Quantcast
Channel: VICE BR - Noisey BR
Viewing all 1388 articles
Browse latest View live

John Berry, um dos membros fundadores do Beastie Boys, morre aos 52 anos

$
0
0

John Berry, um dos membros da formação original dos Beastie Boys, morreu nesta quinta-feira (19). A informação foi confirmada pelo pai do músico à revista Rolling Stone dos EUA. Ele tinha 52 anos.

Em 1978, Berry era guitarrista do The Young Aborigines, um trio de post-punk novaiorquino formado pelo Mike D, que na época tinha 15 anos de idade, na batera e a futura baterista da Luscious Jackson, Kate Schellenbach, na percussão. Com a chegada do baixista Adam Yauch, em 1979, a banda trocou de nome para The Beastie Boys e começaram a tocar um som mais hardcore. 

Numa entrevista à Spin em 1998, Berry disse que o novo nome do grupo foi sua ideia. Ele explicou que a ideia surgiu a partir da noção de que eles precisavam "ser uma gangue tipo da Elks Lodge". "Nós tínhamos apertos de mão secretos e essas coisas. E a proposta era usar roupas antigas do Exército da Salvação e fumar charutos. Na real, o que a gente queria era andar por aí causando e enchendo o saco de todo mundo". 

Berry ficou na banda até o lançamento do disco de estreia, o Polly Wog Stew (1982), um EP de punk bem furioso com oito músicas e apenas 10 minutos de duração e que tem poucas semelhanças com os últimos trabalhos dos Beastie Boys. Mas a ambição e a energia da banda estavam ali desde o começo.

O guitarrista original saiu do Beastie Boys devido a uma combinação de problemas com drogas e desinteresse: "A cada dia eu chegava mais e mais desinteressado pra ensaiar", eles disse ao Spin. "Várias vezes, eu aparecia louco de cristal. Não tava dando muito certo". Ele foi substituído pelo Adam Horowitz, que deu ao Beastie Boys a identidade que conhecemos hoje.

O Berry continuou fazendo música depois de sair do Bestie Boys, tendo participado das bandas Thwig, Big Fat Love e Bourbon Deluxe. Abaixo, um vídeo raro do Berry tocando com o Big Fat Love em 1996, com todos os membros do Beastie Boys na plateia. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter


O Facada transformou “Igreja”, dos Titãs, num atentado grindcore anti-religioso

$
0
0

“Igreja”, dos Titãs, é uma das versões que estão no próximo disco da banda de grindcore Facada. O álbum, que em breve sairá por uma parceria entre os selos Läja Records, do Brasil, e o EveryDayHate, da Polônia, é inteiramente dedicado a covers repaginados pelo estilo brutal do grupo cearense. A maior parte do repertório, guardadas as peculiaridades, traz bandas mais alinhadas ao som do próprio Facada, como Dorsal Atlântica (“Dor”), Blasphemy (“War Command”), Napalm Death (“Cause and Effect”), Ratos de Porão (“Traidor”), Rot (“Rubbish Country”) e Sarcófago (“Deaththrash”). Mas, ali no meio, rolam umas escolhas que surpreendem, como Nirvana (“Tourette’s”), Hüsker Dü (“Obnoxious”) e Misfits (“Hybrid Moments”).

Não que o gosto eclético do quarteto fosse inesperado, mas é que não tem nenhum Slayer, Bathory ou Discharge no bagulho. Ainda assim, tem essa do Titãs. “Quem conhece a música e a letra de ‘Igreja’ sabe que é quase black metal”, argumenta o vocalista e baixista Carlos James, em justificativa à escolha. “Além do disco Cabeça Dinossauro ser muito bom e bem punk. Quem achar ruim, acho que não nos conhece, não conhece e não gosta de música, não lê e nem interpreta letra. Sugiro respirar profundamente, beber uma água e ir escutar Blasphemy.”

Ninguém aqui está achando ruim, até porque ficou ducaralho. Ele explica que a proposta não foi fazer um álbum compilando as referências dos subgêneros do metal e do punk reconhecidas diretamente na identidade do Facada, mas, sim, reunir os nomes dos quais eles são realmente fãs. Dizer que somos fãs de toda a discografia é exagero”, pondera Carlos, “mas da maioria delas e dos respectivos discos a gente é fã die hard. Algumas delas eram bem antigas, muito boas músicas, mas com gravações não tão legais. São dessas músicas que sempre falávamos: ‘Uma versão do Facada ia ficar foda!’.”

O álbum de versões será chamado de Nenhum Puto de Atitude. Sendo um trabalho de covers, a ideia consistiu em trazer um indício dessa proposta para o nome, que veio de uma brincadeira com o disco de covers do Slayer, Undispputed Attitude. Outras ideias vieram antes dessa, como Panelada Acidente, de zoeira com a zoeira do Ratos em relação ao Guns. Já a capa, foi elaborada tomando por base a imagem que estampa o primeiro do Secos & Molhados. Ao invés das cabeças postas à mesa, apenas os crânios, já decompostos da carne.

É louco que eles nem ensaiaram as versões, e “Coraxo” (Impaled Nazarene), fazia parte do set list desde a época da demo. “Só passávamos uma vez pra ver como ficava e já gravávamos na sequência”, detalha o músico. “Nossa adaptação foi só antes de gravar. Já combinávamos como seriam as partes: rápidas, lentas, e se teriam blast ou não”. Quem conhece o esquema criativo do Facada está ligado que eles têm mesmo essa química fodida e geralmente conseguem resolver tudo de primeira, até as faixas com as passagens mais quebradas e complexas.

A ideia de fazer um álbum só de covers existe desde que saiu O Joio, em 2009. A princípio, em formato de EP, como um lado de um split. Só que não rolou e eles acabaram se concentrando no Nadir (2013). Concluído este que é o feito mais recente do Facada, eles resolveram gravar mais músicas das quais gostavam. “Aí tivemos que fazer um álbum, porque os sons iam aparecendo. Cada um chegava e dizia: ‘a gente devia tocar essa’, e a lista foi aumentando”, o Carlos explica. O legal, pra quem curte o som da banda, é que, na sequência das gravações de Nenhum Puto de Atitude, eles já emendaram o registro das novas composições autorais. As covers foram mixadas primeiro, a fim de que a obra possa repercutir legal enquanto o guitarrista Ari, que está em Berlim, finaliza as partes dele de lá.

Então olha só o que vem pela frente: um split com o Hutt, cujas músicas já estão gravadas, pela Criminal Attack Records; o álbum novo, que tem até nome definido, Quebrante, agora no segundo semestre pela Black Hole; e o relançamento do Indigesto via Pecúlio Discos.

