem na moral. Shoegazinho que seu pai ouve e não reclama do barulho.
Six Feet Under - "Exploratory Homicide" Metalzão bonito demais.
Andup - Singsung EP Rapper coreano com batidas bem das bacanas, bem eletrônico mesmo.
Mastodon - Sultan's Curse Num é um death metal mas também tem suas qualidades que não podem ser ignoradas e etc etc. Viva o metal.
OS DOIS SINGLES DA NELLY FURTADO Agora vai hein caralho. ESSE ANO VAI. Vamo lá Nelly, tô na torcida. "Cold Hard Truth" é muito muito boa. "Pipe Dreams" não é tão muito muito boa assim, mas deu pra dar uma esperança sobre esse disco novo aí que tá vindo.
Asako Toki - Pink Eletronicozinho mais tem uma #pegadinha de citypop japonês que deixa a coisa mais interessante.
Jamiroquai - "Automation" Som bem Jamiroquai que nem aqueles Jamiroquai do final dos 90. Eles eram bem pra frentex naquela época, fala aí.
Keys N Krates - "Right Here" Se você me perguntar porque eu gostei dessa música e não dos outros eletrônicos que vão tar mais pra baixo eu realmente não sei responder. Mas eu gostei mais desse do que dos outros.
Rick Ross - "I Think She Like Me" Rap de batidinha bem na moralzinha bem relax bem gostosinha de tar se ouvindo mesmo.
Cloud Nothings - Life Without Sound Indiezão daorinha mesmo.
The New Pornographers - "High Ticket Attractions" Som super pra frentex.
Aláfia - "Liga nas de Cem" Ow, boa a #produça hein. Negócio bem feitinho mesmo. De papo já é médio.
Tonstartssbandht - "Sorcerer" Uma música de nove minutos que você não percebe que tem nove minutos. Isso aí não é todo mundo que consegue não, viu.
Tennis - "Modern Woman" Bonzinho o som aí. Lembrou as músicas do Seventh Tree da Goldfrapp (baaaita disco).
Father John Misty - "Pure Comedy" Vô chamar isso de "brincando de Elton John". Ficou bom o resultado, parabéns.
Brent Cobb - Shine On Rainy Day Ótimo disco de country-folk. Ótimo. EMPOLGOU.
Goldfrapp - "Anymore" Boazinha porém esperava mais. Talvez eu bote minhas expectativas lá pra cima no quesito "single novo da Goldfrapp".
Ariel Pink & Weyes Blood - Myths 002 Carai hein tiu. Baita EPzão. Quatro sonzeras bem sonzera pra você guardar com carinho do lado esquerdo do peito. Dentro do coooooooraçããããããoooooo (Assim falava a canção que na América ouvi).
---ESSAS AQUI NÃO SÃO TÃO BOAS ASSIM, MAS DEPENDENDO ATÉ VAI---
KIZ - "Décroche" Bonzinho. Tem lá um groovezinho, vocal francês daorinha. Vale a nível de #curiosidade.
Cliff de Rua - Cliff de Rua, Vol.1 No #overall é bom por ter lá um ragga, um dancehall, um sei lá qual o nome desses rítmo. A #mensagem já achei meio fraquinha.
Thalía - "Quinceañera" Eu chamo de reggaeton mas é porque não manjo tanto assim de rítmo latino então tudo é reggaeton. Mas ficou legalzinho esse aí.
2NE1 - "Goodbye" Nave 2NE1 se despedindo do planeta Terra com uma baladinha voz e violão. Fica o legado pros futuros grupos de k-pop.
Infected Mushroom - Return to the Sauce Não sei se é por ser uma dupla já manjada, ou por ter surgido o Skrillex, mas esse disco do Infected Mushroom não me pareceu tão SOM DE PASTILHADO dessa vez. Nenhuma música tem aquele #tchans.
Riff Raff - "Test Drive" Rapzinho que tanto faz a existência.
ANOHNI - "Paradise" Vou dizer assim: Ruim obviamente não é, mas também não há nada que me motive ouvir essa música de novo na vida.
Babado Novo - "Na Concentração" Arrocha-Funk bom pra ouvir no postinho de gasolina com o porta-mala do carro aberto.
Fernanda Costa - "Chame o Juiz" Sertanejo okzinho.
Samyra Show - "Dança do Desprezo" Forrózão de boteco. As vezes é bom.
Tiga - "Eye Luv U" Tem lá suas qualidades. Só não tenho mais saco pra batida repetitiva.
MC TH - "Coração Gelado" Pode ser o hino definitivo do mal gosto do jovem brasileiro para com a cervejinha.
Tokyo Police Club - Melon Collie and the Infinite Radness (Parts 1 and 2) E esse título bem boladinho hein? Mas enfim, indiezinho tchubaruba bem pra cima. Em excesso eu já acho um pouco chato. Tem que ir de pouquinho.
Major Lazer - "Run Up" Pop de FM que tanto faz também.
Zara Larsson - "So Good" Oba, mais uma Rihanna. Tava faltando mais uma Rihanna mesmo. Tem pouca Rihanna no mundo lançando música da Rihanna.
Martin Garrix - "Scared to Be Lonely" AS SETE MELHORES JOVEM PAN.
Pessoal da Nasa - Testamento É um rock aí que veja bem... Me agradar mesmo não agrada nada. Mas tá aí, bem feitinho, bem produzidinho, rockinho, mensagenzinha, essas coisas aí do rock brasileirinho.
IZA - "Te pegar" Pop eletrônico apenas OK.
