Quantcast
Channel: VICE BR - Noisey BR
Viewing all 1388 articles
Browse latest View live

O homem que descobriu Prince

$
0
0


Prince em um meet and greet numa loja de discos ao lado de seu empresário Owen Husney.

Entrevista originalmente publicada no Noisey US.

No mês passado, eu conversei com o primeiro empresário do Prince, Owen Husney. Ele foi o cara que descobriu o Prince quando ele ainda era só um adolescente que morava num porão em Minneapolis, que mediou o primeiro contrato de disco dele e que o ajudou a encontrar pessoas para tocar na sua banda. O Husney estava presente durante a gravação do primeiro disco do Prince, For You, de pé atrás do então adolescente de 18 anos enquanto ele comunicava ao selo que queria ser produtor solo, apesar da pouca experiência. O Prince tocou todos os instrumentos em For You, inclusive os finger cymbals, e no mês passado o disco finalmente foi relançado em vinil, e foi pra falar sobre isso que eu liguei para ele.

Queria saber como o Husney descobriu aquele adolescente diminuto e inspirado e como For You foi concebido — e a conversa foi dotada de uma pungência fresca e dolorosa, considerando o falecimento inesperado do Prince quatro semanas depois da minha conversa com Husney. For You não foi o álbum que transformou definitivamente Prince numa mega estrela pop internacionalmente, (isso aconteceu um ano depois, com sua sequência homônima) mas, ainda assim, se tratava de uma coleção ponta firme, suave e inovadora, mas sua concepção não foi nada suave.

Quando Owen Husney conheceu Prince Rogers Nelson em meados dos anos 70, ele estava pronto para guiar a carreira do jovem prodígio. Nos anos 60, Husney tocava guitarra (e assessorava) a banda garage The High Spirits, que teve um hit ao fazer um cover da faixa de blues das antigas “(Turn on Your) Love Light”, e o sucesso os garantiu notoriedade e uma turnê pelos Estados Unidos.

“Tínhamos groupies, um microônibus… Não tínhamos bilhões de dólares mas, sabe como é, era uma vida louca pra cacete”, ele explica. “E isso tudo nos anos 60, então havia um contato muito grande com o lado espiritual, digamos assim, e tiramos vantagem disso”. Em outras palavras, a galera do The High Spirits estavam tirando era uma baita duma onda. Depois da banda, Husney conquistou sua primeira experiência na indústria como faz-tudo. Ele cuidava da agenda de shows, mas também fundou sua primeira empresa de design e começou a criar cartazes para as bandas; fez uma turnê com o Sonny e a Cher e chegou até a providenciar o buffet dos bastidores em um espaço em Minneapolis que era frequentado pela Janis Joplin, Stevie Wonder, Rolling Stones, The Who e muitos outros.

“Quando estava agenciando o Prince, ouvia todo tipo de briga entre os artistas e os empresários enquanto arrumava as coisas e preparava a comida para a galera nos bastidores”, Husney diz dando risada. “Presenciei muitas discussões e pude ver como a relação entre empresário e artista funcionava”.

Em 1976, Husney recebeu uma ligação de seu amigo Chris Moon, que era dono de um pequeno estúdio na cidade. Moon descreveu Prince da seguinte forma: “descolei o melhor artista que está por vir”. Naquela época o Husney estava ocupado e meio blasé — ele já tinha ouvido essa história antes milhões de vezes — mas quando finalmente ouviu as demos do Prince, ficou interessado. As músicas eram descontraídas e duravam cerca de 10 minutos, mas a musicalidade o impressionou instantaneamente. “Cara, se eu conseguir colocar minhas mãos nisso...”, Husney ponderou. Vamos deixar ele contar para vocês como foi.

Owen Husney: Então perguntei para o Chris Moon, “Quem está na banda?”, e ele disse “É só um cara, ele acabou de fazer 18 anos. Toca todos os instrumentos sozinho e também canta tudo. Escrevo alguns trechos com ele, mas ele está compondo tudo basicamente sozinho”. E eu fiquei tipo, “Ok, me passa o telefone dele agora. Fim de papo. Até mais”. [Risos]. E daí liguei. Ele estava ficando na casa da irmã dele em Nova York e estavam tentando conseguir fechar um contrato para fazer um disco com essas demos. Eles de fato não conseguiriam um contrato.

Noisey: Porque as demos eram longas demais e meio perdidas?
Sim. Sem dúvida. Os dois trabalharam muito para fazer essas demos, mas não era um material comercial. Geralmente quando as pessoas são extremamente talentosas, como é o caso do Prince, elas fazem músicas longas porque querem mostrar às pessoas que são capazes de fazer qualquer coisa. De qualquer forma, liguei para ele e ele era muito tímido, falava pouco e estava hesitante, mas percebi logo de cara que era especial. Só falei para ele, “Bem, acabei de ouvir essa demo e posso te dizer desde já que acredito em você. Mas você vai precisar de alguém para te proteger. Conheço este ramo, e ele pode te comer vivo”. Ele era totalmente novato, mas eu acreditava nele.

E qual foi o próximo passo?
Ele ainda estava morando com um amigo naquela época, o André Cymone, no porão da casa da mãe dele [o Cymone acabou sendo o baixista do Prince antes dele formar a banda Revolution]. Este foi o início do outono de 1976 e ele ainda não sabia se podia confiar em mim ou não, mas comecei a agitar as coisas. Quando voltou de Nova York, depois de eu ter ligado para ele, foi até a minha casa onde eu tinha um piano e diversas guitarras. No momento em que entrou pela porta, olhei para ele e soube, intrinsecamente, que ele era o cara.

Como ele era? Quais foram suas primeiras impressões?
Ele estava usando uma calça jeans com uma marca de ferro bem no meio. [Risos] E umas botas marrons. Era um look bem legal, apesar de não serem roupas muito chiques, já que ele não tinha grana para isso. Estava criando as paradas e tentando entendê-las no momento em que eu o encontrei, seus olhos eram magníficos e, não sei explicar muito bem, tinham um formato de amêndoas… Eram lindos. Ele tinha sobrancelhas bem escuras e não era muito alto, você sabe. Ostentava um black power gigantesco. Mas era uma pessoa bem reservada. Provavelmente tocou guitarra na minha casa, talvez um pouco de piano, mas estava mais interessado em conversar. Estávamos nos conhecendo melhor. Dava para perceber que era um jovem muito talentoso. Ia direto ao ponto: tinha a maturidade emocional de um CEO de 40 anos e, apesar de não entender muito do ramo, pude perceber que estava focado. Você conhece o Little Richard?

Sim, claro.
Já vi fotos do Little Richard quando ele tinha uma banda, antes de se tornar o Little Richard. Todos os integrantes da banda estavam sentados, um deles olhando para o lado direito, outro para o lado esquerdo, outro para baixo, e então vejo um Little Richard bastante jovem, olhando diretamente para a câmera. Você percebe que há uma chama ali, há algo de diferente. Foi isso que senti em relação ao Prince. Havia foco e um brilhantismo em sua inteligência. Ele entendia os conceitos. E tinha acabado de sair do norte de Minneapolis e recém graduado na escola, praticamente. A maioria dos jovens nessa idade escolhe passar o tempo dirigindo carros em alta velocidade, fazendo merda, colocando sua própria testosterona à prova. Ele não era assim. Quando ouvi a demo e o conheci pessoalmente me dei conta de que precisava ser ágil e conseguir que fechasse um contrato com uma gravadora.

Uma pessoa tentou afastá-lo de mim e deu uma guitarra dourada de presente para ele. Na verdade eu nunca soube se isso era caô ou não, mas estávamos prestes a assinar o contrato e estava nevando pra cacete, ventando, e ele apareceu com outro cara. Abriu o case da guitarra dourada e disse, “bem, tem uma outra pessoa que quer fechar comigo e me deu essa guitarra dourada”. Só olhei para ele e disse, “quer saber? Tô me lixando para essa merda de guitarra dourada. Pode ir atrás dessa pessoa e fechar com ela, não quero mais saber de você, pode ir embora”. Assisti ele indo embora da minha casa debaixo da neve. Me senti como se o amor da minha vida estivesse indo embora, como se eu tivesse dispensado ele. Mas sabia que precisava segurar firme. Não conseguia comer, era um fim de semana, e ficava pensando, “cadê ele? Cadê? Por que não me liga?”. Estava com o estômago embrulhado e provavelmente na segunda ou na terça-feira o Prince me ligou e disse, “ok, vamos lá. Vamos fazer acontecer”.

Você conheceu os pais dele? Qual era a situação?
Ele tinha saído de casa. Tinha um padrasto com quem não se dava muito bem, acho que ele não era muito legal com o Prince, mas não sei os detalhes. Então ele fugiu de casa e foi morar com o André no porão dele. E a mãe do André era um pilar fundamental na comunidade negra. Ele trabalhava no YMC ou YWCA, coordenando atividades e programas. Ela fazia de tudo. Estava sempre perguntando, “já fez seu dever de casa? Está fazendo tudo direito? Já está tudo pronto?”. O André e o Prince moravam juntos no porão e, para conseguirem chamar minas para casa, desenharam uma linha bem no meio do porão e o Prince não podia ir na área do André e o André não podia ir na área do Prince. Eles até colocaram uma cortina. [Risos].

Tão old school! Então depois de cortejar o Prince você conseguiu um advogado para ele, um produtor, o David Z [Etta James, Neneh Cherry, Billy Idol], além de músicos para formar a banda…
Precisávamos diminuir o tempo das músicas e para isso precisávamos de dinheiro. O advogado conhecia algumas pessoas, eu criei um material de imprensa e saímos por aí vendendo nosso peixe. Conseguimos 50 mil dólares com um médico e um advogado. A partir daí podíamos comprar qualquer instrumento que o Prince precisasse. Ele se mudou do porão para um apartamento pequeno no sul de Minneapolis.

Sua agência de design estava indo bem naquela época. Ficou apreensivo de deixá-la para trás?
Eu acreditava no Prince o suficiente para deixar a minha agência — que me gerava milhões de dólares — de lado e me dedicar a ele. Amava muito a pessoa que ele era. As pessoas perguntam, “ele não era estranho?”. Sim, claro, todos nós somos estranhos. Nunca conheci um artista que não era estranho. Então o fato dele ser meio avoado e quieto quando estava rodeado por outras pessoas nunca me incomodou. Ficava contente dele ser assim. Se ele fosse tipo, “ei, chega aí, vamos fumar um beck e nos divertir”, eu nunca teria agenciado ele! [Risos]. Então eventualmente conseguimos fechar um contrato para o Prince e fizemos uma fita de demos.

Uma história interessante sobre a fita de demos: tem uma música no primeiro disco que se chama “Baby”, e queríamos uma orquestra. A única orquestra que eu conhecia na cidade naquela época era uma orquestra de estação de rádio, então os trouxe até a gente. Quando fui até o estúdio para ver como as coisas estavam, o Prince estava super agitado e os caras da orquestra, que tinham uns 90 anos de idade, não estavam entendendo muito bem. [Risos]. O Prince trabalhou com eles e eu não sei o quanto ele manjava de composição naquela época, mas trabalhou com esses caras escrevendo e reescrevendo até chegarem exatamente onde ele queria. Era um moleque de 18 anos trabalhando com esses músicos super legais que participavam de uma orquestra. Reescreveu alguns trechos e os colocou para tocar.

Então você tinha as demos prontas, criou um material de imprensa e começou a vendê-lo para as pessoas?
Sim, ligamos para a Warner Brothers. Tinha feito alguns trabalhos para eles na minha agência, então liguei para o Russ Thryet [CEO da label] e disse, “olha, vou te retribuir aquele favor. A Columbia está prestes a nos lançar. Quer ouvir um gênio que acabei de descobrir? Quer ouvi-lo enquanto ainda estou aqui na sede da Columbia?”, e ele disse, “sim, claro!”. E então quando consegui agendar uma data com a Warner Brothers, liguei para a Columbia e disse, “se liga, a Warner Brothers vai nos lançar e, enquanto ainda estou aqui na sede deles, quer ouvir a demo desse jovem gênio de Minneapolis?”. Depois, liguei para a A&M Records e disse, “olha, estou aqui fazendo umas apresentações para a Columbia e para a Warner, você gostaria de ouvir isso aqui?”. Mas sempre soube que fecharia com a Warners. Eles eram o selo que mais dava credibilidade aos artistas naquela época. Os outros selos pareciam frios. Então fui me encontrar com todas as labels.

Hoje em dia dou aulas [sobre a indústria da música] na UCLA e ensino meus alunos a mentir, mas sem machucar as pessoas. “ei, vi sua namorada com outro cara num bar!”. Essa é uma mentira maliciosa. Mas quando as pessoas não se machucam e você consegue convencê-las a fazer o que você quer, fique a vontade para fazê-lo!

É uma dica sagaz. Então você tinha três labels interessadas, mas escolheu a Warner. O acordo que você conseguiu foi bem lucrativo, pelo que fiquei sabendo.
Eu sabia que mesmo que quisesse fechar com a Warner Brothers, precisava fazer um acordo que fosse muito lucrativo para o Prince, porque ele precisava de muito apoio. Era preciso uma guerra de lances e no fim das contas fecharia com a Warner Brothers. [Risos]. Acho que eles não podem me processar por dizer isso. A única label que nos dispensou, que estava lançando o Bee Gees, foi a RSO Records. Ainda tenho a carta de rejeição que recebi deles: “Achamos seu artista talentoso, mas não vemos muito futuro, então vamos deixar passar”. Pensei que se eu conseguisse uma guerra de lances faria muito dinheiro e poderia fazer três álbuns para lançar o Prince, coisa que não aconteceria hoje em dia. Conseguimos os três álbuns e estou 99% certo disso: foi o maior contrato de gravação de um artista desconhecido da história até aquele momento.