Fora isso, neste fim de semana tem Facada ao vivo em São Paulo. Flagra o serviço:

O Facada está no Facebook e no YouTube

Siga o Noisey nas redes: Facebook | SoundCloud | Twitter

O museu do ABBA é uma compilação de fatos aleatórios e bizarros

$
0
0


Foto por Åke E:son Lindman, cortesia do ABBA: O Museu

Se você não conhece Estocolmo, a capital da Suécia, recomendo fortemente que vá dar uma olhada no lugar. A cidade foi construída sobre um conjunto de 14 ilhas, ligadas por pontes que são uma delícia percorrer de bicicleta. Talvez a mais impressionante e esquisita dessas ilhas seja Djurgården, cujos imóveis são quase que exclusivamente ocupados por museus. É onde fica o Skansen, um espaço a céu aberto que funciona como zoológico e museu de arquitetura. Há também a Thielska Galleriet, uma galeria de arte dedicada às obras do final do século 19 e início do século 20. Há o Museu Nórdico, cujo objetivo é preservar a história da região, e o famoso museu marinho Vasa. E tem também o ABBA: O Museu, que é exatamente o que o nome anuncia.

Significativamente, ABBA: O Museu também funciona como o Hall da Fama da Música Sueca. A Suécia é um país de apenas dez milhões de habitantes, coisa que torna mais impressionante ainda a capacidade do país de soltar no mundo artistas tão diferentes entre si quanto Robyn, The Knife, Entombed, e Refused (todos os quais são homenageados de alguma maneira no museu). Mas cada um desses artistas ocupa apenas alguns centímetros em uma sala cujas dimensões provavelmente equivalem a ¼  do museu do ABBA. O que é basicamente uma afirmação, por parte do governo sueco, de que, se você juntasse absolutamente todos os bons músicos já surgidos e que ainda surgirão no país, eles ainda não teriam a mesma importância que o ABBA na história da música sueca.


Foto por Åke E:son Lindman, cortesia de ABBA: O Museu

Desde meados da década de 70 até o início dos anos 80, o grupo composto por dois homens e duas mulheres lançou oito discos, que venderam mais ou menos 400 milhões de cópias. Eles compuseram “Dancing Queen”, talvez a maior música sobre dança jamais feita, e “Waterloo”, talvez a música mais contagiante da história a usar Napoleão como uma metáfora central. A música deles foi transformada no Mamma Mia!, o oitavo espetáculo mais longevo na história da Broadway, e num filme que arrecadou US$600 milhões, estrelando Meryl Streep. A atriz afirma que a primeira temporada do musical na Broadway a ajudou a vencer o desolamento pós-11 de setembro. Axl Rose era fã do ABBA, uma coisa que parece tão verossímil quanto Rasputin curtir muito as poesias de Wordsworth. Eles são tipo o Fleetwood Mac, se o Fleetwood Mac tivesse inspirado um orgulho ardorosamente regional como no caso do E-40 com a Bay Area.

Mesmo com esse lance todo do museu, é difícil explicar o tamanho da importância do ABBA no seu país de origem. É mais ou menos assim: imagine que Nas e Kelis ainda estivessem juntos, e decidissem formar um grupo com seus grandes amigos Jay Z e Beyoncé. DEPOIS, imagine que, além de imediatamente se tornar o grupo musical mais famoso dos EUA pelo simples fato de existir, também fosse o dever implícito desse grupo se tornar internacionalmente famoso, e então representar os Estados Unidos em um palco mundial, porque até então literalmente nunca houvera uma banda americana famosa. Agora, imagine que isso se passa nos anos 70, e esse grupo de algum modo conseguiu concretizar esse objetivo insano e praticamente impossível, e por várias vezes, e que eles eram suecos pra caralho também. O ABBA é isso.


Foto por Åke E:son Lindman, cortesia do ABBA: O Museu

Hoje em dia, muitos dos mais requisitados artesões de canções da música pop são, em vários casos, suecos, mas eles são quase todos personagens que operam nos bastidores. Pessoas anormalmente talentosas como Max Martin, Shellback e RedOne acabam todas entregando suas músicas pop bizarramente contagiantes a lindos cantores e cantoras pop americanos, para que assim possam se tornar sucessos. O ABBA é um avatar de uma época mais simples, mais gloriosa da história musical de seu país, em que cancionistas despretensiosos e caseiros podiam se juntar com suas parceiras razoavelmente atraentes, e cantar eles mesmos a droga da música, com todo mundo usando botas de salto alto e roupas com lantejoulas, abrindo sorrisos maníacos sempre que uma câmera passava por perto. Até mesmo a nulidade das letras do ABBA mostrou-se, com o passar dos anos, uma grande vantagem para a banda. Foi o que permitiu que “Dancing Queen” se tornasse um hino gay, e é um dos motivos de Mamma Mia! funcionar tão bem como um musical. É fina a linha que separa a composição de uma música sobre coisa nenhuma e a de uma música que pode ser sobre qualquer coisa, e o ABBA a percorreu lindamente.

Acredito que a história será gentil com o ABBA; pois, na verdade, o ABBA já escreveu uma parte grande pra caralho dela. ABBA: O Museu moderniza e “museifica” o arco básico da banda – essencialmente, os principais caras de duas das maiores bandas da Suécia se tornaram melhores amigos, e então cada um deles se casou com uma cantora famosa, e aí eles viraram uma banda que soltou sucesso atrás de sucesso, até que todo mundo se divorciou, e então, 20 anos depois, o Mamma Mia! Aconteceu, e todo mundo no ABBA ganhou quantias ridiculamente enormes de dinheiro. Há a exposição sobre o ABBA pré-ABBA, cujos itens mais notáveis são metade dos veículos em que as antigas bandas dos integrantes Björn Ulvaeus e Benny Andersson, The Hootenanny Singers e The Hep Stars, haviam saído em turnê – no sentido de que alguém cortou ao meio os carros velhos de cada um desses caras, e colou as metades na parede do museu do ABBA. Depois dessa, há a exposição sobre a Ascensão do ABBA à Fama, que explica que Ulvaeus e Andersson, junto com suas respectivas esposas Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad (ambas já famosas por méritos próprios) ficavam compondo umas músicas para as quais ninguém dava a mínima, até que o single deles chamado “Waterloo” venceu o concurso de canções Eurovision de 1974, e eles estouraram. Depois há uma sala dedicada à época dourada do ABBA, que inclui a mesa de som na qual eles fizeram a maior parte de seus discos. Há exposições dedicadas ao tino para os negócios que tinha o empresário da banda, às roupas de palco, às miríades de discos de ouro e platina obtidos, aos microfones, aos equipamentos do estúdio, e ao ritual pré-show da banda.