Henrique & Diego - "Tô Vendo que Você Tá Bem" Arrochinha gostosinho de se ouvir.
Juanes - "Hermosa Ingrata" Legalzinho e tal. Se tiver afim de ouvir uns #latino tem esse aí.
Bullet Bane - "Mutação" Hard rock brasileiro tá bem bom pra quem gosta de um hard rock. Calhou que eu não gosto muito de um hard rock não.
Durval Lelys - Mil Sorrisos Essa capa cheio dos emoji já deixa claro: SOM PRA TURISTA. E turista velho que de vacilo fecha o pacote 5 Dias Porto Seguro CVC e quando percebe tá dividindo hotel com um monte de menor de idade altamente embriagados. Volta pra casa com um berimbau e um CD do Durval Lelys.
Cheiro de Amor - Jardim Delirante Mais uma banda de axé que caiu no golpe do "vamo dar uma variada no estilo". Nunca deu certo. Porém "Criatura" e "Tema do Cheiro" até que vai.
Au/Ra - "Kicks" Música ok só. Popzinho.
---AS RUIM---
Lulu Mello - Vivendo Muito Bem a Vida Disco samba-rock-groove que como a maioria dos discos samba-rock-groove das últimas duas décadas é pra lá de padronizado em todos os aspectos possíveis. Logo, dispensável.
Danko Jones - "My Little RnR" Se você manja Danko Jones é o mesmo som de antes, viu. Se você não manja Danko Jones não precisa perder seu tempo não.
Tom Speight - "Willow Tree" Folkzinho cheio das firula, violininho, backing vocal feminino, essas paradas pra lá de manjada.
Johnny Glövez - "Far Away" Eletrônico qualquer nota. Se não falasse que tá o Rogério Flausino cantando eu nem ia notar.
Hotelo - Chama Pop rock que sei lá esses cara viu. Em mim não pegou nada.
Rag'n'Bone Man - "Skin" Popzinho Ed Sheeran. Malinha.
Jorge & Mateus - "Se o Amor Tiver Lugar" Nheeeeeee. Num bateu legal essa aí não. Meio chatinha.
---AS MUITO RUIM CALHOU QUE É TUDO GALERA DO RAP MAS NÃO FOI INTENCIONAL ATÉ PORQUE NÃO SOU EU QUE GRAVO ESSAS MÚSICAS---
A banda de crust-metal-core O Cúmplice, da qual já falamos algumas vezes por aqui, deve lançar seu próximo trabalho em maio deste ano. Dessa vez, não se trata de mais um split ou EP. Será, na verdade, o primeiro álbum, com 11 faixas, do grupo paulistano em seus equivalentes 11 anos de existência — até o presente momento, a discografia reúne três splits e um compacto.
Então sacie um pouco da sua curiosidade com o vídeo que o Noisey solta nesta segunda (29). Nele, são revelados três sons entre aqueles que darão corpo a Ano XI, extraídos de uma performance que aconteceu durante a pré-produção do disco: "Altar dos Esquecidos", "A Utopia Falhou" e "Ilusão da Harmonia".
Foi o Paulo Ueno, que toca no Projeto Trator, quem editou e dirigiu o vídeo, sob um aspecto de imagem gravada em rolo, vítima da ação do tempo. Ele divide, aqui, a captação das imagens com Fernando Alves. "Fizemos essa gravação para sacar como as músicas soavam", explica o vocalista Marcelo Fonseca sobre a ocasião originária do clipe.
"Essas três estavam praticamente redondas, apesar de umas rateadas de tempo, por isso decidimos que seriam elas. A sessão do vídeo foi no Rock Together, e o som, captado pelo Murai (Casa de Bomba) em 16 canais, mas ainda não acertamos o estúdio onde gravaremos o álbum de fato", diz.
Parte dos planos de divulgação da obra a caminho inclui apresentações no Chile, a primeira experiência internacional d'O Cúmplice, e uma volta ao nordeste e entorno de Porto Alegre. Além de um show especial de lançamento prometido para o Black Embers Fest IV.
Discreto, abstêmio e caseiro, Darci Rossi morreu vítima de complicações causadas por uma pneumonia na última sexta-feira (20) na cidade de Valinhos, no interior de São Paulo, aos 69 anos. Apesar da personalidade tímida e do jeitão humilde, com a caneta nas mãos criava mundos, histórias de amor e cenários em poesias para a música sertaneja. Foi assim que, no ano de 1982, escreveu: E hoje, o que encontrei me deixou mais triste, um pedacinho dela que existe, um fio de cabelo no meu paletó.
A música Fio de Cabelo foi escrita em 40 minutos, uma parceria que Darci assinou com Marciano (ele mesmo, da extinta dupla João Mineiro & Marciano e, atualmente, Milionário & Marciano). Gravada por Chitãozinho & Xororó, ultrapassou as barreiras até então alcançadas pelo gênero, abrindo as portas para o que viria ser um fenômeno musical de massa — e que se sustenta nesses moldes, com algumas variações, até os dias de hoje.
Marcelo Daniel curou essa playlist no Spotify com os sons que citamos na matéria.
Em um áudio bastante emocionado, enviado pelo WhatsApp, a lenda do sertanejo Marciano afirmou ter perdido um grande amigo, com quem iniciou a carreira, ainda nos anos 1970. "Estou arrasado, chorando o tempo todo", disse o cantor, "foram tantas as músicas que a gente gravou e cantou, nossa história foi maravilhosa."
Sobre o processo de composição de Rossi, o colega elogia sua técnica. "Era extremamente inteligente, tudo o que a gente falava para ele dava certo, ele desenvolvia os temas com a maior clareza, com nitidez", conta.
