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Apesar da Crise, o Hominis Canidae está a todo vapor

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Poster do Festival Uivona Torre Malakoff, que acontece em Recife nos dias 17 e 18 de junho. Arte pelo Estúdio Tampa Design

Foi durante o breve rompante de altruísmo do livre compartilhamento de arquivos nas redes sociais que o blog Hominis Canidae começou (curiosidade: o blog tem esse nome por causa desta música da saudosa banda paulistana de pós rock Eu Serei a Hiena). Na primeira década dos anos 2000, não havia ambição de promover páginas, ganhar likes e faturar com engajamento. Assim, um entusiasta anônimo com um avatar de homem-cão compactava discos inteiros e os disponibilizava para download. Todo mundo saía ganhando: os artistas ganhavam público, o público conhecia mais artistas. “Era lance de contracultura, o lema era: conhecimento não se compra, se toma. Mr Robot existe”, diz Diego Albuquerque, fundador do site. “Ninguém pode ser feliz sem música, tu não acha não?”

Hoje, um septênio depois, com quase 5 mil postagens diárias sem descanso (“Acho que devem ter de 5 a 10 dias sem postagem em sete anos”), Diego já está noutra fase da vida. Com a paternidade, o peso das responsabilidades aumentara consideravelmente para ele. O momento de fazer o blog criar asas e voar por conta própria chegou. “Durante um tempo, o blog tomou muito minha vida. Hoje em dia eu não fico perdendo tempo com ele. Acho foda, mas se ninguém ajudar o rolê, ele para”.

Foi assim que ele decidiu transformar este último suspiro no fôlego necessário pra avançar um degrau acima. A partir do próximo sábado (11) o mês de junho fica pequeno para tanto evento organizado pelo blog, em parceria com casas de show e iniciativas culturais. Vai vendo:

O primeiro dia tem o UIVO JAMPA, em João Pessoa, na Paraíba, com Inner Kings (PE), Koogu (RN) e Vieira (PB). Ainda rolam showcases com o pessoal da TUNTSTUM, selo eletrônico bacana de Jampa. No dia seguinte, domingo (12), tem um Palco UIVO dentro do Circuito Ribeira em Natal, no Rio Grande do Norte. A partir das 17h irão se apresentar: Inner Kings (PE), Ubella Preta (PB), Astronauta Marinho (CE) e Quint! (RN). Dia 16, em parceria com a NHL rola um HC Apresenta em Salvador, Bahia. Por lá, irão rolar os shows da Aldan (MG), pela primeira vez no nordeste, Ricardo Eletrico (BA) e Rosa Idiota (BA). Dia 16 também rola um HC Apresenta na Casa do Mancha, em São Paulo. Por lá tocam: Afro Hooligans (SP) e D_M_G (projeto eletrônico da Rieg de PB). E não acabou: dia 17 rola um UIVO EM MACEIÓ! em parceria com o Coletivo Popfuzz Records, com shows da Inner Kings (PE), Bad Rec Project (AL) e Aldan (MG). Por fim, dia 18 rola o UIVO de Aniversário na Torre Malakoff no Recife, em parceria com o Dia da Música. Vão ter oficinas, bandas, mesa redonda e uma pá de outras fitas. No mesmo dia 18, parceria com o Dia da Música e a Dissenso Lounge, rola o #UIVODISSENSO em São Paulo. Shows de: Rieg (PB), Sentidor (MG) e Futuro (SP). Os dois roles do Dia da Música são de graça. Além disso, as vendas de camisetas e ilustrações na loja online seguem abertas. Ufa!

Por tanta coisa estar acontecendo num único mês, fomos atrás do Diego pra trocar um ideião e entender o que o motivou a dar esse passo significativo. Mesmo incerto sobre o futuro, ele não larga mão da esperança: “A música nunca vai morrer, eu e você vamos. Espero que sempre tenha alguém disposto a dividir e mostrar som novo pros outros, e não tô falando do Spotify e da Globo com o Superstar. É muito mais real que isso”. Na mais pura paciência paterna, ele nos contou a história desde o começo, detalhando tintim por tintim o caminho das pedras pra quem tem interesse em fazer as coisas acontecerem por conta própria. Por fim, revelou: “Talvez seja até um grito de socorro do blog”. Acompanhe a entrevista abaixo:


(Ilustração para a primeira coletânea do blog. Arte por Krysna Nóbrega)

Então, me explica como o blog começou.
Hominis: O blog começou porque eu sempre fui em show e comprei CD de banda underground, mais punk e HC. Terceiro Mundo Records, Teenage in a box, etc. E era adolescente, então eu comprava um, o amigo comprava outro, pra depois trocar, ripar em mp3 e geral ter tudo. Só que eu nunca fui um cara muito tecnológico e demorei uma data pra ripar discos e a lista de pedidos aumentava. Em Junho de 2009, tava de bobeira num feriadão com muita chuva e ripei uns 30-40 discos e mandei numa mega lista de emails. Quem eu lembrei que tava devendo algo eu coloquei na lista. Ai alguém sugeriu criar um blog e virou o Hominis depois de tentar alguns nomes. Como tinha muito material que ninguém tinha, o povo meio que enlouqueceu no Orkut. Começaram a mandar links e aí o negócio virou o que é hoje. A minha ideia era utopia de internet livre e um deposito de discos online pra qualquer pessoa no mundo, quando quiser escutar, ir lá e baixar. Sou fofo.

E explodiu no Orkut rapidão.
Hominis: então, tinha muita coisa que na época não tinha na net, cara de banda pirou dizendo que nem ele tinha aquilo e foi uma choradeira incrível. Praticamente o Ayrton Senna ganhando a corrida e aquela música rolando. E muita gente começou a mandar link, porque sempre fui pró-democracia true, que é basicamente partir pro consenso anárquico de que a informação e a arte não pertencem a ninguém. Hoje em dia eu digo que meu filho não pertence a ninguém, que ele é do mundo. E o orkut era massa, mais clean e organizado, com comunidades, etc. O Orkut, o cara lá de nome estranho, manjava de redes sociais e o Zuckerberg manja de ganhar dinheiro. Lá era mais fácil achar o público interessado. Por isso explodiu.

E hoje você se considera um herói veterano do indie br?
Defina: herói, veterano e indie br.

HERÓI: você fez a preza pra uma galera. VETERANO: na época do Orkut. INDIE BR: bandas brasileiras que não tem muito destaque, fora do radar.
Po, o Brazilian Nuggets fazia isso muito melhor que eu e ripava vinil, que é um troço bem mais complicado. Eu apenas gosto de um tipo de som ou vertentes que as pessoas se identificam e eu tinha contatos na net que eram bons e influentes. Ter idade ajuda também, e dei sorte de estar rolando uma crescente do mp3 na época, de ter uma coleção de CDs, EPs, etc. Além de usar Soulseek e mais importante, gostar o bastante de música. Principalmente gostar e deixar a música falar. O Hominis era um cachorro, ninguém sabia quem era o cara ali. Só sabia que a música era massa e queria contribuir praquilo. Eu nunca curti muito aparecer, pra começar a responder perguntas e organizar o Hominis foi mo rolê. E a internet é um mundo maravilhoso onde os nichos se reforçam sempre, diferente do topo, onde um quer derrubar o outro.


(Ilustração para a coletânea número 68. Arte por Lane Firmo)

Verdade. E sobre organizar o Hominis, como foi essa treta?
A internet também pune, daí postar gringo derrubou conta de Mediafire, derrubou o Megashare, derrubou o Blog. AÍ a gente decidiu que seria apenas nacional, por mais que não faça sentido o Sheriff [Web Sheriff, um programa baseado numa lei de defesa de direitos autorais que derruba conteúdos da internet] derrubar uma banda bizarra e obscura da Groelândia por ser gringa. Dai veio o lance do uso da MP3 de qualidade, o uso e a importância da tag, essas coisas. E do mesmo jeito que as pessoas se exaltam e ajudam, elas somem. Com menos gente ficou mais fácil de organizar. Mas a essência continua a mesma, todo mundo é Hominis, por isso org, pelo caráter ONG também. Um mundo melhor depende de nós, blablabla. Ninguém pode ser feliz sem música, tu não acha não? O mp3 e mais uma vez a internet veio ajudar a uma galera se encontrar e mais importante, ter acesso e alternativa para conhecer coisas novas. Então a gente resolveu abrir o email pra mandarem discos e a gente arrumava tudo sozinho, por respeito a música e ao artista. Talvez isso explique as bandas gostarem do blog.

Pode crer. Mas antes de falar das bandas, vamo abrir parênteses aqui: essa sua brisa de internet livre, música pra todos, começou quando?
Sei lá, não é música, é informação e cultura. Acho que comigo começou com o p2p, soulseek da vida. O coletivo Sabotagem revoltz que nem sei onde estão. É um lance de contracultura, o lema era: conhecimento não se compra, se toma. Mr Robot existe, e na internet não interessa onde ele começou. Ninguém liga pra história. Liga mais pro momento, talvez pro fim. Mas partindo de mim, eu sempre fui muito de troca, então a informação deve ser passada, a cultura também, a música também. Sempre achei massa a sensação de primeira vez ao ouvir alguma coisa, quando não podia mais ter, fazia outros terem e contemplava isso. Deve ser alguma doença, sei lá. Tu fez jornalismo por um motivo parecido, acho que todo jornalista é meio assim em algum momento.

Sim, concordo. E quanto tempo faz desde a primeira postagem?
F
az sete anos no final de junho, não sei a data. Só sei a data do nascimento do meu filho, meu casamento e aniversário da mulher. Chega uma hora que você precisa selecionar as informações que ficam, mas se for pra última página do blog tem a data mais atual que o mesmo link é o usado. Soma uns seis ou sete meses a isso. A gente posta todo dia. Ser consistente ajuda. Acho que devem ter de 5 a 10 dias em sete anos sem postagem. São mais de 4800 postagens, se não me engano.

E as bandas sempre contribuíram? Rola uma curadoria?
A maioria das bandas sim. A galera curte. Não rola uma curadoria no blog, acho que rola mais um direcionamento. Quem sou eu pra dizer o que é bom ou ruim? O que eu posso é dar a opção. Quem escuta, decide se agrada ou não. A curadoria ou direcionamento vem nos posts particulares que fazemos, na escolha das faixas das mixtapes e coletas mensais e na indicação de uma banda pra um evento, etc.


Ilustração para a coletânea número 3. Arte por Raul Luna

As bandas apareceram organicamente ou você foi atrás da galera?
Virou flow cara, tem banda nova todo dia, a galera acha a gente no Facebook, Twitter, Instagram ou simplesmente procurando por um disco no Google e acaba fazendo contato. A gente tá sempre procurando banda também por que a gente gosta de ouvir música né? Se meu interesse em conhecer sons novos não existir, perco o tesão de fazer o blog. Então a gente tá sempre ouvindo música por que a gente tem uma rádio na cabeça e ela sempre pede atualização. Volto praquela história de primeira vez, saca? É sempre massa ouvir algo pela primeira vez, mesmo que seja pra dizer que achou ruim. O importante é se dar ao trabalho de ouvir e conhecer algo novo.

E tem banda do blog que você ouve até hoje?
Que eu conheci lá?! Tem sim, várias. Algumas hoje mais populares, outras ainda escondidas. Amnese é foda até hoje. O primeiro EP do Aura... projeto emo do interior de Minas Gerais, acho, é bem mais triste que toda a cena mineira que você catou (risos). Muita coisa instrumental também, muita banda que apareceu depois e recentemente que eu não teria conhecido facilmente sem o blog. Calistoga cara, se bem que Calistoga eu vi ao vivo na época que criei o blog. Mas quando tinha muita gente postando, eu sempre baixava os discos dos outros pra conhecer. Ainda baixo alguns que o Paulo posta e eu não saquei. Mais legal do que o que conheci pelo blog é o reforço que ele deu a sons que eu já conhecia antes dele. Por conta do blog eu tive acesso à Constantina ao vivo, mas já conhecia e tinha o primeiro disco em casa antes. A partir do contato ao vivo veio a Lise, projeto do baterista da banda, por exemplo. Outra coisa massa é acompanhar com mais freqüência selos, tipo o Sinewave e a Bichano agora. Se não fosse o blog, não acompanharia com freqüência.

Bom, e quando você começou a organizar eventos relacionados ao blog?
Então, entre 2011 e 2012 a gente fez um HC apresenta de aniversário, com Eu Serei a Hiena, na Casa do Mancha, em São Paulo. Mas a ideia de eventos fixos como o UIVO veio nesse ano, e tá atrelada à criação da loja online também. A questão é que a gente sempre viveu na crise, tipo, não essa crise culpa da Dilma, mas a crise desde os anos noventa. E agora sou pai, Paulo tem as contas dele, e ta bem caro manter link do blog e do site, então fizemos isso pra pagar as contas. Mas a gente sempre quis fazer shows e camisetas e etc, a gente torce pra que a galera compre e a gente não precise colocar divulgação em nossos sites. As festas também vem nesse sentido de colocar bandas pra tocar e trazer o público para ver ao vivo o que ouviu no blog. Daí criamos o mini festival curatorial Uivo, tendo sua primeira edição em janeiro desse ano.

Testamos uma em São Paulo em janeiro - porque é sempre mais fácil fazer rolê em São Paulo -  e depois uma aqui em junho, tudo com curadoria nossa. Agora com o Dia da Música, vi uma oportunidade de testar a marca e os apoios em outras cidades principalmente aqui no nordeste, onde o blog é forte. Além disso, também testar outras ideias veiculando o nome do Hominis e do uivo. Vai ter evento em junho em junho em 5 capitais do nordeste e dois em são Paulo, tudo com parceiros. Vamos ver o que rola. Muita banda legal no role.


(Ilustração para a coletânea número 29. Arte por Chico Shiko)

E o incentivo financeiro para isso, como funciona? Vocês tiram grana do bolso ou negociam patrocínio?
É tudo feito em parceria. Em João Pessoa temos o Apoio do Espaço Mundo, e a bilheteria irá pagar as bandas e pagar nossos custos. Eu acredito que dará certo. Em Natal, o evento é gratuito, o Palco UIVO, teve apoio do projeto que tem fomento de editais do pessoal do DOSOL. Em SP o HC Apresenta no Mancha com D_M_G x Rieg e Afro Hooligans no dia 16, tem apoio do Mancha e esperamos ter uma bilheteria legal pras bandas.

O bicho pega mesmo é aqui, que é um rolê muito maior do que esperávamos fazer. Mas foi crescendo, crescendo e é isso. O principal patrocinador do UIVO na Torre Malakoff é o DIa da Música. Além dele, temos apoios locais de lojas de música independente como o Espaço Subcultura, tem um restaurante vegano massa que foi no primeiro UIVO do Recife que se chama É O BULE e o apoio do espaço da própria Torre Malakoff. Estamos na correria pra tudo rolar bem.

Devemos ter mais apoios pequenos, como um designer foda da @WeAreTampa de João Pessoa. O lance é fazer tudo com carinho, não necessariamente com dinheiro. E espero não ter que tirar do bolso, porque nem tenho. Temos o apoio e a credibilidade das bandas e do espaço. Usamos nossa marca atrelada a isso e esperamos o público pra participar. Por sinal, ainda tem vaga nas oficinas, quem quiser e estiver no Recife dia 18, escolhe ai uma e participa: www.loja.hominiscanidae.org, é só se inscrever nesse site. É um trampo de confiança e vontade de fazer. Talvez seja até um grito de socorro do blog, já que não sabemos se teremos como mantê-lo ou por quanto tempo ele ainda irá existir.

Então hoje o Hominis pretende funcionar como uma empresa? (não no sentido perverso de corporação, mas como uma organização bem definida)
Então, eu queria ser empresário, mas a gente não ganha nada com isso. Tô desempregado e pensando em ver se isso vira, mas sem ser FDP. Tipo, no site da loja vendemos quadros com artes feitas para as nossas mixtapes. Até agora soltamos 72 coletas mensais, com 72 artes diferentes e 72 desenhistas/artistas/designers do Brasil. Delas, mais de 20 estão lá como quadro. Tem dois modelos que viraram camisetas. O artista que quiser dinheiro de vendas, diz que quer. A maioria abriu mão. A ideia nem é ficar rico, eu não quero ser rico, dá muito trabalho. Mas seria legal pagar uma conta com o blog, não vou mentir né? (risos) Mas empresa ainda não é não. Tô até pensando em criar um MEI, pra loja, shows, produção, curadoria. Queria fazer muito mais coisa na real. Se eu fosse rico, teria muito mais coisa. Mas reafirmo: ajuda nois, nem ta caro e os bagulhos são lindos. www.loja.hominiscanidae.org

Eu to num momento bem louco da minha vida, eu sou biólogo, tentando finalizar um doutorado eterno. Viver de música seria massa, escrever sobre pra isso também seria. Viver de música sem ser músico, viver de arte sem ser artista, etc.

Mas ae, cê já entrou numas noias por conta disso? Essa brisa de viver de música sem ser músico, viver de arte sem ser artista?
Já sim, mas nem é noia, mais brisa. Sei lá, a gente começou uma guerrilha né? A gente disponibilizou disco em primeira mão antes do artista, a gente acredita que tudo deve ser livre, então a noia é dizer isso e cobrar pelos produtos. Mas como eu disse lá em cima, os produtos são feitos para pagarmos custos dos sites. Ninguém paga uma conta com isso. O que eu não quero mais é tirar do bolso pra manter um site no ar. Um site que a gente sempre fez questão de dizer que é de todo mundo e a gente apenas organiza. Mas eu escrevo, isso é arte? Eu fiz uma capa da coleta, sou artista? (risos) É tudo muito louco e efêmero. Pensar nisso é perder tempo. E assim, eu vou escutar música até morrer. A música nunca vai morrer, eu e você vamos. Espero que sempre tenha alguém disposto a dividir e mostrar som novo pros outros, e não tô falando do Spotfy e da globo com o Superstar. É muito mais real que isso.


O Siso quer te libertar das amarras de gênero no clipe de "Eclipse"

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Siso é o projeto solo do multiartista mineiro David Dines, que é vocalista-guitarrista-tecladista no Cabezas Flutuantes e participou da gravação do segundo disco deles, o Experimental Macumba (2016). E, nesta segunda-feira (10), ele lança o seu primeiro clipe, "Eclipse", que você assiste acima com exclusividade aqui no Noisey.

Se no Cabezas o David faz mais um som indie-noise abrasileirado, no Siso ele aproveita pra explorar questões da sua própria identidade através do eletropop. "Esse projeto surgiu da necessidade de romper com algumas coisas que fiz antes, por uma questão de realização pessoal e artística", disse.