E quanto valia o contrato?
Acho que o contrato todo passava de um milhão de dólares. Eles queriam participar do editorial dele naquela época, mas eu não manjava nada do assunto. Só pensava que não estava preparado para ter essa discussão, porque não fazia a menor ideia do que se tratava e queria ir embora da reunião e ler sobre. Sabia que se eu perguntasse, “o que é editorial?” eles chamariam outro empresário imediatamente. No fim eles acabaram cedendo e a razão para o Prince ter direitos sobre todo seu editorial é porque eu não sabia do que se tratava! [Risos].

Claramente o Prince batalhou para produzir seu disco de estreia mesmo não tendo experiência, mas foi uma luta e tanto.
Eles queriam que o Maurice White [fundador do Earth, Wind & Fire] produzisse e também sugeriram alguns outros nomes, como Norman Whitfield [The Temptations, Marvin Gaye]. Havia algo muito interessante em relação ao Prince — e ele não tinha nenhuma malícia nisso — mas ele já tinha estudado todos esses artistas, como o Maurice, Norman e vários outros. Ele sabia quem eles eram e não queria suas marcas no som dele, e sim desenvolver seu próprio som e eu concordei com ele nisso. Até me escreveu um bilhetinho que dizia, “Owen, tenho muito respeito por esses artistas e produtores, mas sou capaz de analisar a música deles e não é o tipo de impressão que quero que o meu som cause”.

Então eu precisava dizer ao presidente da Warner Brothers que ninguém produzirá esse artista que ninguém nunca ouviu falar ou que não lançou nenhum álbum até então: ele mesmo produzirá o seu disco. Fui lá e lutei por isso. Eles concordaram em organizar um teste onde o Prince gravaria todos os instrumentos sozinho, fora de Minneapolis. Mas eu disse ao Prince, “ei, você tem tempo livre no estúdio, faça uma música”. Saímos de lá e ele gravou a bateria perfeitamente, voltou e gravou o contrabaixo. Depois o estúdio ficou lotado de pessoas de pé, e ele não fazia a menor ideia, mas eram os melhores produtores da época: Lenny Waronker, Russ Titelman, Eddie Templeman e algumas outras personalidades da Warner Brothers. Eles ficaram muito surpresos. Então o teste deu certo.

Entrei no estúdio e eles disseram, “olha, ele claramente sabe como fazer um álbum, e corremos o risco de precisar descartar um disco, mas ele vai chegar lá”. Nenhuma label faria isso hoje em dia. Eles nem sequer correriam esse risco. O Prince provavelmente não ficaria famoso hoje em dia por conta das restrições que colocariam sobre ele. Então nós conquistamos coisas grandiosas: o maior contrato de gravação de um artista desconhecido da história até então, que ele mesmo produzisse e convencemos o selo a deixá-lo tocar todos os instrumentos.

Então o plano era produzir tudo em Minneapolis e gravar com a ajuda do engenheiro Tommy Vicari [Michael Jackson, Whitney, Justin Timberlake]. Porém o Vicari não podia gravar no estúdio por diversos motivos e você não queria que o Prince fosse para Los Angeles. No fim das contas você topou gravar o disco em Sausalito, do outro lado da Baía de San Francisco, mas nem tudo saiu como planejado por lá também…
É. Quando já estávamos gravando há uma semana em Sausalito, Prince chegou em casa e me disse, “não consigo trabalhar com esse engenheiro”. E eu respondi “pera lá. Acabei de convencer a Warner Brothers a nos dar tudo que queríamos e agora você quer se livrar do engenheiro deles? Eles vão encerrar nosso projeto! Tudo irá por água abaixo!”. E ele disse, “bem, você precisa demiti-lo. Vou fazer isso por você”.

Por que o Prince não gostava dele?
Ele é um engenheiro incrível, ganhou Grammys, é um cara de alto nível. Ele não era ruim, só… não tinha a mesma vibe que a gente. E o Prince tem uma característica interessante: ele tem um intelecto excepcional e uma habilidade em absorver tudo que está acontecendo em um ambiente. É algo muito, muito especial e acho que é uma de suas maiores qualidades. Depois de duas semanas no estúdio com o Vicari, ele entendeu tudo e disse, “ok, eu sei fazer isso”. [Risos]. Então tive que abrir o jogo com a Warner Brothers.

E eles surtaram?
Ah, sim, eles surtaram. Uma vez o presidente da Warner Brothers ficou nervoso porque eu não ligava para dizer como estavam as coisas e os vice-presidentes de marketing, Russ Thyret e Lenny Waronker, voaram para o estúdio. Eles queriam ficar por dentro do que estava acontecendo. O Prince estava gravando a primeira música do For You, “So Blue”, e não tocava baixo nela. O Lenny disse, “vai ficar incrível quando você adicionar o baixo”. Prince olhou para cima e disse, “não vou tocar baixo nessa música. Sai daqui. Dá o fora do meu estúdio”. Ele mandou o presidente e o vice-presidente de marketing, os caras que toparam promover o disco, darem o fora do estúdio. [Risos]. Mandou eles vazarem do estúdio! Fui até o hall de entrada e a minha voz estava falhando. Eles me olharam e disseram, “a gente entende. Deixa com ele. Deixa ele fazer o que quiser”.

Uau. Foram bem compreensivos.
Sim! Por isso que a Warner Brothers tinha tantos hits. Nos anos 70 eles lançaram um hit atrás do outro. Então foi isso, nunca mais encheram o nosso saco. Ele ficou muito, mas muito tempo produzindo o disco. Queria que ficasse perfeito, mas, sinceramente, não é bom fazer um disco perfeito, porque discos perfeitos podem ficar estéreis; as imperfeições dão profundidade a eles.

Vamos falar sobre algumas músicas…
Ele fez uma música, uma capella chamada “For You”, e é tipo, 30 vozes do Prince sobrepostas. É a primeira música do disco, e é muito descolada e direta ao ponto. Fizemos demos para a maioria das músicas dele, antes dele finalizá-las, como "My Love Is Forever”, "So Blue” e "In Love”. O foco e a criatividade brilhante do Prince são características que testemunhei pouquíssimas vezes na indústria da música. Na verdade acho o Michael Jackson inacreditavelmente brilhante pelo que ele fez, compôs e lançou no nome dele. Se o Prince está no mesmo patamar que o John Lennon e Bob Dylan? Talvez sim, talvez não. Se não está, ao menos chegou muito perto de estar naquele universo. É uma carreira longuíssima que amadureceu e ele levou seu público na sua viagem, na sua jornada ao longo dos anos, e eles amadureceram com ele.

Você tem alguma história de quando estavam gravando uma música específica?
Tem outra música chamada “Baby” no disco que também tínhamos feito como uma demo. Foi nessa que incluí a orquestra. Imagina isso: um adolescente que tinha acabado de fazer 18 anos escreveu uma música sobre ter engravidado a namorada, não saber o que fazer e todo esse dilema e no final da música ele diz, “espero que o seu bebê tenha olhos iguais aos seus”. É algo tão carinhoso… E o Prince é um badass do funk, mas também há muita ternura no que ele escreve. Se você prestar atenção na letra fica arrepiado. A mesma coisa acontece em “So Blue”. Acho que ele estava apaixonado pela Joni Mitchell naquela época, e essa foi sua homenagem a ela.

Mas ele também tinha um lado roqueiro.
Sim. A primeira coisa que o Prince me disse depois de termos fechado o contrato é que ele não queria ser rotulado como um artista de R&B. Pouquíssimas pessoas quebraram as barreiras como ele fez. Marvin Gaye e Sly and the Family Stone quebraram as barreiras entre rádio negra e rádio branca, mas ele não queria ser rotulado. Naquela época, se você era um artista negro, tinha que viver no meio negro, que era composto por rádios negras, e era preciso construir uma personalidade e depois desconstruí-la. Ele não queria se submeter a isso e deixou explícito no seu segundo álbum, quando “I Wanna Be Your Lover” ficou no topo das paradas. Ele não queria saber de barreiras, tinha repulsa por elas. Só queria fazer música boa e sabia como.

A sua esposa naquela época era cabeleireira do Prince, certo? Um affair familiar e tanto.
Bem, todo mundo se mudou e montou acampamento em Sausalito e Los Angeles e, sim, cuidávamos do Prince porque ele era muito jovem. Nos certificávamos de que ele fizesse todas as refeições, que seus lençóis estavam limpos, que o seu cabelo estava bem tratado. A Britt sempre cuidava do cabelo dele, e ele falou disso até na carta que me escreveu.

É tão louco pensar que ele era só um adolescente.
É bem louco. Não sei nem dizer se ele tinha carteira de motorista naquela época. Sério mesmo. Eu agenciei outras bandas que moraram na mesma casa por um ano enquanto faziam gigs, mas não era o caso dele, ele não tinha nada. Zero. Nadinha. Morava em um porão.

Atualmente você é professor na UCLA. Qual seu conselho para jovens artistas?
[Suspira]. Está com tempo? Em primeiro lugar, o Prince é uma aberração. Nem todo mundo é tão intenso quanto ele e tem coragem de mandar as pessoas se foderem, darem o fora e fazer acontecer. Acho que um conselho que posso dar para muitos músicos de hoje em dia é: façam parcerias, façam músicas juntos, dê a cara a tapa, conquistem experiência trabalhando com diversas pessoas diferentes… Não se acanhem e pensem em fazer tudo sozinho ou em compôr sem ajuda de ninguém. E, olha, você pode tirar vantagem das mídias sociais hoje em dia. Não havia nada disso na época em que o Prince surgiu. É possível tirar vantagem disso. Vou te dar o conselho que costumo dar no primeiro dia de aula. Aprenda isso: o importante é sacar o show business. Nem tudo é uma questão de arte ou amigos, mas show business. Mostre que tem tino para os negócios, ou você pode se ferrar.

Quanto ao acordo com a Warner Brothers, ele compreendia os três discos, mas em seguida, quando ele fechou com eles novamente, foi contra eles que se rebelou quando escreveu “escravo” no próprio rosto?
Posso te falar sobre a conjectura dessa situação, porque concordo com o Prince. Digamos que você é um artista que pinta quadros maravilhosos, vem até mim e diz, “Owen, preciso de dinheiro. Quero largar meu emprego e me dedicar a pintura”. E eu concordo que você é um artista incrível e que deveria se dedicar aos seus quadros, e você me pergunta, “pode me emprestar uma grana para que eu possa pintar?”. Então eu te empresto 25 mil dólares, assim você pode ficar sem trabalhar por alguns meses, pintar seus quadros e criar obras incríveis. Você faz isso, seus quadros têm um certo reconhecimento, você me paga o que me devia, mas agora sou dono dos seus quadros. É assim que a indústria funciona. Você fecha com um selo, eles te dão essa grana logo de cara para você produzir o seu álbum e promover suas criações e, se você não for bem-sucedido, tem que pagá-los de volta. Mas mesmo depois de pagá-los o que devia, eles ainda têm direitos sobre as suas criações. Então entendo o lado dele.

O Prince gosta de estar no controle das coisas — isso não é nenhum segredo —, e eu concordo com ele. Ficaria pé da vida se tivesse a criatividade que ele tem e alguém tivesse direitos sobre ela. Então ele queria estar no comando, mas para isso precisava mudar uns 30 ou 40 anos de como a indústria funcionava. Também tem o fator de que ele queria lançar o álbum quando estivesse afim e a Warner Brothers ficava na minha cola — e eu nem sequer estava agenciando ele — me ligando e perguntando, “o que vamos fazer?”, e eu dizia, “olha, se você tentar domar a criatividade do Prince, vai perdê-lo”. Eles achavam que ele estava produzindo discos demais e isso diluiria seu público. O Prince é uma máquina de qualidade. Uma máquina que produz coisas reais. Ele não simplesmente joga as coisas no ar. Faz coisas de qualidade, bem pensadas. E pode chegar a ser um pouco excessivo e tende a diluir o público, mas se você tenta impôr limites ou aprisioná-lo, ele vai querer dar o fora.

Há uma lei chamada termination reversion, e sei que foi isso que o possibilitou reaver muitas de suas músicas. Ele só queria ter direitos sobre as próprias músicas e então licenciá-las para que as labels distribuíssem. Não queria que as pessoas fossem donas de suas criações. E eu entendo isso, de verdade.

Qual a recordação mais valiosa que o Prince te deu?
Provavelmente uma carta que ele me escreveu. Não quero falar muito, mas é uma linda carta, em que ele fala sobre seu amor por mim e sobre o que queria fazer. Provavelmente é da época em que estávamos nos separando. Não queria estender muito, senti que já tinha feito o meu trabalho: escolher uma pessoa que praticamente nunca tinha entrado num estúdio e fazer tudo acontecer. Houve um tempo em que eu simplesmente não queria mais estar envolvido nisso, então disse para ele que estava caindo fora e ele me escreveu uma carta. Naquela época eu pensei, “meu Deus, ele se transformou num prima donna grotesco”. Agora, em retrospecto, me dei conta de que ele precisava muito daquele tipo de apoio. E precisava muito que fizessem aquelas coisas [por ele] para que pudesse se dedicar 150% a música. Eu não possuo muitas coisas, mas o que tenho é excepcionalmente interessante. E aquela carta estará sempre comigo, provavelmente até o dia em que eu morrer.