Na opinião do historiador Gustavo Alonso, autor do livro Cowboys do Asfalto : Música sertaneja e modernização brasileira (Record, 2015) , a canção foi um marco. "['Fio de Cabelo'] iniciou o processo de nacionalização da música sertaneja; até 1982, os sucessos eram regionais e atingiam 'apenas' o público do Centro-Sul do Brasil, com dificuldade considerável de chegar às capitais", explica.
Em suas redes sociais, a dupla Chitãozinho & Xororó escreveu: "Nossos sentimentos aos familiares desse grande amigo e compositor Darci Rossi. Dentre suas mais de 400 canções gravadas, o nosso grande sucesso "Fio de Cabelo". Para sempre em nossos corações".
A foto que ilustra a postagem da dupla é de uma rara aparição de Rossi na grande mídia, durante o então Programa Livre (SBT), comandado por Serginho Groisman.
Em rara aparição: Darci sai da plateia e acompanha CH & X em sua grande composição. Note que no meio do caminho ele não aguenta o tom alto da voz de Xororó.
Um homem de família
O compositor nasceu em Guaxupé (MG), mas com um ano de idade viria para São Caetano do Sul (SP), onde cresceu e passou a trabalhar na indústria automotiva, na Chevrolet do Brasil (General Motors).
Teve um início da vida adulta com dificuldades, a mãe faleceu quando ele tinha 18 anos e o rapaz teve de ajudar na criação de alguns dos irmãos — eram em oito, no total. Casou-se com Sônia Maria e teve quatro filhos. Deixou seis netos.
"Em 1981, meu pai foi transferido para a GM de Campinas; em 1985, nos mudamos para Piraju, onde meu pai teve uma concessionária da marca; em 1994, voltamos a Campinas, onde ficamos até 1998, quando viemos para Valinhos", conta a filha Lisandra, sobre as passagens no interior de São Paulo.
Um detalhe interessante na biografia de Darci Rossi é que, mesmo tendo escrito em parceria sucessos como " Fio de Cabelo", " 60 Dias Apaixonado", "Crises de Amor", "Deixei de Ser Cowboy por Ela" e outros tantos hits — a filha afirma que, de fato, entre gravadas e inéditas, se aproxima das 400 letras —, e apesar de receber pelos direitos autorais dessas produções, o compositor teve sempre de trabalhar em outras atividades para garantir o sustento da casa. "Acho que se meu pai fosse compositor fora do Brasil ele seria um trilhardário", comenta a filha, ressaltando que o pai foi funcionário da GM, dono de concessionária, de padaria e só nos últimos dez anos é que estava, de fato, vivendo apenas das suas composições.
Reprodução/Facebook.
"Ele não saía de casa para nada e quando o fazia e era reconhecido, ficava pasmo com isso", lembra Lisandra.
Teve também algumas aventuras fora dos bastidores, ao lançar quatro discos, sendo dois em carreira solo e dois com parceiros. "O fato de ele ser muito caseiro não ajudou muito na divulgação e nem na realização dos shows", diz.
Capa de um dos quatro discos que Rossi lançou. Mas ele gostava mesmo é de atuar na composição das letras.
Os fios (de ouro) de cabelo
Darci Rossi era gerente do Banco GM, no final dos anos 1970, quando foi procurado pelos jovens irmãos Chitãozinho & Xororó (não se esqueça que a dupla completou, recentemente, 45 anos de carreira e o Noisey também celebrou a data). Os cantores com nome de passarinho já faziam considerável sucesso, mas o Fusca que os transportava já não estava dando mais conta do recado e eles queriam financiar uma nova caranga — à época, os irmãos moravam em Mauá, também no Grande ABC.
Na conversa para negociar a compra do carro, foram informados que o gerente também era escritor e que fazia belas rimas e versos. Xororó perguntou se ele não poderia colocar letra em uma música. Tempos depois, após algumas trocas de ideias, nascia sua primeira composição ao lado da dupla: "Querida"(1977).
A amizade já estava firmada. Rossi e esposa são, inclusive, padrinhos de casamento tanto de Xororó, quanto de Chitão. Quando da mudança para a GM em Campinas, no início dos anos 1980, a dupla passou a visitar o compadre e, após simpatizar tanto com a cidade, transferiram-se para Campinas, onde vivem até hoje.
"Todos costumam dizer que existe uma música sertaneja antes e outra depois de 'Fio de Cabelo'", relata Xororó em depoimento ao documentário da TV Câmara de Valinhos. Quando a música foi lançada, em 1982, os irmãos já carregavam um destaque inédito ao gênero musical, pois seu último álbum, Amante Amada (1981) havia alcançado 400 mil cópias vendidas — o que era um feito para a época.
" Fio de Cabelo rompeu todas as barreiras do preconceito, triplicou essa venda para 1,5 milhão de discos (...) Ultrapassou o limite do ouvinte do sertanejo, abriu as portas de rádios FM [até então esses artistas só eram divulgados pelas emissoras AM], televisão em horário nobre e não apenas para nós dois, mas para o estilo musical todo", complementa Chitãozinho, no mesmo vídeo.
O escritor Alonso também reforça as dimensões do sucesso desse álbum. "Até então, poucos artistas haviam vendido um milhão de exemplares de um disco, tendo sido Roberto Carlos o primeiro, em 1977", diz.