Nascido em Belo Horizonte, David veio pra São Paulo e se meteu em um monte de experimentações artísticas: fez teatro performativo no Satyros, um pouco de dança contemporânea com o Lineker, estudou um monte de arte contemporânea. "Tudo isso acabou influenciando muito as minhas criações como Siso a sempre partirem desse lugar da identidade".

E o clipe de "Eclipse" trata justamente dessas questões de identidade e sua relação com gênero. "Partimos de uma ideia de prisões mentais, em que nós mesmos nos colocamos e temos que tentar quebrar", disse. "Também trabalhamos com quatro personagens de diferentes padrões de gênero (uma das atrizes é trans) que, no fim das contas, simbolizam a mesma pessoa dentro de um espaço restrito.".

Muitíssimo fã de ANOHNI (ele até já considera o Hopelessness o melhor disco de 2016), Siso disse que tem a artista transgênero como referência desde o disco I'm a Bird Now, quando ela ainda era da banda Antony and the Johnsons. "Curioso é que o meu EP já estava sendo feito quando "4 Degrees" saiu como single", me explicou, quando falei que tinha achado a identidade visual e o som muito parecidos com o dela. "Não tava nem ciente de que a ANOHNI ia por esse caminho. Nem tinha visto foto, nem nada. Caí pra trás quando escutei". 

Sobre o seu nome artístico, Siso disse que veio por causa do simbolismo do dente como sinal do "questionável" amadurecimento. "A maturidade é algo que dói, rasga a carne e tem um papel evolutivo, assim como o siso. Mas ele também acaba sendo também meio descartável, como é o pop", explicou o artista de 28 anos.

A faixa é o primeiro single do seu EP Terceiro Molar (de nome bem auto-explicativo, né). Com cinco faixas produzidas pelo próprio Siso e Christopher Mathi, o disco vai ter participação de Paulo Beto (Anvil FX) em duas músicas. "Desses cinco sons, três são composições minhas e duas são releituras: uma do José Mauro, um cara obscuro dos anos 1970, e outra do Paralaxe, uma banda da cena eletrônica de Minas", explicou. 

O disco sai no dia 1º de julho em todas as redes de streaming.

Ficha técnica:

Clipe

Direção, produção executiva e edição: Suelen Pessoa
Roteiro: Suelen Pessoa e Siso
Direção de arte: Cacau Francisco e Suelen Pessoa
Fotografia: João Viegas, Suelen Pessoa e Cacau Francisco
Produção de moda: Cacau Francisco, com acervo de Tom Martins e Suelen Pessoa
Beleza: Gui Chapina
Atores: Angela Perini, Anna Valentina, João Viegas e Siso
Gravado em outubro de 2015 @ Cavalo Marinho, São Paulo

Música

Produzida por Siso e Christopher Mathi
Moog Voyager por Paulo Beto (Anvil FX)
Gravado por André Kbelo e Jean Dolabella por meio do projeto Converse Rubber Tracks @ Family Mob Studios, São Paulo
Gravações adicionais por Paulo Beto e Christopher Mathi
Mixado por Siso
Masterizado por Emygdio Costa

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A estreia solo do Fernando Motta 'Andando Sem Olhar pra Frente' é um misto de insegurança e autoafirmação

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Fernando Motta. Foto por: Jonathan Tadeu.

Fernando Motta é um guitarrista experiente. Depois de tocar por um ano com a Young Lights, o lado folk da Geração Perdida, o mineiro de Belo Horizonte decidiu apostar suas fichas em novos caminhos e está lançando com exclusividade no Noisey, nesta segunda (13), o seu primeiro disco em carreira solo: Andando Sem Olhar Pra Frente, que você pode ouvir abaixo:

Para Fernando, lançar seu próprio disco é a chance de ser mais autêntico: “Quando percebi que eu já tinha material suficiente de que eu gostava e que ele tinha uma unidade, uma cara de álbum mesmo, achei que não podia deixar essa hora passar. Por mais que a gente até tenha umas influências parecidas, acho que difere bastante [da sonoridade da Young Lights]”, conta. “As guitarras que a gente fazia nas versões ao vivo das músicas de certa forma estão um pouco no meu disco, mas em termos de composição, de como as músicas são originalmente, acho que são projetos bem diferentes”.

Com uma sonoridade inconfundivelmente mineira, Motta entra para o rol de artistas solo do rock triste, como Vitor Brauer, Jonathan Tadeu e Fábio de Carvalho. Ele acredita que houve uma certa influência de seus conterrâneos para o disco: “Ter visto o trabalho solo deles com certeza me incentivou a fazer o meu, levando meu nome”. Mas nem tudo são flores. Motta teme existir uma resistência maior das pessoas ao conhecer um artista solo: “Acho que, pra uma pessoa que eventualmente não conhece nada do que está rolando, é mais fácil ela clicar pra ouvir uma banda do que um cara solo”.

Essa insegurança é o que o levou a compor e gravar o disco na intenção de se auto afirmar e buscar satisfação: “Acho que esse lance de lidar com a insegurança aparece o tempo inteiro nas músicas e bom, eu não sou a pessoa mais segura do mundo (risos). O importante é que eu gosto [das músicas], se não nem fazia sentido lançar. É lógico que rola uma apreensão. Mas já tem uma galera esperando pra ouvir. Isso é maravilhoso demais”.

Depois de lançar o clipe de “Céu”, o elogiado primeiro single do álbum, Fernando já não via a hora de soltar seu disco na praça: “Lancei só um clipe e vem gente falando todo dia que está ansioso pelo disco. Pra mim isso já vale a pena, nossa. A gente tocou a "Céu" no meio dos shows do Jonathan no RJio de Janeiro, aqui em BH e em Itaúna. Muita gente veio me falar que se emocionou demais e tal. Isso vai tirando um pouco da nossa insegurança”.

O disco conta com as participações de João Carvalho (El Toro Fuerte, Sentidor), Jonathan Tadeu e André Garcia. Você pode baixa-lo no bandcamp do Fernando Motta. O show de estreia do Andando Sem Olhar pra Frente rola no próximo dia 24, em Belo Horizonte.

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Músicas de Chico: o Guia Noisey para o 'Pop Menstrual'

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Still retirado do clipe da Tacocat para "Crimson Wave" (sacou?)

Você já ouviu falar de rap. Você curte um techno. Manja um afrobeat. Mas e pop menstrual, você tá ligada? Tem umas disses pesadas no gênero (com letras como “Sou uma doença venérea, tipo um sangramento menstrual”) e alto índice de fracassos, mas é realmente m sub-gênero obscuro. Apesar do potencial de induzir um arrepio escrotaço de corpo inteiro, tenho muito carinho por músicas dedicadas à menstruação e TPM. Num mundo que muitas vezes trata a menstruação como algo nojento e digno de vergonha, qualquer música que sangre livremente na indústria musical vira um clássico instantâneo aos meus olhos.

Motivada por esta leve obsessão, passei pelas runas antigas inscritas nas portas de banheiros, desviei de ovários rolantes e segui fielmente um único raio de sol num labirinto de O.B.s de forma a encontrar os melhores (e únicos) clássicos do pop menstrual. Agora, tirando meu fedora encharcado de suor e colocando minha gravata-borboleta, permita-me guiar você pela agonia que é o pop menstrual.

A MÚSICA PARA COMEÇAR SUA MENSTRUAÇÃO


“I was born to bleed, never wear white, or your shame will creep thru”

[Nasci para sangrar, nunca use branco, ou sua vergonha aparecerá]

Já fazem 25 anos que a banda riot grrrl pré-Sleater-Kinney conhecida como Heavens to Betsy deu luz a este clássico do pop menstrual intitulado “My Red Self” e mudou o mundo. Bandas pós-punk lideradas por mulheres já cantavam sobre abuso sexual, aborto, orgasmos e impressionavam geral ao admitir que às vezes os corpos femininos são meio nojentos e assustadores e com coisas escorrendo de forma nada estimulante sexualmente falando.  Mas a Heavens to Betsy foi a primeira banda a falar de menstruação de verdade, mas nada se compara a ter 14 anos e um campo de batalha sangrento no lugar do corpo e ouvir essa música pela primeira vez.

A MÚSICA PARA QUANDO SUA MENSTRUAÇÃO ATRASA PRA CARALHO


“Out of season, happy I'm bleeding / Long overdue, too early and it's late, too”

[Fora de época, feliz por sangrar / Demorou demais, muito cedo e atrasado também]

Um ano após o Heavens to Betsy ter falado da hipocrisia na forma como nós (falhamos quando) falamos de menstruação, PJ Harvey se valeu de Dry, seu disco de estreia, para evocar o pânico absoluto de não menstruar na hora certa. Exceto, claro, que estamos falando de PJ Harvey e em vez de só se lamentar sobre estar inchada e com um TPM horrorosa, ela faz tudo através de metáforas assustadoras e lindas sobre frutas batidas e linho, conferindo à experiência muito mais dignidade e beleza do que normalmente se espera daquele momento em que a parada simplesmente não desce, acompanhada de um grito mental de “FODEU”.

A MÚSICA PARA QUANDO SUA MENSTRUAÇÃO VIRA UMA ARMA BIOLÓGICA


“Eat my tampon, fuckers!"

[Engulam meu absorvente, cuzões!]

Não necessariamente uma música, mas O Grande Arremesso de Absorventes do L7 de 92 é parte integral da história do pop menstrual. Durante o show da banda no Reading Festival, deu ruim no equipamento do L7 e os “fãs” reagiram jogando coisas no palco. A guitarrista Donita Sparks — de saco cheio de lidar com equipamento escroto e as tralhas sendo arremessadas — reagiu ao remover seu absorvente e jogar na galera, gritando “Chupem meu absorvente, cuzões”. O mesmo absorvente foi prontamente arremessado de volta (junto de um monte de garrafas de vidro) e o show continuou.

O ato de Sparks resultou em tanta histeria que foi descrito como “nojento”, “a lembrança mais anti-higiênica da história do rock” e “guerrilha biológica” (historiadores entre nós devem lembrar da grande falta de noção do ano de 92), o que só cimentou como um dos melhores momentos a ter acontecido na história de toda a existência humana.

A MÚSICA PARA DEIXAR O SANGUE ROLAR


“I wonder, can these boys smell me bleeding, through my underwear / So I just left a big brown bloodstain, on their white chair"

[Fico pensando se esses garotos conseguem sentir meu cheiro sangrando, pela minha calcinha / Então deixei uma manchona de sangue na sua cadeira branca]

Cantora, multi-instrumentista, poeta, compositora, mulher de negócios e ícone feminista, Ani DiFranco foi a responsável por fazer de menstruações um posicionamento político. Em “Blood in the Boardroom” ela cria laços com a única outra mulher em sua gravadora (a recepcionista) ao pedir um absorvente emprestado pouco antes de decidir não usá-lo, deixando, literalmente, sua marca na sala da diretoria dominada por homens.

O protesto de livre sangramento de DiFranco quanto à exclusão das mulheres na indústria musical e o arremesso de absorvente de Spark eram coisas com as quais poderíamos nos identificar e/ou revoltar, mas apesar das reações que estes atos inspiraram, o pop menstrual ainda não era mainstream. Daí veio a Dolly Parton.

A MÚSICA PARA RECLAMAR DA SUA MENSTRUAÇÃO


“You know you must forgive us for we care not what we do, I got those can't stop crying, dishes flying PMS blues.”

[Vocês sabem que tem que nos perdoar porque não damos a mínima pro que fazemos, tenho aquela TPM em que não paro chorar e nem os pratos de voar]

Um pedido de desculpas para qualquer um que já sofreu com as alterações de humor e rugidos de fúria, um lembrete de que botar um sorriso na cara quando está afundada em hormônios é coisa de santa ou sociopata. Sim, é uma música que reforça todo tipo de estereótipo e não incomoda em nada quem pensa que o cérebro de uma mulher deixa de funcionar na semana anterior à menstruação. Mas quando você está exausta, cheia de hormônios e vivendo cada estereótipo feminino já existente, “PMS Blues” é a resposta.

A MÚSICA PARA QUANDO SUA MENSTRUAÇÃO DESTRÓI SUA VIDA


“See I already know that I'm talkin, PMS.”

[Veja bem, já sei do que estou falando, TPM]

A introdução falada de Mary J. Blige ao inferno da TPM é a parceira perfeita de “PMS Blues” de Parton. Parton fala aos homens que foram vitimizados pelas TPMs de suas parcerias, mas Blige volta-se para “as garotas”, que ela sabe que entenderão bem suas roupas que não cabem, suas dores nas costas e sentimentos escrotinhos. Blige parte das frustrações de Heavens to Betsy, da raiva de DiFranco e Sparks, e a inevitabilidade da TPM de Parton para criar um clássico do pop menstrual sobre a pressão que as mulheres sofrem para fingir que sua menstruação não está rolando e tudo está.. Bem...

A MÚSICA PARA QUANDO VOCÊ NEM ESTÁ MENSTRUANDO E SÓ CONSEGUE PENSAR NISSO


“I'm bleeding, you're bleeding from within, I'm bleeding, you're bleeding from within, I'm bleeding, you're bleeding from within.”

[Estou sangrando, você está sangrando por dentro, estou sangrando, você está sangrando por dentro, estou sangrando, você está sangrando por dentro]

Após Blige ter lançado “PMS”, o pop menstrual deu uma sumida, e durante dez longos anos a única maneira pela qual entusiastas do gênero poderiam relembrá-lo seria interpretando errado qualquer música com as palavras “sangue”, “dor”, desespero”, “terror”, “cordas” e qualquer uma do Good Charlotte. Foi durante este período (risos) que descobri “Bleed from Within” dos sincerões to The Music. Uma banda de caras cis de Leeds não soa como sucessora óbvio da coroa de Blige, mas graças à múltiplas repetições de “You’re bleeding from within”, o que poderia ser um hino de rock alterna abaixo da média acabou virando um clássico acidental do pop menstrual.

A MÚSICA PARA TE AJUDAR A RIR DA SUA MENSTRUAÇÃO


“My bed looks like the elevator from the shining.”

[Minha cama parece o elevador de O Iluminado]

O pop menstrual dos primórdios era raivoso, angustiado, e engajado, mas não necessariamente engraçado. É fácil dar uma risada de bruxa má com a imagem de Ani DiFranco manchando o sofá de um executivo da música com o que havia em seu útero, mas na maior parte do tempo, faltavam risos. Após a grande sofrência menstrual musical dos anos 90, porém, uma porrada de músicas de pop menstrual engraçadinho surgiram. A melhor delas era “Shark Week”, do Hand Job Academy, com trechos maravilhosos com: “Bleeding since eleven, bitch! I ain't new to this / Feels like a werewolf is living in my uterus” e “Baking cherry pie in the Kotex” [Sangro desde os onze, vadia! Não é novidade pra mim / É como se um lobisomem morasse no meu útero] e [Assando torta de cereja no Kotex]

A MÚSICA PARA DEIXAR AS MENSTRUAÇÕES DIVERTIDAS

“Sew a scarlet letter on my bathing suit, ‘cause I’ve got sharks in hot pursuit.”

[Costurei uma letra escarlate no meu traje de banho, porque tem tubarões me perseguindo]

Um ano depois do Hand Job Academy nos lembrar de que zoar menstruação é uma das curas genuínas para câimbras, Tacocat se valeu da mesma combinação de humor nojentinho e esperteza para tomar a praia de volta pra todo mundo que está naquela época do mês. Com uma pegada de “California Girls” da Katy Perry (só que com sangue!), “Crimson Wave” foi a primeira música que fez menstruações parecerem meio divertidas. E belas. Não algo que deveria rolar em uma distopia assustadora em que um governo bizarro está fazendo o Sol de refém e a humanidade se esconde em esgotos.

A MÚSICA PARA QUANDO SUA MENSTRUAÇÃO ESTÁ SENDO UMA OTÁRIA


“I question everything, my focus, my figure, my sexuality.”

[Eu questiono tudo, meu foco, minha silhueta, minha sexualidade]

Isso pode soar meio estranho — especialmente vindo de alguém que passou as últimas mil palavras falando de sangue menstrual — mas tem vezes que uma menstruação é só uma menstruação. É isso que “Trying”, de Bully, nos mostra, através da confissão ansiosa de Alicia Bognanno de que ela tem esperado por sua menstruação a semana inteira [“Been praying for my period all week”]. Esta é a evolução final do pop menstrual. Tivemos menstruações frustradas, menstruações que não vieram, menstruações raivosas, menstruações inevitáveis, menstruações esquecidas, menstruações brilhantes, menstruações engraçadas, menstruações públicas e agora elas são só menstruações mesmo.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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Veja o clipe de "Breakin' Point", do Peter Bjorn and John

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O Peter Bjorn and John, aquela banda sueca de indie-pop que ficou marcada por causa do hit "Young Folks", de 2006, lançou um disco novo semana passada, o Breakin' Point. E nesta terça-feira (14), o Noisey apresenta com exclusividade o clipe da faixa-título dos caras, que você pode ver acima.

Com umas batidas boom-bap, a música não tem nada de "Young Folk"s e pode ser um bom som pra banda voltar a engrenar nas paradas, só que de uma maneira mais madura. 

Em entrevista ao Stereogum, o Peter Morén contou que a música é sobre "esperar por mudanças e deixar o passado no passado". "É sobre ajustes mental e físicos. Sobre crianças se tornando pais e talvez sobre envelhecimento. Sobre perspectiva, temperança e sobre encarar a realidade do jeito que ela é." 

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Com o novo EP, ‘Pedro’, a Ombu está com a faca e o queijo nas mãos

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Foto por: Pedro Geraldo

Ano passado, a Ombu, trio paulistano de rock sussa, apostou as fichas que tinha num belíssimo EP de estreia chamado Mulher. Lançamos com exclusividade aqui no Noisey e o resultado foi tão bom que os caras acabaram no Noisey Global Mixtape de maio de 2015. Agora, as costas dos caras esquentaram tanto que vão lançar o Pedro, segundo EP oficial, pela Balaclava Records. “Na real, o grande lance é que tem um cara chamado Pedro que ficava pedindo direto pra gente lançar música nova, daí a gente lançou e colocou o nome dele pra ele ficar bem na good. Esse cara é mó figura, tá em todos os nossos shows e cobra sempre música nova”, explica João. Temos aqui a faixa “Calma”, uma prévia de Pedro, a ser lançado no próximo dia 24. Ouça abaixo:

Apesar de já terem gravado com os mesmos produtores de Rancore e Gigante Animal, e serem ansiosamente aguardados em outras cidades do Sudeste (é o caso de Belo Horizonte, onde eles tocaram pra quase 150 pagantes, um recorde para aquele dia), João Viegas e Santiago Mazzoli não consideram a Ombu uma banda grande. Santiago acha que ainda vai levar um tempo pra sacar o que está acontecendo: “E vai demandar muito trabalho. Vai depender do quanto a gente for se entregando”. “Quando a gente estiver se bancando, vivendo disso, aí a gente pode se considerar uma banda grande” pondera João.