O banner promocional das estátuas dos membros do ABBA, no site do ABBA: O Museu

Não é necessário dizer que o lugar contém mais estátuas do ABBA do que é possível contar de cabeça (NA ÉPOCA ELES ERAM INCRÍVEIS. HOJE ESTÃO COM UMA CARA INCRÍVEL – VEJA AS ESTÁTUAS EM TAMANHO REAL DO ABBA NO MUSEU!”, sugere o banner que há no site do museu). Além disso tudo, há um monte de exposições interativas, todas elas no mínimo moderadamente desorientadoras. Há uma mesa de som falsa em que você pode tentar e não conseguir mixar uma música do ABBA, um monte de cabines de karaokê com músicas do ABBA, e uma máquina incrivelmente aterrorizante que escaneia seu rosto e o coloca no corpo de um integrante do ABBA – o que eles chamam de seu “ABBAtar”. Por mais improvável que seja, há também um display interativo que fornece informações sobre o Watain. Mas esse display é difícil de encontrar, e as informações são em sueco, porque o display fica no Hall da Fama da Música Sueca, uma área de tão baixa prioridade que o pessoal que administra o lugar só se deu ao trabalho de traduzir uma pequena parte dos textos para o inglês. O museu do ABBA, por outro lado, conta com traduções inglesas em praticamente tudo.

Graças ao museu do ABBA, eu agora conheço uma quantidade bizarra de fatos aleatórios sobre a banda. Sei que o nome original do ABBA era Björn & Benny, Agnetha & Anni-Frid, e que nos primeiros anos eles não conseguiam entender por que ninguém gostava deles, até que um dia se deram conta de que o nome era uma merda. Sei que o empresário do ABBA, Stig Anderson, era um homem extremamente severo, mas muitas vezes afetuoso, porque o museu do ABBA fez questão de me informar disso. Sei que Björn e Benny compuseram os maiores sucessos do ABBA numa mesa de cozinha, porque o museu do ABBA contém uma reprodução da cozinha em que eles criaram músicas como “Waterloo”, “Mamma Mia” e “Dancing Queen”. Sei que o ABBA foi pioneiro no recém-nascido ramo da produção de clipes, e que a assinatura visual deles era incluir diferentes combinações dos rostos de cada integrante na tela, porque o museu do ABBA exibe em loop um documentário sobre os clipes da banda. Sei que o helicóptero que aparece na capa de Arrival (o disco de “Dancing Queen”) é muito pequeno, porque alguém o enfiou numa sala do museu do ABBA.


Foto por Åke E:son Lindman, cortesia de ABBA: O Museu

Mais do que qualquer outra coisa, porém, o museu do ABBA é um monumento às dimensões completamente insanas do sucesso que o ABBA fez. Desde que arranjaram um nome que não era imperdoavelmente pavoroso, eles não só venderam quantidades absurdas de discos e ganharam quantias absurdas de dinheiro, como também deram legitimidade à Suécia como uma fonte de música, o que significa que todo mundo desde o Ace of Base, passando pelo Icona Pop e chegando até o Watain, deve a eles no mínimo um pouco de gratidão (ou, no caso do Watain, talvez um sacrifício de sangue).

Até hoje, o ABBA é para a música pop sueca o que os Beatles foram para o rock, ou James Brown foi para o funk – um grupo que criou um novo e revolucionário conjunto de valores musicais. Se os Beatles inventaram a música moderna e James Brown foi o pioneiro de uma pose, de uma atitude e de uma ousadia que seriam imitadas pelas gerações seguintes, o ABBA foi basicamente o pouso na lua da IKEAização [N. do T.: referência à IKEA, multinacional sueca especializada na venda de móveis domésticos de baixo custo] do pop. A música deles era um tanto vazia, não corria riscos, e não significava nada a um primeiro olhar, mas suas melodias eram tão à prova de balas, as canções tão estruturalmente puras, como um diamante ou uma bela mesa Malm, que fica impossível negar a genialidade deles.

E há também o nível insano de detalhismo que o pessoal do ABBA aplicava em tudo o que fazia. “S.O.S” foi composta em tom ré menor, o que é algo muito, muito difícil de se conseguir, dado que, nas palavras de Nigel Tufnel, do Spinal Tap,  é um tom que “faz as pessoas começarem a chorar imediatamente”. Igualmente impressionante é o fato de que “Move On” é escrita em tempo de valsa – algo bem distante dos ritmos four-on-the-floor usados por muitos contemporâneos da banda. Ou que em “Money Money Money” o grupo alcança uma nova nota a cada vez que canta a palavra “Money”. Com certeza, o ABBA não tinha necessariamente que fazer nenhuma dessas coisas, mas o museu deles argumenta que, sendo o ABBA, o pessoal cujo trabalho – não, responsabilidade cívica – era criar sucessos da música pop de alcance global monoliticamente gigantescos, a coisa não valeria a pena se eles não incluíssem aqueles pequenos floreios no pacote.


O ABBAtar do autor / Foto do autor

É essa tendência a encarar uma grande obra de arte da mesma maneira que talvez se encare um produto comercial perfeito, com as idiossincrasias e personalidades de seus criadores incrustadas no artesanato de uma obra, e não focando em sua mensagem direta, que torna muitas obras de arte nórdicas supremamente interessantes. Por exemplo, se você nunca ouviu falar sobre o escritor norueguês Karl Ove Knausgård, e alguém chegasse dizendo: “Bem, o cara só pega e escreve um livro sobre si mesmo, ele fazendo coisas normais, e as ferramentas literárias que usa são meio clichê, e os diálogos são às vezes bem artificiais, mas ele é considerado um dos maiores escritores vivos do mundo!” você provavelmente ficaria confuso. Mas, se você sentar para ler um dos livros dele, acaba entendendo qual é o lance da escrita de Knausgård, que é completamente diferente do objetivo por ele declarado de “escrever algo que seja significativo”. (Para os que acompanham, Knausgård hoje em dia odeia a Suécia mas continua morando lá, coisa que – vai entender. De qualquer forma, Karl Ove, se você estiver lendo esse texto, repare em mim, senpai!!) E é basicamente isso o que rola com o ABBA – uma música como “Waterloo” ou “Dancing Queen” não vai atingir níveis Bob Dylanescos de profundidade na letra, mas basta ouvir uma vez para que aquilo não saia da sua cabeça nunca mais. Isso não é nada fácil.