Uma música mais brega
"O grande diferencial dos anos 1980 foi a incorporação da estética brega", aponta o historiador fluminense, que lembra que, desde os anos 1950, as composições misturavam guarânias (que, por sinal, é o ritmo de "Fio de Cabelo"), boleros, corridos e rancheiras mexicanas. "A partir de 1969, houve a presença do rock, especialmente devido a atuação de Leo Canhoto & Robertinho", comenta, citando Chitãozinho & Xororó como adeptos dessa mistura, ao lado de ritmos latinos.
"Na década de 1980, acelerou-se a fusão com outro ritmo de sucesso nacional, o brega, que desde o fim da Jovem Guarda é um sucesso nacional, incorporando a temática radicalizada do amor lacrimoso e da poesia do abandono", conta o autor.
Pronto, agora você já tem o que explicar para aquele seu tio que vem com a camiseta do Scorpions te acusar de ficar ouvindo canções que só falam de traição, adultério, etc.
Para a filha Lisandra, Rossi, aos 40 anos de carreira, tinha consciência que a música teve toda essa importância. "Ele tinha essa noção, mas sempre encarava com muita simplicidade tudo isso", diz.
Se antes da famosa guarânia, os artistas sertanejos estavam restritos às rádios AM, em levantamento feito pelo SpyBat Soundtracker, que engloba 95% das emissoras de rádio do Brasil, as cinco músicas mais tocadas em dezembro de 2016, são dos artistas: Benjamin Neto, Gusttavo Lima, Marília Mendonça, Luan Santana e Naiara Azevedo — todos sertanejos, em sua vertente universitária (das dez mais ouvidas, nove são desse gênero). E esse é um fenômeno que se repete mês após mês no país, e que teve, de alguma forma, a participação do talento e a sensibilidade de Darci Rossi — além, é claro, de o destino (e o uso constante) determinar que o fusquinha de Chitãozinho & Xororó precisasse ser trocado.
Aparição recente de Darci Rossi, cantando a bela "Crises de Amor" durante gravação do DVD 'Marciano in Concert', gravado em 2013 em São Caetano do Sul.
Verão de Janeiro de 2017. A lua cheia clareia o Vale do Capão. Acima de nós, só o gavião pé-de-serra, sobrevoando os imensos paredões rochosos que rodeiam a Chapada Diamantina.
Sem sinal de celular, internet e até telefone público, os turistas da bucólica vila de Igatu — censeada em 2010, aliás, com 360 habitantes — desta vez não conseguiram compartilhar com o resto do mundo a sensação de surpresa ao avistar um ser luminoso e sonoro rodeando a comunidade com acordes violados e luzes cintilantes.
Saindo de uma das antigas casas do centro, um homem trajava um gibão de couro iluminado por lâmpadas de led, equipado com alto-falantes automotivos nas pernas, carregando nas costas um amplificador ligado a uma bateria de íons de lítio, capaz de sustentar sua viola microfonada por até 30 minutos. Apresentada sob a alcunha de "Violeiro Elétrico", a performance de Clayton Barros encantou as mais distintas personalidades reunidas por ali. Você pode dar uma sacada no que se refere no vídeo abaixo, disponibilizado para o Noisey em primeira mão:
"É uma coisa de transpor o tempo usando um arquétipo dos dias atuais. Esse traje está entre o vaqueiro e o astronauta, entre o vagalume e os peixes das regiões abissais. É o Violeiro Elétrico, onde o palco é o chão, porque o chão é o palco dos artistas anônimos", explica Clayton, no fim do show, à Noisey. O recifense ex-Cordel do Fogo Encantado é o grande responsável pela empreitada. "O traje é feito de lona para simbolizar a estrada. Passa pela influência dos trovadores, o Flautista de Hamelin, os cantadores, os violeiros. Tem também a coisa do vaqueiro tangendo o gado montado numa cinquentinha, que é bastante anacrônico. É esse o contraponto que eu tento passar."
Mesmo em férias, Clayton achou por bem abrir o ano experimentando os primeiros trabalhos do Violeiro Elétrico: "Passamos um ano construindo o traje e resolvemos trazer pra estrear aqui. Ainda estamos em teste, mas já tava na hora de botar no chão porque essa é uma daquelas coisas que não se concluem, você lança e vai aperfeiçoando."
Desde o fim de sua banda, em 2010, Clayton se reinventa através de inúmeros trabalhos relacionados às artes: "Eu não aguento ficar parado. Mexo com vídeo, mexo com tudo, a música é a ponta da flecha. Então eu precisava me movimentar, e pensei em algo que fosse inusitado e tivesse uma beleza estética". Assim, teve a ideia de fazer as intervenções desse jeito mambembe.
Testemunhando a primeira apresentação do Violeiro Elétrico, em Igatu (BA). Foto: Lucas Panoni
A vestimenta foi customizada por seu primo Alexandre Barros, baterista da Tagore, também de Recife: "É um cara meio professor pardal, topa qualquer parada. Ele também mexe com luz e vai tocar bateria no meu disco novo." A ideia é fazer as apresentações na rua, em pocket-shows de pouco menos de 30 minutos, para não sobrecarregar a fonte de energia do traje.
Para a apresentação, Clayton canta com quem mais quiser participar, seja tocando ou cantando também. "Eu quero dialogar com outros músicos, quero expandir isso me fundindo com outros músicos, seja aqui ou fora do Brasil. Por isso escolhi o chão: quero que todo mundo seja igual. Não quero ser a estrela do lugar", defende.
Em Igatu, músicos, entusiastas e transeuntes formaram com Clayton uma banda com rabeca, pandeiro, zabumba e triângulo, além do violão e das palmas. No repertório, os títulos mais populares da música regional nordestina estavam presentes, como "Anunciação" e "Beira-Mar", além de canções autorais atuais e da época do Cordel.