O fato é que a banda está se entregando cada vez mais para a música. Para gravar o Pedro, o entrosamento da banda foi maior e isso afetou diretamente o comprometimento da banda. João diz: “Nesse EP a gente estava mais à vontade, e eu pude meter o loco. No estúdio, eu estava me sentindo em casa”. “Muito desse conforto veio de como a gente foi recebido no estúdio Cavalo, que fez trampos muito finos, como o Onda do Alaska. Eles já conheciam a gente, tramparam de um jeito muito profissional, e rolou muito cuidado. É importante respeitar o tempo de gestação de casa música”, explica Santiago.

O conforto foi tanto que rolou até uma pós-produção. Algumas faixas contam com sintetizadores, uma linha de clarinete e até um coro de crianças. João diz que a ideia do coro foi do Popoto, o vocalista da banda gêmea Raça. Num papo rápido pelo Whatsapp, Popoto diz que a proposta foi puramente estética: “acho que lembra um pouco Circa Survive, que a gente ouvia muito há um tempo. Na verdade, as crianças fazem super parte do que o Santiago faz, então tudo acaba interagindo de uma maneira estética e conceitual”. Santiago ainda explicou a origem do coro: “eu faço parte de um coletivo que dá um suporte audiovisual a uma ocupação do centro chamada Hotel Cambridge. E desde o começo, as crianças de lá piravam em música. Daí quando sugeriram gravar crianças, eu já sabia onde elas estavam. Começou com 5 crianças, mas na hora de fazer o take oficial, já eram quinze. Foi muito louco. E encaixou muito bem”.

E por falar em banda gêmea, a Ombu e a Raça dividem seus integrantes. De seis amigos ao todo, três tocam nas duas bandas ao mesmo tempo. Eles dizem não haver contratempos, porque tudo é na base da amizade, então tudo sempre rola sem crise. As bandas compartilham até a grana que entra em caixa. Inclusive, eles tem a intenção de um dia juntar tudo num projeto só, que inclusive já tem identidade visual e até nome: Omça. Santiago defende que, na prática, tudo já está misturado: “A gente já tocou diversas vezes como Omça e, na verdade, ter as duas bandas faz a gente explorar sons da maior quantidade de formas possível. Trabalhar com as duas bandas juntas, dividindo caixa, planejando estrategicamente cada banda, e ainda por cima tendo todo mundo como amigo é uma sorte enorme e deixa a gente mais perto de concretizar o sonho de viver de música”.

Com viagem marcada para Porto Alegre e Caxias do Sul neste final de semana, Santi acredita que mostrar as caras em cantos distintos do país é importante: “No Sul os caras são muito agilizados. Estão começando um selo e as bandas são boas. Eles ofereceram um esquema muito bom pra gente, de 100% de bilheteria, estadia e alimentação. Esses esquemas são raros. Mas a gente tá dando um tiro no escuro porque a gente não sabe nada do sul. E vamo ver no que vai dar, acho que assim que as coisas acontecem”.

Independente dos planos pro futuro, com Pedro a Ombu se consolida concretamente como banda. Se com Mulher, um EP definido por João como “um ensaio gravado” já rendeu tantos resultados, com Pedro, o caminho pode ser mais frutífero, como acredita Santiago: “Acho que o maior desafio pra gente é nos reconhecer hoje e ter ciência da proporção das coisas e do que elas podem se tornar, tendo em mente a amizade e o som, independente do que vai acontecer no futuro. Uma coisa que o corre provou é que quem é tru, fica”.

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Satélite do amor: Uma entrevista com Victor Bockris, o biógrafo do Lou Reed

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Lou Reed na época do lançamento de 'New York' (1989). Foto: reprodução.

Na primavera de 1959, Lou Reed (1942-2013), então com 17 anos de idade, entrava em uma sala de operações no Creedmore State Psychiatric Hospital, em Long Island, próximo a Nova York, para dar início a uma série de tratamentos de eletrochoque. "A última coisa que viu antes de perder os sentidos foi uma ofuscante luz branca", conta o jornalista e escritor Victor Bockris, autor de Transformer - A História Completa de Lou Reed, recentemente lançado no Brasil pela editora Aleph.

"Electricidade vem de outros planetas ", cantaria Lou dez anos depois em "Temptation Inside Your Heart", som do Velvet Underground. E eletricidade também parece ter sido responsável pela faísca inicial que daria a partida na carreira do cantor e compositor nascido no bairro do Brooklyn, em Nova York, a julgar pela biografia escrita por Bocrkis. As primeiras páginas do livro descrevem as sessões de eletrochoque (três vezes por semana durante um período de 56 dias) pelas quais o artista passou no final da adolescência, por decisão dos seus pais, que preocupados com as inclinações homossexuais do filho seguiram as orientações de um psiquiatra.


Lou Reed aos 17 anosFoto: reprodução.

Eletricidade seria ainda uma importante característica na sonoridade dissonante do Velvet, a primeira banda importante na qual Reed tocou e que se tornaria uma das mais influentes na história do rock. E certamente eletricidade seria a palavra mais adequada para descrever o cotidiano de Reed durante boa parte dos anos 70 — período em que se lançou em carreira solo, gravando clássicos como Transformer (1972) e Berlin (1973) —, quando o consumo desenfreado de anfetamina fazia com que ele ficasse acordado por até três dias seguidos. Um manifesto apaixonado presente no encarte de Metal Machine Music, de 1975, (em si um disco que é pura eletricidade, composto apenas de feedback e distorções de guitarra) deixa evidente suas preferências durante esse período: "Minha semana ganha do seu ano".

Quanto mais afastado dessa eletricidade, como nos discos pop que lançou no meio dos anos 80, mais insossa e desinteressante a carreira de Lou se tornaria, pelo menos até que uma nova fase, mais calma e madura, mostrasse que ele ainda tinha cartas na manga durante suas últimas décadas de vida.

O livro escrito pelo jornalista Victor Bocrkis resgata essas e outras histórias, fazendo um apanhado bastante crítico da carreira de Reed, ao mostrá-lo muitas vezes como uma pessoa instável e difícil de lidar, ao mesmo tempo em que louva o cantor como um dos grandes artistas do século 20. Nascido na Inglaterra, Bocrkis viveu em Nova York durante a década de 70, onde trabalhou para a revista Interview, que na época era propriedade de Andy Warhol, e conviveu e entrevistou boa parte dos artistas da cena musical e artística da cidade na época — mantendo inclusive uma amizade com Lou durante seu período mais "junkie". Em entrevista por skype, Bocrkis, que também escreveu livros sobre Muhammed Ali e Keith Richards, falou comigo para o Noisey relembrando da sua relação de amor e ódio com o cantor e como mudou sua opinião sobre ele ao longo dos anos.


Creedmore Psychatrich Hospital. Foto: reprodução.

Noisey: Você já havia escrito um livro sobre o Velvet Underground anteriormente (Uptight, lançado em 1983). Quando e por que você decidiu escrever o livro sobre Lou Reed?
Victor Bockris:
Eu conheci Lou em 1974 e me encontrei diversas vezes com ele ao longo dos anos 70. Fomos amigos por um período de aproximadamente seis anos, e ao longo da minha vida escrevi diversas vezes sobre ele.  Só consigo escrever biografias sobre pessoas que eu conheço pessoalmente. Se eu nunca encontrei a pessoa ou não passei algum tempo conversando com ela não me sinto capaz de fazer um bom trabalho.

Depois que terminei de escrever minha biografia sobre Keith Richards, em 1992, resolvi começar outro livro. Então Lou Reed era um bom candidato, especialmente naquela época. Em 1992, Lou estava em um período alto na sua carreira, vindo de uma sequência de três discos aclamados — New York (de 1989), Songs For Drella (1990) e Magic And Loss (1992). Era uma boa época para se vender um projeto assim para uma editora nos EUA, e eles toparam me pagar o mesmo valor dos meus últimos dois projetos, livros sobre Andy Warhol e Keith Richards.

Fiz com grande alegria, me diverti mais fazendo esse livro do que qualquer outro que eu escrevi. Eu já não estava mais encontrando pessoalmente com ele, mas conhecia muitas pessoas com quem ele teve contato e foram importantes para sua carreira. Então foi uma boa época para escrevê-lo.


Andy Wahrol, Nico e o The Velvet Underground. Foto: reprodução.

Quanto tempo você passou escrevendo?
O livro foi publicado na Inglaterra no final de 1994 e nos EUA no ano seguinte, então foram dois anos e meio trabalhando nele. Foi o mesmo tempo que passei fazendo o livro de Keith Richards, embora eu tivesse passado muito mais fazendo o do Andy Warhol. Uma biografia é uma tarefa difícil, porque você sempre se pergunta qual será a forma do livro. E numa biografia o assunto dita a forma, a maneira como você irá ler o livro. Enquanto você coleta o material e organiza as entrevistas, você está sempre lutando com a questão de como irá escrever. Muitas das entrevistas te informam isso, porque há tantas vozes falando sobre o assunto, e você começa a desenvolver uma espécie de sonoridade própria, e parte daí. Mas dois anos e meio é um prazo razoavelmente rápido para escrever uma biografia grande.

Você consegue se lembrar da primeira vez em que ouviu alguma música do Lou Reed?
Sim, foi no verão de 1967, eu estava de férias no Arizona e naquela época estavam tocando "Heroin" no rádio. Você não espera que toquem uma música assim no rádio, mas eu ouvi e pensei que soava bastante como Bob Dylan, como algo do seu período elétrico, que ainda era recente, mas mesmo assim tinha um som bastante distinto. E então eu fui para a faculdade no mesmo ano, e muitos estudantes estavam ouvindo os discos do Velvet. Esses estudantes em geral eram o pessoal mais artístico da faculdade, e eles tinham o primeiro disco, que tinha saído em março de 67 (The Velvet Underground And Nico), e foi aí que realmente me envolvi com o som. Para mim se tornou uma música muito emotiva, que me acompanhou ao longo da vida em diferentes períodos. E depois veio a carreira solo do Lou Reed, que foi outra experiência totalmente diferente. Mas as raízes da minha descoberta certamente estão ligadas ao Velvet Underground.

Como era a experiência de vê-lo ao vivo nessa época, você se lembra da primeira vez que você viu ele tocando?
A primeira vez que o vi tocando foi em Nova York no outono de 1974. Ele deu ingressos para mim e mais dois amigos para um show, porque éramos muito próximos nessa época, e ele queria que nós o víssemos tocar. Ele liderava uma banda que se posicionava de modo triangular em relação ao microfone, então ele ficava no centro com os dois guitarristas principais um de cada lado e o baterista um pouco mais ao fundo, no que parecia ser uma flecha direcionada à audiência. Foi uma performance extremamente poderosa, me lembro dos meus amigos no final dizendo que aquilo era tão bom quanto Rimbaud. Minha geração foi muito inspirada por Rimbaud, e víamos conexões entre o trabalho de Lou e o de poetas como Baudelaire e Paul Verlaine. Ele tinha esse incrível carisma e segurava a plateia na palma da mão. Mas ao mesmo tempo havia essa espécie de barulho emocional, as pessoas gritavam para ele. O que mais gritavam era "chupa-rola", "chupa-rola" ("cocksucker" no original). Eram em sua maioria caras novos que pareciam confusos sobre sua sexualidade. E todos pareciam atraídos por Lou apesar dessa reação agressiva. Era uma espécie de amor agressivo eu acho.

Você tem que lembrar também que 1974, em Nova York, foi um ano importante no qual a população homossexual começou a ficar mais em evidência. E Lou despontou como uma espécie de porta-voz [desse público], pelo menos no meio do rock, quando escreveu canções que apoiavam os gays em discos como Transformer. Boa parte de sua audiência era composta por gays e isso teve muito a ver com seu sucesso na época.

Por que você acha que nos anos 80 ele tentou se afastar de certa maneira desse tipo de imagem? Foi uma época em que não só o som dele ficou mais comercial mas ele também passou a renegar esse tipo de conexão com a cena gay e parte do seu trabalho anterior.
Está absolutamente correto o que você está dizendo. É algo interessante, acho que houve diversos motivos para isso. Em primeiro lugar, ele estava bastante desesperado no final dos anos 70. Ele estava em um estado ruim, tinha se tornado um alcoólatra e tinha usado anfetamina por muitos anos. Isso estava começando a prejudicar seu corpo e sua mente. A força de Lou Reed é que ele é uma pessoa muito disciplinada, ele atravessou momentos em sua carreira que foram os piores pelos quais alguém poderia passar. E chegou a um ponto no qual, por volta de 79, ele encontrou aquela que seria sua segunda esposa, Sylvia, que fez emergir essa outra persona dele. Eu mesmo nunca considerei Lou Reed gay, ele sempre me pareceu um cara heterossexual, apesar de que, quando eu o conheci, ele vivia com uma drag queen, algo difícil de explicar (risos). Mas ele não passava a imagem de um cara gay. Acho que ele era bissexual, obviamente.


Sylvia e Lou. Foto: reprodução.

Sempre houve essa confusão, porque Lou Reed escrevia músicas sobre pessoas que viviam esse estilo de vida, e o público deduz que todas elas são pessoais, mas obviamente nem todas eram sobre ele. Ele sempre brincou com sua persona, e no processo de se casar novamente e passar a fazer um som mais comercial, ele também adotou uma atitude mais vendável. E teve resultados, porque depois que ele rejeitou seu lado gay a venda dos discos disparou. Os discos que ele lançou após Blue Mask (1982), que hoje são considerados os piores, na verdade venderam mais do que os anteriores. Então essa estratégia funcionou para ele, e por um bom tempo ele aproveitou o conforto de ser cuidado por uma mulher, que fazia o papel não apenas da sua esposa, mas também de mãe, gerente e anjo da guarda. Ele usou isso a seu favor.

Uma das coisas sobre Reed é que ele foi extremamente agressivo com jornalistas ao longo dos anos, e tentou controlar o que as pessoas pensavam dele ao exigir que acreditassem em tudo o que ele dizia. Havia momentos em que a coisa era meio absurda, mas existia essa cultura entre os jornalistas de rock, que em grande parte embarcavam na onda e acreditavam em tudo. O que de certa maneira não é um problema, porque artistas realmente atravessam períodos diferentes e você tem que permitir que eles façam o que eles querem e evoluam como quiserem.

No final das contas foi um processo que o conduziu de volta para uma boa posição, porque no final dos anos 80 ele fez New York, um de seus melhores discos, e entrou novamente numa fase diferente, e ele se reinventaria ainda outras vezes, foi uma longa carreira. Então eu não acho que ele deva ser criticado. Se você está interessado no trabalho dele e quer entendê-lo, você tem que entender todos esses aspectos da sua personalidade. Ele é de fato um heterossexual, se ele quiser ser, pelo menos. Para mim o único motivo em se discutir a sexualidade de um artista é se ela é parte do seu trabalho. Mas no caso de Lou é parte da sua obra, então é um assunto perfeitamente válido para se discutir.

Ao longo do livro, a impressão que se tem dele é a de uma pessoa bastante autoritária, muitas vezes perversa, e de péssimo humor. Qual foi a impressão que você teve dele quando o encontrou pela primeira vez?
Quando eu me encontrei com Lou Reed em 1974 ele foi a pessoa mais charmosa e bem humorada que já encontrei na minha vida. Ele foi extraordinário, era um cara muito inteligente, que havia lido muito, era um poeta basicamente. Eu também era poeta nessa época, e nós tivemos esse tipo de relação que era intelectual, surpreendente e excitante, e havia uma camaradagem. Ele foi amável e Lou Reed sempre teve esse lado na sua personalidade. Você tem que entender que ele aprendeu com Andy Warhol como controlar a imprensa. Ele fazia isso criando uma espécie de caricatura de desenho animado, um personagem reconhecível que pudesse ser identificado como Lou Reed. Você se apresenta para a imprensa dessa maneira.


Lou e Laurie. Foto: reprodução.

É verdade, porém, que Lou era uma pessoa muito perturbada. Ele operava num nível tão alto de criatividade e dúvida — algo que todo artista faz — que às vezes ele podia estar num humor muito bom e outras em um humor péssimo. No final da sua vida, quando ele começou o relacionamento com Laurie Anderson, ele se tornou uma pessoa muito mais simpática do que as pessoas imaginavam. Quando ele encontrou Laurie, ele achou finalmente uma igual, uma parceira de alma. Então ele podia continuar sendo Lou Reed, mas não era o bêbado maldoso de épocas anteriores.

Álcool afetava seu comportamento, mas como eu disse, ele sabia o que estava fazendo ao se apresentar como uma pessoa má. E ele podia ser bem perverso com as pessoas, mas era a perversidade de um artista que estava fazendo seu trabalho. Você não julga sua personalidade com a de uma pessoa normal, mas a de uma pessoa que era constantemente arrebatada por um rio de criatividade e dúvida, algo que caminha lado a lado com a criatividade.

De todas as entrevistas que você fez para o livro, quais foram as mais importantes e as mais revelatórias?
Responder essa é fácil. A entrevista mais importante para o livro foi feita com uma mulher chamada Shelley Albin, que foi a primeira namorada e musa de Lou, com quem ele morou quando estava na universidade em Syracuse, por volta de 1961, 62. Eu coloquei um anúncio no New York Times pedindo para as pessoas que o conhecessem para entrar em contato comigo. Ela me ligou, e eu fui para a Califórnia e fiquei no apartamento dela por uma semana, entrevistando-a em conversas que davam 10 horas de fita por dia. Eles continuaram em contato por muitos anos após o namoro. Começou como um clássico primeiro relacionamento na época da faculdade, e como todas as coisas assim eles acabaram terminando. Lou nunca a esqueceu e costumava cantar sobre ela em diversas canções. O terceiro disco do Velvet Underground, de 1969, foi em grande parte inspirado em Shelley, com quem ele estava saindo novamente na época. Então ela tinha diversos insights interessantes sobre o desenvolvimento de Lou Reed, como ele se tornou o que é e como ele seguiu em frente.

Eu continuei em contato com ela durante toda a escrita do livro e isso me deu muita força. É um truísmo quando você escreve sobre uma estrela do rock falar com mais mulheres do que homens. Mulheres são muito mais perspicazes, dispostas a discutir coisas como os sentimentos ou olhar para o lado psicológico de uma pessoa. A maioria dos homens é muito competitiva e em geral não tem muito para lhe dizer a não ser contar uma história engraçada. Então eu tive muita sorte em falar com um número grande de mulheres, e Lou é claro é um "ladie´s man", as mulheres são muito atraídas por ele, e ele teve alguns relacionamentos maravilhosos. Essa foi definitivamente a entrevista mais interessante.


Lou Reed em 1975. Foto: reprodução.