Já que o museu do ABBA foi criado com base principalmente em contribuições da própria banda, ele contém uma boa quantidade de omissões bastante escandalosas. O museu só menciona de passagem os divórcios entre Agnetha/Björn e Anni-Frid/Benny, que resultaram na separação da banda, e as placas insistem estranhamente em afirmar que a banda está em hiato, apesar de o grupo já haver declarado repetidas vezes que jamais gravará novas músicas e nunca mais se apresentará ao vivo. Embora a banda tenha contado com uma boa quantidade de detratores (o lendário crítico de rock Robert Christgau certa vez se referiu a eles como “o inimigo”), o museu joga os haters para escanteio, grudando no canto de uma sala um pôster contendo dois mini-ensaios de estilo ambíguo que na prática descartam as cenas progressiva e de esquerda da Suécia. Em ABBA: O Museu, é preciso buscar ativamente por evidências de que a Suécia já teve alguma outra música além do ABBA, e então você é informado de que essa música era, basicamente, um lixo.


Foto por Åke E:son Lindman, cortesia do ABBA: O Museu

E também tem todo o lance de o museu do ABBA só aceitar cartões de crédito e débito, o que é uma coisa bem normal, quando você leva em conta que impressionantes 80% de todas as transações feitas na Suécia são conduzidas via cartão, e que a nação já está bem encaminhada no objetivo de abolir o dinheiro vivo. Mas aí a coisa se complica quando você se lembra de que o porta-voz de fato da ideia de abolir o dinheiro vivo na Suécia é ninguém mais, ninguém menos, do que Björn Ulveas, do ABBA, que, numa declaração publicada no site de ABBA: O Museu, insistiu que a abolição do dinheiro vivo acabaria por causar uma diminuição nos crimes relacionados às drogas (coisa que: risos). Mesmo quando se passa por cima do quanto isso é uma coisa totalmente não-rock-n-roll, há um quê muito sinistro em como ABBA: O Museu ignora tudo no mundo que não seja 100% cor-de-rosa.

Assim como eles serem todos sorriso o tempo inteiro fazia o ABBA ter um efeito muito mais sinistro do que o conseguido por qualquer shock rocker da história – é sério, veja o clipe de “Waterloo” e tente não ir se esconder debaixo da cama –, a marcha forçada da alegria do museu, que apresenta o ABBA como a única banda sueca do universo até o momento em que eles resolveram se aposentar e permitir que as outras bandas suecas acontecessem, parece algo quase totalitário. Não digo isso para criticar a banda ou o museu dedicado a ela, de modo algum, contudo – trata-se de uma imagem perfeita do ABBA enquanto banda, ainda que seja um reflexo horrível da realidade. Mas, falando sério, quem quer viver na realidade? A realidade é triste e inconveniente. É um lugar em que temos que enfrentar o caos, o conflito, e, por fim, a morte. A coisa que torna o ABBA algo ao mesmo tempo mágico e aterrorizante é que eles descobriram como existir inteiramente separados de tais trivialidades deprimentes, encontrando a imortalidade na ordem e na alegria.

Drew Millard é um dancing meme. Siga-o no Twitter.

Tradução: Marcio Stockler

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O novo clipe da Amigo Imaginário é um cartão postal bucólico de Garopaba

$
0
0

Garopaba é uma cidadezinha de mais ou menos 18 mil habitantes que fica no litoral de Santa Catarina e é um ponto marcado de férias/feriado pra quem mora no sul do país. Mas, no lugar de explorar o lado solar das praias garopabenses, os gaúchos da Amigo Imaginário resolveram fazer uma homenagem mais bucólica pra cidade. Foi assim que surgiu a faixa "Garopaba", que ganhou clipe nesta terça-feira (24) e você assiste com exclusividade aqui no Noisey.

"Existem muitas músicas alegres que falam sobre praia e verão", disse Vinícius Malinoski, vocalista do grupo e diretor do vídeo. "Fiz um lance mais sombrio, porque, quando estava compondo a letra, descobri que meu pai estava com câncer  — e ele mora em Garopaba". explicou. "Além disso, estava lendo o 'Barba Ensopada de Sangue', livro do Daniel Galera que conta a história de um professor de educação física que vai pra Garopaba após a morte do pai". 

O vídeo é tipo um cartão-postal da cidade com o rock instrospectivo da faixa como plano de fundo. "Garopaba" faz parte de A Vida Que Falta, primeiro disco cheio da banda, que também é formada por Guilherme Rech (guitarra e voz), Pedro Perurena (baixo) e Vinicius Facco (bateria e voz). Assista ao clipe acima. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Twitter

O Filipe Alvim quer que você se sinta beijado com seu novo sete polegadas, ‘Vida Sem Sentido’

$
0
0


Creditos: Divulgação/Tamires Orlando

Radicado na Baixada Fluminense, o mineiro de Juiz de Fora Filipe Alvim é um jovem pai, canhoto e músico autodidata com uma certa predileção por clichês. Ele está lançando nesta terça (24), pela Pug Records, o sete polegadas do seu single “Vida Sem Sentido”, em uma exclusiva versão autografada e beijada.

“É legal que algumas pessoas tenham isso em mãos, com autógrafo, beijo, pra ter um certo afeto pelo objeto. Porque essa é uma música que fiz pra minha filha, e tem uma história importante da minha vida ali. É legal que no futuro que isso esteja prensando, e não seja apenas mais uma sequência de bits numa nuvem”, explica. 

Pai da Cecília, de três anos, Filipe sonha em poder sustentar a mocinha com seu talento: “A Cecília é o que me dá forças pra continuar a fazer música. É intensa a pressão de ter que ganhar dinheiro com música ou arrumar um emprego comum, mas eu olho pra frente e não me vejo fazendo outra coisa. Mas a música não paga nem meu cigarro.”

Fã de música radiofônica, Dorgas e Séculos Apaixonados, o mineiro tem um gosto musical bem peculiar. “Os trampos do Gabriel Guerra me influenciaram porque ele não canta bem, além de ser meio cafona, esse clima sedução. Mas ele é um músico foda, sem palavras”. Filipe conta que o Guerrinha chegou a dar uns pitacos em “Vida Sem Sentido”: “Ele falou pra eu colocar uma nota no refrão, que eu penei pra encontrar (risos)”.

Para ajudar na composição do single, Filipe contou com a ajuda de seus amigos: Pedro Tavares assumiu o baixo e Braulio Almeida ficou com a bateria e o solo de guitarra. “Vida Sem Sentido” é o primeiro single de um álbum a ser lançado em vinil no segundo semestre deste ano, o que pra ele é um sonho se realizando: “Eu ainda tenho uma visão muito romântica com relação a discos de vinil, me pego imaginando uma coleção, mostrando pros filhos e tios (que serão os primeiros a pirar) essas coisas...”. Ouça o som abaixo:

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Música, tretas e experimentação: Como a Audio Rebel se tornou a principal casa de música independente do Rio?

$
0
0


Estúdio e reduto do experimentalismo. Foto por Pedro Azevedo/Divulgação.