O Owen Husney atualmente trabalha na UCLA e está escrevendo sua auto-biografia.

Kim Taylor Bennett é editora do Noisey e está no Twitter.

Tradução: Stefania Cannone

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter


O Luziluzia é metade Boogarins, metade Carne Doce fazendo um psicodélico de garagem

$
0
0

O Boogarins está na gringa há uns dois meses e deve ficar por lá até por agosto. Os goianos estão no processo de fazer turnê e de gravar o terceiro disco, que ainda não tem previsão de lançamento. Então, vai demorar uma cotinha tanto pra você poder curtir um show deles aqui em terras brazucas quanto pra gente ouvir som novo da banda.

Mas o Raphael Vaz (baixo) e o Benke Ferraz (guitarra), mesmo lá de Austin, tão lançando nesta quinta-feira (2) a primeira parte do segundo EP de um outro projeto deles, o Luziluzia, que conta também com dois membros da banda goiana Carne Doce, João Victor Santana (guitarra) e Ricardo Machado (bateria). Você pode ouvir EP 1/3 (concerto para caixas pequenas) abaixo:

"Na real, esse EP é como se fosse um ensaio que a gente resolveu gravar meio que despretensiosamente pelo iPhone", me explicou Raphael por telefone. "A faixa 1, 3 e metade da 4 foram todas gravadas ao vivo na casa dos meninos do Carne Doce. Só depois a gente pensou mesmo em lançar". Tanto é que, quando você está ouvindo as músicas, você vai começar a escutar do nada umas conversas paralelas, umas troca de ideia entre os músicos sobre a gravação, essas coisas, o que deixou tudo bem lo-fi. Só a segunda faixa, "faxinação", que não tem tantas coisas ao vivo. "Usamos como sampler a voz da poeta portuguesa Matilde Campilho recitando 'Roma Amor' na Flip de 2015 e gravamos umas guitarras por cima", explicou Raphael. 

Para gravar o EP, os meninos também usaram um 4-track Tascam, um gravador de k7 bastante usado nos anos 1980. "Esse trabalho é uma ode às tecnologias obsoletas, porque tem mistura de aparelhos modernos e antigos", disse Raphael. "E, pra ouvir essa gravação, você não precisa de caixa de som super potente, pois o disco soa do mesmo jeito em plataformas diferentes."

O Raphael ainda adiantou que mais dois EPs do Luziluzia estão quase pronto. "O segundo deve sair em agosto e deve ter umas 'músicas de festa boa'. O terceiro, já gravamos quase metade."

Com masterização e finalização do Benke, o disco, que conta com participação especiais do Pedro Kastelinjs (Kastelinjs) e do Bernardo Pacheco (Elma/Are You God/Berna N the Gangsta), está saindo pelo selo goiano LaLonge. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Prince morreu de overdose de opiáceos, diz agência

$
0
0


Imagem via Wikimedia Commons.

O cantor Prince morreu de uma overdose de opiáceos (derivados de ópio), noticiou nesta quinta-feira (2) a Associated Press, que confirmou a informação com autoridades policiais. 

Prince foi encontrado morto em sua casa e estúdio Paisley Park, na cidade de Minnesota, no dia 21 de abril.

Os resultados das primeiras autópsias foram inconclusivos e por isso a polícia não podia confirmar resultado, apesar de haver grandes suspeitas de que o cantor tinha morrido por causa do abuso de analgésicos. Mas um oficial da polícia que, segundo a AP, "falou sob a condição de anonimato, porque ele não está autorizado a falar com a imprensa", confirmou o resultado oficial da autópsia. 

LEIA MAIS:

O homem que descobriu Prince

O Prince é o rei no quesito estilo há longas quatro décadas

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Ouça o primeiro single do tão sonhado 'Cruel Winter', a próxima coletânea da G.O.O.D Music do Kanye West

$
0
0

Já faz alguns anos que o Kanye West está num lança-não-lança com o Cruel Winter, projeto do seu selo G.O.O.D Music. O Q-Tip fez uma referência ao disco em 2012, e as dicas vêm crescendo de uns tempos pra cá. Mas nessa sexta (3), após o próprio Ye anunciar que o novo single seria lançado na rádio Real, de Los Angeles, aqui está ele. "Round and Round" conta com a participação de Gucci Mane, Travi$ Scott, 2 Chainz, Desiigner, Big Sean, Yo Gotti e Quavo e puta que pariu, a gente não aguenta mais esperar. O inverno está chegando, e Cruel Winter também. Thank you, based Pablo. Escute abaixo: 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O EP solo do niLL e as tretas não-tretas do fim do Sem Modos

$
0
0


Foto: Raphael Santa Rosa/Dilvugação.

É, o Sem Modos acabou mesmo, não tem mais choro. O grupo responsável pela melhor trilha sonora para tomar um Corotinho mais de rap desde Return to the 36 Chambers do Ol’ Dirty Bastard (é sério, não tô tirando não) vai ser sempre lembrado quando alguém estiver com menos de 20 reais no bolso e bem afim de zuar. Mas o “chora agora, ri depois” vale pra vileiragem também, e dá pra sentir a verdade do dito percebendo que, com o fim do Sem Modos, o que tá tendo agora são os ex-membros partindo para novos e entusiasmantes projetos que buscam dar um upgrade estético no clima “foda-se” do grupo original, mas sin perder a ternura que é beber pinga direto da garrafa e fumar maconha.

Seguindo o exemplo do Julian, o outro ex-integrante, niLL já está de volta com um novo EP. Lançado no último dia 24, NEGRAXA é o trabalho que inicia a sua fase solo e reflete  sua identidade pessoal.  “Se você ouvir o CD vai me conhecer bastante, mesmo sendo curto”, explicou niLL. Ainda bem largado no estilo dos beats e flow, o jundiaiense de 23 anos começou  brincando de rimar na escola aos 16 e desde 2012 aposta em originalidade no Sem Modos, agora busca com o próprio nome a inovação em conteúdo e flow. Pra ele, agora é uma fase de exploração  musical.

Mas nada se faz sozinho, niLL contou com o apoio monstro dos manos da Sound Food Gang, formada pelo rapper e os manos de Jundiai. A crew se formou assim que o Sem Modos acabou a partir de uma iniciativa do próprio niLL que queria seguir carreira solo mas queria se juntar com uma rapa pra fazer uma produção completa. Com cada função sendo cumprida da maneira ideal, desde o produtor dos clipes até o empresário e com um estúdio próprio as produções fluem bem e muita coisa está pra ser lançada. A crew conta com niLL, Érrea, G.u, Skin, China, Mokado, Mano Will, Dj buck, Young Buda e Chabbaz.

A produção do NEGRAXA ficou na mão do RA e foi feita toda no estúdio da gang, o D’SGUEIO. Érrea, Skin, Mokado e O Adotado (que na entrevistar revela sua identidade secreta) assinam beats no EP, que mistura traps e boom baps com bons toques de musicalidade. O disco é curto, mas consistente e reflete a realidade e visão da crew, que quer voar para muito além do fim da linha 7 da CPTM.

Fui até  Jundiaí,  no estúdio  da gang, pra conversar com niLL e ver de perto o que a crew está aprontando. Aproveitamos para conversar sobre das tretas que não foram tretas com o Sem Modos. Também teve muita ideia sobre a nova fase solo do niLL e a nova crew de laricados absurdamente talentosos, que prometem muita coisa boa por aí.

Coloca o EP pra tocar no YouTube enquanto lê a entrevista pra entender do que eu to falando: 

Noisey: Como você começou sua caminhada no rap?
niLL: 
Eu comecei a ter contato com o rap na época que meu tio morava em casa. Ele ouvia o Espaço Rap [da rádio 105 FM]. Mas eu me interessei a fazer música mesmo na época da escola, por incrível que pareça.  A professora de artes pediu pra fazer um trabalho,  um comercial fictício, e a gente tirou uma onda com o som que eu que escrevi. A professora acabou  gostando e falou: “você fez algo tão extenso, artístico, por que você não começa a pegar mais firme nisso aí? Transformar isso em realidade?” Foi aí que eu comecei a encarnar, eu tinha uns 16 anos. Juntei com uns parças na vila e a gente fez um movimento. Dois shows, gravei meu primeiro som lá no estúdio do Pedro do Ladeira Um, e depois eu acabei encontrando o Julian na caminhada. Ele me convidou pra fazer umas dobras do som dele. Nessa época eu ainda estava no outro grupo, o Clã do Fya, mas não era uma galera muito empenhada, e eu achava que podia virar, até por que a gente invadia uma festa alternativa que tinha aqui, o Armazém, que tocava um rock, chegava e mandava um som e era isso. Aí dentro do Armazém mesmo o Sem Modos virou.

E a sua professora que te motivou sabe que você continua fazendo um som?
Então, acho que ainda não, mas eu precisava encontrá-la porque ela foi um grande empurrão. Foi nessa época que eu me liguei na escola, que percebi o valor que tinha, que você tem que estudar e que é interessante você ser amigo dos professores. Tanto que depois que ela falou isso pra mim eu não brisava em viver totalmente da música, mas ser professor também, por que eu queria chegar em algum moleque e falar que ele também pode realizar as coisas. Eu sempre pensei nisso, a solução pra você salvar uma pessoa é dando um sonho pra ela, dando uma  motivação pra realidade.

Como foi fazer o NEGRAXA? O que te inspirou?
Eu quis marcar tudo que eu sinto. E poder trabalhar dos dois lados, tanto na produção quanto na direção musical, escolher tudo. A gente gravou tudo com o RA. Se você ouvir o CD vai conseguir me conhecer bastante, mesmo sendo um disco curto. Eu to me surpreendendo muito [com a recepção], é uma experiência muito louca.

Uma coisa que eu adianto em primeira mão também é que o NEGRAXA vai ter várias edições, e você vai conhecendo cada vez mais, é tudo história verdadeira. Que as pessoas sejam bem vindas ao meu mundo e ao universo da Sound Food. Podem esperar mixtapes, podem esperar um CD todo mesclado da Sound Food, que nem mescladinho mesmo, vai ser mil grau.

Mano Will: Oh a apologia, hein! (risos)

Eu achei as produções bem fodas. Como foi o processo com os beatmakers?
Então isso foi um ponto que fez dar muito certo também, por que a gente tem uma variedade muito grande de beatmakers então dá pra todo mundo se encontrar, ver do que gosta, dá pra pegar e escolher, sabe? O Skin, que é o cara que faz os clipes, também toca uns instrumentos e faz umas bases. Quando ouvi as bases dele achei o que estava faltando pro meu EP. Era o que eu queria, algo que não ouço no rap.

Assim que eu ouvi o seu som pela primeira vez eu ganhei uma influência pesada do Quinto Andar. Ela existe mesmo? Quem mais te inspira?
Tem mano, tem muito, até por que eu particularmente gosto muito de Quinto Andar. Eu levo o De Leve como influência por que eu tive a oportunidade de conhecê-lo, então é um cara que eu admiro no rap e como pessoa. O Ogi é outro cara que me influencia, por que não tem como, ele fala coisas que eu não ouvi em lugar nenhum. Isso que é daora, você pegar uma base, um instrumental e fazer um som que ninguém nunca imaginou. Eu não cheguei a falar isso pra ninguém ainda, mas o De Leve me chamou pra gravar uma coletânea em São Gonçalo que ele tá organizando e a gente fez um som juntos. Ele mandou a base e o refrão, eu gravei, mandei pra ele e tá pra sair. O de Leve tá muito na ativa ainda, fazendo vários shows. Eu espero que o Quinto Andar volte pra gente poder ver um show!

O Sem Modos tinha um estilo bem largado, bem vileiro. Qual era a intenção de vocês na época, o que vocês queriam representar na cena do rap?
A gente queria ser a gente mesmo, era basicamente isso, nunca quisemos passar lição de moral em ninguém. A gente cantava o que vivia e sempre apareceu algum parceiro na caminhada que se identificou. E mano, tem letra que pode falar de álcool, de maconha, de comida,mas por trás disso daí sempre tem uma ideia, um conselho. Vai de você querer ou não enxergar assim. Mas o intuito foi isso, fazer um som sem padrão nenhum mesmo. A  arte sempre foi livre e isso sempre existiu na nossa cabeça. E por ser de longe, o Sem Modos tinha que ser original. Imitar os manos de São Paulo não ia virar.