Houve alguma história sobre Lou que te deixou chocado, algo que você não sabia antes, nem tinha ouvido falar?
Essa é uma pergunta interessante. É uma coisa que realmente acontece quando você está escrevendo biografias, descobrir coisas que realmente te chocam sobre as pessoas. Eu não descobri nada que me chocou de verdade, porque tudo em Lou é sobre chocar, de certa maneira (risos). E eu já tinha tido a experiência de me chocar com ele muitos anos antes de começar a escrever o livro. Em um nível pessoal, nós tivemos um rompimento clássico quando ele me acusou de roubar algo dele, mas eu não tinha feito isso. Essas coisas acontecem. Mas eu sabia como ele era quando ficava com raiva de alguém, era algo que eu vivi. E muitas das coisas que Shelley me contou não foram exatamente chocantes, mas histórias detalhadas que me ajudaram a compor essa pessoa contraditória que era Lou Reed. Ela me mostrou as contradições que estavam na raiz da sua personalidade.

Lou também era famoso por discutir e brigar com jornalistas em diversas entrevistas. Qual você acha que foi a melhor entrevista que ele deu?
Eu adoro essa pergunta porque sou muito fascinado com entrevistas enquanto uma forma e acho que é uma forma que ainda não foi totalmente explorada. Eu acho que sem dúvida são as famosas entrevistas feitas por Lester Bangs. Bangs é considerado por muitos o maior crítico de rock que já viveu, e adorava Reed pelas razões corretas, ou seja, pela música, mas mesmo assim estava disposto a enfrentá-lo. Foram três entrevistas que eles fizeram, aproximadamente entre 1975 e 76, nas quais eles realmente discutiram um com o outro, mas elas eram muito reveladoras, além de serem muito boa publicidade para Reed.

Existem algumas grandes entrevistas de rock’n’roll. John Lennon e Bob Dylan, por exemplo, eram ótimas pessoas para se entrevistar. Lou também, embora às vezes ele pudesse ser chato quando entrava em detalhes técnicos de gravação. Mas ele nunca entendeu o poder extraordinário que essas entrevistas tinham, elas fizeram um bem incrível para sua carreira, além de constatar o fato de que as pessoas estavam interessadas em ler o que ele tinha para dizer. Muitas pessoas fizeram entrevistas reveladoras e ótimas com Lou ao longo dos anos, mas Lester Bangs definitivamente fica com o prêmio.


Lou entrevista o amigo Roderick Romero em seu apartamento com vista para o Hudson River, em 1979. Foto: reprodução.

O livro abre falando dos tratamentos de eletrochoque que ele sofreu, e a impressão inicial é a de que os pais de Lou eram pessoas bastante cruéis, mas conforme você lê o livro percebe que não era bem assim, eram pais que pareciam se importar e gostar dele. Por que então você acha que eles decidiram fazer isso?
Ele me falou muito sobre isso, e também falei com outras pessoas a respeito. Eu cheguei inclusive a visitar o local onde ele fez esses tratamentos, as salas onde fizeram as sessões, e falei  com os médicos de lá também. Eles resolveram colocá-lo nesse tipo de tratamento porque naquela época, em 1959, havia um forte movimento para erradicar a homossexualidade nos EUA. Acusações de homossexualismo eram usadas para prejudicar a carreira de algumas pessoas e para acabar com elas de muitas maneiras, havia uma campanha acontecendo com esse objetivo. E Lou tinha muitos sentimentos homossexuais, mas, na época, muitos caras agiam como gays para aborrecer seus pais, porque era algo que deixava as pessoas com raiva. Seus pais foram consultar um psiquiatra na época com as dúvidas típicas: "Meu filho parece ser homossexual, nós não sabemos o que fazer". E foi dito a eles que o melhor a fazer era uma série de tratamentos de choque. Em 59, a maioria das pessoas nos EUA viam seus médicos como advogados ou deuses talvez. Você simplesmente fazia o que um médico lhe dizia, não era cogitado dizer não. E eles seguiram em frente sem realmente compreender o que estavam fazendo, sem saber a intensidade e os efeitos colaterais desse tipo de tratamento.

Você acha que eles depois se arrependeram de ter feito isso?
Sim, eles se arrependeram muito. Uma das primeiras coisas sobre as quais Lou me falou foi sobre isso, e sobre como ele perdia a memória a curto prazo, como ele lia um livro e de repente já não lembrava mais do que tinha acontecido na página anterior e esse tipo de coisa, o que era terrível para alguém como ele que almejava ser um escritor. Mas eu acho que ele foi "eletrificado" por esse tratamento de muitas maneiras. Foi uma espécie de pontapé para sua carreira de diversas maneiras, e ele iria eletrificar o mundo. Eletricidade, eletrocução e o conceito de ser eletrocutado, além de outros temas relacionados, se tornariam um assunto constante ao longo da sua carreira. Poderia ter sido uma tragédia e o transformado em um vegetal, mas fez com que ele criasse suas próprias coisas. Então ele usou isso de uma maneira favorável.

Para os pais sim, foi diferente. Mas nessa época havia uma distância tão grande entre pais e filhos, que eventos como a Guerra do Vietnã causaram rupturas verdadeiras dentro de muitas famílias. As pessoas mais novas eram contra, e as mais velhas claramente a favor da guerra, e isso causou uma divisão nos EUA. Isso ainda não estava acontecendo em 59, mas o tipo de contracultura que eventualmente explodiu nos anos 60 já estava em gestação. E Lou foi salvo pelo rock, como ele escreveu na música "Rock´n´Roll": "despite the amputations/ you could still dance to a rock´n´roll station". É um manifesto de Lou, foi sua maneira de se afirmar. E ele teve a coragem de agarrar o touro pelos chifres e seguir em frente, porque a maioria das pessoas que se envolviam com rock não passavam dos primeiros seis meses, sabe? Eles saiam fora, é um negócio muito difícil de aguentar. Mas Lou foi seguindo em frente e se tornando cada vez mais forte nisso. Eu acho que como um biógrafo você olha em retrospecto e pensa "obrigado a deus por esses tratamentos de choque" (risos). Foi algo que mandou ele para a estratosfera, para o "satélite do amor".

O livro se refere ao Velvet em muitas passagens como a segunda banda mais importante da história (após os Beatles) e Lou como um dos quatro ou cinco artistas solo mais importantes da história. Você ainda pensa assim?
Acho que sim, porque os três grandes artistas dos anos 60 foram os Beatles, os Rolling Stones e Bob Dylan. Se você pegar os discos que esses artistas gravaram entre 66 e 68 e comparar com o primeiro disco do Velvet e White Light/White Heat (1968), você percebe que eles estavam bem a frente do resto. A maneira como eles experimentaram com o rock depois se tornou popular entre muitas bandas. Os Beatles usavam cítara e os Rolling Stones experimentavam coisas aqui e ali, mas a maneira como a música do Velvet soava e os tipos de zumbidos que eles criavam eram mais ousados e certamente colocam eles no topo. Acho que realmente só os três artistas que eu citei foram mais importantes que o Velvet nos anos 60, e foram responsáveis pela disseminação do rock na nossa cultura, o que só cresceu desde então, para todas as direções. Se você analisar a evolução da música dos anos 60 até hoje, vai descobrir que a influência de Lou Reed foi ainda mais proeminente do que Lennon e McCartney. Os Beatles fizeram músicas maravilhosas, mas nem tanta gente foi impulsionada pelo que eles criaram como pelo o que Lou fez. O Velvet era muito mais intenso, mais inventivo e criativo com a música que eles faziam. Certamente mais do que Bob Dylan também. Mas é claro que a carreira de Lou não se tornou tão mitológica e ele não teve a mesmo nível de popularidade dos outros. Ele estava meio que constantemente dentro e fora das sombras, sabe? Mas historicamente e em termos de importância o Velvet está no mesmo nível, ou talvez até mesmo a frente de todos esses artistas.

Você já escreveu livros sobre o Velvet, sobre Lou Reed, John Cale e Andy Warhol. Faria algum outro trabalho sobre eles?
Não, mas devo dizer que eu acho que até agora não surgiu nenhum livro realmente impressionante e completo sobre a banda, feito com grande profundidade.  Alguém poderia escrever um grande livro sobre isso, mas não é algo para mim. Eu fiz muitos trabalhos relacionados, então não é algo que eu queria revisitar, mas acho um grande assunto. Essa é uma das grandes histórias de todos os tempos, a biografia do Velvet Underground.


John Cale, Lou Reed, Patti Smith e David Byrne no palco do Ocean Club em 1976. Foto: reprodução.

Você não consideraria escrever um livro sobre Nico, por exemplo?
Não, não. A história de Nico... eu tentei escrever a biografia de um poeta beatnik chamado Gergory Corso dez anos atrás e eu parei, porque ele era um viciado. Eu escrevi livros demais sobre pessoas envolvidas com heroína, e percebi que uma vez que as pessoas se envolvem demais com a droga a vida delas não é tão interessante. Infelizmente ela usou heroína por um período muito longo, e embora ela tenha feito discos maravilhosos com John Cale, eu sinto que ela desperdiçou sua carreira, ela poderia ter sido uma grande estrela. Mas não vale a pena  escrever um livro sobre um viciado.

Você chegou a conhecê-la na época?
Eu me encontrei com ela diversas vezes, a primeira foi no apartamento de Lou em 1974, e foi um momento singular porque ela tinha acabado de vir da Alemanha, esperando que Lou fosse escrever novas canções para um disco dela. Eu passei por lá dois ou três dias depois de ela ter chegado, e a atmosfera era muito estranha , Lou não a estava tratando muito bem. Haviam algumas poucas pessoas sentadas com ela na mesa, e ela era muito bonita — mesmo que já não fosse mais a mesma Nico de 1966, ela tinha uma grande presença. E eu era muito jovem, um poeta de aparência andrógina e meio pálida, e ela começou a me encarar. E eu estava na mesa também, não tinha como não olhar de volta. E de repente eu vi Lou erguendo a cabeça do sofá no canto da sala e dizendo pra mim: "Você não tem a menor chance" (risos). E a pobre Nico também não teve sua chance, porque ele a botou para fora no dia seguinte.

Eu me encontrei com ela diversas vezes, costumava vê-lab no Max´s Kansas City e no bar do Chelsea Hotel, coisas assim. Ela era uma pessoa amável, acho que ela precisava de muita proteção, e John Cale, é claro, a ajudou muitas vezes. Mas Lou a tratou muito mal, acho que um dos piores episódios da vida dele foi a maneira como ela a tratou. Existiram razões pra isso: eles tiveram um relacionamento no começo da carreira, em 1966 na Factory, e ela o deixou. Mas meio que "e daí", sabe? Não era grande coisa, não é como se eles morassem juntos ou coisa parecida, mas ele parece ter guardado uma raiva profunda dela. Ele me disse diversas vezes o quanto tinha gostado dela, até me mostrou uma carta que ela tinha escrito para ele.

Não se esqueça que Andy Warhol foi o grande responsável por fazer de Nico vocalista do Velvet Underground. Lou aceitou até certo ponto. Claro que ela não cantaria todas as músicas, mas é algo notório que o cantor e compositor de uma banda se coloque de lado e deixe uma mulher sem experiência nenhuma cantar. E ele só deixou porque Andy queria, e nessa época a banda era em grande parte a banda dele. As canções que ela cantava tinham sido compostas porque Andy pediu para Lou. Então ele devia ter um certo ressentimento profundo por causa disso, apesar de ela ter ajudado o disco a ser bem sucedido. Assim é a personalidade de um artista.

Sua opinião sobre Lou mudou com o passar dos anos?
Sim, mudou. A primeira versão do livro foi publicada em 1994, e eu atualizei o livro recentemente. Quando eu tinha terminado a primeira versão do livro eu não estava tão feliz com Lou. Naquela época, entre 1990 e 1992, ele estava se divorciando da sua esposa e estava obviamente sob grande estresse, e sendo espetacularmente antipático com as pessoas em diversas ocasiões, de uma maneira injustificável. E ele também estava se isolando bastante. Eu senti pena dele, mas também me senti muito próximo enquanto estava entrevistando todas essas pessoas que estavam lidando com ele na época, ouvindo histórias do que ele estava fazendo. Me parecia que com 50 e poucos anos, que é a idade que ele tinha na época, ele meio que havia empacado.

Ele estava tratando muito mal sua antiga esposa, que havia dedicado 10 anos da vida dela para ajudá-lo, e de certa maneira salvou sua vida e carreira, tornando ele uma estrela muito maior do que era. E também tinha a maneira como ele havia tratado o Velvet na turnê que eles fizeram quando voltaram. A maneira como ele tratou Sterling Morrisson e os outros depois disso foi tão horrorosa. Eu estava bem próximo da banda naquela época e me senti péssimo com isso.
Lou Reed em fotografia do Andy Warhol. Foto: reprodução.

Mas quando eu revisitei sua vida em 2013 e 2014, após a sua morte, eu fiquei encantado em descobrir todo esse mundo novo que ele construiu através de sua associação com Laurie Anderson. Ela tinha essa aparência andrógina, quase parecida com um garoto, então acho que ele encontrou tudo nela. Além dessa ambivalência sexual ele também encontrou nela uma figura à Andy Warhol, que tinha seu próprio estúdio enorme e organizado, cheio de pessoas trabalhando e gente indo e vindo. Então sua vida e sua carreira cresceu astronomicamente nesses 20 anos. Não só na música, ele publicou livros de fotografias extremamente bons. Além disso ele se tornou um personagem em Nova York, podia ser visto saindo o tempo todo, encontrando as pessoas e as encorajando, e estava feliz em estar vivo. Então eu meio que me apaixonei por ele de novo, porque conclui que tinha voltado a ser a pessoa que eu havia conhecido originalmente, já que quando acabei a primeira versão eu estava louco com ele.

Quando você se dedica a passar tanto tempo pesquisando sobre uma pessoa, ela não vai embora da sua cabeça mesmo quando você está dormindo.  Você fica realmente envolvido quando escreve um livro sobre alguém. E eu ligo muito para as pessoas sobre as quais eu escrevo. Então foi uma grande alegria voltar a trabalhar no livro e perceber como sua vida havia evoluído. E acho que seu último disco é provavelmente o grande disco perdido que uma estrela do rock já fez. E é bom que muitas pessoas não tenham gostado. Quando Berlin saiu em 1973, as pessoas tiveram o mesmo tipo de reação, e agora ele é considerado um dos melhores discos já feitos. É um ótimo sinal que Lou tenha continuado a ser controverso mesmo quando já estava prestes a morrer. E também foi um grande sucesso, vendeu muito. Foi um grande triunfo, e fiquei muito feliz com isso. As pessoas continuarão a discutir Lou Reed por muito tempo ainda.

Quais são seus discos favoritos dele, e os que você menos gosta?
Entre os discos solo acho que seria Transformer, Berlin, o disco ao vivo Rock´n´Roll Animal (1974), New York, Ecstasy (2000) e Lulu (2011). Acho que esses são os discos mais passionais e expressivos. E do Velvet acho que os discos que eu mais escuto são o primeiro e o terceiro. O terceiro, The Velvet Underground (1969), que foi feito após a expulsão de John Cale da banda, é muito diferente dos anteriores, e tem canções de amor maravilhosas, como "Pale Blue Eyes" e "Some Kinda Love". E eu aprecio Lou Reed principalmente como autor de canções de amor, mas as pessoas não viam ele dessa maneira. Uma vez eu disse pra ele que ele deveria lançar um disco chamado Love Songs, e ele respondeu que era uma ótima ideia, mas não faria isso por causa da sua imagem.

Eu acho que ele mudou o rock, o transformou em um formato muito mais literário, e ele é muito amado por isso. Se você alinhar todos os discos que ele fez, incluindo alguns dos discos ao vivo que também eram obras de arte, você tem a versão dele da grande novela americana. A história da jornada de um homem através de tempos dramáticos, dos anos 40 até 2013, por meio de regiões bem obscuras, mas trazendo a informação de volta para nós, os ouvintes, os fãs e amantes de arte. O que ele fazia era arte, ele foi um artista, um escritor, mas sobretudo um cantor e guitarrista, ele também fazia rock´n´roll. Eu sempre amei a música "Sweet Jane", na qual ele canta "Me, I’m in a rock´n´roll band".  O quanto ele tinha orgulho disso.

Eu não gosto muito dos discos dos anos 80, como Mistrial (1986) e New Sensations (1984), que eu quase não ouço. The Bells (1979) é interessante, quer dizer, algo que era comum em Lou é que ele tinha discos com apenas uma ou duas grandes músicas, como Street Hassle (1978), por exemplo. Algumas das canções são medíocres ou meia-boca. Então eu gosto de The Bells basicamente por causa da música-título. Acho que os anos 80 são o período que eu menos gosto no trabalho dele. Eu não gostei tanto de Magic and Loss (1992), eu acho que ele se perdeu um pouco, se tornou meio estudioso demais. Imagine ver as músicas ao vivo, era muito chato, ele parecia um professor colocando seus óculos e lendo as letras de um monitor, e exigindo que a audiência ficasse quieta enquanto ele recitava essas longas letras sobre perda. Também não gosto de Songs for Drella (1990), que acho um disco muito desonesto. Lou tinha um relacionamento muito complicado com Andy Warhol por culpa dele mesmo, e acho que ele fingia ser uma amigo muito mais próximo de Andy do que ele realmente era. O que ele diz nesse disco não é tão interessante, com exceção de uma música, "A Dream", na qual as letras são tiradas dos diários de Andy e recitadas por John Cale.


Burroughs e Lou. Foto: reprodução.

Você está escrevendo um novo livro agora. Sobre o que ele é?
Sim, estou escrevendo um novo livro, que se chama Punk Writer - A Way of Life. É sobre minha carreira como escritor, a maior parte sobre o convívio com todas essas pessoas sobre as quais eu escrevi. Sobre como foi conviver e escrever sobre Muhammed Ali ou Andy Warhol ou Debbie Harry. É também sobre a minha vida em Nova York durante os anos 70 e 80, foi uma época muito excitante. Eu acredito que o último grande movimento artístico nos EUA ocorreu entre 1977 e 1983. Era uma época incrível porque você tinha essa quantidade enorme de artistas de todos os lugares do mundo morando em Nova York, com Andy Warhol no centro disso tudo. E William Burroughs, dos beats, que era o avô do punk. A explosão do punk foi um catalisador de muitas coisas, era uma época muito emocionante. Eu quero falar daquela época tanto quanto do meu envolvimento com ela, porque eu acredito que aqui nos EUA nós perdemos o sentido de que a nossa comunidade artística tenha alguma importância. Nós tivemos uma grande comunidade artística nos anos 70, e a AIDS destruiu tudo isso nos anos 80. Então para mim isso é um grande assunto sobre o qual escrever.