Free jazz, noise e improvisação se unem ao rockzinho indie e a algum som psicodélico, numa, como diria a minha avó, quizumba sonora que só. Originalmente criada em 2005 como um estúdio, a Audio Rebel, no Rio de Janeiro, abriga também uma loja de discos e desde 2010 se tornou um espaço famoso na cidade por ser um dos berços do que se convencionou chamar de “cena experimental carioca”. Nomes como Cadu Tenório, Negro Leo, Rabotnik, Chinese Cookie Poets, Bemônio e tantos outros projetos/artistas circularam por lá. 

Num espaço que acabou se tornando um dos locais mais famosos de uma cena experimental até então nova para muitos no Rio, música e uma produção de alto nível acabaram se unindo a algumas tretas, mas esse é só um teco da história desse lugar. Só que como disse o menino Leandro, “é necessário voltar ao começo”. Então vamos lá.

O COMEÇO

Produzindo shows de punk e hardcore no Rio de Janeiro (com bandas tipo Dead Kennedys, Agnostic Front, Mukeka di Rato e Dead Fish), alugando equipamentos e estudando, Pedro Azevedo e seu sócio, Daniel Ribeiro, acabaram ficando cansados dos perrengues que passavam. Trabalhar de madrugada, submissão a regras de vários espaços, pagamento de aluguel e transportar um monte de equipamento, já tinha dado no saco e, em 2005, eles decidiram fundar a Rebel, que quando começou ainda não tinha no som experimental a sua marca. “Abrimos sem muita condição de investimento, eu tinha 23 anos na época, e a gente era muito mais relacionado a uma imagem de punk rock, de hardcore, do que com a cena experimental”, conta Pedro Azevedo. Com o passar do tempo, com mais equipamentos e condições técnicas, a parada acabou rolando e muita gente que torcia o nariz pra casa passou a frequentar o local, e é aí que o experimentalismo começa a ocupar a Rebel.

Apesar de muita gente achar que esse burburinho musical meio torto e experimental era uma novidade no Rio, a verdade é que a cena já acontecia. O Plano B, uma antiga loja de discos que fechou as portas em 2014, era o local de encontro de muitos desses músicos — um espaço que ficava embaixo de um prédio residencial, na Lapa, e abrigava uma cena experimental que já acontecia por ali antes de 2010. Pra se ter uma noção, teve selo que tinha site com um catálogo com mais de 50 discos e desencanou, a página simplesmente saiu do ar e lá se foram várias dezenas de lançamentos.


Mais do estúdio de gravação da Rebel. Foto por Pedro Azevedo/Divulgação.

A migração dessa turma para a Audio Rebel começou a acontecer justamente porque era complicado tocar alguns instrumentos no Plano B, um espaço residencial onde ficava difícil montar uma bateria, o que fez com que uma cena de free jazz não conseguisse aflorar, por exemplo. Em 2010 o produtor Filipe Giraknob (Supercordas) e o engenheiro de som e baterista Renato Godoy (Chinese Cookie Poets), acabaram chegando no Pedro, um dos donos da Rebel, com um projeto: levar um artista experimental uma quinta-feira por mês para se apresentar na Rebel. Pedro topou e assim nascia o Quintavant (QTV). “A gente começou a produzir e as coisas começaram a dar certo de uma maneira que não esperávamos, porque pela cena já existir em lugares onde não se cobrava entrada, tínhamos um certo problema pra fazer o pessoal pagar pra ir na Rebel. Tava todo mundo acostumado a ir, ver a galera fazendo um zumbido maldito numa garagem, numa loja de discos e não pagar nada”, recorda o guitarrista do Supercordas, que esteve à frente do projeto até 2011.

O Quintavant deu tão certo que deixou de ser apenas um evento mensal para ganhar corpo como produtora e um selo de bandas. A transformação aconteceu em maio de 2014, e hoje a QTV (que já tem 16 discos em seu catálogo) é responsável pela maioria dos lançamentos das pessoas que frequentam a Rebel. “Tínhamos uma certa urgência em criar essa plataforma que representasse nossos trabalhos, pois o material, as ideias, sonoridade já estavam todas ali com uma certa maturidade”, diz Renato Godoy. “Além disso, está sendo fundamental para estreitar as relações com os músicos locais, do Brasil e de fora do país em colaborações feitas em estúdio e nos shows”. É Renato também quem define a Rebel como “um ambiente de troca onde só se ganha, ali se formaram as bandas do Negro Leo, da Ava Rocha, as parcerias que vem acontecendo entre RJ-SP como Cadu Tenório e Juçara Marçal, a semana do Jards Macalé produzida pelo Thomas Harres, as parecerias entre Paal Nilssen-Love e os músicos locais como Paulinho Bicolor que saiu em turnê com o Large Unit na Europa”.

REDUTO

Para além da QTV como selo dessa geração de músicos, a Rebel também é um dos poucos (se não o único) espaço no Rio de Janeiro a abrigar shows para um público tão restrito. “Enquanto em São Paulo você tem o Fita Crepe, o Dissenso, o S.A., a Casa do Mancha, a Casa de Francisca, a Casa da Luz, as inúmeras unidades do SESC e etc, no Rio basicamente você só tem a Rebel. Então isso ajudou a tornar o espaço muito forte”, afirma o produtor e jornalista Chico Dub, que também acredita que o espaço favorece uma nova oferta de shows na cidade. “Mais do que ter cenas específicas, o Rio sempre foi uma cidade de muitos eventos e festivais. Ou seja, uma programação anual regular que acontece apenas por alguns dias. Estou generalizando um bocado, mas sempre foi muito difícil assistir a coisas incríveis na cidade diariamente ou semanalmente fora do guarda-chuva de um festival”, pondera Chico Dub.


Arto Lindsay em sessão na Rebel com o baterista norueguês Paal Nilssen Love. O resultado está no disco Scarcity. Foto por Victor Malheiros.

O papo do Chico nos leva a lógica Tostines: há poucos espaços para o som alternativo porque há poucos fãs; ou há poucos fãs porque há poucos espaços do gênero? Filipe Giraknob problematiza: "Talvez isso represente o número de pessoas com interesse nesse tipo de cultura. É uma coisa que sempre foi uma questão pra mim: existe mais gente afim de curtir isso e elas não curtem porque não conhecem [o gênero] ou porque a Rebel não cabe? E se for isso, pra mim não tem problema nenhum". Já o dono da Rebel, Pedro Azevedo pensa mais no quesito profissional da coisa. “É uma atividade de guerrilha mesmo, a gente organiza os shows, depende só de bilheteria então é um inferno a vida se você for levar só pelo lado financeiro, a gente faz sem a ideia de conseguir se sustentar só com isso, é um trabalho paralelo. É um trabalho sofrido, a gente vive numa cidade que é tudo muito caro, que as pessoas vão muito mais pra balada, que a música acaba virando uma coisa secundária na vida das pessoas, é muito mais a festa, o ambiente, o hype, e tu tem uma coisa focada em música, então você acaba restringindo muito o seu público, que já é restringido por ser uma música independente, nova, diferente, explorativa, então, é uma rotina de muito trabalho e pouca grana”.