Agora, na sua carreia solo eu ainda ganho essa tendência bem largada nos beats mas acho que você inovou bastante em flow e conteúdo. Como você descreveria essa nova fase?
Essa nova fase é a exploração do meu lado musical. Eu estou vendo como eu sou e foi graças a começar a fazer umas bases. Por que quando eu comecei, nem tinha interesse em fazer beat. É uma fase muito loca, eu consegui fazer tudo que tinha vontade. A época que comecei a entender o mundo da música, como as coisas funcionam lá fora,  vi que não dá pra fazer tudo sozinho. E não dá certo também se você tem muitas ideias e é um grupo, por que o grupo não depende só da sua ideia, por mais que ela seja boa. Chega uma hora que não bate, cada um vai crescendo, almejando novas coisas. O fim do Sem Modos não foi nada que um talaricou o outro, ou que um saiu no tapa com o outro, nem teve desentendimento, só não era pra ser mais, os valores mudaram, os pensamentos também e foi isso. Aí  eu comecei a aprender a fazer umas bases, mas eu não queria assinar como eu mesmo, então eu criei um personagem, O Adotado. A gente faz várias parcerias (risos) e foi isso que me deu fôlego pro meu CD. Eu pude fazer exatamente do jeito que queria, o que acabou agradando os caras também. De repente eu comecei a ter umas ideias de juntar tudo num mesmo canal, sabe? Nessa época, o Sem Modos acabou e depois de uns dias uns amigos meus iam colar em casa pra ver uns beats, e eu contei das minhas ideias, que eu queria fazer um som solo mas que eu queria juntar uma rapaziada pra produzir tudo certo e os cara já fecharam. Foi aí que eu realizei um desejo meu também, de criar a Sound Food com os amigos. Eu gostei muito da repercussão.

E quais são os planos Sound Food Gang?
É algo que tá até me surpreendendo, querendo ou não acabou vindo o cara certo pra cada coisa. O Koreia é meu melhor amigo, das antigas mesmo, é o nosso empresário e ele consegue fazer vários coisas que ajudam muito a gente . Eu tô feliz pra demais, graças a Deus conseguimos montar um estúdio, esse aqui e o no meu quarto. Deu pra realizar muito mais planos. Há males que vem pra bem. Agora o que a gente pretende lançar é basicamente o EP. do YUNG BUDA, que só rima nuns traps, canta em inglês e fala umas palavras em japonês também, o que é algo bem diferenciado. Vamos soltar clipe dele também, clipe meu, um som diferente de tudo que eu já fiz. Vai vir disco novo do U.L.O. e do Doisdenós.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Maria tá cansada de apanhar no novo clipe do Francisco, El Hombre, "Calor da Rua"

$
0
0

Quem tá acostumado com a leveza do folk-latino-abrasileirado do EP La Pachanga! (2015) vai tomar um susto com a agressiva "Calor da Rua", o novo som que o Francisco, El Hombre está lançando nesta sexta-feira (3) e que você vê o clipe com exclusividade aqui no Noisey.

É que o primeiro single do novo disco da banda campineira já mete a ficha de falar sobre violência doméstica contra a mulher, bem diferente do EP, no qual as letras falam mais de viagens, festas e andanças pela América Latina. "Fizemos essa música porque acreditamos que esse assunto é urgente, pensando no contexto que estamos vivendo, em que essas questões de violência a todas as mulheres estão sendo escancaradas na nossa cara", falou a percussionista e vocalista Juliana Strassacapa.

Junto com os irmãos mexicanos radicados no Brasil Sebastián e Mateo Piracés-Ugarte e os brasileiros Andrei Kozyreff e Rafael Gomes, Juliana disse que o Francisco, El Hombre está caminhando pra uma consolidação da sua identidade como banda. "Essa faixa é uma boa introdução do clima do disco, que vem não só pra enterrar o La Pachanga, mas também pra mostrar uma nova faceta do FEH, mais séria e politizada".

Ela ainda disse que outros temas parecidos ainda vão rolar no novo disco. "Vai ter uma música pro Bolsonaro (claro que não o elogiando, lógico), mais uma sobre a condição da mulher na sociedade e outras várias discussões políticas." 

Ainda sem nome, o primeiro disco da banda deve sair até o meio de agosto.

Produzida por Curumin e Zé Nigro, “Calor da Rua” ganhou clipe com direção artística da drag queen Alma Negrot, produção de Ana Carolina Moraes (Moviola Mídia Livre), roteiro e direção por Âncora Filmes. Assista acima. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

 

O Black Papa quer salvar o Brasil usando o p-funk-baião

$
0
0


Divulgação

O supergrupo paulistano de p-funk Black Papa lança seu primeiro EP, Suor, nesta segunda-feira (6) e você pode ouvi-lo com exclusividade aqui no Noisey.

Formado por oito pessoas, o grupo se inspira bastante na estética do Parliament e do Funkadelic (e do Parliament-Funkadelic, óbvio), supergrupos de soul-funk psicodélicos do anos 1970 que tinham vários integrantes. Só que a banda paulistana dá uma cara brazuca pra esse som, misturando um pouco de baião e Tim Maia no groove deles.

"A gente bebeu muito do mito da nave-mãe do George Clinton pra formar o Black Papa. Só que é como se nós tívessemos vindo pra salvar os brasileiros, que também é um povo sofrido", explicou Rafael Moura, um dos vocalistas da banda.

Só contextualizando: o mito da nave-mãe, que rendeu o título de um dos discos do Parliament, Mothership Connection (1975), é uma metáfora da libertação negra da opressão sofrida neste planeta. A nave-mãe do funk seria a salvação de todo afro-americano, porque levaria o povo negro pra outra galáxia, onde ele finalmente seria tratado com respeito. 

Com mixagem de Fernando Sobreira Rala e Marcel Enderle, e masterização de Renato Soares, Suor é a síntese dessa mistura do funk com o baião. E, pra sacar o lançamento deste EP ao vivo, fica esperto que vai rolar show no dia 18 de junho, no Grazie A Dio, em São Paulo. Confirme presença no evento aqui

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Os Zumbis do Espaço estão de volta em uma missão de satanás

$
0
0


Foto por: Bruna Martins

Em vinte anos na ativa, o Zumbis do Espaço se firmou no cenário underground com uma identidade muito particular, capaz de agradar ao público do metal, do punk, do country, do rockabilly e do blues. Mas se até os Ramones tiveram suas diferentes fases em estúdio, também é possível notar os distintos climas nos quais o Zumbis já investiu ao longo de sua discografia, até chegar no harmonioso blend musical que conhecemos. E que fica evidente nesse novo álbum que orgulhosamente soltamos nesta segunda, dia 6/6/2016, Em Uma Missão de Satanás. Nem sempre foi assim. Em seus primeiros discos – A Invasão e os três EPs que vieram a compor o Horror Rock Deluxe – a banda egressa do Vale do Paraíba, interior de São Paulo, ainda exibia forte influência do Misfits original. Já era possível notar nessas gravações, contudo, algumas influências tiradas desses outros gêneros citados, o que deixava claro que não se tratava de mais um expoente clichê do punk rock.

A identidade mesmo do Zumbis adquiriu contornos em seu terceiro álbum, o Abominável Mundo Monstro, de 1999. Nele, todas as referências foram somadas não como uma colagem de estilos, mas como os ingredientes de uma massa de pão, formando uma sonzeira única e original. Na sequência, os caras gravaram Aberrações que Somos, em 2002, e nesse período ainda conhecemos o primeiro ao vivo, O Mal Nunca Morre. O Zumbis do Espaço estava no auge de sua criatividade e aproveitou o embalo para lançar, em 2004, Aqui Começa O Inferno, bem mais puxado para o country do que os anteriores, com direito à inserção de novos instrumentos como dobro, banjo e altos solos de guitarra.

Depois de um tempo no ostracismo, entre 2004 e 2008, quando a banda se acomodou com a diversão e a bebida na faixa, quase chegando ao fim pela primeira vez, os integrantes decidiram retomar as forças e gravar o álbum mais bem produzido de todos até então, para voltar a chutar umas bundas: Destructus Maximus. “Quando ele foi lançado, muitos fãs torceram o nariz por causa da excelente produção e do peso, mas o que aconteceu é que ninguém contava com o fato de que esse álbum atrairia toda uma nova geração de fãs mais ligados ao metal, o que se comprovou quando saiu o tributo ao Zumbis em 2014, feito só por bandas de metal”, comenta o vocalista Tor. “Nesse tributo foram gravadas mais músicas do Destructus do que de nossos outros álbuns. Nessa época gravamos o terceiro ao vivo e o segundo DVD, e então saiu o Nós Viemos em Paz, em 2012, que eu acho que é um álbum de transição. Foi quando tentamos encontrar um ponto de equilíbrio entre o Destructus e os nossos primeiros álbuns, mas também incorporar alguns novos elementos, soando pesados e lentos e com uma atmosfera mais orgânica”, conclui.

Daí finalmente chegamos a Em Uma Missão de Satanás, clássico instantâneo com letras perspicazes e melodias contagiantes. Tor, Manialcöol (guitarra), Gargoyle (baixo) e Zumbilly (bateria) demonstram aqui uma pegada muito consistente, revisitando a selvageria de seus melhores feitos – Abominável; Aberrações; e Destructus. Dessa vez, pode-se afirmar que os Zumbis do Espaço conseguiram alcançar o objetivo buscado no “álbum de transição” Nós Viemos em Paz, para usar um termo do próprio Tor. E fizeram isso sem se eximir de uma produção de fina qualidade e sem soar como cover de si mesmos: a cagada de muitos grupos com equivalente tempo de estrada na bagagem. A qualidade do trampo vem coroada com a arte do impagável Ed Repka, que já fez capaz memoráveis para nomes como Circle Jerks, Megadeth, Nofx, Death e Venom, entre várias outros. O álbum está disponível pela Hearts Bleed Blue em vinil, CD e cassete.

É isso. Curve-se perante o capeta e ouça enquanto lê a prosa que tive com o Tor. \,,/

Noisey: Por que a temática do terror, do mal, das aberrações, dos monstros e do capeta são tão inspiradoras para a banda? Existe uma linha tênue entre o senso de humor e o apreço verdadeiro ao satanás, ou o gosto real pela violência, por exemplo?
Tor: Sempre fomos atraídos pelo bizarro, pelo mau gosto e pelo caminho oposto às convenções, o que também inclui o engajamento juvenil raso tão em alta nos dias de hoje. Para mim, rock’n’roll sempre foi sobre quebrar barreiras, incomodar e ser uma música que deixe desconfortável a maioria das pessoas. Se seus pais aceitam a música que você ouve, tem alguma coisa errada. Mas nunca foi sobre satanismo ou violência. Encare como assistir a um filme ultrajante ou ler algum livro estarrecedor, ou simplesmente extravasar por uma hora tudo que você gostaria de colocar para fora, sobre seu trabalho, escola, parceiros, etc. Por isso, músicas como “Espancar e Matar” cumprem sua função. Se você vai a um show, em uma sexta-feira depois de uma semana de trabalho, a última coisa que você vai querer ouvir é um idiota em cima de um palco dizendo o que você deve ou não fazer, ou sobre como salvar o mundo. Foda- se, tudo isso é besteira pretensiosa vindo de caras que não limpam a própria bunda. Então, o que nos propomos a fazer é basicamente: abra uma cerveja, divirta-se e esqueça todas as merdas por uma hora.

Tem um ou mais sons desse disco novo com alguma história curiosa a respeito de seu processo de composição ou gravação para compartilhar com os leitores?
Tem várias, e são algumas das minhas favoritas. Nossa forma de compor funciona assim: geralmente eu escrevo algumas musicas que já saem completas. Gargoyle faz muitas músicas, mas escreve poucas letras, apesar de que quando faz a letra elas se tornam um clássico. Zumbilly faz muitos riffs e pontes e algumas melodias, apesar de ser baterista. Mas meu jeito preferido de compor é quando pegamos uns dias e eu viajo até a casa do Gargoyle, em Pinda, mostramos o que temos e começamos a compor e beber bem cedo. Quando chega pelas dez da noite, já não sabemos mais nada do que estamos fazendo devido aos nossos hábitos. Mas gravamos tudo, e nesse dia, depois de uma longa sessão de músicas já previamente compostas e mapeadas, quando fomos ouvir as fitas tinha três feitas no final, que nem lembrávamos como gravamos nem de onde vieram, e estão entre as melhores do disco: “O Mal Imortal”, “LSZumbis666” e “Bunga Bunga”. E também teve uma das últimas a serem gravadas no estúdio. O disco já estava praticamente pronto e, como tínhamos mais musicas do que precisávamos e ainda faltavam três letras, e não saia mais nada, eu quase as deixei de lado. Pedi pro Gargoyle me ajudar e também não saia nada muito bom, exceto uma letra que ele mandou de primeira e eu não dei bola. Mas consegui concluir duas delas por mim mesmo durante as gravações, e então só faltava uma, que era justamente a da letra que o Gargoyle mandou e que eu não me importei. Então eu tentei encaixá-la na melodia e na música só porque eu não tinha nada pra fazer, e simplesmente foi mágica, pois se encaixou  perfeitamente. Para mim foi a melhor gravação de todas, no final, que é “Inspirado pelo Cão”.

Qual era a vivência dos integrantes da banda no cenário musical à época de sua formação e o que os motivou a rascunhar um projeto com tal proposta?
Quando formamos a banda, nós já nos conhecíamos há muito tempo, tocávamos em algumas bandas dentro do metal, e do punk/hardcore, mas como todos nós somos do interior, nossa cultura era muito diferente do que aquilo que acontecia aqui em São Paulo. Basicamente no início éramos poucos e todos se conheciam, não existiam divisões, ou facções, as pessoas tinham que aprender a conviver pois todo mundo sabia onde o outro morava. Também não existia público ou lugar pra tocar, então tivemos que inventar isso, alugando salões de festas, espaços comunitários, botecos, piscinas abandonadas, etc. Organizávamos nossos próprios eventos e todo mundo que gostava de som pesado na região costumava aparecer. Olhando para trás parece fantástico o que vivemos, e realmente foi, mas nem sempre era tão divertido quanto parece ter sido. E definitivamente isso não quer dizer que houve uma cena ou que as pessoas eram unidas, nunca existiu isso, era mais uma questão de sobrevivência e conveniência. Sinceramente o que motivou a fazer uma banda como o Zumbis foi quando começamos a vir pra São Paulo no inicio dos anos 1990 as com nossas bandas anteriores, e tivemos contato com o auge daquelas bandas daqui, que adoravam ditar regras de conduta sobre os mais diversos assuntos. E essa agenda politicamente correta e segregacionista não fazia o menor sentido pra mim. Isso me motivou a fazer uma banda que fosse exatamente o oposto de toda essa merda.