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É a hora do show no novo webclipe do Kamau

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O show do Kamau vai começar e não tem hora pra acabar. Se na semana passada a gente apresentou "Produto", uma música nova fera que o rapper paulistano, junto com o Mestre Xim, o Daniel Raillow e o Jota Ghetto, produziu na residência do projeto Pulso 2016, da Red Bull, nesta quarta (14), o Noisey vem mostrar com exclusividade o novo trampo dele: o webclipe de "Hora do Show".

É o primeiro clipe do Licença Poética (Experimento Pessoais), EP que o Kamau lançou em 2015 e foi o seu primeiro trampo solo depois do "...Entre..." (em 2014, ele tinha lançado um EP com Rashid, o Seis Sons). Com uns scratchings, "boom-bap e batidas mais atuais", a música tem letra e produção assinada pelo próprio rapper, assim como todo o restante do disco. Sobre o clipe, ele falou:

"O show é onde a poesia ganha vida e chega diretamente em quem tá presente. A ideia do clipe veio justamente disso: da vontade de fazer algo que mostrasse os bastidores e o processo desse espetáculo, que é pra mim uma parte muito importante de fazer música."

O clipe é dirigido por Bruno Cons. Assista acima.

Ficha técnica
Videoclipe: 
Dirigido e editado por Bruno Cons
Imagens por Bruno Cons e Rodrigo de Andrade

Música: 
Produzida, escrita e rimada por Kamau
Guitarra por Toca Mamberti
Teclados por Kamau
Colagens por DJ Erick Jay e DJ RM
Gravado e mixado por Cesar Pierri no Flap C4
Masterizado por Luis Lopes no Flap C4 

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Nazi envolvido no ataque a show punk em São Bento do Sul tem histórico de violência racial

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Algumas das armas apreendidas com os skinheads. Imagens: reprodução RBS TV

Um grupo de nazistas, formado por dois integrantes de Curitiba, um de Agudos do Sul e um de São Paulo, foi preso no começo da semana após desferir um violento ataque a um festival de rock em São Bento do Sul, município de Santa Catarina. A Polícia Civil supõe que eles teriam combinado o ataque remotamente e viajado até lá para a emboscada. A agressão rolou no domingo, dia 12, por volta das 15h30, quando uma das bandas da programação, o Poluição Sonora, chegava de Joinville numa van que trazia ao todo 11 pessoas. Tão logo o veículo estacionou na porta do local do evento, o Cartola’s Bar, a turma foi imediatamente abordada pelos nazis, que já chegaram cercando e distribuindo golpes de faca e machadinha.

Os agressores foram levados à Delegacia Regional e, de lá, encaminhados, na tarde do dia 13, ao Presídio Regional de Mafra. Eles permanecerão em cela até a conclusão das investigações. Durante o interrogatório, a polícia confirmou a suspeita de que se tratava de uma ofensiva nazi por conta das tatuagens de suásticas exibidas pelos membros da gangue. Um deles também usava uma camiseta da banda skinhead 4 Skins. A 3ª Vara Criminal do Fórum da Comarca apoiou a decisão do delegado Odair Rogério Sobreira Xavier de manter o quarteto preso. Eles agora vão responder por lesão corporal grave, crime de preconceito racial, richa e associação criminosa. A polícia trata o caso como tentativa de homicídio, diante da natureza da ação.

O relato do Osival Fernandes da Silva, aka Cival Fernandes, vocalista do Poluição Sonora, indica que, caso a polícia não chegasse em tempo, o conflito com certeza teria resultado em mortes. “Nós chegamos, encostamos a van, saímos, algumas pessoas foram pro bar. Não tinha ninguém na rua, só nós. Aí simplesmente os caras vieram do nada, estenderam a mão, e quando fomos cumprimentar eles começaram a desferir as facadas, machadadas, estiletadas, na cara da gente. Não teve tempo de reação alguma. A reação foi simplesmente correr, eu não sabia nem o que estava acontecendo”, descreve.


Fachada do bar diante do qual ocorreram as agressões

Cival levou cortes no lado esquerdo do rosto e na mão direita. Seu amigo, Ederson Fernandes Pariz, ficou com um hematoma no olho direito e recebeu quatro pontos na cabeça. Já o roadie do Poluição, Diogenes Vilmar Wolff, sofreu um corte profundo na lateral esquerda da cabeça até o pescoço. Ele quase teve a sua orelha arrancada por um golpe de machado. O Diogenes chegou a ser internado, mas no momento está de alta em casa e segue bem, se recuperando. Rudinei “Moicano” Pires, vocalista da banda Desordem Crônica, que também tocaria e que foi a organizadora do festival, acredita que os nazis devem ter escolhido este show aleatoriamente, talvez atraídos pela ilustração do cartaz: uma caveira com um moicano e o A de “anarquia” do símbolo do Poluição Sonora. A banda Crowleys também estava no line-up.

A falta de um histórico de movimento anarco-punk organizado na cidade torna mais inesperada a ocorrência. “Há dez anos são organizados eventos de música nesse lugar e nunca aconteceu nada do tipo”, exclama Rudinei. “Nós não somos punks de movimento, nem pregamos ideais políticos, somos uma galera que curte vários tipos de som, mas escolhemos o punk. Gostamos de tocar e nos sentimos felizes com isso.” Conversando com o Cival, nota-se que se trata mesmo de uma galera cuja única bandeira levantada é a da diversão de fim de semana. E que as referências ao punk e à anarquia vêm da estética comum ao hardcore, sem demais pretensões.

“Os caras são nazistas”, diz Cival. “E esses nazistas costumam marcar reuniões entre si e escolher um determinado show. Eles não foram lá procurando especificamente por uma banda. Foram pra fazer o rodo. O que aconteceu é que o pessoal estava tudo lá dentro do bar. Eles atacam com hora marcada. E foi bem quando nós chegamos, às 15h30. Só parou quando o pessoal saiu de dentro do bar e eles fugiram. Deram azar porque bem nessa hora estava passando uma viatura.”


Tatuagens com simbologia nazi-fascista exibidas por um dos integrantes da gangue

Os shows estavam marcados para começar às 16h. A ocorrência teve início na Rua Dom Pedro II. Na fuga, o grupo foi capturado à Rua Henrique Schwarz, próximo à APAE. Os nomes dos agressores divulgados são: Aquiles Gabriel Batista Ribeiro, 18 anos, Jorge Gabriel Gonzales, 25, Douglas de Freitas dos Passos, 26, e Hoann Marcos Gomes, 24. Ainda que os agressores tenham vindo de outras cidades, o pensamento nazista não é coisa nova em São Bento do Sul. Em 2001, chamou a atenção o movimento local Mach Die Augen Auf (“abra os olhos”), dedicado a combater a entrada de migrantes no município, originalmente formado a partir de colônias alemãs e austríacas.

Um dos nazis, Jorge Gabriel, é conhecido das tretas de rua de São Paulo entre anarco-punks e skins. Em 2014, ele pegou 16 anos e sete meses de prisão por duas tentativas de homicídio e uma lesão corporal em razão de uma ocorrência de 26 de fevereiro de 2011, nas imediações do terminal Parque Dom Pedro II, em São Paulo. As vítimas, um grupo de quatro anarco-punks, eram todas negras e foram feridas à faca, com cortes no abdômen, braço e testa – golpe que chegou a perfurar o crânio e atingiu o cérebro de uma delas.

Á época, Jorge já contava com uma condenação em primeira instância por injúria real, tendo cumprido quatro meses de detenção. Quando preso em 2011, uma das armas que ele portava apreendidas pela polícia era uma faca com a inscrição nazista “88” (ou seja, uma referência à pronúncia “HH”, da saudação “Heil Hitler”) e o nome da facção nazi-skin paulistana Impacto Hooligan. Ele também foi apontado como suspeito de participar de um atentado a bomba contra participantes da Parada Gay de São Paulo, em 2009. Fica a dúvida, agora: como alguém que representa uma ameaça ambulante, condenado não faz muito, transitava livremente pelo sul do país, a praticar atos da mesma natureza? Será que as brechas da justiça beneficiarão, mais uma vez, os responsáveis por crimes de ódio? 


Armas em posse do quarteto


Tatuagem com a suástica nazista


Aquiles Gabriel Batista Ribeiro, 18


Douglas de Freitas dos Passos, 26


Hoann Marcos Gomes, 24


Jorge Gabriel Gonzales, 25

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Por que as minas do Wax Idols e King Woman caíram fora da turnê com o Pentagram

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Fotos por Mary Manning

Na semana passada, as bandas da Bay Area Wax Idols e King Woman anunciaram nas redes sociais que por conta de um “rebosteio sem fim” e por serem “tratadas muito porcamente e serem escrotamente abusadas”, estariam cancelando uma turnê de 11 shows com a clássica banda de doom metal Pentagram, mandando pro caralho seus shows de abertura em Santa Ana, San Francisco e San Jose antes de começarem sua própria turnê pelos EUA. Por mais que as duas líderes, Hether Fortune e Kristina Esfandiaria (Wax Idols e King Woman, respectivamente) tenham sido decididamente vagas quanto aos detalhes, o comunicado encerrava com “Nunca deixem ninguém foder com você ou os seus”, e por fim “Se vocês soubessem as merdas que estamos aguentando, pagariam para NÃO tocarmos com esses caras”.

Desde a publicação do comunicado, muitos amigos e fãs expressaram não só seu apoio, mas também presumiram o que aconteceu tendo como base na reputação do Pentagram, ou mais especificamente de seu frontman, Bobby Liebling, cujas décadas de uso de drogas e diversos comportamentos clandestinos esperados de um estilo de vida roqueirão foram relatadas no agora infame documentário Last Days Here.

O Noisey entrou em contato com o Pentagram para que comentasse o ocorrido, e recebeu uma nota enviada pelo agente da banda, que destaca a surpresa de todos com a partida de seus parças de turnê. A nota completa está no final desta matéria, mas ela afirma em determinado trecho: “Temos tocado e gravado música de forma profissional há quase 50 anos e esta é uma das situações mais infundadas e oportunistas com a qual já lidamos. Estas bandas não conversaram com o Pentagram ou com o tour manager sobre querer sair da turnê. Dadas algumas noites após seu início, as bandas simplesmente desapareceram, fizeram postagens negativas sobre nós nas redes sociais e então foram tocar no show que havia sido marcado para elas anteriormente naquela mesma noite”.

Mesmo do ponto de vista de um fã, a turnê parecia caótica: Bobby Liebling não apareceu em um show de Seattle, o que levou a banda a tocar sem ele. Na noite seguinte, no Dante’s em Portland, os sets de todas as bandas começaram atrasados, e durante o show do Wax Idols, o cara do som subiu no palco e implorou para que elas tocassem mais duas músicas, supõe-se que para ganhar algum tempo. Aparentemente Liebling estava num avião a caminho do lugar quando o show já havia começado, e o público teve uma bela surpresa quando o Pentagram subiu no palco — um desgrenhado Liebling coberto de lycra a reboque — com quase duas horas de atraso. O anúncio da decisão das bandas Wax Idols e King Woman de caírem fora da turnê veio uma semana depois, e corria à boca pequena boatos de abuso sexual e comportamento horrendo generalizado por parte dos tiozões do rock que podem ou não estarem acostumados com consequências de seus comportamentos.

Até o momento, nem Hether Fortune ou Kristina Esfandiari haviam vindo a público falar abertamente sobre o ocorrido. Por mais que estivessem contentes em deixarem tudo como está nas redes sociais, quando entramos em contato, elas concordaram em compartilhar sua história exclusivamente com o Noisey. Conversamos ao telefone sobre sua dura decisão e o que as levou a isso.

Noisey: Na semana passada vocês decidiram cancelar suas últimas três participação na turnê com o Pentagram. O que levou a isso?
Hether Fortune
: Bom, pra começo de conversa, estávamos bem empolgadas com essa tour. Todas somos fãs de Pentagram. E sim, vimos o documentário sobre Bobby e sabemos que ele é uma força da natureza e uma figura, mas rock é isso aí. Claro, já fiz loucuras na minha vida que devem me fazer parecer muito doida mesmo, então não quis entrar nessa com ideias já formadas sobre ele ou a banda ou o que fosse, só pensei que seria uma turnê como qualquer outra, em que vamos lá e tocamos e talvez rolem umas conversas engraçadas e conseguimos conhecer os caras e tudo seria massa e tal. Tocaríamos pra públicos diferentes, manja, faríamos nosso trabalho, fazendo o que amamos.

Kristina Esfandiari: Queríamos fazer [a tour] porque o Pentagram é uma banda lendária, e pensamos “Puta merda! Temos que encontrar com eles antes que parem de fazer turnês”. Daí eu e Hether queríamos mesmo viajar juntas, então achamos que seria uma boa ideia. Não foi.

Fortune: Quando chegamos em Seattle, no primeiro dia, Bobby não apareceu. O cara não estava lá. A banda tocou sem ele, e isso meio que deu o tom da desorganização e caos generalizado. Logo de cara, ninguém falou nada pra gente, ninguém conversava conosco; o ambiente não era nada parecido com os padrões que tenho pra mim e minhas colegas de banda. O cara do som tratou a gente feito merda e não era nada legal. Mas levamos na boa, merda acontece, vamos aproveitar já que estamos aqui. Isso já deu a deixa da turnê toda. Dia após dia éramos destratadas, como se fôssemos umas meninas imbecis que não sabiam o que estavam fazendo. Não nos levavam em consideração nas passagens de som, ninguém se preocupava em chegar na hora ou nos tratar com respeito mesmo sendo apenas a banda de abertura — nada disso acontecia.

Então vamos fazer o que viemos fazer, tocar, e seguir nosso caminho. A gente é tranquilona. Não estamos acostumadas com as coisas dando certo, sabe? [risos] Pensamos “Bem, que seja! Vamos fazer funcionar”. E foi isso que tentamos fazer, e continuamos fazendo, e o público foi ótimo, respeitava bastante a gente, tocamos bem, e nos divertimos o máximo que pudemos.

Assim que as coisas foram progredindo, com Bobby por perto, rolaram umas paradas estranhas que nos deixaram bastante desconfortáveis. Comentários eram direcionados às garotas — digo, eu pareço durona, então ninguém mexia tanto comigo quanto com as outras meninas da minha banda, que supostamente não pareciam ameaçadoras, mas rolavam muitos comentários e contato físico inapropriado com elas. Elas estavam ficando cada vez mais desconfortáveis, chegando ao ponto que os promotores dos shows nos disseram que parte da nossa grana estava sendo mal administrada, que deveríamos receber coisas que não estávamos recebendo, e por fim, na última noite em que participamos da turnê, tentei conversar com o responsável pelo Pentagram sobre os problemas pelos quais estávamos lidando e como estávamos nos sentindo, e ele riu na minha cara, basicamente falando que nada daquilo importava. E foi isso. Daí que pensamos “Já era!”, porque no final das contas, o que importa mesmo pra mim é cuidar de quem gosto e me apoia na banda, e na minha integridade enquanto ser humano, ambos pontos que haviam sido comprometidos.

Então me vi diante de uma escolha: continuar tocando mesmo após esta pessoa e tantas outras terem sido tão desrespeitosas comigo e com minha banda, dessa maneira falando “Beleza, pode tratar a gente como quiser e vamos aguentar porque estamos desesperadas” ou cair fora dos últimos shows já que não estamos desesperadas. E foi isso que escolhemos. Não vou chegar e falar “Tudo bem, trate-me como quiser e eu vou aguentar”. Nunca vai rolar isso. Nenhuma grana ou sucesso ou atenção vale mais que o conforto e felicidade da minha banda, e minha integridade. Por isso, vazamos.

Esfandiari: Todos os dias acontecia algo novo e a gente ficava tipo “Tá bom, vamos aguentar essa, vamos tentar continuar otimistas”. Mas nos últimos três shows já era muita merda, em que pensávamos “É, não dá”. Daí sentamos e conversamos sobre por um tempo, já que, claro, não queríamos agir como amadoras. Meu maior problema era que não queria deixar nossos fãs na mão.

Que tipo de comentários Bobby e os outros faziam?
Fortune
: Bobby fazia diversos comentários nojentos e inapropriados para todas as mulheres da turnê, mas o pior mesmo foi uma fã ter nos contado que saiu do show do Pentagram incomodadíssima porque ele estava fazendo piadas sobre estupro no palco. E fazia mesmo. Fazia piadas sobre como a idade para consentimento é 16 anos, e não sei qual foi a dessa vez, porque nem estava assistindo o show. Naquele momento, já nem via os caras tocarem. Mas as pessoas escreviam pra gente e pro King Woman falando de como estavam enojadas com as merdas que ele falava no palco sobre estupro, então pensei “Ok, não consigo fazer isso. Já é demais”.

Esfandiari: Eu mesma não ouvi nada, mas recebia emails de fãs e pensava “Puta merda. Não sabia que era assim”.

Fortune: Também nos falaram que o próprio Bobby havia comentado que o único motivo pela qual ele havia topado fazer a turnê com a gente e o King Woman era pra que ele pudesse ter “muitas opções de mulheres”. E da forma como fomos tratas, e as coisas que Bobby nos falava, reforçavam isso. Ficou muito fácil acreditar naquilo por conta da forma como ele nos tratava. Nunca me senti sob risco ou violada, pessoalmente, mas enojada e desrespeitada. Minhas colegas de banda, porém, basicamente se escondiam do Pentagram. Elas não entravam no camarim, se escondiam na van — não queriam nem ficar perto deles porque não se sentiam bem.

Só pra esclarecer: sabendo da reputação de Bobby e a história do Pentagram em geral, vocês esperavam por este comportamento?
Fortune
: Que fique bem claro: todas tínhamos noção de como ele era e sua reputação. Só não queríamos julgar o cara. Não gosto de julgar pessoas que tem boatos ao seu respeito espalhados por aí porque já tive gente me julgando prematuramente sem me conhecer e dar uma chance ao vivo. Então faço isso. Não ia só chegar e falar “Não vou sair em turnê com o Pentagram porque ele certamente é um tarado nojento e sexista!”. Eu não diria isso, porque não conhecia o cara! Não gosto de tratar as pessoas assim.

Também respeito as pessoas que pavimentaram o caminho na música ou arte para as coisas que faço. Respeito o fato de que nos anos 60 ou 70 ou sei lá o que, as coisas eram diferentes. As mulheres eram tratadas de outra forma. Ele provavelmente vivia em um meio em que ninguém lhe dizia que seu comportamento era escroto, e ele acabou sendo reforçado.