MACHISMO

Trampo de guerrilha, um ambiente focado em música, muita gente circulando e trabalhando junto pra tentar fazer uma coisa acontecer. É esse o resumo usual da cena independente que, como sabemos, é feita na maioria das vezes por homens e para homens. No ano passado, inclusive, surgiram duas denúncias de machismo envolvendo o QTV e a Rebel, ambos reportados por produtoras, uma que não mantém mais qualquer tipo de relação com o local e outra que, apesar dos problemas, continua desenvolvendo um projeto com o pessoal da casa.

No final de 2015, a produtora Tay Nascimento alegou ter sido vítima de um tratamento diferenciado por ser mulher, além de ser assediada por uma pessoa do QTV que não está mais no projeto. “Toda vez que ia num show, quando íamos pra um bar ou mesmo no Facebook, esses caras ficavam me xavecando, me aloprando e eu comecei a expor esses abusos”. Tay conta que viu um comportamento machista durante os quatro anos em que esteve envolvida com o Quintavant. “Na curadoria, no tratamento, no respeito. Mas cara, quando você é mulher, câmera e vive num mundo machista, você tenta levar as coisas com humor e postura se você se importa com a coisa maior: o trampo”, diz ela. “A questão é que depois de um tempo eu cansei de sempre tentarem atrapalhar meu trabalho ou ter que lidar com piadinhas machistas, xavecos, fofocas por parte das pessoas que faziam o evento e que trabalhavam na Rebel”. Pedro Azevedo, responsável pelo espaço, se defende da acusação dizendo que o problema com Tay foi profissional. “Ela fez uma temporada que não foi na Rebel, foi na Comuna, em que os outros participantes do coletivo não gostaram, no sentido de curadoria, e houve um afastamento por outros motivos que nada tem a ver com a questão de gênero”.

Tay, por sua vez, diz que o estopim para o comportamento machista na Rebel aconteceu quando “um dos membros do Quintavant começou a dar indícios de que me tratava diferente por ter uma questão amorosa comigo mal resolvida. E teria me expulsado por isso, mas alegando questões de curadoria que não faziam sentido, já que decidíamos a curadoria juntos. Desde que eu assumi o Quintavant, ele nunca apareceu pra fazer o som e não ajudou em nada — e só voltou a trabalhar quando me tirou [do projeto] a primeira vez”, conta. A produtora e videomaker lembra também de um episódio em que, segundo ela, foi barrada na porta de um show por “questões pessoais e porque eu nunca me calei diante dos acontecimentos machistas que rolavam ali”. O dono do local, Pedro Azevedo, contesta a versão. “Ela não foi barrada, ela chegou num show esgotado e como qualquer outra pessoa que chegasse num show esgotado, não ia entrar. A Rebel são 80 lugares e essa situação de ter ingresso esgotado a gente leva a sério, não dá pra colocar 90 pessoas num lugar que cabem 80”.


Pollaroide da Rebel. Foto por Pedro Azevedo/Divulgação.

Uma outra denúncia de machismo foi feita por Dora Moreira. A produtora se manifestou publicamente no Facebook queixando-se de abuso, misoginia e assédio supostamente cometido por um homem que também não trabalha mais na Rebel. Dora deixa claro que “a minha experiência foi específica com o Quintavant, que acontece ligado à Rebel. Falar que um ambiente é machista pode parecer algo subjetivo, aberto e cair facilmente na máxima de que todos os ambientes são machistas”, afirma ela, que continua: “Eu vejo machismo na forma como algumas pessoas que trabalham lá olham desrespeitosamente para mulheres que chegam. Vejo machismo na inviabilização do trabalho de algumas mulheres (que dão o maior gás na produção do Quintavant, mas que raramente são citadas nos agradecimentos ao projeto). Vejo machismo no acordo tácito dos homens em 'secadas' compartilhadas”.

Pedro, novamente, não concorda com o relatado pela produtora, ainda que seja capaz de enxergar a presença do machismo em outros locais. “Vejo machismo sim em todos lugares que eu frequento, inclusive na Audio Rebel, mas de modo algum eu acho que aqui seja um lugar marcado por isso. Não vou dizer que eu nunca vi machismo aqui dentro, inclusive já vi machismo de várias mulheres sendo reproduzido aqui — diariamente a gente vê uma atitude machista em todos lugares que a gente frequenta. Mas dizer que a gente trata uma mulher diferente em questão de show, de trabalho, eu discordo plenamente”.

Dora também explica que o problema não é necessariamente o de um único local. “O ambiente da música é prioritariamente composto por homens. Sempre gosto de lembrar da ideia da musa inspiradora na canção brasileira, que a priori já coloca a mulher no lugar de objeto e não de sujeito. A grande maioria dos instrumentistas no Brasil são homens, além de boa parte de intérpretes e produtores. As mulheres só são um número relevante enquanto produtoras ou intérpretes”, relativiza. “Na música independente, eles [homens] já são de “esquerda”, já se posicionam à margem do mercado, já sofrem para fazer na vida o que acreditam. Parece que se reconhecer enquanto opressor, enquanto privilegiado em alguma instância iria feri-los imensamente”, reflete. 


Público na Rebel. Foto por pedro Azevedo/Divulgação.

Apesar das tretas, Dora confiou que as coisas podiam mudar e dá a dica. “Eu tendo a acreditar na transformação das coisas, e acreditei que tanto a Audio Rebel quanto o Quintavant poderiam se transformar com isso, porque são projetos que têm um grande valor para a cena independente do país. Mas se esse valor for construído às custas da vida das mulheres, como tem sido, aí ele não existe. É isso que falta a quem ainda está lá entender: os homens estão falando de piadas, de reputação, de ‘roubar um beijo’ de uma moça atraente. A gente está falando da nossa vida, da (im)possibilidade de trabalhar e viver como se quer em um espaço que se diz alternativo”.

Se a casa recebeu muitas reclamações sobre a forma como as mulheres são tratadas? Pedro responde: "Tirando essas duas questões, nunca tinha surgido esse assunto aqui dentro, isso que me chateia, porque a gente tem dez anos de serviço prestado e estamos com uma imagem ainda do que passou ano passado e que representa um pouco do que eu acho mais errado e que vem ocorrendo, de tirar uma polêmica virtual e criar toda essa generalização". 