Vocês já haviam trabalhado com o Ed Repka antes, certo? Como funciona o diálogo do Zumbis com ele para a criação das artes? Rola um briefing, ele pega a temática das letras, nome do disco, algo assim, e submete à aprovação de vocês?
É muito fácil trabalhar com o Repka, ele conhece a banda , nosso universo e o que a gente representa. No Nós Viemos em Paz, conversamos sobre isso e ele me apresentou um desenho que ele achava condizente com nossa filosofia, e foi isso. Já nesse novo álbum a ideia e o conceito foram meus, eu falei apenas que o titulo do disco seria uma referencia aos “Blues Brothers”, filme em que eles justificam todos as merdas e acidentes e trambiques deles por estarem “Em uma missão de Deus”. É mais ou menos como a carreira do Zumbis, só que estamos em uma missão de Satanás... eu expliquei isso pra ele e disse que queria um diabo pastor em roupas legais, umas crentes gostosas e uns homens caveiras, e ele me veio com a capa depois de umas semanas.

Muita gente cai no senso comum de dizer que o Zumbis é o Misfits brasileiro. Você acha que essa é uma forma equivocada de se referir à banda?
Sim. Falar que somos o Misfits brasileiro é simplista e superficial, apesar de que eu poderia tomar isso como um elogio. É obvio que fomos muito influenciados e ainda somos pelo Misfits original, eles foram uma das bandas mais incríveis que existiu e gravaram um dos meus discos favoritos que é o Walk Among Us, além de canções antológicas e uma coisa que eu adoro: grandes melodias e letras insanas. Mas ao mesmo tempo temos muito mais que isso no som do Zumbis, temos oito discos de estúdio, três ao vivo, dois DVDs, duas coletâneas, vários EPs, vinte anos ininterruptos de carreira, atingimos um espectro musical que aborda metal, punk, country, blues, rockabilly. E eu reforço uma coisa, qualquer comparação que façam nesse sentido como o Motörhead brasileiro, O Jhonny Cash brasileiro, o Ramones brasileiro, mostra que fizemos o caminho certo, mas continuo achando que quem fala isso não pegou totalmente o espírito da banda, só uma parte.

Certa vez você declarou que "Não existe injustiça na música. Cada um tem o que merece". Olhando em retrospecto, você acha que o Zumbis teve o que mereceu? Ou há objetivos inalcançados nessa caminhada?
Sim, continuo achando isso, se você faz uma banda só pelas recompensas materiais e carnais, ou para ser algum tipo de celebridade, provavelmente você vai se frustrar e definitivamente acho que isso não deva ser a motivação para fazer musica. Consegui uma boa vida e uma carreira com minha banda, continuo fazendo musica que me empolga e me desafia artisticamente, e que continua me levando para inúmeros lugares, e em todos eles tem pessoas que cantam nossas musicas e que em algum momento essas mesmas musicas fizeram parte das vidas delas ou as tocaram de alguma forma, vivo da minha maneira e pelas minhas regras. E meu único objetivo é continuar fazendo o que eu faço e chutando mais algumas bundas por aí, até quando isso não me interessar mais.

Os Zumbis do Espaço seguem espalhando a mensagem da desgraça no Facebook

Siga o Noisey nas redes: Facebook | Twitter | Instagram


O DJ Tamenpi fez uma mixtape em tributo ao Muhammad Ali

$
0
0

É bastante óbvio que o legado de Muhammad Ali se expandiu para bem além dos ringues. O esportista era, além do melhor boxeador da história, um articulista político, líder na luta pelos direitos civis dos negros nos EUA, e, por vezes, músico. A irreverência e luta de Ali reverberou por décadas e deixou, com certeza, milhões desolados assim que sua morte foi divulgada, no último sábado (4).

Desde então, o boxeador ganhou homenagens das mais diferentes procedências: de Shaquille O'Neal a Bob Dylan e Silvester Stallone, durante todo o fim de semana, não faltaram notícias de tributos a Ali. Como, infelizmente, nem todos podemos orquestrar uma homenagem ao maior boxeador de todos os tempos, o DJ Daniel Tamenpi, do blog Só Pedrada Musical, fez uma mixtape 20 sons que, de alguma maneira, falavam da admiração pelo esportista."A ideia veio como uma forma de fazer a minha homenagem a um grande ídolo. E como sou DJ e pesquisador musical, nada mais natural que essa homenagem viesse através da música. E ele era um cara muito ligado em música também", conta Tamenpi. 

A admiração de Tamenpi por Ali surgiu aos seus 15 anos, quando assistiu ao documentário Quando Éramos Reis. "Desde então, Muhammad Ali se tornou uma inspiração e um grande exemplo de vida. Tenho uma admiração muito grande por toda a história do Ali, não só dentro dos ringues, mas também pela sua pessoa de caráter único que defendia seus ideais e fez diferença no mundo como um líder", diz. 

A mixtape começa por canções que o próprio Ali gravou sob seu verdadeiro nome, Cassius Clay, e continua com sonoridades que vêm do mundo inteiro. Naturalmente, a maioria dos sons refletem a cultura negra que, sem dúvida, o esportista ajudou a formar mais do que musicamente; também por sua atitude e postura dentro e fora dos ringues. "Fui atrás das gravações dele e dali comecei a abrir o leque, procurando músicas africanas dedicadas a ele, já que na África ele se tornou um grande ícone. Nessas buscas foram vindo coisas novas e antigas, de várias partes do mundo", conta o DJ. "Ele foi uma figura muito inspiradora. Principalmente para os oprimidos. No ringue ele era único, tinha um carisma sem igual, fato que agregou muito a sua popularidade. Todos se divertiam ao ver Ali falando ou lutando. Mas ele fez muita diferença também fora dos ringues. Acho que todos esses aspectos influenciaram muito as pessoas."

Ouça a mixtape abaixo e baixe-a gratuitamente aqui

Tracklist:

Cassius Clay – I Am The Greatest (The Speech)
Ali and His Gang vs Mr. Tooth Decay – The Theme From Ali and His Gang vs Mr. Tooth Decay
Cassius Clay – Stand By Me
The Best Ever & Muhammad Ali – The People’s Choice
Alvin Cash – Ali Shuffle
Don Covay – Rumble In The Jungle
Sir Mack Rice – Muhammad Ali
Liberated Brother – Muhammad Ali
Johnny Wakelin & The Kinshasa Band – Black Superman Song
Orchestre G.O. Malebo – Foreman Ali Welcome To Kinshasa
Jorge Ben – Cassius Marcelo Clay
Trio Madesi – 8ieme Round
Mr. Calypso – Muhammad Ali
Tom Russel – Muhammad Ali
Bette McLaurin – You’re The Greatest
The Fugees ft. A Tribe Called Quest, John Forte, Busta Rhymes – Rumble In The Jungle
Faithless – Muhammad Ali
Dennis Alcapone – Cassius Clay
Dennis Alcapone – Muhammad Ali
Page Scherer – He Is He

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Jair Naves convive com seus fantasmas no clipe de “5/4 (Trovões Vêm Me Atingir)”

$
0
0

Em “Silenciosa” (2011), primeiro clipe da carreira solo do ex-Ludovic Jair Naves, o brasiliense lamentou dramaticamente o fim de um relacionamento, sentado em cômodos de uma casa que, como cantava ele, se encontrava agora vazia e silenciosa. Cinco anos depois, Jair voltou à mesma casa para gravar o clipe de “5/4 (Trovões Vêm Me Atingir)”.

Nesse meio tempo, muita coisa mudou para Jair. O uma vez ídolo punk teve de cavar um espaço num meio não tão alternativo e reconquistar um público — que estava acostumado a vê-lo se jogar no chão durante as apresentação enérgicas do Ludovic — a comparecer nos seus shows acústicos e intimistas. Graças ao talento e carisma, o artista manteu os fãs e se tornou uma espécie de herói do underground — ou do tal “rock triste”, se assim preferir —, o que resultou no sucesso do financiamento coletivo para seu segundo disco solo, Trovões a Me Atingir (2015). "Continuo achando que é o meu álbum com melhor acabamento sonoro, o mais maduro musicalmente, com melhores arranjos, timbres e execuções", diz Jair. "[O álbum] é o retrato de uma época muito específica da minha vida. Hoje em dia me sinto mais distante de algumas coisas que estão nesse disco do que de outras que estão em registros mais antigos."

“5/4” é o primeiro clipe do disco, lançado há quase um ano e meio. “Era para ter sido o primeiro single, mas em cima da hora optei por "Prece Atendida" porque sentia que a letra dessa retratava melhor o momento que eu estava vivendo. Não me arrependo da decisão, mas enfim, é um jeito de fazer justiça a essa música”, comenta o artista. 

O clipe, dirigido por José Menezes e Daniel Barosa — que já havia trabalhado com o cantor nos clipes “Um Passo Por Vez”, “Pronto pra Morrer” e “No Fim da Ladeira, Entre Vielas Tortuosas” —, retrata a passagem de tempo usando como protagonista a casa inabitada, “quase fantasmagórica”. “É uma metáfora para como eu me sinto com relação a muita coisa ligada à minha carreira, às expectativas e convicções que eu tinha quando comecei a tocar e que se transformaram conforme muita coisa que eu vivi nesse tempo”, diz Jair.

O tom de esperança e amadurecimento da música e do clipe parecem estar no timing perfeito para Jair, que começou há alguns meses um novo projeto — que pretende virar álbum completo ainda neste ano — com a cantora americana Britt Harris, o NavesHarris.

Para comemorar o lançamento do clipe, Jair fará um show gratuito neste sábado (11), no Teatro Alfredo Mesquita, em São Paulo, às 20h. 

Assista a “5/4 (Trovões Vêm Me Atingir)”:

Ficha técnica: 

Direção: Daniel Barosa e José Menezes.
Direção de fotografia: André Dip.
Atriz: Nina Marqueti.
Produção - Daniel Barosa, José Menezes, Jair Naves, André Dip e Nikolas Maciel
Produtoras - Nimboo's e Ma7 Filmes
Pós-produção - Zumbi POST
Correção de cor - Henrique Reganatti
Agradecimentos - Regina Helena D.M. Azevedo, Britt Harris e Agência Alavanca.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Ouça a nova música dos Descendents e nossa, como foi bom escrever isso

$
0
0

Foto: Kevin Scanlon

Não faria muito sentido dizer que o álbum novo do Descendents foi muito aguardado porque, na real, quem esperava um álbum novo do Descendents? A icônica banda punk não lançava um disco há 12 anos e, até recentemente, não parecia ter planos para tal. Era, no máximo, improvável. Mas 2016 têm sido um ano doido, com suas reuniões do Misfits e mortes de ícones da música, e tudo mais. Então aqui estamos, em junho de 2016, encarando um disco novo do Descendents aqui, bem na nossa cara.

Hypercaffium Spazzinate, primeiro disco da banda desde Cool to Be You, de 2004, conta com seu lineup clássico — Milo Aukerman, Bill Stevenson, Stephen Egerton, e Karl Alvarez —, que não pularam nenhum degrau, musicalmente. “Victim of Me”, a primeira música do disco a ser lançada, capta o som tipicamente curto, rápido e melancólico da banda, mas agora, como canta Aukerman: “No longer will I travel aimlessly” [Eu não mais viajarei sem destino]. Nos perguntamos se os membros — que agora estão na meia-idade — finalmente amadureceram dos jovens que eram quando escreveram “I Don’t Wanna Grow Up”. Embora, a julgar pela predileção de Stevenson em sua idade adulta por piadas de peido, provavelmente não.

Os Descendents tocarão em vários festivais norte-americanos durante os próximos meses, no Punk Rock Bowling, em Las Vegas, Riot Fest, em Chicago e Picnic in Pozo, na Califórnia. E, embora algumas reuniões recentes de bandas têm produzido muitas performances horríveis, com artistas uma vez aposentados voltando aos palcos quando eles deveriam apenas ter deixado seu legado descansar em paz, é refrescante ver os Descendents — que superou tanta coisa após os problemas debilitantes de saúde de Stevenson — reclamarem o trono punk e lembrarem as gerações mais novas como se faz.

Escute “Victim of Me” abaixo. Hypercaffium Spazzinate será lançado no dia 29 de julho via Epitaph. Confira a tracklist abaixo. 

1. Feel This 
2. Victim Of Me 
3. On Paper 
4. Shameless Halo 
5. No Fat Burger 
6. Testosterone 
7. Without Love 
8. We Got Defeat 
9. Smile 
10. Limiter 
11. Fighting Myself 
12. Spineless and Scarlet Red 
13. Human Being 
14. Full Circle 
15. Comeback Kid 
16. Beyond The Music 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O Biel não é o único: outros casos de assédios a jornalistas por entrevistados babacas

$
0
0


Foto por: Felipe Larozza/VICE

Ser jornalista e mulher pode ser, muitas vezes, uma bosta. Além de ter que lidar com assédio “comum” dos colegas de trabalho, o que acontece em qualquer profissão, você ainda tem o bônus de correr o risco de ser xavecada pelos seus entrevistados homens. E, sério, não consigo colocar em palavras o sentimento de impotência que eu senti das duas vezes em que isso rolou com duas fontes minhas.