Para Clayton, estas intervenções deram muito certo porque conseguiram colher reações de pessoas completamente aleatórias, de gente mais velha a criança. "Acho que nossas diferenças devem nos unir, e nossas igualdades devem ser brindadas e comemoradas". Nas primeiras semanas do ano, pessoas de todo tipo reuniram-se na praça pra dançar, cantar, aplaudir e beber cerveja. Clayton justifica: "Estamos passando por pau e pedra, mas acho que os espinhos maiores a gente já aparou. Agora é hora de colher os frutos".
O canadense mais sussa vivo está de volta. O Mac Demarco vai lançar um álbum chamado This Old Dog em maio e nos deixou ouvir duas faixas dele. A faixa-título e "My Old Man" são tão relax e sofisticadas quanto as faixas antigas do Mac, mas seu pano de fundo mais acústico as dão um sabor mais country que o soft rock de Another One. Os clipes para cada faixa são um tanto vaporwave, o que exemplifica que Mac trás sua estética pra tudo o que faz. Você pode assistir os dois abaixo.
Quantas vezes você estava de ressaca, vulnerável, e sabia que a única coisa que poderia salvar sua cabeça e seu corpo doente era o som doce de Prince Rogers Nelson? E quantas vezes você puxou o seu notebook pra mais perto com braços fracos antecipando a felicidade que você sentiria em ouvir apenas alguns momentos ao ouvir "Little Red Corvette", antes de perceber que na verdade os discos do Prince não estão no serviço de streaming que você usa (a não ser que você tenha esquecido de cancelar sua assinatura do TIDAL depois que você a fez pra assistir Lemonade), amaldiçoando-o a um abismo sem Prince? Se você é como eu, isso aconteceu pelo menos umas cinco ou dez vezes na sua vida.
Porém, eu não preciso mais me preocupar, porque o grande Prince — notório protetor de seu trabalho, e famoso por estar fora da maioria dos serviços de streaming, tirando o TIDAL — estará disponível no Spotify e na Apple Music a partir do dia 12 de fevereiro.
Uma fonte disse ao New York Post que a música será lançada durante o Grammy Awards, quando o "interruptor será ligado para todo mundo". E banners roxos do Spotify apareceram em Nova York e Londres, confirmando, ao que parece, todas as nossas profundas esperanças. No dia 12 de fevereiro, portanto, o mundo vai ficar um pouco mais brilhante, um pouco mais feliz, um pouco mais roxo. E, também, eu vou poder chorar ouvindo "Sometimes It Snows in April" no ônibus voltando do trabalho agora.
O Thiago Elniño aparece com exclusividade aqui no Noisey nesta quarta-feira (1º) com o seu primeiro álbum, A Rotina do Pombo, que conta com uma pá de participações de peso, como Rincon Sapiência, Sant, Flávio SantoRua, Tamara Franklin, Douglas Din e os membros da banda Medulla, Raony e Keops. Apostando no boom bap com influências de música jamaicana e do afrobeat, o disco apresenta a rotina de Sem Nome, um negro de 27 anos que tem o sonho de ser músico enquanto mantém sua vida entre um sub-emprego e todas as dificuldades encontradas pelos negros no Brasil.
Concebido ao longo de cinco anos em parceria com o pessoal do Espaço Criativo Casa, Thiago explica o porquê da relativa demora na produção do álbum. "Tivemos a ideia de perseguir uma sonoridade mais particular. Com o tempo, nós todos fomos nos enchendo de influências como a música jamaicana, o afrobeat e tal. Com isso, até a gente encontrar a 'carne crua' dessas influências e chegar no nosso boom bap com influência e mixagem de música jamaicana, demorou. Sem falar que, ideologicamente, muitas pautas foram ganhando contornos, letras mais velhas perdendo sentido e por aí vai."
Em A Rotina do Pombo, as participações têm um peso mais que especial, já que no universo criado por Thiago cada MC representa uma personagem na cidade imaginária habitada por Sem Nome. "O disco tem um universo em que eu imaginava personagens e convidava MCs que diziam coisas parecidas com os personagens que eu tinha imaginado, todos eles também são pretos e são legítimos pombos, com propriedade para falar do universo que eu criei e analogia ao que vivemos", conta.
Pedagogo e educador popular, Thiago revela a importância do seu trabalho para a construção da narrativa do disco, como acontece na faixa "Pedagoginga". "Eu me defino como um educador popular que tem a música como difusora e a produção como captadora de recursos, então eu penso essas três funções como uma coisa só: o disco irá gerar oficinas em escolas chamadas 'Por que Somos Pombos?'. Desde o início pensei as coisas para serem assim, e o próximo trabalho já está sendo pensado para ser assim! Sem cair nesse rótulo cafona de rap de mensagem, mas eu tenho algumas coisas que julgo importantes para falar, coisas que me ajudaram a ser um homem preto que passou dos 30 anos crescendo na periferia, então coloco minha arte à disposição disso, a mandar um salve principalmente para o povo preto."
Escute A Rotina do Pombo abaixo e faça o download do álbum clicando aqui.
Depois de divulgar as faixas "Pure Comedy", no fim do mês passado, e "Two Wildly Different Perspectives", no começo dessa semana, o homem sensível Father John Misty lança nessa quarta (1) o single "Ballad of the Dying Man", o terceiro de Pure Comedy. O álbum virá em seguida de seu grande primeiro sucesso comercial após alguns EPs e anos tocando com o Fleet Foxes, I Love You Honeybear, de 2015.