NOVO PROJETO

No começo de março deste ano, a casa deu início a um novo projeto, a Audio Rebel Convida, que acontecerá por volta de duas vezes por ano, sempre chamando algum produtor/agitador cultural pra montar uma semana de programação por lá. A primeira edição aconteceu sob a batuta de Chico Dub, que foi inclusive o responsável pela ideia. “Eu me convidei”, brinca ele. Baseado no formato do ATP e do Meltdown, o evento surgiu em um show do Trevor Watts e do Veryan Weston que rolou no ano passado. “Caramba, e se eu fizesse um tipo de ocupação aqui, uma espécie de mini festival, durante sete dias consecutivos? E se de alguma forma eu tentasse buscar coisas tão ou mais diferentes e ousadas do que eles já estão fazendo?”, lembra Chico Dub.

Contando com apresentações de nomes como Abstrai Ensemble, Numduo, Somnomono, Beam Splitter, Thomas Rohrer e Estudo de Paisagem na primeira edição, o evento ainda teve exibições do Hanz Memorial Peformance e do AA.LL, um bate papo com o artista Raul Mourão e Mauricio Chris Calvet, a prévia do livro de fotografias do Mauricio Valladares, e um final mais do que justo para a mostra: uma versão de Musicircus, do John Cage, em que qualquer um, sendo músico ou não, poderia tocar.

Depois do primeiro evento, que foi um pouco prejudicado pelas chuvas que aconteceram no Rio, o Pedro já deu a letra que novas edições estão por vir. “Outras pessoas já vieram falar que queriam fazer uma semana aqui. Um pessoal próximo, como o DEDO, que é uma banda com três pessoas muito criativas, designers, que estão sempre aqui, nós pensamos em convidar a Jô Hallack, que é uma agitadora que também aparece sempre, a Letícia Brito, que participa do Quintavant também já se propôs”.

HOJE

Atualmente a Rebel segue com a casa cheia. Abre todo dia como estúdio/loja e o palco para shows é ocupado no mínimo cinco vezes por semana. Tem também alguns funcionários fixos. "Uma pessoa da limpeza, um cara na loja, um no bar, eu e mais dois nos ensaios e shows e, às vezes quando tem gravação, a gente contrata alguém de fora", explica Pedro, que diz que já tem uns dois meses que todo santo dia tem banda tocando por lá.

De 2005 pra cá muita coisa mudou, lembra Pedro. "Foram muitas e muitas mudanças, quando eu abri a casa tinha 23 anos e abrimos com um investimento baixo, mas acho que uma das mudanças foi quando o estúdio de gravação ficou pronto, em 2007, por aí. Acho que outra coisa que mudou a casa foi a sequência de shows do Arrigo Barnabé, em 2014. Depois das apresentações dele, uma galera meio da MPB, de outros gêneros musicais que eu acho que torciam um pouco a cara pra Rebel passaram a admirar a querer fazer parte. Outra coisa importante foi quando o Kassin chegou, ele trouxe mais uma gama de músicos super alto nível, uma galera legal que fez com que a casa crescesse também".

Pra 2016 e o futuro que se anuncia, o dono da Rebel quer o simples: consolidar ainda mais o local e continuar trampando. "A gente começou a trabalhar no final do ano passado com uma técnica nova, uma sala que nos coloca em uma posição de destaque entre os estúdios do Rio. Profissionalizar e melhorar ainda mais tudo, em todos os aspectos".

Entre denúncias, produção musical de alto nível e o fortalecimento de uma cena independente que circula muito bem dentro do país, a Rebel acabou se estabelecendo como a principal casa de música experimental do Rio. Para o futuro, devemos ter esperanças. E isso num sentido amplo. Que as tretas tenham levado um bom aprendizado para o QTV e a Rebel, que os artistas que circulam por lá, sobretudo os experimentais, não parem de produzir e que novas iniciativas surjam na cidade, descentralizando um pouco as coisas. Se isso vai acontecer? Nem Deus sabe, afinal de contas, o futuro a ninguém pertence. 

*UPDATE: A pedido da personagem Tay Nascimento, ouvida sobre as denuncias de machismo contra a Audio Rebel, informamos que a mesma trabalhou sem remuneração na casa, dentro do projeto Quintavant, durante quatro anos. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Assista a um trecho do documentário da Plebe Rude, 'A Plebe É Rude'

$
0
0


Foto por Breno Galtier

Foi o tédio, mas também o ocasional acesso a certas referências musicais, políticas e culturais, tão escasso no Brasil dos anos 1980, especialmente na Brasília dos últimos anos da ditadura, os elementos reagentes que formaram a faísca do punk no Planalto Central. E, por consequência, a cena que ficou conhecida como “rock de Brasília”. A Plebe Rude é sem dúvida o expoente mais consistente daquela geração, tanto pelo seu refinamento sonoro, já alinhado com o pós-punk e outras vertentes para além dos três acordes, como pela elaboração das letras, repletas de significados e repertórios nas entrelinhas, e toda a coerência que fecha o discurso.

A Plebe É Rude, um documentário do Canal Brasil que chega aludindo aos 30 anos de lançamento do clássico álbum O Concreto Já Rachou, dirigido por Diego da Costa e Hiro Ishikawa, parte dessa perspectiva da história para contar a trajetória da banda. Os êxitos estão no ritmo fluente da montagem e na apuração dos depoimentos, que pela primeira vez tiram os integrantes de sua característica posição reservada para revelar picuinhas, mágoas e feridas da caminhada até aqui. Coisas como a indisposição entre o Philippe e o Ameba, que saiu da banda frustrado por não conseguir injetar mais das raízes brasileiras no som da Plebe, problemas com drogas e o lance do Gutje ter ficado ressabiado com a volta da Plebe com o Txotxa na batera.

Outros temas são explorados no filme, desde influências assumidas à contribuição do Herbert Viana e a amizade entre o Philippe e o André X. Especialmente para o Noisey, a banda e o Canal Brasil liberaram um trecho do documentário — que já se encontra disponível nas plataformas de streaming digital. Na tevê, A Plebe É Rude estreia dia 13 de julho, às 22h, na programação.

Aproveitei a deixa e bati um papo com o Philippe sobre algumas questões abordadas no registro. Leia e assista!