Uma delas era o Biel. Sim. O mesmo que, na última sexta-feira (3), falou pra uma repórter do IG que ela era “gostosinha” e disse que, se transasse com ela, a “quebraria no meio”. A jornalista entrou com processo contra ele e a hashtag #RIPBiel ficou nos trending topics do Twitter Brasil quase o final de semana inteiro. E, nesta terça-feira (7), um jornalista do Portal da Música relatou que o cantor teria feitos comentários do tipo “não quer fazer (a entrevista) no meu colo?” e “você gosta de churros? Eu tenho um aqui” para uma colega dele que estava na mesma bateria de entrevistas que a menina do IG. O relato foi publicado na íntegra no Portal IG. Um outro repórter de um portal jovem, que não quis se identificar, também estava no local e disse que “dava pra ver que ele fazia questão de construir essa imagem de machão babaca com as meninas”. "Também ouvi ele falar pra um cara que se chama Gabriel o seguinte: 'Seu nome é Gabriel, então você deve ser pegador", disse.

Daí para “tentar” (bem entre aspas) se redimir do primeira denúncia de assédio, o cantor foi lá e postou um textão no Instagram neste fim de semana, dizendo que tudo não passava de uma brincadeira. Acontece que nem a menina do IG nem a menina do Portal da Música estavam ali brincando. As duas estavam ali trabalhando. Assim como elas, eu também estava trabalhando, em agosto de 2015, quando entrevistei o mesmo Biel. Era um dos meus primeiros textos pro Noisey, logo que comecei a trabalhar aqui. Liguei pra ele por telefone e tentei ser super descontraída, pra tudo rolar o mais de boas possível. Mas talvez, assim como a menina do IG, eu tenha sido simpática demais, a ponto de o cantor achar que seria ok dizer que ele “me amava” quando perguntei se ele gostaria de falar mais alguma coisa, antes de eu terminar a entrevista. 

A única reação que eu tive foi dar aquela risadinha sem-graça e pensar “nossa, que desnecessário”. Infelizmente, não guardei a gravação, nem reclamei de nada na época. Só relatei o trecho da “brincadeirinha” do Biel no meu texto [no final do pingue-pongue]. Não falei pra ninguém nem tomei nenhuma providência a respeito porque “essas coisas acontecem” e estou “acostumada” a ser xavecada, seja na rua, no bar ou no trabalho, mas fiquei pensando: na moral, se eu fosse um cara, qual a chance de ele falar isso pra mim?

Uns seis meses depois, no carnaval deste ano, aconteceu de novo. Mais uma cantada, só que agora de uma outra fonte. O que rolou desta vez foi que entrevistei um famoso humorista de televisão (por telefone, de novo) e ele me pediu pra eu mandar o link da matéria quando saísse. Eu mandei, por Whatsapp. Ele viu a minha foto do perfil e me respondeu com um: “Desculpa qualquer coisa, mas você é muito bonita, viu?”. Fiquei puta pra caralho, mas mais uma vez fingi que nada tinha acontecido — porque, né, ninguém ia me levar a sério se eu reclamasse que estava sendo chamada de “bonita”. 

O meu caso com o Biel e com este outro entrevistado foram bem mais leve do que o da menina do IG, com certeza. Mas acontece que nós duas nem fomos as primeiras nem seremos as últimas jornalistas a serem assediadas enquanto estavam entrevistando algum homem. “É muito triste não poder desempenhar suas funções com a qualidade e eficiência que poderia porque a sociedade te vê antes como mulher, que culturalmente é compreendida como menor, submissa e voltada à satisfação do prazer masculino, e não como uma profissional”, me disse a jornalista Susana Berbert. 

Quando trabalhava numa revista de agronegócios, Susana estava fazendo uma pauta sobre produtos orgânicos e agricultura sustentável e, ao perguntar se poderia fazer entrevista com um fazendeiro, ele respondeu que só toparia se ela aceitasse sair pra tomar uma cerveja com ele. “Se eu fosse um homem, isso jamais teria acontecido. Eu teria entrevistado, feito meu trabalho e pronto. Só que esse homem não me viu como jornalista, me viu como um objeto.”

Juliana* disse que, quando ela era estagiária num portal, entrevistou dois médicos venezuelanos para fazer uma matéria sobre o programa Mais Médicos. “Eles começaram a fazer comentários de cunho sexual sobre mim em espanhol na minha presença, pra eu não entender”, disse. “No fim da entrevista, um deles me apertou a mão, deu um beijo bem nojento no meu rosto, virou pro outro e falou algo tipo ‘Um beijo na linda periodista (jornalista)’”. Quando chegou na redação, ela tinha recebido um email de um dos médicos, a elogiando pela beleza. “Além disso ser errado por razões óbvias, eu tinha tipo 19 anos e os caras 70, sabe?”.

Apesar de estar morrendo de medo, por ser nova na empresa e tal, ela resolveu contar pro seu chefe do ocorrido. “Tava morrendo de vergonha, mas a reação dele foi surpreendentemente incrível”, contou. “Ele derrubou a pauta e ainda me disse que nenhum entrevistado nunca pode me desrespeitar, porque a minha integridade física e moral e minha dignidade estão acima de tudo”.

O assédio por parte de fontes é tão corriqueiro que, às vezes, os próprios editores acabam alertando as repórteres de que algo pode acontecer. Rolou comigo. Um ex-editor meu me disse pra eu tomar cuidado com dono de casa de show porque ele tinha “fama” de xavecar todas as meninas. Pelo menos, saí ilesa dessa matéria. Mas não foi o que aconteceu com Marcela*. Quando trabalhava numa revista de alta circulação, ela foi incumbida de entrevistar um famoso escritor e as chefes delas a avisaram, meio em tom de brincadeira, que ele “pegava todo mundo”. “Já fui tensa pra casa dele. E era um dia desses, em São Paulo, no qual faz frio e calor ao mesmo tempo. Tinha saído sol e eu tava de meia-calça. A primeira coisa que ele me perguntou quando me viu foi se eu não queria tirar a meia”, disse a jornalista. “Pra piorar, na hora de eu me despedir, ele passou a mão na minha cintura e ficou dizendo que ‘tinha sido ótimo me conhecer’, esses papinhos. Fiquei super constrangida e sem saber o que fazer”.

Assim como rolou comigo, com a Marcela e com a repórter do IG, Marina*, uma amiga minha,  também recebeu uma “cantada” de um cara famoso. Quando trabalhava na área de comunicação de um órgão público, a jornalista entrevistou por telefone um cantor da Jovem Guarda. Ao final da ligação, ele perguntou se ela tinha namorado e a idade dela, porque, pela voz, ela parecia “novinha”. “Só por que o cara é famoso, parece que ele acha que tem mais liberdade ainda de dar em cima, como se ele tivesse uma proteção maior, não sei”, disse. “O pior é que eu não tenho nenhuma prova de o que aconteceu porque resolvi só ignorar”.

E esse lance de ser assediada por uma fonte pode acontecer tanto se você trabalha num veículo de comunicação, quanto se você é só uma estudante. A assessora da Inker Letícia Justino, ex-aluna da Universidade Metodista (SP), me contou que, durante um trabalho do curso sobre crise hídrica, foi entrevistar um professor da UFABC junto com uma amiga. “Desde que entramos na sala, percebemos um tom diferente dele nas respostas. Além de olhar fixamente a menina que estava comigo, ele a assediou de forma direta, ao dar um exemplo durante a conversa. Falou algo do tipo: ‘bonita que nem você’”, falou Letícia. “Me lembro também de ele usar a palavra ‘gostosa’ em uma das questões, dando exatamente a entonação pejorativa de ‘gostosa’. Foi horrível e ainda acabamos usando no nosso projeto porque ele era um especialista no assunto.”

É sempre a mesma coisa: ou é entrevistado que acha que tem liberdade de te chamar pra sair, ou de te perguntar se você tem namorado, ou de te constranger com um elogio desnecessário. O problema é: por que eles acham que tem essa liberdade? Foi porque nós estávamos sendo “simpáticas”, daí eles já pressupuseram que a gente tava “dando mole”? Bem, praticamente todo jornalista, homem ou mulher, é obrigado a ser “simpático”, mas só porque a gente tem que arrancar o maior número de informações possíveis das nossas fontes para podermos escrever os nossos textos. Acontece que, se você é homem, você consegue fazer isso tranquilamente. Se você é mulher (e o entrevistado for homem), tem que lidar com o risco de ser chamada de “gostosa” — e ainda ter que engolir seco, pra isso não prejudicar o andamento da sua matéria. 

(Só um adendo: com certeza deve tido um monte de jornalista mulher por aí que não foi lá super simpática com o entrevistado e levou cantada do mesmo jeito). 

*Os nomes com asteríscos foram trocados a pedido das entrevistadas, a fim de preservar as suas identidades.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O Kamau reuniu um time de rappers fera na nova faixa "Produto"

$
0
0


Foto por: Felipe Gabriel / Red Bull Content Pool

Durante o mês de abril, o rapper Kamau liderou um grupo formado pelos MCs Daniel Raillow e Jota Ghetto, pelos beatmakers MestreXim e Jhow Produz e pelo DJ Nyack no projeto Pulso, da Red Bull. E um dos resultados desse tempo que os caras ficaram criando lá no ateliê do Pulso foi a faixa "Produto", que você ouve com exclusividade aqui no Noisey.

Com beats do Xim, rimas dos MCs Daniel Raillow, Jota Ghetto e do próprio Kamau, a música tem um sample de jazz dos anos 70. Pra completar a atmosfera jazzista, eles acrescentaram um piano do Jhow Produz e a guitarra do Renato Taimes. "Tudo isso se encaixou perfeitamente. O sample tem um ar meio Donny Hathaway e dá uns floreios legais na música", disse Xim. 

Sobre as rimas, o Kamau falou que eles fizeram uma alusão de que quem consumir o nosso produto vai ficar viciado na sonoridade:

"O Raillow falou sobre vários produtos diferentes, além da música. Inclusive, as pessoas que são produto do meio em que vivem. Eu e o Jota falamos da música como algo ilegal que vendemos. Até brincamos no final que o Raillow é o 'avião', eu sou o 'patrão' e o Jota é o 'gerente'. Depois de gravarmos os versos, pensei em colocar o Nyack fazendo o 'cliente'. E ele acertou de primeira o personagem." 

Ouça "Produto" abaixo:

Ficha técnica

Produzida por Mestre Xim
Co-produzida por Kamau
Beat: Mestre Xim
Letra e vozes: Daniel Raillow, Kamau e Jota Ghetto
Voz final: DJ Nyack
Scratches/Colagens: DJ Nyack
Piano/teclados: Jhow Produz
Guitarra: Renato Taimes

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

É não é que a nova música do Blink-182 não é uma bosta completa?

$
0
0

Antes de começarmos essa nota, vamos ser bem sinceros sobre uma coisa: as duas primeiras músicas que o Blink-182 soltou do seu próximo disco, California, são uma merda. O primeiro álbum da banda em cinco anos (e também o primeiro com o Matt Skiba, depois da saída bem passiva-agressiva do Tom Delonge) já está quase parecendo um fracasso. “Bored to Death” tem todas as marcas do bom Blink, mas a letra parece uma colagem colegial bem miserável. Ah, e “Built This Pool” é bobinha. Mas você pode pensar: "ah, o Blink 182 sempre foi meio infantil e sempre fez piadas sobre pau e bolas, parem de odiá-los por isso". Urgh. Eles já são adultos, sabe?  

Mas foda-se tudo isso, essa faixa nova é muito melhor que as últimas duas. “Rabbit Hole” estreou no programa World Record, do Zane Lowe, na rádio Beats 1 nesta quarta-feira (8) e esta música é tudo o que as outras duas não são. É meio infectuosa, mas bem balenceada. E, pela primeira vez, eles estão soando coerentes e como um grupo que tem uma identidade própria desde a saída do DeLonge. Parece que eles estão finalmente entrando nos eixos. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Os anos 80 ligaram e disseram pra você ver o novo clipe do Nenê Altro

$
0
0


Da esq. pra dir.: JJ Junior (bateria), Nenê Altro (voz), Edu Krummen (guitarra) e Bruno Bento (baixo). Foto: Luringa

“Estilo Baixa Classe” é o primeiro clipe da nova fase do projeto solo do Nenê Altro. É, também, o terceiro single que ele solta do álbum prometido para ganhar as redes ainda este ano. Como tudo no trampo solo do Nenê tem um ar oitentista já desde 2004, aqui a sonoridade ecoa mais uma vez, só que agora bem mais abrangente. Em sua fase anterior, ainda sob o nome de Nenê Altro & O Mal de Caim, as referências vinham do underground pós-punk, de bandas como o Bauhaus e Vzyadoq Moe. “Nós somos a geração dos anos 1980, vivemos a adolescência e juventude naquela década, crescemos respirando aquele ar, logo essa é a nossa escola musical”, o Nenê justifica. Agora, as influências passam a flertar com bandas gringas como The Smiths, Joy Division, The Clash, The Cure, PIL, Stiff Little Fingers, e bandas nacionais, como Legião Urbana, Plebe Rude, Ira!, Titãs e Engenheiros do Hawaii.