Ao contrário das primeiras duas faixas, que deixavam de lado a abordagem romântica de Honeybear e tomavam um ponto de vista mais político, o músico retorna às suas típicas baladas no maior estilo Father "Elton John" Misty no novo single. Ouça abaixo:
O funk no Brasil pode até ter começado no Rio de Janeiro, mas, na última década, quem tá fazendo mais sucesso e até virando o som queridinho de artista gringo (leia-se Diplo) é o funk paulista. Um dos maiores exemplos dessa ascensão paulista no gênero é a carreira do MC Bin Laden entre 2015 e 2016, quando ele conseguiu emplacar o clipe de uma versão funknejo de "Tá Tranquilo, Tá Favorável" na maior emissora de televisão nacional e ainda cantou no Lollapalooza 2016 ao lado do duo Jack Ü. Mas tem muito funkeiro de São Paulo além do Bin Laden ganhando milhões de like no YouTube. E é sobre esse papel da internet na divulgação desse novo funk que trata Back to Baile de Favela, nova websérie que estreia nesta quinta-feira (2) no site da RedBull.
Dirigida pelo cineasta Pedro Gomes, a série contará com dois episódios e trará depoimentos do diretor de clipes Kondzilla, do produtor Renato Barreiros, conhecido por ter trabalhado nos primeiros festivais de funk em São Paulo e dirigiu o primeiro registro documentário sobre o Funk Ostentação, e dos próprios MCs Bin Laden, 2K, Nego Blue e MC Tha.
"Nós [eu e a RedBull] escolhemos tratar o tema por um viés artístico que explicasse mais o papel das indústrias locais e da tecnologia na produção e na divulgação do funk hoje", disse o diretor, que explicou que não quis relacionar funk somente à periferia e ao crime por acreditar que esse não seja só esse o caminho para entender o atual fenômeno de expansão do gênero. "Além disso, esse tipo de abordagem [relacionando com crime e periferia] já é a peça central de muitos documentários que retratam a cena. Por isso, juntos, a série traz o mote de como as tecnologias mais baratas aliadas às redes sociais e ao fácil acesso a internet ajudam o funk a alcançar um número cada vez maior de pessoas — até mesmo DJs internacionais como Diplo e Skrillex."
Assista ao teaser de Back to Baile de Favela abaixo:
Ficha Técnica: Back to Baile de Favela
Episódios: "Sobe e Desce" (6'26), "Rompendo Barreiras" (5'24") e "A Origem" (conteúdo extra - 5'52") Direção e roteiro: Pedro Gomes São Paulo, 2016
O Bob Dylan tem passado os últimos anos copiando as canções de Frank Sinatra com sua própria e intrigante letra de mão. Os dois álbums que ele lançou desde o liricamente épico Tempest, de 2012 — Shadows in the Night e Fallen Angels — envolveram covers, afinal. Mas o próprio Dylan não usaria essa categorização. "Eu não me vejo fazendo covers dessas músicas de qualquer maneira", ele disse à Rolling Stone na época do lançamento de Shadows in the Night, no início de 2015. "Já foram feitos covers o bastante delas. E foram enterradas, na verdade. O que eu e minha banda estamos fazendo é descobrindo-as. Levantando-as da sepultura e trazendo-as à luz do dia."
As novas versões são algo de tirar o fôlego. Sua apresentação de "The Night They Called It a Day" em um dos últimos Late Night do Letterman foram quatro minutos mal iluminados e assombrosos que mal ocultaram sua graça sob os olhares suspeitos de Dylan para a câmera. Mas há uma riqueza de literatura do país a ser encontrada além dessa apresentação, e você não tem que cavar muito. Embora possa ser, há um sentido em que é uma música de funeral para o século XX americano; são faixas que assumem um caráter inquietante agora que o passado está sendo profanado e vendido.
Nessa quarta (1), Dylan anunciou um novo álbum triplo, Triplicate, o primeiro desde que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura no ano passado. Para cada um dos vindouros três discos, Dylan trabalhará um tema diferente: 'Til The Sun GoesDown é outonal; Devil Dolls se baseia no amor, paixão e suas conseqüências; Comin 'Home Late, nos dizem, versa sobre algum tipo de esperança. Haverá mais faixas que Sinatra tornou famosas, como ""The Best Is Yet to Come" e "September of My Years."
E também "I Could Have Told You", a faixa de Carl Sigman e James Van Heusen que Sinatra gravou em 1959. Dylan lançou sua versão da faixa juntamente com o anúncio de Triplicate. A voz de Dylan é incomparável: um arrogante, esgotado, mas estóico semi-traço que permanece brincalhão apesar do peso de sua emoção.
Numa forma untada com manteiga, organize um samba de guitarra arrumadinho, pra dançar de camisa aberta. Acrescente jazz refinado, sincopado, cheio de requinte. Adicione gotas de chorinho a gosto. Misture bem juntando pequenos beats eletrônicos, uma reggaeira pra dar liga e versos de protesto em três acordes para apimentar. Deixe maturando no calor do Piauí por alguns dias e pronto: tá na mão o disco de estreia do Eletrique Zamba, Volume 1, que você ouve exclusivamente no Noisey nesta quarta (1).
O experiente multi-instrumentista Fábio Crazy conta que o Eletrique Zamba surgiu em Amsterdã, pela vontade de misturar os ritmos que ele não tinha tanta intimidade, como o samba por exemplo. "Em 2000 eu participei e um espetáculo chamado Binnerland tocando cavaquinho. E trabalhei uns 13 anos com um coreógrafo brasileiro radicado na Holanda. Viajava em turnês com peças de dança contemporânea. E daí comecei a compor no cavaco, sambas com três acordes, estilo punk rock sabe... foi daí que veio a coisa toda."