Esfandiari: Nós sabemos que todo mundo do Pentagram é doido, especialmente o Bobby, mas não esperávamos ter nossos espaços invadidos como eles invadiram, ou que seríamos tratadas de forma tão desrespeitosa enquanto músico. Não ligo se as pessoas são loucas, isso é com elas, mas penso que foram desrespeitosos e nojentos. Ficamos na turnê o máximo que pudemos, mas no final, era tanto desrespeito e destrato que chegamos a nos questionar o porquê daquilo. Não estamos desesperadas, não precisamos disso.

Mesmo que não role nada direcionado à banda, se seus fãs se sentem desconfortáveis e associam vocês a isso, é algo que não tem nada a ver com a sua banda.
Fortune: Não mesmo. E o mais importante que quero deixar claro, mais que detalhes do que disseram ou fizeram, é quem eu sou e quem é minha banda. E somos uma banda que apenas quer existir no mundo, enquanto artistas, em que possamos fazer nosso lance, o que amamos e nos expressar. E se outras pessoas reagem a isso, ou isso as deixa felizes, ou as faz se sentir bem, isso é ótimo. É isso que nos importa.  Só queremos ser tratadas com o mínimo de respeito. Trato outras pessoas com quem trabalho de forma respeitosa, e espero o mesmo de volta. Se não rola isso, não dá e pronto.

Já me acostumei com ser desacreditada, zombada, zoada, ouvir que sou uma vagabunda, uma louca, uma iludida, uma qualquer, que o que penso não importa, que minha banda não importa — ouvi isso de tanta gente que já me acostumei. Mas não acredito em nada disso. Então me recuso a permitir ser trata de tal forma, não importa o que me digam e como me tratem. Logo, não vou deixar minhas parceiras de banda serem tratadas assim. De forma alguma. Nunca vou ficar parada vendo gente com quem me importo ser desrespeitada e tratada feito merda, vê-las se sentindo mal e desconfortáveis, sem fazer nada pra ajudar. Não rola.

Ou ter que vê-las se escondendo em sua própria turnê.
Fortune
: Exatamente. Não queríamos o tapete vermelho ou um bufê personalizado, ou dinheiro ao qual não tínhamos direito por contrato ou qualquer coisa do tipo. Sei que não sou uma rockstar famosa, e minha banda não é mega bem-sucedida, sei que não tenho direito a nada fora respeito e consideração enquanto ser humano. E isto nos foi negado na maior parte do tempo.

Você comentou que alguns promotores disseram que dinheiro estava sendo mal administrado. Poderia falar mais sobre isso?
Fortune
: Nos disseram que tanto dinheiro como hospedagem e afins estavam sendo mal administrados, que não estávamos recebendo tudo que deveríamos. Então quando tentei falar com o responsável pela turnê, o tour manager do Pentagram [Greg Turley], fui tratada bizarramente.

Como ele agiu quando você o questionou?
Fortune
: Eu disse “Você não saberia nada sobre o que tá rolando nos contratos sobre como o dinheiro devia estar sendo distribuído para nós?” e ele respondeu “Não sei nada disso” e eu disse “Então você não acha que os pagamentos incluam nossa banda?” no que ele revidou “Ah, então você acha que estão te devendo”. Respondi “Cara, isso é babaquice. Estamos sendo tratadas feito merda essa turnê inteira e tudo que estou tentando fazer é ser tratada com algum respeito e fazer meu trabalho”, no que ele rebateu “Como tratada feito merda?” e listei tudo que aconteceu, incluindo coisas que Bobby e outros do lado deles ali haviam feito. Foi aí que ele riu na minha cara e disse “Bom, vai ver você não foi feita pra isso” no que respondi “Foda-se”.

“Vai ver você não foi feita pra isso.”
Fortune
: Estou em turnê com bandas há dez anos — com homens e mulheres, em turnês só com homens e só com mulheres. Trabalhei com homens e mulheres, mas nunca na minha vida fui tão maltratada por alguém como nessa turnê. Nunca. Foi chocante. Sei que não sou famosa nem nada, mas faço isso há tempo o bastante pra saber o que estou fazendo e como as coisas devem ser feitas para ser algo profissional e respeitoso, o que não aconteceu aqui. Foi tudo uma piada.

Como você se sente sobre tudo isso agora?
Esfandiari
: O lado bom é ver como nossos fãs nos apoiam e a comunidade também. E como todo mundo ficou puto, tipo “Aqui não. Não na nossa comunidade, não com nossas garotas”.

Todas nos sentimos bastante resilientes porque rolaram tantos obstáculos na turnê: umas chatices menores que rolaram, ou coisas maiores que pensamos que não seria possível seguir com a tour, e demos um jeito de superar aquilo. Todas nos aproximamos por conta disso. Então no final das contas, me sinto bem com o fato de que caímos fora, porque era uma besteirada.

Vocês parecem ter recebido muito apoio na internet também.
Esfandiari
: Sim! O pessoal tem sido foda. Acho que o Cedric do At the Drive-In e The Mars Volta comentou algo como “Isso aí, meninas”. Ele achou legal o que fizemos.

Você está preocupada com qualquer repercussão profissional disso tudo?
Esfandiari
: O que eles vão falar? “Ah, essas meninas se deram ao respeito. Não vamos mais trabalhar com elas!”, foda-se isso daí. Vamos fazer as coisas do nosso jeito.

O Noisey entrou em contato com o Pentagram para comentar a situação e recebemos a seguinte nota de seu agente:

Do Pentagram enquanto banda:

Temos tocado e gravado música de forma profissional há quase 50 anos e esta é uma das situações mais infundadas e oportunistas com a qual já lidamos. Estas bandas não conversaram com o Pentagram ou com o tour manager sobre querer sair da turnê. Dadas algumas noites após seu início, as bandas simplesmente desapareceram, fizeram postagens negativas sobre nós nas redes sociais e então foram tocar no show que havia sido marcado para elas anteriormente naquela mesma noite.

Nosso agente em comum havia feito um contrato separado com os promotores para as bandas de abertura. O contrato do Pentagram e todas suas inclusões/exclusões ficava entre o promotor e a banda.

Bobby Liebling ofendeu alguém de uma das bandas de abertura. Ele disse algo como “Aprovo vocês na turnê porque quero ter opções”. O Pentagram enquanto banda pede desculpas sinceras pelo comentário de Bobby, que deu em cima desta garota, verbalmente, e ficou por aí. Não é segredo nenhum que ele goste de mulheres e isso não é crime. Ele é um homem solteiro. Pode ter sido rude, mas não houve contato físico. Tentamos ser legais, mas estas bandas de abertura não nos deram chance para interagir, nos evitando a qualquer custo e nos deixando desconfortáveis em nossa própria turnê.

 



Catch Wax Idols and King Woman on the rest of their Noisey-sponsored US tour:

June 7: Philadelphia, PA – Boot & Saddle
June 8: Washington DC – Songbyrd DC
June 9: Richmond, VA – Strange Matter
June 10: Chapel Hill, NC – Local 506
June 11: Atlanta, GA – The EARL
June 12: New Orleans, LA – Siberia
June 14: Dallas, TX – Red Blood Club
June 15: Austin, TX – Mohawk
June 17: Tucson, AZ – Club Congress
June 18: Fullerton, CA – The Slidebar
June 19: Oakland, CA – Starline Social Club


Cat Jones viu quatro shows seguidos do Pentagram em dois continents e ainda acha que isso tudo é inaceitável. Siga-a no Twitter.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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Testosterona, socos e suor com Nectar Gang e Akira Presidente em Niterói

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A galera da Pirâmide Perdida, selo de alta atividade na atual cena do rap underground do Rio de Janeiro, colou em Niterói pra tocar o terror em mais um evento. Acompanho geral há mais de dois anos e posso afirmar que a última Nectartenu é a prova de que para esses caras estragar festa é um lazer pra geral ali presente.

Aconteceu no último dia 9 de junho, numa quinta-feira fria pra caralho no Rio de Janeiro. Partimos em vários carros até um dos picos mais sujos e alternativos da região e lá estava marcado pra acontecer um evento com as apresentações do Nectar Gang junto com o Akira Presidente e os também os DJ's El Lif, M$E e Dree.

Posso comparar o rolé tranquilamente com a cena do hardcore de Nova York anos 90 e fiz questão de me inspirar nisso ao fazer as fotos deste post. Cerveja voando, roda de socos e chutes da primeira a última música, contava-se rápido a quantidade de minas no local, e as presentes eram as mais brabas que você poderia ver, até porque aquilo que estava acontecendo não era uma novidade pra elas.

De forma cronológica, dá pra ver que tava tudo lindo até a entrada dos caras no palco, num momento em que todo mundo incorporou algum espírito e fez um ritual de descarrego. Enfim, não vou ficar falando muito como foi, as fotos já dizem isso. O que indico é que ao ver essas imagens, você dê play nessa música aqui pra poder entender o clima como foi:


DJ El Lif


Nectar Gang


Akira Presidente


DJ's JXNVS, Dree e El Lif

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Veja o trailer de 'All Eyez On Me', a cinebiografia do Tupac

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Demetrius Shipp Jr. como Tupac.

No dia em que o Tupac faria 45 anos de idade, o filme biográfico do rapper, All Eyez On Me, ganhou o seu primeiro trailer oficial. Assista abaixo.

Estrelado pelo ator novato Demetrius Shipp Jr., que é a cara do Tupac, o filme conta a vida e o legado da lenda do rap da West Coast norte-americana. E, segundo o diretor Benny Boom, em entrevista à Billboard, o enredo não vai ser centrado na rixa dele com o Biggie. "Nosso filme é sobre a verdade e não traz só o lado de alguém sobre o que aconteceu. Eles foram dois jovens fazendo coisas erradas e irracionais, mas que não tiveram tempo suficiente de vida para crescer, amadurecer e aprender a lidar com as situaçãoes."

Para o papel da Afeni, a ex-Pantera Negra e mãe do rapper, morta em maio deste ano, foi convidada a atriz Danai Gurira (The Walking Dead). “Isso não é apenas sobre você. Como todos os homens negros, você tem um alvo nas suas costas. Eles vão te dar as ferramentas que você precisa para destruir a si mesmo”, narra a personagem no trailer.

A ideia inicial era lançar o filme no dia 13 de setembro deste ano, data em que se completam 20 anos da morte do rapper, mas All Eyez On Me deve chegar aos cinemas norte-americanos somente no dia 11 de novembro. Ainda não há data de estreia para o Brasil. 

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Jorge Sacramento, o poderoso chefão do pagode baiano

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Jorge Sacramento. Reprodução do Facebook.

Muitas vezes, grandes figuras e personagens importantes da música popular brasileira são totalmente alijados dos meios oficiais e da grande imprensa. O antropólogo Hermano Vianna foi um dos que chamou atenção para isso, ainda em 1999, no texto “Condenação silenciosa”, publicado na Folha de S. Paulo, no qual escreveu sobre a inexplicável razão de não se falar desses personagens que, mesmo adorados por uma parte enorme do população, têm seu acesso negado aos órgãos culturais, páginas de jornal e programas de TV.

Um dos cantores brasileiros mais amados dentro e fora do nosso país, Nelson Ned se definiu como “cantor de AM” pelo desprezo que sempre lhe foi conferido pela crítica musical e imprensa brasileira. Era nas rádios AM, ouvidas à época por grande parte da população de renda mais baixa, onde Nelson Ned e Odair José, por exemplo, reinavam.

Hoje, graças a internet, o gosto popular se reflete em milhões de views dos vídeos de artistas no YouTube. Muitos desses artistas, inclusive, fazem sucesso sem ter nenhuma gravadora por trás de suas produções. O sucesso surge a partir das milhares de músicas baixadas na internet que irão ser a trilha sonora em outros tantos milhares de “paredões” Brasil afora, sem ter que passar pelo crivo de nenhum curador especializado.

Um dos grandes personagens da música popular brasileira que é pouco — pra não dizer nada — citado é Jorge Sacramento, o produtor cultural e empresário de várias bandas baianas de muito, mas muito sucesso.

Sacramento é o responsável por três das maiores bandas do cenário do pagode baiano, ritmo dos mais populares na Bahia há anos — gênero que agora divide a popularidade com os artistas do arrocha. Foi Sacramento, aliás, quem revelou a banda Black Style e seu até hoje popular vocalista Robissão. É o produtor também o mentor do grupo a Bronkka e quem impulsionou ao sucesso seu polêmico frontman Igor Kanário, além de ser Sacramento o criador da banda que atualmente faz mais sucesso nos guetos e vielas de Salvador, a La Fúria.

HISTÓRIA

Nascido em Salvador, Sacramento passou a infância no bairro da Liberdade, berço do Ilê Ayê, e seu envolvimento com a música se deu por meio de bandas marciais e uma pequena incursão como tecladista, carreira que não prosperou muito. Entrou no mundo da música por uma porta incomum, como dono de uma empresa de segurança, trabalhando em muitos eventos de musicais.

Foi vendo o crescimento do pagode baiano que Sacramento decidiu apostar no gênero e virou empresário da banda BlackStyle. “No início era uma coisa desacreditada porque era um ritmo novo, resultado da mistura do pagode com o funk” , conta ele. O pagofunk, como ficou conhecido o ritmo que surgiu com o Black Style, ganhou centenas de bandas adeptas ao estilo e deu um novo ânimo ao pagode baiano, gênero que teve sua repercussão nacional na voz do grupo É o Tchan.

HITS

O primeiro grande sucesso do Black Style foi “Vaza Canhão”, som de 2007. Com o hit, a banda chegou a fazer 28 shows em um mês, trabalhando sem parar de quinta até segunda feira. Outros hits do Black Style fizeram muito sucesso no carnaval de Salvador, embora dificilmente as bandas de pagode baiano possam tocar no circuito mais badalado, o Barra Ondina. O som da banda é mais popular no Circuito Campo Grande, nos aparelhos de som dos camelôs que vendem bebida, nos falantes em alto volume dos carros que parecem tocar música 24 horas nos bairros de Periperi, Boca do Rio, Fazenda Grande, Cajazeiras e outros longe da cobiçada orla de Salvador.

Enquanto gravadoras, grandes produtoras e grupos de mídia tentam emplacar seus axés e jabás antes da quarta-feira de cinza, Black Style com alguns links de internet e muitos CDs piratas emplacou “Patinha”, “Perereca Pisca” e  “O Boi”.

Com a saída de Robissão do grupo, Sacramento resolveu partir para outro projeto e começou a empresariar o grupo a Bronkka com um jovem que estava começando a fazer muito sucesso no bairro da Liberdade, Igor Kannário.

A Bronkka colecionou sucessos e polêmicas em Salvador — uma das suas fãs mais ardorosas era Kelly Cyclone conhecida na cidade como “a dama do pó” ou a “patroa do tráfico”. Figurinha fácil nos shows da Bronkka, Kelly não só subia nos palcos, como também participava de programas de TV ao lado de Kannário. Kelly acabou assassinada em 2011 e seu enterro teve um público digno de show de pagode baiano

Outro fato polêmico envolvendo a Bronkka, foi o grupo ter popularizado a música “Um Tiro” e “Dedo Calibrado” inaugurando (talvez) um pagode proibidão-realidade.

Sacramento diz que com a Bronkka queria apostar em um projeto “para o público favela, para o público do gueto, os desacreditados”. O produtor estava tão certo desse rótulo que Kannário, quando saiu da Bronkka em 2012, se lançou em carreira solo como “o Príncipe do Guetto” e ainda hoje é tido como um dos mais populares artistas da Bahia, tal qual Robissão.

Em 2015, no entanto, Kannário se envolveu em uma desavença com ACM Neto, prefeito de Salvador, provocando uma enxurrada de pedidos que terminou com a confirmação do trio de  Kannário no carnaval baiano

A aposta atual de Sacramento é a banda La Fúria, que no último carnaval do circuito popular baiano emplacou a música “Procura o Brinco”, som que acabou caindo nas graças de Ivete Sangalo:

As letras da La Fúria seguem a conhecida temática apimentada do pagode baiano e logo caíram no gosto do público. A mais nova empreitada de Sacramento não poderia vir sem uma polêmica envolvida: Hiago, filho do produtor, com apenas 12 anos, é um dos vocalistas da banda, uma espécie de versão baiana dos MCs mirins de funk paulista, como o MC Pedrinho e MC Pikachu.

Outro sucesso da La Fúria é a música “Rabo”, cheia de duplo sentido, uma das principais características do pagode baiano . Colecionador de hits e tretas, Sacramento ainda tem entre seus sucessos a música “Lobo Mal” da banda  empresariada por ele, O Báck — o som de 2009 é, até hoje, tocada nos trios elétricos do carnaval e foi incorporada por Ivete Sangalo ao seu show:

PAGODE X JUSTIÇA

O momento mais crítico da carreira de Sacramento aconteceu em 2015,  quando integrantes de sua banda New Hit, então no auge do sucesso, foram acusados de estuprar duas adolescentes de 16 anos na cidade de Ruy Barbosa, interior da Bahia. Após a acusação, os integrantes foram julgados como culpados

Constatado o crime, o grupo foi desfeito até surgir uma nova pedra no sapato de Sacramento, a Lei Antibaixaria. O dispositivo que proíbe a contratação, com dinheiro público estadual, de grupos que em suas letras ofendam mulheres e gays ou que incitem à violência é vista com polêmica na Bahia e tem oposição de diversos artistas que entendem a lei como uma medida de censura. Entre as pessoas que se dizem contra Lei Antibaixaria está a primeira transexual eleita vereadora de Salvador, Léo Kret, que debateu publicamente com a deputada estadual Luiza Maia responsável por propor a lei:

Sacramento, por sua vez, também participou de um debate público com Luiza Maia, na ocasião em que a deputada recorreu ao Ministério Público para barrar a participação da banda La Fúria em um evento realizado com dinheiro público na cidade de Camaçari. Sacramento acusou a deputada de querer “acabar com o pagode”. A polêmica ainda rendeu um “pagode baiano de protesto” feito pela banda O Troco:

PAIXÃO

O mundo do pagode baiano é algo complexo e que envolve a paixão de milhares de pessoas que fazem do ritmo sua principal diversão. O repúdio ao gênero compartilhado por outras tantas pessoas que consideram as letras como o abismo moral da sociedade convive ao lado do sonho dos jovens mais pobres da Bahia, que procuram subir na vida despontando como artistas de uma dessas bandas e ganhando muito dinheiro que circula nas festas, micaretas, lavagens e afins.

Nessa intrincada cena musical, Sacramento é sem dúvida uma das figuras centrais, tendo revelado bandas que são amadas por muita gente na Bahia e que fazem parte da história da música baiana. Afinal, pode se argumentar tudo contra o pagode baiano, mas não se pode negar “que o povo gosta é do pagode” 

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O Anthony Kiedis salvou um bebê durante as gravações do 'Carpool Karaokê'

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O Red Hot Chili Peppers lançou seu disco novo, The Getaway, nesta sexta-feira (17), e também lançou um clipe pra "Dark Necessities", com direção da atriz Olivia Wilde. Mas, além de o fato de que o Flea está velho pra caralho (mas continua mandando benzaço no baixo, óbvio), outra coisa que voltou a atenção da internet pra banda nesta sexta foi a participação deles no Carpool Karaoke. 