A letra vem de uma poesia musicada que fará parte do quarto livro do Nenê, o qual também chega às prateleiras ainda este ano. Na real todas as letras do álbum são poesias desse próximo livro. A base da canção, por sua vez, estava guardada há anos, e até chegou a ser apresentada por ele ao Dance of Days, mas não se encaixou no perfil da banda. É o mesmo caso da “A Minha Pedra e O Gigante”, que originalmente devia ter entrado no A Valsa de Águas Vivas, em 2004, mas que acabou sendo gravada com o Nenê Altro & O Mal de Caim em 2010. “Eu não jogo fora nada do que crio”, explica o músico e escritor, “antes eu gravava em fitas, hoje, gravo em arquivos de áudio e tudo fica lá esperando o seu momento.”

Acordei o Nenê nesta quinta (9) pela manhã só pra trocar uma ideia rápida sobre o clipe, o presente momento de seu projeto e o que vem pela frente. Curta mais este lançamento exclusivo do Noisey e se liga aí no verbo que ele mandou.

Noisey: Fala um pouco sobre o conceito e o processo, o rolê todo de gravação e produção desse clipe. Vocês captaram as imagens todas num único dia? Quem dirigiu, editou?
Nenê Altro: Cara, gravar com o Luringa foi uma experiência completamente diferente de todos os outros clipes que gravei. Geralmente os clipes são gravados em poucos dias, acho que nos do Dance of Days a maioria foi em um só, mas é diferente quando você tem uma linha direta com a pessoa que está dirigindo. Acaba sendo uma criação mútua, uma nova extensão em parceria da própria obra artística. Sou uma pessoa muito agilizada, então acho que, por isso, nos demos tão bem. Com exceção da vinheta de abertura, que fizemos no Eclectic Tattoo Studio no Tatuapé, foi tudo num fim de noite só, nas ruas do Centro de São Paulo. E ele mostrava os takes, discutia ideias, visualizava o processo já lá na frente. Aí me chamou pra acompanhar a edição, que é algo que gostei mais ainda, e conheci o Soldado, que faz essa parte com ele em vários trabalhos, que também finalizou tudo em poucas horas e, o melhor, com os takes que eu escolhi e da maneira que eu queria. Isso fez com que esse tenha sido, de longe, o clipe que mais gostei de fazer e de ver pronto em toda minha vida.

Você comentou que o projeto solo é uma extensão do que você já fazia com o "Nenê Altro & o Mal de Caim". Mas o lançamento desse clipe e desse som marcam um novo começo, ou um recomeço?
Sim, meu projeto solo data de 2004, ou seja, já tem 12 anos. Tudo começou a partir da minha parceria com o guitarrista e compositor Edu Krummen. Na época eu estava pirando na cultura goth punk, death rock, e até foi esse o motivo de eu ter procurado por ele, pois eu achava demais os arranjos que ele fazia no Das Projekt Der Krummen Mauern, então criamos o Nenê Altro & O Mal de Caim. A banda teve diversas fases, começou bem góticona, bem obscura, numa praia mais Bauhaus, que foi a que registramos no CD de 2006. Depois, já começou a flertar com o rock dos anos 1980, que foi o que gravamos na demo de 2009/2010, que era pra ser o segundo álbum, mas nunca chegamos a lançar. Agora nessa volta o Edu me propôs da gente se desvincular do lance “banda gótica” e fazer um trabalho mais rock nacional mesmo, e me deu a ideia de recomeçarmos sem o complemento “& Mal de Caim”, pra mostrar que é minha carreira solo, e eu gostei da ideia. Na verdade era algo que eu sempre quis fazer, só que os dogmas do punk nunca me deixaram, não sei por quê. Mas, enfim, foi assim que aconteceu.

Daqui pra frente você pretende focar todos os seus esforços criativos e de promoção em cima do seu trabalho solo e do Dance of Days mesmo? Em termos de estética e de temática, as músicas do trabalho solo não poderiam fazer parte do repertório do próprio Dance?
No momento, sim, e acredito que daqui pra frente esses serão meus dois esforços principais na carreira musical. Não descarto um dia ou outro fazer um projeto de outro tipo de som, principalmente barulhento, seja curto ou longo, porque às vezes acaba saindo e eu gosto de registrar esses impulsos criativos, além do fator diversão, é claro. Mas nada que se torne outra produção principal em minha vida. O Dance of Days como conjunto, apesar da gama de influências diversas que vem de cada membro, e de minha parte e do Verardi sempre levar um pouco do rock 80, não deixa de ser uma banda com o estigma do hardcore, pois nasceu assim e, de certa forma, ainda carrega isso em sua sonoridade. Já meu trabalho solo, principalmente agora que começamos do zero, é algo completamente desvinculado, é só rock nacional, sem conexão com cena ou subcultura alguma, e meu desejo é cada vez mais fazer outro tipo de circuito com ele. Até tocar com bandas de hardcore, sim, não vejo porque negar, mas tocar também com qualquer banda, em qualquer festival, sem se preocupar com nada além da música.

Os planos daqui pra frente são de lançar um álbum completo? Qual é o próximo passo? Ou, próximos?
Sim, queremos lançar um full com doze faixas ainda nesse ano. Temos três músicas gravadas e lançadas como singles, nas quais provavelmente vamos mexer um pouco em estúdio para entrarem no álbum, e vamos gravar mais nove. Vou lançar eu mesmo, com o selo e editora que tenho com minha mulher. Talvez não com o mesmo nome de selo, mas seremos nós dois a mandar pra fábrica e cuidar da distribuição. Aí é cair na estrada e começar a tocar, não vejo a hora! Quero também gravar mais clipes, tenho um projeto bem legal fechado com o Luringa, e, assim que gravar o álbum, meu foco será esse.

O Nenê Altro está no Facebook, no Twitter

Siga o Noisey nas redes: Facebook | Twitter | Instagram | SoundCloud


Ogi se juntou aos rappers Raillow e SPVIC na nova faixa "Reality Show"

$
0
0


SPVIC, Rodrigo Ogi e Daniel Raillow. Foto: Reprodução do YouTube.

Depois de nos presentear com um dos melhores discos de 2015, o !, o Ogi e suas rimas pesadas estão de volta. É que o rapper paulistano liberou hoje a sua nova faixa, "Reality Show", que conta com a participação dos MCs Daniel Raillow (PrimeiraMente) e SPVIC (Haikass). A música é um dos resultados do projeto Pulso, da Red Bull, deste ano.

Com um beat classicão, a música foi produzida pelo curitibano Nave, que também foi responsável pela produção do Rá!, e manda um papo sobre como a televisão transforma a violência da vida real em diversão (Sangue serve para entreter/Mas no ibope é Alpinismo, veja/A morte é o mordomo com o controle na bandeja /Nos observam num reality). Ouça abaixo:

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O show de estreia do Prophets of Rage foi obviamente cheio de bate-cabeças e política

$
0
0

Estrear na Sunset Strip, no tradicional The Whisky A Go Go, foi um jeito curioso do recém-formado supergrupo Prophets of Rage começar a sua jornada. O espaço, conhecido basicamente por seus shows de metal e por abrir-se a bandas que pagam para tocar, não parece uma opção óbvia para que um grupo enraizado no hip-hop faça sua grande estreia. Porém, quando os integrantes de Rage Against The Machine, Public Enemy e Cypress Hill desceram desajeitados as escadas, saídos de seus camarins e em direção ao mesmo palco que já viu gente como Jim Morrison virar um astro, a casa noturna mostrou-se uma boa plataforma de lançamento para uma noite de batidas powerhouse e de um rock desavergonhadamente politizado.

No decorrer das últimas semanas, pôsteres, sinais e notícias misteriosas trazendo o nome do grupo invadiram tanto as ruas de Los Angeles quanto a internet. Havia fortes boatos de que o Rage Against the Machine estava se reformando para combater os males e lutar durante um ano eleitoral bizarro, mas a reunião pela qual clamavam os fãs do Rage continua no papel. Logo começaram a vazar notícias de que se formara uma aliança entre 3/4s do Rage Against The Machine (o guitarrista Tom Morello, o baterista Brad Wilk e o baixista Tim Commerford), Chuck D e B-Real — a união deles com certeza motivada pelo mesmo desejo que originara o RATM no início dos anos 90: eles queriam que a América acordasse.

Com um forte esquema de segurança e a proibição de celulares (nossos telefones foram trancados num parangolé ridículo, que parecia um cooler de cerveja), o apertado público de 500 pessoas no Whisky teve de se virar sem seus aparelhos eletrônicos. Pôsteres com a hashtag #MakeAmericaRageAgain enfeitavam o exterior da casa de shows e as paredes internas; havia também uma mesinha de vendas com bonés vermelhos enfeitados com o slogan, caçoando de um tal de Donald John Trump.

Depois da apresentação de um DJ, o quinteto deu início aos trabalhos com uma escolha apropriada, a faixa do Public Enemy chamada “Prophets of Rage”, e na sequência fez um show poderoso de 22 músicas, baseado no catálogo de todos os três grupos em pouco menos de 75 minutos. No decorrer da noite, Chuck D. e B-Real prestaram homenagem ao ausente Zack de la Rocha, com o rapper de Cypress Hill certa hora chegando a sugerir que eles estavam “guardando uma cadeira” para o antigo frontman do Rage, e Chuck acrescentando que “o cantor talvez esteja enjaulado, mas suas palavras não”. Mais uma gentileza do que uma necessidade, talvez — os dois MCs atacaram os vocais de de la Rocha com destreza e facilidade.

A última apresentação do RATM em sua encarnação original se deu quase cinco anos atrás, no LA Coliseum, em julho de 2011, como parte do festival LA Rising, organizado pela própria banda. Naquela noite, a banda conseguiu lotar uma das maiores casas de shows da cidade – mais de 100 vezes maior que o Whisky – para fazer um semi-inspirado show com os seus maiores sucessos, que acabou deixando uma impressão de que os agitadores já haviam passado de seu prazo de validade musical. Mas, nessa época de Trump e de grandes afrontas — todo dia surge uma nova bizarruice na sátira em que a campanha presidencial se transformou — chegou a hora de Tom Morello e companhia reemergirem, ainda que numa outra função.

O crescendo que se seguiu, e que incluiu uma misteriosa contagem regressiva, especulações desenfreadas e, por fim, a internet descobrindo o que exatamente estava rolando, Mas, depois que a notícia começou a circular, todos os eventos pareceram anticlimáticos. Embora o frontman original do Rage, de la Rocha, esteja sentado no banco de reservas e fazendo lá as coisas dele, noticia-se que ele deu sua bênção ao grupo recém-formado num estilo que encheria de orgulho o coração de um Corleone.

O grupo tornou oficial sua formação na estação local de rock alternativo KROQ mais cedo no mesmo dia, com a antiga equipe do Rage (e do Audioslave) anunciando que juntaria forças com as duas lendas do rap para formar o Prophets of Rage. Isso não surpreendeu ninguém que estivesse ligado nas notícias durante as últimas semanas — mas um entusiasmo em torno da banda começou a se formar mesmo assim.

Reuniões e supergrupos, ou, nesse caso, um pouco de ambos, são coisas arriscadas — às vezes melhores na teoria do que na prática. O Rage Against the Machine sempre incluiu elementos de hip-hop — coisa que se intensificou no cover que fizeram de “Renegades of Funk” do Afrika Bambaata — de modo que a parceria com os dois rappers é menos surpreendente do que o momento em que ela ocorreu.

Ouvir Morello, Wilk e Commerford juntarem forças mais uma vez como se nunca tivessem se separado não foi tão surpreendente quanto revigorante. Velhas favoritas do Rage, como “Guerrilla Radio”, “Bombtrack” e “Know Your Enemy” foram recebidas pelo público com furor, enquanto Chuck D. e B-Real conclamavam a multidão, que formou um mosh pit turbilhonante que só fez crescer com o passar da noite. Esse jogo de puxa-empurra entre o Prophets of Rage e o público movido a testosterona só vez aumentar a impressão de urgência até que culminasse em faixas com o poder do Rage como “Sleep Now In the Fire” e o icônico solo movido a ácido de bateria do Morello.

Grande parte da noite foi ocupada por músicas do Rage, mas tanto o Public Enemy quanto o Cypress Hill foram bem representados. Uma versão reconfigurada de “Fight the Power” que incorporou “No Sleep ‘till Brooklyn”, dos Beastie Boys, e  “Bring the Noise” e “Welcome to the Terrordome” foram acréscimos bem-vindos ao set, assim como os clássicos do Cypress Hill “Rock Superstar” e “Shut ‘em Down”.

“Gostaríamos de dedicar essa música a Donald Trump”, B-Real exclamou para o público suado antes de começar a cantar “The Party's Over”. Como a única música original do coletivo que foi incorporada ao show, o flamejante hino político permitiu um pequeno vislumbre do que o futuro próximo talvez nos reserve. Com o poder do baixo de Commerford, dos clássicos licks de guitarra uivantes de Morello e dos catarrentos vocais de B-Real, a música é um lembrete de como é o som de um poderoso comentário social cheio de angústia, quando é feito do jeito certo.

O anúncio da missão do Prophets of Rage recebeu seu ponto final com os hinos de batalha “Bulls on Parade” e “Killing in the Name”. Depois de uivar o último “Fuck you, I won't do what you tell me”, os integrantes da banda sorriram uns para os outros no palco, sabendo que haviam passado pelo primeiro teste.