Na cidade holandesa, Fábio conseguia tocar o projeto com o nome de Electric Samba Sound System. Ele chegou a fazer alguns shows com este nome e formação.
Mas foi no retorno ao Brasil, em 2014, depois de uma viagem a Cuba, que o trabalho tomou a forma que se apresenta no disco de estreia. "A política para cultura em Amsterdã mudou muito e a grana ficou escassa, daí voltei liso e cheio de ideias. Encontrei no Lívio Nascimento um parceiro forte e prolífico musicalmente, guitarrista criativo e muito íntimo de samba, jazz e afins... fã de Black Sabbath (risos). Aí a coisa tomou uma cara".
Lançado pelo inventivo selo da Geração Tristherezina, o disco é mais um tom a compor a face miscigenada da música independente piauiense: "Acho que a música piauiense é a que mais fuça a procura de identidade. Teresina, por exemplo, é uma cidade planejada que sofreu reformas de diferentes modelos urbanos. Acredito q isso se reflita culturalmente nos indivíduos" pondera Fábio.
Ouça a estreia oficial da discografia do Eletrique Zamba no player abaixo:
Dois irmãos, três dias e uma vontade: fazer um disco de rock sobre férias, sonhos e juventude. Assim surgiu a Sereno, com o EP de estreia Adivinhar o Futuro das Estrelas, que você ouve aqui no Noisey nesta quinta (2).
Gravado em casa, Adivinhar o Futuro das Estrelas se apresenta de forma crua, como toda estreia deve ser, porém sem perder autenticidade. O esquema foi 100% DIY, com um monte de equipamentos emprestados. "O Rodrigo da LuvBugs, por exemplo, emprestou o amplificador de guitarra dele, um Peavey valvulado lindo. A gente atravessou o estado de ônibus com esse ampli nas costas (risos)" conta Vinicius Damazio, o irmão mais velho. E tudo foi gravado num período de três dias, em casa mesmo. "A única exceção foi a bateria, que gravamos na casa abandonada que um amigo usa como ateliê. Era esporro demais para fazer no quarto" reconhece.
Vinícius tem 26 anos, Victor tem 18, e a estreia é mais um registro sincero sobre sentimentos, inseguranças e frustrações a entrar no hall do new emo millenial. Eles dizem que American Football e Mineral com certeza os influenciaram nas composições, mas não para por aí: "A gente nem curte só emo. Tem uma música influenciada por Wavves, uns Weezer, Dinosaur Jr, Vivian Girls, uns anime velho..." explica Vinícius, o mais velho.
Os dois concordam que entre eles não há a famigerada rixa entre irmãos. "Temos uma relação muito melhor do que as pessoas que eu conheço que tem com os irmãos ou irmãs. A gente tem um gosto muito parecido e foi bem fácil lidar com isso tudo" defende Victor. Vinícius diz que sempre fizeram tudo juntos, desde muito novos. "A gente só briga pra decidir o melhor disco do Kiss, essas paradas (risos)."
Eles inclusive aproveitaram a estreia do EP e a ajuda do LuvBugs para formar o Violeta Discos, um selo próprio para lançar os trabalhos da banda. Adivinhar o Futuro das Estrelas será lançado em formato de K7 e CDs. Vinícius comenta: "Acabou sendo engraçado esse lance de montar a Violeta Discos com o LuvBugs porque eles são um casal e a Sereno é uma banda de irmãos. Ficou tudo em família, tipo máfia."
Ouça Adivinhar o Futuro das Estrelas no player abaixo:
Em dezembro, o disco de estreia do Ogi, Crônicas da Cidade Cinza (2011), foi retirado das plataformas de streaming devido a um problema com direitos autorais. O rapper não tinha sido autorizado a utilizar o sample do single "Premonição", tirado da faixa "Flashpoint", lançada pelo músico inglês Roger Jackson em 1983, e recebeu uma notificação dos representantes do artista na Alemanha de que Jackson entraria com um processo. Na última quarta (1), porém, Ogi anunciou no Twitter e Facebook que Crônicas estaria de volta às plataformas digitais em breve.
Por telefone, Ogi disse que mandou um e-mail para os representantes de Roger Jackson explicando seu lado da história. "Passei a situação de que eu não fiz muito dinheiro com essa música. Que eu não tinha gravadora, que era um artista independente e eles entenderam e propuseram um bom acordo", diz. O O acordo foi aceito por Ogi e, segundo o rapper, o disco deve estar de volta ao Spotify em quatro ou cinco dias. Enquanto isso, ouça Crônicas da Cidade Cinza abaixo:
Depois de anunciar seu álbum de estreia no começo dessa semana, o duo EDM The Chainsmokers apareceram no Twitter na última quarta (1) para responder um artigo da Esquire de 30 de janeiro que os classificava como o "Nickelback do EDM". Decidindo levar numa boa, a dupla respondeu à publicação com um vídeo deles cantando um medley do single "Paris" com o hit do Nickelback "How You Remind Me".
Dentre as muitas apresentações que vi no festival Novas Frequências de 2016, que aconteceu no Rio de Janeiro do dia 3 ao 8 de dezembro, poucas tiveram tanto impacto sobre mim quanto uma instalação sonora quente, ruidosa e ofuscante que foi colocada no último andar do Galpão Gamboa. Moto Perpétuo, o nome processual que levava a obra, consistia em algumas fontes de luz posicionadas diretamente contra o espectador, que ainda respirava de uma fumaça branca e ouvia barulhos de materiais (vidro, concreto) sendo aparentemente quebrados. Era desconfortável.