Se você não conhece, o Carpool Karaoke é programa em que britânico James Corden leva uns artistas pra dar um rolê de carro e cantar ao mesmo tempo e que já nos rendeu momentos incríveis, como o Stevie Wonder cantando músicas do Stevie Wonder,  a Adele rimando os versos da Nicki Minaj em "Monster". No do Red Hot, todo mundo ficou peladão quando começou a tocar The Zephyr Song", mas essa não foi nem de longe a coisa mais inacreditável que aconteceu durante as gravações, e sim que o Anthony Kiedis salvou um bebê que tava com falta de ar!!!!!

O frontman do RHCP falou, em entrevista a Radio X, que, no final do rolê, eles resolveram passar num restaurante mexicano pra pegar uns burritos. Daí, do nada, surgiu uma moça gritando "Meu bebê não consegue respirar", do outro lado da rua. Ele, o resto da banda e o James Corden saíram correndo do carro para tentar ajudar e a mãe entregou a criança nos braços de Kiedis. "Eu pensei: 'vou tentar fazer uma massagem cardiorrespiratória nesse bebê e uma respiração boca-a-boca', mas a boca dele estava super fechada. Daí, eu comecei a massagear a barriga dele. ele cuspiu umas bolhas pra fora e voltou a respirar normal".

E se você, assim como todo mundo, ficou se perguntando "É SÉRIO ISSO?", ele tem uma resposta: "Bem, quando você é pai e ouve alguém gritando "Ajuda, meu bebê...", a única coisa que você faz é correr pra ajudar".

Veja a entrevista abaixo:

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O sexto disco do Hateen é sobre fragilidades e superação

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Foto: Pamela Mota

Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui (Hearts Bleed Blue), o novo álbum do Hateen, expressa, pela intensidade do instrumental e a pessoalidade das letras, as cicatrizes e realizações de uma banda que já esteve em todas as posições. Dos inferninhos underground à fronteira com o pop, o grupo é um dos sobreviventes que inauguraram, há pouco mais de duas décadas, a centelha do hardcore melódico e do emo por aqui. As diferentes formações e outros percalços, no entanto, sempre se refletiram positivamente na sonoridade da banda. Isto, muito por conta de como o vocalista, guitarrista e letrista Rodrigo Koala absorve as experiências e as transforma em inspiração. O sexto disco de estúdio dos paulistanos expõe fragilidades que tratam da perda de controle por conta da síndrome do pânico e o abuso de álcool.

Este é um álbum de reflexões que rondam o crescimento pessoal, a solidão e a superação. Daí temos uma porção de melodias ora alegres ora melancólicas que, em comum, contam com uma qualidade essencial que explica a sobrevivência do quarteto e o apreço dos fãs: melodias e versos instintivos de se acompanhar. Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui é o terceiro álbum bem sucedido do Hateen com letras em português. A mudança rolou em 2006, influenciada pelo sucesso de algumas composições que o Koala fez para o CPM22. Nem todo mundo se dá bem nessa transição, mas, no caso, funcionou. Há ainda duas participações pra dar aquele tempero especial em certas passagens: Dani Vellocet, do Mecanika, em “Passa o Tempo”, e Rodrigo Lima, do Dead Fish e d'oelefante, em “Perdendo O Controle”.

Ouça o novo trampo dos caras enquanto lê a conversa que tive com o Koala sobre a fase que se descortina e outros lances.

Noisey: Ouvindo esse disco novo, a gente percebe o Hateen como suas próprias letras, um personagem que atravessou o tempo colecionando cicatrizes e tirando lições positivas delas, seguindo mesmo que sem querer. A partir daí, como vocês percebem o amadurecimento da banda?
Rodrigo Koala: A banda está envelhecendo junto com a gente, isso faz dela um reflexo exato de quem somos. Hoje somos pais dedicados, que ralam pra pagar as contas e educar nossos filhos. Nossa visão de tudo, inclusive da música, acaba não tenho toda aquela ingenuidade do início, quando tudo parecia tão fácil. Hoje sabemos que nada é fácil. Já estivemos em momentos completamente diferentes de nossa carreira, em que tínhamos uma megaexposição na mídia, e outros em que não tínhamos nada. Aprendemos a lição de que nada é mais importante do que a música e a gente se divertir fazendo música. Fazer discos, fazer shows, tudo isso é muito divertido pra gente ainda. Acho que não estamos tentando acertar um alvo, conseguir fama, dinheiro, nada do tipo... Estamos apenas fazendo o que amamos. Sempre seremos gratos a tudo o que puder acontecer de bom, mas não temos essa busca por acontecer. Isso, pra gente, é nossa forma de amadurecer e seguir em frente.

O Hateen parece ter chegado até aqui muito por conta da sua persistência. Você, afinal, é o único integrante da formação original. Como as diferentes mudanças de formação foram somadas ao seu estilo pessoal nas fases da banda?
Cada pessoa acaba contribuindo um pouco com seu estilo em determinada época em que tocou na banda. Mas a real é que sou supercontrolador [risos], e ao máximo tento fazer as coisas do meu jeito. Até por isso todas essas mudanças não influenciam no som, pois eu acabo sendo o polo em comum de todas elas. E em todas as fases eu faço as letras e melodias — em 95% dos casos —, por isso consigo manter o som bem característico do Hateen, ainda que a banda troque de integrantes.

Vocês levaram entre quatro a cinco anos para lançar os últimos trabalhos. Esse é o ritmo que o Hateen assumiu para si daqui pra frente?
Esse é o ritmo que rolou nos últimos discos, mas estamos sempre tentando diminuir esse gap entre um álbum e outro. Porém, a vida adulta é mais hardcore [risos]. Não existe muito tempo livre pra ensaios, etc... Acaba sendo uma tarefa cada dia mais difícil.

Existe a preocupação de voltar a ter uma presença forte na mídia ou vocês estão em outra?
Preocupação em ter uma presença na mídia, claro que temos, mas não estamos fazendo disso o nosso objetivo. Esperamos que seja consequência de muita gente ouvindo as músicas, indo aos shows, etc... Mudamos a maneira de jogar o jogo, mas o objetivo é sempre o mesmo: chegar cada vez mais longe.

Quais eram as influências do Hateen em sua fase de ascenção, daquelas músicas que escutamos no Hydrophobia, ou mesmo no Dear Life, e atualmente?
Sempre fomos muito influenciados por rock alternativo, hardcore melódico e punk rock dos anos 1990, 2000.... Gostamos muito de metal, grunge.... Não temos nenhuma amarra com nenhum estilo, gostamos de poder experimentar e fazer coisas diferentes o tempo todo em nossa música. Acho que continuamos gostando dos mesmos estilos musicais, com algumas bandas mais novas e tudo mais, mas 80% de tudo que amamos vem ali dos anos 90 em diante.

Ainda falando do começo, Blind Youth já trazia um som bastante rico de sonoridades para a época. Qual era a experiência de vocês na cena quando montaram o Hateen para já ter um som coeso naquela demo?
Zero. Não tínhamos sequer instrumentos. Compramos instrumentos parcelados e fomos gravar com equipamentos horríveis. Tínhamos muita vontade de fazer as coisas, a força da idade e várias ideias na cabeça. O resultado foi o que saiu na hora mesmo, sem firula, sem overdubs... Tínhamos um foco que era fazer uma demo tape pra mostrar a todos quem era o Hateen, mas nunca pensamos se era punk, hardcore, emo... Só queríamos fazer nossa própria música e expressar o que sentíamos.

O som do Hateen parece que sempre soa um pouco nostálgico ou contemplativo. O próprio nome da banda sugere isso, não? A raiva adolescente que atraiu vocês para a música...
Eu costumo escrever sobre minhas experiências ao longo de todo esse tempo, e das coisas que vejo ao meu redor. Pra mim é muito difícil começar a escrever do nada, pegar um tema e escrever. Isso contribui para que a gente sempre demore pra fazer discos, pois são músicas feitas através de muita coisa que vivemos... Não sentamos e simplesmente dizemos: hoje vou fazer uma música de amor. Uma música de protesto. Geralmente a música nasce das experiências reais mesmo.

Como é possível cantar rock em português sem soar feio como uma banda descoberta no programa Ídolos?
Sinceramente eu não sei. Sempre gostei e ouvi muito mais bandas em inglês do que em português. Isso até hoje. Mas desenvolvi um carinho por escrever em português pela proximidade que isso traz junto aos fãs. São laços que criamos, e que seriam completamente diferentes em outra língua. Muitas vezes me sinto nu tendo que cantar uma frase em português, pois não posso me esconder atrás da melodia que o inglês proporciona. Em português a melodia vem escancarara com a mensagem da letra impressa nela, e talvez esse seja o grande barato da coisa. Falar a língua de quem nos ouve e ser 100% compreendidos acabou sendo um dos maiores motivos pela mudança do inglês para português. Quero que as pessoas saibam o que eu estou cantando e por quê. Quero que elas guardem mais do que a melodia da música na cabeça. Quero que elas levem na memória uma frase das nossas músicas.

Não perca o show de lançamento:

HATEEN
São Paulo - 25 de junho - Sábado
Local: Hangar 110 - Rua Rodolfo Miranda, 110. Bom Retiro. São Paulo - SP
Horário: A partir das 19h
Bandas convidadas: Magüerbes, Montese, Rawfire
Preço: R$ 20 (Antecipado)
Ponto de Venda: Loja 255 - Galeria do Rock: R. 24 de Maio, 62.
Vendas online: www.hangar110.com.br

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Straight Outta Maïssade: O rapper haitiano MC Lobenson quer conquistar Brasília

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Eu sou da favela, vou cantar pra ela. Foto: Arquivo Pessoal.

“Meu lance sempre foi hip-hop”, diz o haitiano Lobenson Mereus, 24, nascido na pequena cidade de Maïssade, perto da capital Porto Príncipe. Ele vive hoje em Brasília, a 4.600 quilômetros de sua terra natal. A distância não o assusta. Todos os dias, sai de casa munido de bombeta, um par de fones de ouvido e marra suficiente para sobreviver à monumental indiferença candanga. “Eu curto muito o Jay Z”, assegura. MC Lobenson, nome artístico de Mereus, também está decidido a ter um Brooklyn pra chamar de seu.

“Eu participava de um grupo chamado Explósion. Cantava com uma galera, a gente rimava, fazia shows”, conta. O rapper vive na Vila Planalto (“lá pra mim é tranquilo, é favorável”) e tira seu ganha-pão cortando cabelos numa barbearia na Rodoviária do Plano Piloto; é só dar vintão na mão dele pra sair com um desenho bem chavoso na nuca.

“Fiquei no Brasil porque a adaptação foi mais fácil, gosto do jeito das pessoas daqui”, diz. Há quatro anos no país, Lobenson é um das dezenas de milhares de haitianos que imigraram para cá na esperança de fazer a vida após o terremoto que destruiu o país caribenho em 2010.  Antes de ancorar, passou por Jamaica, Equador, Guiana Francesa e Cuba.

Veio também mostrar seu som pro mundão, sonho dos tempos de DJ na Rádio Fraternité. Economizou por oito meses pra bancar a produção de “No Beef”, seu primeiro clipe, lançado em janeiro de 2015. “A gente tem produtor, mas a gente que banca”. No último fim de semana, fez uma apresentação em Ceilândia.


Um haitiano inspirado por rap americano cantando em creole no Brasil. Lembra quando a gente achou que dava pra parar a globalização? Nem eu.

Se os clipes não são nenhum Transformers, a pegada ostentação de Lobenson tem personalidade, incorporando alguns elementos de sua música nativa. “Lá no Haiti temos uns ritmos muito fortes, como o compas, que é a música oficial do país”. Djakout Mizik, os rappers Izolan e Fantom, Rock Family (o que isso te lembra?) e Barikad Crew são seus conterrâneos favoritos. “O rap aqui no Brasil não é muito diferente do nosso”, pondera.


As músicas são produzidas pela NoisQFaz, e algumas têm participação de artistas de Brasília e região.

“Eu escuto muito MC Guimê, Racionais, Emicida, Criolo, mas minha pegada é mais rap americano; gosto muito de Eminem, Wiz Khalifa, 50 Cent”, diz. “Também escuto muito sertanejo, Wesley Safadão, Luan Santana, Jorge e Matheus. Quando você é artista, tem que ouvir muita música, e tem que escutar de várias maneiras pra ver qual é boa pra você”.


O cara rima em creole, francês, português e inglês e a gente não sai do português básico II.

Lobenson também é fã de Wyclef Jean, ex-integrante do Fugees (aquele disco deles, The Score, completou 20 anos em fevereiro de 2016). Possivelmente o Pelé haitiano, Wyclef chegou a tentar uma candidatura à presidência do país, mas foi impedido por não residir nele. “Ele ia ganhar, mas puxaram o tapete”, lamenta. “A população acredita nele, sempre foi um cara humilde”.

A simpatia não é a mesma por Jean Bertrand Aristide. “Nossa, esse era ladrão demais, merecia umas pancadas pesadas”, diz sobre o presidente de esquerda deposto por um golpe de estado em 2004. “Michel Martelle (presidente de 2011 a 2016) foi bom, mas nós temos muita riqueza e tem uns presidentes, como o Baby Doc e o Papa Doc, que destruíram tudo”.

As conversas com o pai pelo Whatsapp ajudam Mereus a manter a espinha ereta diante dos problemas cotidianos — como o racismo. “Se até os grandes como Nelson Mandela sofreram com racismo, não seria eu que não iria sofrer”, diz. “Mas a pessoa que tem capacidade de entender o ser humano não vai julgar ninguém pela cor da pele”.

Lobenson conversa todos os dias com o velho, dono de uma loja de produtos alimentícios em seu país de origem. “Se acontece alguma coisa, atrasa o aluguel, ele dá uma força”, diz o rapper, que foi ainda o primeiro dos 43.375 haitianos beneficiados pela decisão do governo Dilma de conceder visto de permanência no país, em novembro de 2015. 


Sem o microfone, Lobenson mete a tesoura nos populares e engravatados.

O haitiano tem se integrado tão bem ao nosso país que já tem entre seus pratos favoritos mortadela e coxinha (brincadeira). Falando sério: Lobenson é mais um baqueado pela crise. Dois conterrâneos não seguraram a bronca e tiveram de deixar o Brasil — um deles o também rapper FreeThony, de quem era parceiro. “Tá me afetando demais: antigamente eu ia e voltava do Haiti com R$ 2,5 mil, agora pago R$ 7 mil”, diz. “E minhas contas são pesadas, tá ligado?”. 

Ainda assim, Lobenson embarca em breve para visitar a família no país caribenho. Na volta, sonha em estudar administração, ciência da contabilidade “ou diplomacia” e cogita abrir uma lojinha na Feira dos Importados, uma espécie de Santa Efigênia brasiliense. E ainda sobra uma disposiçãozinha pra trocar porrada. “Quando voltar, acho que também vou tentar uma carreira no jiu-jitsu”.

Ele também vai aproveitar a ida ao Haiti para coletar imagens para o clipe duma música que está terminando de compor. O som deve integrar seu primeiro álbum, ainda sem data para ser lançado. “O título provisório é “The Future is There”, é um som mais social, que fala sobre a situação dos negros”.

Lá ou cá, Lobenson, que o futuro chegue logo. Boa viagem.

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A carioca Def tenta tirar sentido do caos em seu primeiro EP

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Quando o indie rock era a onda dos jovens, a Deck Disc tinha um selo chamado Vigilante, que, além de ter lançado alguns CDs gringos moderninhos por aqui, também tinha no catálogo diversas (e diversas, mesmo) bandas brasileiras do final dos anos 2000: a prog Jennifer Lo-Fi, a mais hardcore Rancore e o projeto paralelo acústico da cantora Pitty, Agridoce. Entre essa salada estava a Colombia Coffee, que puxava de bandas como Tokyo Police Club e, inevitavelmente, Arctic Monkeys, pra fazer um som bem Beco 203. No meio-tempo de ensaios da Colombia Coffee, porém, a cantora Deborah F. e o baterista Dennis Santos faziam uns jams de sons mais variados. Ali já nascia um esboço do que seria, anos depois, a Def.

A ideia do projeto nasceu de Deborah, que queria dar um jeito de descarregar uma carga emocional pesada. "Quando chamei ele ano passado, vi que aquela época já tinha dado as dicas de como seria o som. Nesse tempo parados a gente continuou trocando influências, e essa afinidade musical que deu a liga entre fases tão diferentes", conta ela. "Quando comecei o projeto eu pensava em gravar com o Dennis, lançar no Bandcamp e deixar lá. Nem pensava em formar a banda ainda."

Ironicamente, o grupo só havia gravado uma demo antes que a oportunidade de fazer um show pintasse. Após conhecer a baixista Nathanne Rodrigues e o guitarrista Matheus Tiengo, que formam a outra metade do grupo, o grupo começou a ganhar uma atenção só pelas suas apresentações pelo Rio. "Temos recebido um feedback lindo desde o primeiro show. A coisa foi correndo no boca boca e acabamos fazendo mais shows", diz.

Nessa segunda (20), a banda lança seu primeiro material, a parte 1 do EP Sobre os Prédios que Derrubei Tentando Salvar o Dia, que sai pela Bichano Records.  "Esse EP é a Parte 1 de um álbum de musicas que selecionei nesse tempo sem banda. A expectativa é de lançar o próximo em 2 meses, mas muita coisa pode mudar ainda", esclarece Deborah. "Além disso, ele foi gravado quando ainda éramos trio [Tiengo ainda não era parte do grupo], então era interessante marcar essa mudança."

Sobre os Prédios que Derrubei Tentando Salvar o Dia soa muito como Deborah o definiu: o som de uma pessoa tentando tirar algum sentido de uma desordem de sensações sem tamanho. Talvez por isso, o EP não seja exatamente coeso quando se trata das influências musicais. Nas quatro faixas do trabalho, ouço do caos milimetricamente calculado do Cap'n Jazz (em "Sobremesa") ao sentimentalismo visceral do Ludovic — que, inclusive, foi citado pela vocalista como uma de suas inspirações, e se mostra claramente em "Dissolvendo". "Bad Trip", por sua vez, é a faixa mais agressiva do EP. 

Apesar das diferentes sonoridades, o disco encontra uma unidade em suas letras e temáticas. "As letras surgiriam muito de problemas relacionados a ansiedade, alguns excessos e frustrações. Então me inspirava nessa galera que se expõe bastante nas letras. Tudo que ajudava a botar os monstros no papel", conta Deborah. "A Def vem de uma confusão de varios sentimentos acumulados na gaveta desde 2012, então não tem a preocupação em seguir uma linha, mas de deixar o som mais próximo desse caos que foram esses anos."