Acenderam-se as luzes, mas em vez de correrem para a saída atrás de seus telefones, os fãs passaram a arrancar os pôsteres das paredes, dos parapeitos, levando o que conseguissem levar. Por um instante, a anarquia reinou suprema, a natureza desconhecida e o entusiasmo em volta do futuro imediato do Prophets of Rage permitindo aos fãs que olhassem para o que está por vir, em vez de para o passado, em busca de quem não estava ali.

Siga Daniel Kohn no Twitter.

Tradução: Marcio Stockler

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Dando close com a Karol Conká em Paris

$
0
0


Karol Conká. Todas as fotos pelo próprio autor.

Parisienses tem mania de usar preto. Vez ou outra, eles arriscam acessórios neutros ou aquele Stan Smith no pé. A matiz de tons facilita a identificação dos turistas, quase sempre com roupas coloridas. A exceção é a Karol Conká. De cabelo rosa, brinco amarelo e meia com estampa de onça, ela não está na Europa a passeio. A rapper faz sua terceira turnê internacional e toca na edição francesa do Afropunk — festival que celebra a cultura negra. 

Um ótimo pretexto para sair em busca da cultura africana da cidade, bater umas fotos e trocar uma ideia no apertado metrô de Paris sobre o disco novo, machismo e cabelo.


Esperando o metrô.

"Isso aqui não tem no Brasil!", exclamou ela quando parou em vitrine de Château d'Eau. O bairro que concentra cabeleireiros e lojas especializadas em cabelos afro entrou na lista de lugares favoritos da Karol. E os vendedores de lá agora tem em Karol uma das freguesas preferidas. A rapper saiu carregada de pacotes com metros e metros de cabelos de cores, tamanhos e funções diferentes. Quem chegava perto queria saber quem era aquela mulher. 


Dando uma olhada nas vitrines da Galerie Lafayette.


Garfando as madeixas.

Uma cabeleireira resolveu não esperar a resposta e puxou a rapper pra sua loja, deu cartão e quase marcou uma sessão pra renovar o penteado. As novas aquisições vão para o clipe de "É o Poder", música feita em parceria com o Tropkillaz. A faixa faz parte do novo álbum, previsto para esse ano. O disco terá participação do Boss in Drama, do guitarrista Gee Rocha e do rapper Don Cesão, amigo de longa data da Karol. Ela também convidou a cantora Ludmilla, mas a parceria ainda não está fechada. Todas as letras terão a assinatura com K, à exceção de "Cabeça de Nego", do Sabotage. Parte da renda do disco será revertida para a família do rapper. "Vai ter rap, música pra balada e vai ter uma linha vocal mais avançada, com melodias", me disse ela.


Várias opções de produtos para mulheres negras.


Agarrou tudo!

Essa é uma das razões que colocou "Back to Black", da Amy Winehouse, no seu novo repertório. Tentar algo novo é algo a que Karol está acostumada desde seu primeiro disco, "Batuk Freak", de 2013. Além de letras que vão na tangente da denúncia de problemas sociais, o álbum tem bases que funcionam no freestyle e na pista. "O rap nacional falava muito de problema e estava certo, senão muita gente não saberia o que acontece nas periferias", me disse ela. "Mas tendo em vista que temos esse estilo, eu quis trazer um estilo novo e por isso minhas músicas falam de auto­estima, soluções."

Isso não quer dizer que Karol não bata de frente. Ao contrário. Ao observar bares repletos de homens ao lado de uma estação de metrô próxima ao famoso Moulin Rouge, a rapper lembra do dia em que deu um chega pra lá em um homem que a abordou naquela mesma Paris. "O machismo é desgastante, mas eu aprendi que quando a gente ignora a gente faz o problema continuar ou aumentar", me disse ela. "Tem que problematizar, sim, tem que ir nas redes, tem que falar."


Pausa para uma foto enquanto ela tira uma foto.

A rapper troca essa ideia poucos dias depois de vir à tona o estarrecedor caso de estupro coletivo no Rio de Janeiro. Ela não atribui ao funk a culpa irrestrita pela violência contra a mulher. Por outro lado, também acredita que a música tem uma responsabilidade: achar uma saída para o que tem de ruim por aí. Nesse sentido ela não nega que se identifica não só com o público feminino, mas também com a galera LGBT. "Música falando besteira sempre existiu, em todo lugar", me disse. "Que o hip hop é uma cultura machista, a gente sabe, mas o que muita gente não sabe é que ele está deixando de ser."

Com trinta anos e três passagens na gringa, a rapper está confortável com o título de popstar. Para ela, as turnês são um sinal de que as coisas estão no caminho certo. Depois do rolê, voltamos para o centro cultural de hip hop no meio da cidade onde uma molecada ensaiava uns passos. Ela chega a comparar Paris e Curitiba. "As pessoas também não se vestem de maneira colorida, falam baixo, são reservadas". Karol estava em casa e não pensou duas vezes quando alguém lhe fez cara feia: soprou um beijinho e deu uma piscadela pra moça que andava de preto.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Rappers também amam: veja o Rashid se declarando pra sua esposa Dani Rodrigues

$
0
0

Dia dos namorados está chegando e a Converse resolveu lançar o aplicativo #MadeByLove, que cria vídeos com histórias de casais, especialmente para a data. E dois dos apaixonados convidados para a campanha foi o rapper Rashid e a sua esposa Dani Rodrigues.

No videozinho, o rapper e a empresária contam como os dois se conheceram (foi numa batalha de freestyle, óbvio) e ainda rola uma declaraçãozinha de amor dos dois no final. Rappers também amam, galera. 

O app funciona da seguinte maneira: a pessoa baixa, no Android ou Iphone, e faz um vídeo, respondendo umas perguntinhas sobre o casal que o aplicativo fará. Depois, ela convida o(a) parceiro(a) a criar um outro vídeo, também respondendo às questões do app. Aí, o #madebylove combina automaticamente as respostas e cria um vídeo único, contando a história do casal sob o ponto de vista dos dois. Saca só abaixo:

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O UDR foi condenado a três anos de prisão por incitar estupro e homicídio

$
0
0


Reprodução

Um processo do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, que se desenrolava desde 2012, contra a dupla belo-horizontina UDR, terminou no último dia 2, com a condenação por letras impróprias. Os músicos Thiago Ataíde Machado, de 33 anos, e Rafael Gonçalves Costa Mordente, de 34, respectivamente MC Carvão e Professor Aquaplay, sempre causaram polêmica, desde o início do projeto, no ano 2000, pelo humor negro contido nos versos de suas músicas. O próprio estilo deles costuma ser descrito pelos próprios como “rock’n’roll anti-cósmico da morte” ou “funk satânico”.

Analisadas pelo juiz da 8ª Vara Criminal de Belo Horizonte Luís Augusto Barreto Fonseca, as letras da banda foram entendidas como incitação ao crime e à discriminação. De acordo com a denúncia do Ministério Público, oito músicas divulgadas em shows e em páginas da internet induzem à pratica dos crimes de estupro de vulnerável, homicídio, uso de drogas e preconceito religioso. A defesa baseou sua argumentação no fato de que não foram eles que publicaram as letras na internet e de que elas são apenas uma sátira, sem nenhuma intenção de incitar o preconceito ou a prática de delitos. A defesa também citou o direito à liberdade de expressão para requerer a absolvição dos réus. Mas para o juiz Luís Augusto Barreto Fonseca, não existem direitos absolutos, e os acusados ultrapassaram o direito à liberdade de expressão ao violarem o respeito e a dignidade humana.

Sobre a divulgação das letras, considerou o juiz: “o fato de os acusados terem ou não postado as letras transcritas das músicas não enseja na absolvição dos mesmos, uma vez que foram eles que compuseram e deram divulgação às letras em shows musicais, conforme foi confirmado nos interrogatórios.” A pena, fixada em 3 anos, 5 meses e 7 dias de reclusão e 120 dias-multa, foi substituída dor duas penas restritivas de direitos: prestação pecuniária de quatro salários mínimos e prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas. Como é de primeira instância, a decisão está sujeita a recurso. As materialidade das letras apresentadas no processo consistiu em prints e outros documentos. Os prints foram colhidos no conhecido portal colaborativo de armazenamento de letras de música www.lyricstime.com.

Em seu depoimento, o Professor Aquaplay disse apenas que “as músicas foram feitas como sátiras e a coisa ganhou repercussão durante um show em um festival em São Paulo.” Sem nada mais a declarar. Durante o julgamento seus advogados de defesa reforçaram a natureza cômica da banda informando que eles já foram até chamados para tocar na Bahia em uma entidade de acolhimento a pessoas com deficiência e que no mesmo show tocou uma banda de transexuais, crendo que “a banda UDR foi chamada pela sátira que faz de determinadas situações.” Já o MC Carvão, declarou que a banda foi “criada para brincar, diante da frustração como músicos, mas a coisa tomou uma proporção inesperada.”

Procurados pelo Noisey, os músicos não retornaram os contatos. No entanto, conseguimos falar com o advogado de defesa do MC Carvão, o Dr. Paulo Roberto Pagani Moreira. Acompanhe:

Noisey: Você acha que essa condenação fere diretamente o direito à liberdade de expressão, configurando um tipo de censura?
Paulo Roberto: Essa decisão vai além de ferir a liberdade de expressão. Ela fere a liberdade artística e se baseia em algo que a banda não fez, que é a divulgação das letras. A banda nunca submeteu ninguém que não desejasse a ouvir essas músicas, que na verdade são grandes brincadeiras. Eles nunca foram a público para ofender ninguém. É uma condenação fantasiosa a partir de uma denúncia fantasiosa. A condenação ocorreu a partir de uma denúncia ao Ministério Público, mas, depois disso, nenhuma atitude foi tomada. Nós não temos uma investigação pré-processual, o Ministério Público não ouviu nenhuma testemunha, não apresentou nenhum documento. O juiz condenou com base em convicções religiosas ou por não gostar da música, por achar ofensiva, mas a banda nunca submeteu isso a ninguém.

Então a defesa entende a banda como uma brincadeira de um grupo social reduzido?
É uma sátira, uma brincadeira de amigos, que acabou atraindo alguns adeptos que gostavam da brincadeira. Não se tem relatos de ninguém que tenha cometido crime algum influenciado pelo UDR. Eles foram chamados certa vez para fazer um show pela diretora de um centro que trata de pessoas com deficiência na Bahia. São apenas recortes de humor.

Você diria que o humor deles é algo tão diferente que a sociedade não está preparada para digerir, daí a questão toda?
Ainda que a sociedade não esteja preparada para digerir o tipo de humor da banda, esse humor não foi direcionado à sociedade. O UDR nunca pediu pra tocar no Faustão. A UDR existe para quem a busca. Ela não busca ninguém. É um produto que você procura consumir e que não te é empurrado, de forma alguma. Pode pesquisar e você vai ver que ninguém nunca recebeu da UDR nenhum tipo de propaganda. É como aquelas brincadeiras antigas do “Gê-re-re gê-rê-rê”, que jovens cantavam no ônibus da escola. Mas ninguém nunca quis levar o “Gê-re-re gê-rê-rê” pra julgamento. Porque aquilo era, e é, uma brincadeira. Lembrando que eles foram denunciados por divulgar essas letras. A denúncia é exclusiva sobre a divulgação. Não a criação da música.

O Ministério Público se baseou em que evidências precisamente?
A prova que o Ministério Público tem é o site Lyrics Time. Foi pedido um ofício pra sede do site nos Estados Unidos, e eles ignoraram. Porque não tem como provar, não foram eles que submeteram essas letras ao site. A página é de colaboração pública, qualquer pessoa entra e coloca. O que aconteceu é que eles têm alguns seguidores que gostaram da brincadeira e passaram a divulgar. Eles nunca mandaram pra ninguém, foi uma brincadeira em amigos.

Mas fazer shows e ter presença em redes sociais acaba levando esse conteúdo pra um público maior, não?
A banda é restrita a uma cena de pessoas que, por algum motivo, amigos, que conheceram e acharam legal. Agora, nenhum deles é anti-cristo, estuprador, ou pratica maus tratos com animais. São pessoas comuns de famílias extremamente tradicionais. Eles não estão expressando uma opinião, e sim uma brincadeira.

Qual é o próximo passo, agora?
Foi direcionado um recurso ao Tribunal de Justiça. Agora, só a sentença demorou um ano pra sair, com o processo todo preparado, com audiência. Então nós não temos como precisar uma data. Agora tem toda uma trâmite de intimação pessoal deles... acredito que em menos de oito meses não teremos um retorno desse recurso, não.

Tudo começou com uma reação a um show da banda num festival em São Paulo. Qual foi?
Não sei te dizer qual foi o evento. Só que ocorreu em São Paulo. Esse festival serviu só para que uma pessoa tomasse conhecimento, não sei por qual meio, e se sentisse incomodada ao ponto de fazer uma denúncia na procuradoria de São Paulo. A partir daí, os procuradores de São Paulo identificaram as letras pela internet e remeteram a investigação pra Minas. Mas eu sou confiante de que o Tribunal de Justiça vai reverter tranquilamente essa decisão, porque ela é absurda. Se a gente levar a sério esse tipo de letra, uma coisa notoriamente cômica, aí tem que parar o mundo. É só um deboche.

Siga o Noisey nas redes: Facebook | Twitter | Instagram

Viewing all 1388 articles
Browse latest View live