Alguns meses depois, Luisa Puterman, artista paulistana idealizadora da instalação, me contaria que incômodo causado pela obra era proposital, e que simulava uma sensação proporcionada pela constante mudança na paisagem sonora de grandes cidades. "A instalação foi meio que aparecendo conforme ideias sobre construção/destruição cruzavam meu caminho. Fui atrás de sons que pertencem a esse universo e acabei chegando numa ideia de ciclo infinito, de uma angústia implícita nos processos ilusórios de renovação", conta. "Além do fato de as cidades estarem inundadas por sons que como consequência desses processos nos habitam de forma inconsciente e esteticamente intrigante."
A história se repete: um grupo de jovens menores de idade tem os bolsos vazios demais pra colar no rolet mais pika da cidade. Porém, contrário aos bolsos, seus corações estão cheios de amor e suas cabeças estão cheias de ideias para sair do tédio e se divertir. Aí eles formam uma força-tarefa, chamam o Vitor Brauer pra tocar, arrecadam dinheiro para fundar um selo e gravar um EP e fim, felizes para sempre. Foi dentro deste conto de fadas indie que começou a Valente Records, provando que a chama do independente está sempre acesa, sobretudo na molecada.
"A gente conseguiu um show do Vitor logo no nosso primeiro evento. Deve ter sido o auge da minha adolescência esse momento, somos muito fãs do cara", conta Marcos Gabriel Faria, 17 anos, guitarrista da Ventilador de Teto. O show a que ele se refere foi a estreia de sua banda, no primeiro Valente Fest, cuja segunda edição aconteceu na semana passada em Duque de Caxias (RJ), com os mlk zika da Tom Gangue: "foi fantástico também", conta.
Por falar em Ventilador de Teto, o Noisey descolou o primeiro registro da banda sob o selo da Valente, o EP Desejo/Sufoco, que você pode ouvir com exclusividade nesta quinta (2).
Desejo/Sufoco é um EP de quatro faixas bem assimiláveis. E por mais que sempre hajam outras referências, é quase impossível desassociar o som a um Arctic Monkeys com mais rebolado. Não que haja o que temer quando o assunto é fazer a juventude curtir, mas Marcos desconversa e ainda culpa o baterista. "Eu gosto do Humbug. Essas bandas passam longe do meu radar. Eu gosto de Dylan e de Velvet e faço músicas com o menor número de acordes que eu puder. Mas já falaram mesmo que a gente soa como Arctic. Isso aí é com Elvis mermo (risos)".
Junto com a Ventilador de Teto estão mais duas bandas, a Santarosa e a Kasparhauser, tudo do mesmo rolê underage. As bandas irmãs ainda não tem trabalhos divulgados no bandcamp do selo, como explica João Vittor, fundador da Valente Records e faz-tudo da galera. "Foi o sucesso do show com o Vitor que possibilitou que a gente comprasse uma interface de áudio e pagasse uma mixagem para a Ventilador de Teto". Mas o trabalho não para e logo-logo estarão soltando mais um trabalho, dessa vez da Kasparhauser: "O Noguchi do Ventre está produzindo, acho que vai ficar lindão", complementa.
Dia 25 de janeiro. Enquanto o resto da cidade comemorava os 463 anos da cidade de São Paulo, as ruas do Brooklin tinha uma festa a mais para celebrar: foi a 13ª edição do tradicional Tributo ao Sabotage no Canão, que anualmente homenageia a memória daquele que ainda é tido como um dos nomes mais importantes do rap nacional, mesmo tendo passado catorze anos da sua morte, em 24 de janeiro de 2003.
Apesar de acontecer todo ano, o tributo ao Maestro do Canão ganhou outra cara após o lançamento do seu disco póstumo, que saiu em outubro de 2016 depois de onze anos de trabalho coletivo de Ganjaman com Tejo Damasceno e toda uma equipe de produtores e músicos envolvidos no processo. Foi notável como o número de pessoas cresceu, se comparado ao evento de 2016, no qual o Noisey também colou e também fez uns registros. Mais manos e minas, de todas as idades e de várias quebradas de São Paulo (e até de outras cidades) foram pra lá pra lembrar um pouco do Sabota e curtir um dia inteiro de rap no evento, que contou com atrações de grupos locais pouco conhecidos e também com grandes nomes do rap nacional, como Rappin' Hood, Zafrica Brasil e Sandrão (RZO).
Essa edição do Tributo deixou mais evidente que nunca que o Sabota continua influenciando gerações para além do seu tempo em vida. Além do seu penteado, podia se ver também várias tatuagens com o seu nome ou com o seu rosto estampadas por todos os lados na festa, tanto em fãs que chegaram a vê-lo vivo quanto em fãs que só conhecem o Maestro do Canão por meio das suas rimas.
O fotógrafo Jardiel Carvalho fez umas fotos pra nós e capturou um pouco desse clima de homenagem e saudosismo do evento, saca só abaixo:
Poucos artistas desfrutam da mesma influência duradoura de Snoop Dogg. Quase 25 anos depois de seu disco de estreia Doggystyle, o cantor, astro de TV e empreendedor da cannabis medicinal continua relevante como sempre. Parte disso se deve à sua natureza prolífica (ele lançou 127 singles durante essas duas décadas e meia), mas a simpatia contagiante de Snoop também tem um papel em seu sucesso. Afinal de contas, gentileza nunca sai de moda.