Ouça a parte 1 de Sobre Prédios que Derrubei Tentando Salvar o Dia:

A Def está no Facebook.

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Milionário & Marciano se juntaram em nome do legado sertanejo que ajudaram a criar

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Ilustração de Robson Minghini.

Em meados de 2015, o telefone celular do cantor sertanejo Marciano tocou. Do outro lado da linha, estava o cantor Sorocaba, ele mesmo, o da dupla Fernando & Sorocaba. O motivo do contato era uma ousada proposta de parceria, uma turnê que unisse, no mesmo palco, Milionário & Marciano. Sim, uma espécie de pout-pourri do sertanejo unindo as metades de duas duplas icônicas do gêneros: um pedaço de João Mineiro & Marciano, e outra metade de Milionário & José Rico.

No dia 3 de março de 2015, morreu José “Rico” Alves dos Santos, aos 68 anos, deixando sozinho o parceiro Milionário. Por outro lado, Marciano, que desde 1993 já não cantava ao lado de João Mineiro, falecido em 2012, atuava então em uma agitada carreira solo que, apesar de seus três shows semanais, não aparecia nos holofotes da mídia.

“Sorocaba perguntou se eu topava esse projeto de fazer a união com o Milionário”, contou Marciano ao Noisey por telefone, enquanto estava nos bastidores de um show em uma gelada noite em Foz de Iguaçu (PR). “Daí eu expliquei que conhecia o Milionário desde o início da minha carreira e que eles (a dupla) eram meus ídolos pra caramba, mas, naquele momento, apenas cantar com ele, para mim, não somava muito, a não ser que tivesse um empresário com essa grandiosidade por trás”, conta, referindo-se à extensa lista de sucessos agenciados por Sorocaba, como Luan Santana e Thaeme & Thiago (não confundir com Tame Impala). “Daí falamos: Milionário & Marciano, com esse empresário cuidando, então vamos em frente! Onde ele põe a mão, dá certo!”.

Sorocaba é o apelido do músico e empresário Fernando Fakri de Assis. Ele contou que a ideia do espetáculo unindo Milionário e Marciano surgiu com a ideia de perpetuar nomes da música sertaneja no Brasil. “O objetivo foi realmente esse, unir esses dois grandes cantores, para eternizar o gênero e mostrar para todos como foi o começo dessa história tão linda e bem sucedida, que teve origem no circo e até hoje emociona os corações”, diz.

Apesar de terem iniciado a carreira artística praticamente à mesma época, nos anos 1970, as duplas Milionário & José Rico e João Mineiro & Marciano vivenciaram o sucesso em décadas diferentes — a primeira, na mesma da formação, já a segunda, em meados dos anos 1980. No entanto, cada um deles desempenhou papel fundamental na consolidação da música sertaneja como produto cultural de massa no Brasil, muito antes de surgirem outras duplas de sucesso como Chitãozinho e Xoroó, por exemplo.

Hoje, passados 40 anos do começo da história dessas lendas do sertanejo, se o que Milionário & Marciano esperavam era investimento, seus desejos foram atendidos. O espetáculo Lendas impressiona pelo tamanho e a composição do cenário, inspirado no circo, local que normalmente recebia os cantores sertanejos no início da carreira. Artistas, como acrobatas e malabaristas, percorrem o palco o tempo todo durante as canções, dirigidos por um sujeito que é sinônimo da atividade circense no Brasil, o ator Marcos Frota. As músicas, clássicos das carreiras das duas duplas, receberam uma grande banda de apoio e novíssimos arranjos — “Amor Clandestino”, por exemplo, de João Mineiro & Marciano, tem agora uma pegada que flerta com a bossa nova.

Ainda ontem chorei de saudades

“A gente por enquanto não esqueceu do Zé”, comenta Milionário, nascido Romeu Januário de Matos, hoje com 76 anos, em um tom que ao mesmo tempo que brinca, revela a dimensão de sua perda. “Foram 45 anos anos com ele, parece que está em cima do palco com a gente, cantando”, afirma.

As músicas de Milionário & José Rico, mais que sucesso comercial, transformaram-se em grandes símbolos do estilo sertanejo. Na gravação do DVD Lendas, cada vez que executam canções dessa safra, como “Vontade Dividida”, “Solidão” e “Sonhei com Você”, é possível visualizar a emoção de outros cantores, de gerações mais novas na plateia. Alguns estão em lágrimas. Provavelmente, esses sucessos foram os primeiros que ouviram, que trazem lembranças de seus pais, avós ou, talvez, do antigo sonho de vencer na carreira. “Acho que demos um tiro certo com esse projeto Lendas, essa ideia foi muito boa”, comemora Milionário. “O povo está aceitando e a coisa está sempre aumentando, vamos fazer de tudo para passar para o nosso povo o que foi o trabalho do José Rico, vamos cantar sempre direitinho para o público entender”, comenta.

Estrada da vida

Na Fazenda Rubi, localizada na zona rural de Bauru (SP), morava o menino José Marciano, nascido em um 1º de abril nos anos 1950. Ainda bem pequeno (na idade, pois é de estatura alta), ao lado do pai, ouvia no rádio os sucessos de Belmonte & Amaraí e, logo em seguida, de Tonico & Tinoco. No entanto, um detalhe importante faria toda a diferença nas influências do cantor e compositor Marciano, hoje com 63 anos: sua paixão pela música e o estilo de Antonio Marcos (1960-1992).

As letras da música caipira e sertaneja, até então, não haviam conhecido o romantismo com a intensidade das composições de Marciano. “O seu destino foi construído por suas mãos. Faz dois anos que não é minha, que se casou” ou, então, “Esse amor clandestino faz de mim um menino. Que ao dormir também chora. E adormece querendo te ouvir me dizendo: ‘Nunca mais vou embora’”, são exemplos de seu estilo, com frases que ressaltam o sofrimento da desilusão amorosa.

O reconhecimento desse diferencial veio em 1982, quando uma composição de sua autoria com o parceiro Darci Rossi virou um grande sucesso nacional. “Era uma música que ficou pronta e a gente ofereceu para vários cantores na época, mas ninguém quis gravar. Daí, o Chitãozinho e Xororó estavam terminando o disco deles e precisavam de uma última música. Ouviram por uma dupla e ligaram para mim, perguntando se podiam gravar”, se recorda Marciano, sobre os bastidores da gravação de “Fio de Cabelo”. “A música estourou e foi muito bom para a carreira deles. Para a minha também, pois fiquei conhecido como compositor”, afirma.

O palco majestoso encanta pelas cores e o movimento. Mas as estrelas da noite possuem luz própria. Milionário & Marciano se posicionam bem ao centro e unem, em um só espetáculo, os signos que moldaram a nossa música sertaneja. Milionário é mais quieto, de chapéu, com suas joias aparecendo sobre a gola da camisa (muito mais discreto que o excêntrico e saudoso parceiro). Marciano, já há algum tempo, tem vestido apenas branco. De óculos escuros, é quem cuida da porção mais performática da dupla, faz gestos com as mãos e dá os icônicos gritos das canções mais famosas, com influências da música mexicana.

Juntos, unem o passado, com composições magistrais que atravessam os mais remotos pontos do país há décadas, ao futuro, com uma supreprodução e a divulgação de expoentes do sertanejo universitário. De fato, não havia melhor representação para esse encontro. São, de fato, Lendas.

O espetáculo Lendas, com Milionário e Marciano, acontece dia 25 de junho no Citibank Hall, em São Paulo, às 22h30.

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O novo EP do Mais Valia é um manifesto do instrumental

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Foto: Andreza Silviano Francisco

O Mais Valia é um trio instrumental de pós-rock com tendência ao stoner. Alexandre Palacio (baixo), Ricardo Cezario (guitarra) e Vitor Martins (bateria) produzem um som bem climático e desacelerado, o que também evidencia boas doses de space rock. Com esta fórmula, eles acreditam estar pintando o retrato sonoro de uma paisagem que representa a sociedade contemporânea e seus aspectos conflituosos. Até chegar no recorte musical buscado, eles passaram cerca de dois anos experimentando. Dessas sessões saiu o repertório do primeiro álbum, lançado pela Sinewave no ano passado.

O disco de estreia abriu portas para garantir a presença da banda do interior paulista nos lineups de festivais como o Exhale The Sound, em Belo Horizonte, na Casa do Mancha e no Sinewave Fest, em São Paulo, além de uma turnê pelo Rio de Janeiro e Cabo Frio. O trio também passou por eventos como o Grito Rock (Jaú, Bauru e Guaíra, no estado de São Paulo), o Rockeria, em Jaú, o Circuito Paulista de Festivais Independentes e a Virada Cultural de Botucatu.

A experiência ao vivo colaborou para deixar os músicos ainda mais seguros e entrosados, o que se comprova no novo EP, Mesopotâmia, que o Noisey apresenta nesta terça (21) com exclusividade. O lançamento traz duas músicas concebidas dentro do projeto global Converse Rubber Tracks, e foi gravado no Family Mob Studios com a supervisão de Jean Dolabella.

Ouça o disco enquanto lê a entrevista com o baixista Alexandre, que falou sobre marxismo, a experiência de gravar no esquema bancado pela Converse, a cena interiorana de onde os caras vêm e a respeito desse lance de traduzir musicalmente uma paisagem social.

Noisey: Sendo esta a primeira matéria que a gente faz do Mais Valia no Noisey, tomo a liberdade de começar pedindo para que conte um pouco de como a banda se formou, com que proposta, e dê um panorama para os leitores da caminhada até aqui.
Alexandre Palacio: A banda se formou com a proposta de produzir som autoral de uma maneira livre a partir de improvisos que surgiam durante longas sessões de ensaio. Nesses encontros não conversávamos sobre referências, estilo musical ou algo do tipo, a ideia era simplesmente experimentar e curtir o momento. Inclusive éramos um quarteto no início. Nos primeiros shows tocávamos alguns temas e improvisávamos de acordo com o que estava rolando ali no momento, e cerca de um ano depois, já como um trio, esses improvisos amadureceram e se tornaram sons que foram lapidados e gravados em nosso primeiro disco. De lá pra cá muita coisa boa aconteceu, como a ligação com o selo Sinewave, passagens por alguns festivais, participação do projeto Original’s Studio, da Levi’s, que nos possibilitou gravar e lançar o último single, “Flamingo”, o próprio Converse Rubber Tracks, que nos presenteou com esse EP — e, o mais importante, que foi ter conhecido muitas bandas e pessoas fodas e interessadas em fazer acontecer.

O que este novo EP pela Sinewave traz de novo ao som da banda? Digo tanto em termos de gravação e sonoridade como em pegada e influências.
Realmente tiveram alguns novos fatores, até porque iniciamos o processo de composição focado nesse formato e buscando uma unidade entre os dois sons, que tivesse uma estética e uma história própria. É natural, após terminar um projeto como o primeiro disco, notar alguns pontos em que você sente que poderia ter feito melhor ou diferente, e aprender o que nem imaginava. E parecem ser coisas que você realmente aprende na prática, com a experiência de entrar num estúdio pra gravar, amadurecendo os timbres e a pegada de gravação, que nem sempre é a mesma que se tem tocando ao vivo num palco, ainda que busquemos apresentar o mais próximo das gravações ao vivo. Nunca tentamos, mas temos a sensação de que simplesmente não funcionaria gravarmos separadamente, e talvez as coisas sairiam de uma maneira bem diferente da qual estamos acostumados. Mesmo na gravação, com o som já amadurecido, gostamos de deixar a coisa fluir naturalmente, porque sempre pode surgir algum detalhe novo ali naquele momento mágico, fechado no estúdio.

Qual é a fita por trás do nome da banda? Vocês são marxistas ou algo do tipo?
Na verdade acreditamos que o uso dos famosos “ismos” mais limita do que agrega, mas a base para o nome da banda vem sim da influência do termo criado por Marx e da análise que ele fez sobre o contexto em que vivia, durante o amadurecimento desse modelo de sociedade moderno-urbana industrializada. E infelizmente a maior parte daquela lógica ainda se aplica nos dias atuais, mais de um século depois, e é cada vez mais necessário expor os fatos e estimular o debate.

Muitas bandas do Converse Rubber Tracks foram gravadas no Family Mob Studios, inclusive o Mais Valia. Vocês acham que cada estúdio acaba imprimindo a sua estética a todas as bandas que passam por ele? No caso de vocês, por exemplo, como rolou o processo e com que ideias de captação e sonoridade vocês entraram e saíram do estúdio?
Escutamos muitas bandas que passaram pelo estúdio e, após um tempo, é possível, sim, ouvir a identidade do lugar, e isso é incrível. Além da sala, mesa, amplificadores e válvulas, a captação e mixagem são feitas por mãos e ouvidos humanos que têm seus referenciais e isso é impresso na sonoridade final. Foi muito gratificante poder gravar com os caras, o Jean Dolabella, o Fábio Gomes e o Skero, que participaram de todo o processo. No nosso caso, tentamos fazer com que as coisas fluíssem da melhor maneira possível, gravamos ao vivo, no cara a cara, e depois foram adicionados apenas alguns overdubs de guitarra em estéreo. Deixamos o processo bem aberto, sem muitas intervenções e com espaço para o Fábio fazer o que entendemos ser uma “mixagem criativa”, imprimindo suas opiniões e experimentando. Felizmente ele soube captar muito bem a sonoridade da banda e nossas referências estavam muito próximas, porque a primeira audição já nos deixou incrivelmente satisfeitos.

A capa do EP ficou bem louca. Ela tem uma mensagem ou conceito que representa a banda, ou é só uma ilustração que vocês acharam bonita?
A capa foi produzida pelo Fernando Chamarelli, que é um grande amigo da banda. Falamos sobre o conceito do EP e o resto partiu dele. Não poderíamos ter ficado mais satisfeitos, porque ficou como a imagem e a leitura do nosso som, feita por um artista com uma sensibilidade incrível. Então foi fantástico poder ter nosso som representado pela arte do Chamarelli.

Como é o rolê de vocês em Jaú? Rola uma cena, uma galera agilizando as coisas, bandas irmãs?
Jaú é uma cidade do interior em uma posição relativamente favorável, bem ao centro do estado de São Paulo. Mas a produção de música autoral está bem desaquecida no momento, ainda que já tenham florescido ótimas safras de boas bandas por ali. E sem dúvida a criação da Mais Valia é estimulada por isso e pelo que rolava quando éramos mais moleques. Mas fora dos grandes centros a análise de uma manifestação cultural fica muito limitada se fecharmos os projetos apenas nos municípios específicos, então gostamos de abordar tudo isso pelo conceito de região, onde aí sim é possível enxergar um ambiente extremamente fértil, resistindo em meio a diversas limitações de maior ou menor ordem. Em Jaú (Black Bull Fuzz; Psiconauta), Bauru (Autoboneco, La Burca, Bertran de Born, Elephant King, The Bad Mind Temper), São Carlos (Krokodil, Aeromoças e Tenistas Russas), Botucatu (Assopro, Die) e Ribeirão Preto (Dresden), existem ótimas bandas e público interessado. Já pensou se a estrutura e acesso a ambientes de difusão acompanhassem essa onda? Cada vez temos mais clara a ideia de que “a cena” dificilmente vai se reproduzir pelos meios formais. O interesse ali é outro, portanto nos parece que fica na mão de quem produz algo fora dos padrões difundir o seu próprio trabalho.

Como é possível produzir apenas instrumentalmente um "retrato da paisagem sonora ligada à sociedade moderna, seus conflitos, abusos, aflições e necessidades", como assinala o texto de apresentação do primeiro álbum?
Música é uma representação artística extremamente abrangente. Sua produção e distribuição acabaram tomando formas industriais no decorrer do último século, e um padrão foi estabelecido por meio da massificação cultural ligada ao processo de globalização. A maioria das músicas pop (do axé ao metal) seguem esse formato. Não temos a pretensão de revolucionar o modelo, porque crescemos dentro desse contexto e fazemos uso de vários elementos dele, mas a desconstrução faz parte da força motriz na Mais Valia, que foi criada para servir como instrumento coletivo de abstração a todas essas amarras, visíveis e invisíveis, que nos cercam. Gostamos muito de uma definição usada pela Sinewave para retratar as bandas do selo: todas elas distorcem o conceito de música "certa", tocam alto, pesam e sangram. Sangue metafórico faz parte da pauta política, social e cultural nos dias de hoje.

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Ressignificando o crust com o Deaf Kids

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Divulgação

Configuração do Lamento, o sétimo álbum do trio crust egresso de Volta Redonda, Rio de Janeiro, encara com muito mais consequência a proposta de endoidar o quanto possível. O projeto encabeçado pelo Dovglas Leal (guitarra, voz) – com Mariano de Melo na batera e Marcelo dos Santos no baixo –, que começou numa linha d-beat, mas que sempre teve seu viés experimental, agora caminha para um exercício de desconstrução do crust. A diluição das fórmulas identificáveis do estilo num encadeamento de ruídos catárticos, sujos e dissonantes. Impressiona como os caras conseguem pegar um emaranhado de zunidos de distorção e combiná-los de modo que tudo vire uma massa sonora harmoniosa em sua discordância.

A temática do disco remonta à história e à cultura da exploração da América Latina e suas raízes intrínsecas. Uma linha do tempo invisível que conecta o passado, o presente e o futuro dessa jornada sangrenta, e fala de como isso se reflete em nossas relações e estruturas sociais, políticas e psicológicas. A distopia permanente do terceiro mundo, tal qual abordada na faixa que encerra a obra. O Dovglas explica que “a ideia é de gerar uma sensação física, do disco ser todo emendado a ponto de dar a volta em si mesmo pra passar essa noção da história se repetindo, de um loop de estado permanente das coisas. Aí foi dando nessa doidera.” Segundo ele, “desde o último lançamento a gente foi entrando nessa de fazer sons cada vez mais frenéticos. Moramos juntos há quase dois anos aqui em São Paulo, então somou um monte de coisa.”

O trampo foi gravado ao vivo no Family Mob Studios no começo de maio, com mixagem e masterização no estúdio Jukebox, em Volta Redonda. A faixa "Distopia Permanente" foi editada pelo Bernardo Pacheco, guitarrista do Elma e baixista do Are You God?, e a arte da capa é do próprio Dovglas. O material vai ser lançado em cassete pelos selos Raw Records, de Brasília, Burning London, de Belo Horizonte, e Untitled Tapes, da Alemanha.

Em breve, sai do forno também em vinil 10''. Nesta quinta (23) tem show de despedida da banda no Madame, já que na sequência eles partem para uma turnê europeia. Chance única de curtir os sons novos ao vivo antes de setembro.

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