Noisey: Se vocês tivessem tido acesso a outros tipos de som, que não o punk, você acha que teriam se sentido impelidos a sair da posição de espectador, por conta do discurso DIY?
Philippe Seabra:
Exato, o punk te desafia pra fazer parte do movimento. Mas sabe o que serviu muito de influência pra que fôssemos, talvez, pra esse lado mais contestatório? O fato de termos crescido em Brasília. Porque Brasília quase que literalmente tem uma perspectiva diferente do Brasil inteiro. Todo mundo é filho de acadêmico, né, então, os nossos pais passaram pra gente o valor da leitura. Aí você põe isso junto com, claro, o explosivo movimento punk que estava rolando, e joga no liquidificador os hormônios à flor da pele – todo mundo era adolescente, menos eu, que era o mais novo da turma, ainda pré-adolescente — e, mais importante o acesso limitado à cultura que tínhamos em Brasília, que acabou sendo uma coisa boa. Porque Brasília, 35 anos atrás, era capital, só que era tipo uma cidade do interior. Um lugar pequeno, árido, desolado, e nada chegava lá. Os filmes não chegavam, as peças de teatro não iam pra lá, porque era uma cidade pequena. Mas, por ser a sede do poder, ali tinham todas as embaixadas, e as embaixadas nos forneciam duas coisas: através dos filhos de diplomatas a gente conseguia acesso direto à informação, livros e discos vindos da Inglaterra e de Nova York quase que em real time, através desses malotes; e as mostras de cinema das embaixadas. E não era uma coisa de pseudo intelectual, “vou ver um festival do Truffaut”. É que era só o que tinha, e era de graça. Porque os filmes grandes não chegavam, demorava muito. Então isso meio que semeou os fundamentos da lucidez das letras e desse impacto das coisas. É claro que, no meu caso específico, quando eu ouvi Stiff Little Fingers pela primeira vez a minha vida mudou. E todos nós tivemos um momento desses, de iluminação, a partir desse contato.

Quais eram as suas referências antes desse contato que te abriu as possibilidades?
Eu não vi o filme inteiro direito ainda, vi algumas cenas, mas dei entrevista contando que até então eu ouvia rock setentista americano. Todo mundo bonito, cabelo comprido, tocando pra caramba, e aí, de repente, chega o cara do Stiff Little Fingers, feio, de óculos e cabelo curto. Pô, eu era feio, de óculos, e tinha o cabelo curto! [risos] Então eu encontrei meu nicho, cara. E em Brasília você tem que encontrar a sua turma. Foi muito legal, no meio daquela desolação toda, conseguir se encontrar na música. E é uma coisa muito bonita. Música era a trilha sonora da nossa vida, hoje em dia é plano de fundo pra disputar em headphone ruim enquanto você surfa no Facebook textando. Na verdade eu sinto pena que as gerações mais recentes não vão ter... isso não vai fazer parte da vida delas.

Numa passagem do documentário a banda demonstra certo pesar com algo que as novas plataformas e formatos de se fazer circular a música e o conteúdo. Por quê?
Eu sou muito fã do Arthur C. Clarke, o autor de ficção científica que morreu recentemente, e ele sempre falava que tecnologias novas são quase indistinguíveis de mágica. Então se alguém aparecesse com alguma forma de internet 30 anos atrás, cara, seria mágica. Seria inconcebível. E é uma pena, porque da mesma maneira que vem, vai. A gente penava tanto pra conseguir disco, penava tanto pra conseguir livro, e valorizava muito. Aí alguém falava assim, “O novo disco do Sham 69 está na casa do Renato”, e todo mundo ia pra casa do Renato. O André, da Plebe, era o grande fornecedor, todo mundo sempre ia pra casa dele ouvir os discos. Quando alguém conseguia algo como o livro Hammer of The Gods, a biografia do Led Zeppelin, todo mundo pegava emprestado. Era bonito. Era em torno disso que se formava aquilo que o Renato [Russo] chamava de tchurma. E ele sempre sentia falta disso, tanto que ele ficou muito infeliz naquela fama, aquela coisa toda que virou, de ele ter se mudado pro Rio... E sempre que ele esbarrava com alguém da tchurma ele pegava pelo braço, lembrava de alguma anedota, sabe? Foi uma época muito legal. Ninguém vive do passado, a vida continua, mas essa coisa de você encontrar a sua turma... Igual quando você está andando em algum lugar, aí passa alguém com a camiseta do Buzzcocks, e você vai lá se apresentar, saber quem é a pessoa. A gente fala disso mesmo com um certo pesar, mas eu estou com um filho de quatro anos, e ele não terá essa relação que tivemos com a música, uma sensação de que era uma coisa só nossa, sabe? Aí a banda fazia sucesso e ficávamos putos porque só a gente podia conhecer [risos].

Mas a própria Plebe Rude chega na nova geração ou mesmo beneficia os antigos fãs disponibilizando seu conteúdo, inclusive este documentário, para streaming...
Esse contato é positivo, claro, não tem como lutar contra isso. Mas a gente também não se entrega de corpo e alma. Nós não lançamos EPs, por exemplo, lançamos álbuns. O documentário não é um clipezinho de alguns minutos porque ninguém consegue mais manter a atenção por mais tempo. Eu faço trilhas sonoras também, né, e ganhei o prêmio de melhor trilha sonora pelo filme Faroeste Caboclo, no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Mas não entrei no Twitter pra postar “Olha só, pessoal, o prêmio que ganhei!”, sabe? É tudo tão público hoje em dia, e eu sou uma pessoa extremamente reservada, sempre fui. Nós estamos em todas essas plataformas, é um jeito novo de chegar nas pessoas, tudo bem. É que as pessoas se esquecem que só porque mudou o formato não significa que mudou o conteúdo. Você tem que ter música boa do mesmo jeito. Teve uma banda que fez uma promoção, que o cara tinha que fazer o download de uma senha, aí assistia o trecho de um clipe exclusivo, aí caia num outro lugar... e ia juntando... Cara, como se estivesse inventando a pólvora... e a música era ruim! Então de que servem todos esses artifícios? A banda tem que ser boa, tem que ter postura, tem que ter uma faísca. Não tem como forjar. O público brasileiro é muito mal informado, mas burro, não é. Então quando a Carla Perez tenta fazer uma carreira solo, aí não rola. Isso é ótimo, mostra que o público está tendo um pouquinho de discernimento.

Eu concordo que tem artista que não se liga muito em elaborar o som antes de lançar. Compõe, já grava e solta...
E grava de qualquer jeito, também. Sou dono de estúdio e completamente a favor das novas tecnologias e da democratização, mas tem que ter um pouquinho de discernimento. São tantos vídeos na internet. Uma banda que existe há quatro meses e já lança um CD. Quem consegue fazer um disco bom nesse tempo? Tem que encontrar o seu “eu”, desenvolver a banda, encontrar um estilo... E não estou falando da forma de gravação, mas das músicas mesmo, da canção. Sabe aquele filme Ratatuille, do ratinho cozinheiro? Tem uma frase lá, que ele fala que nem todo mundo pode ser um grande cozinheiro, mas um grande cozinheiro pode sair de qualquer lugar. Eu acho que é uma coisa de geração, cara, é tudo pra ontem.

O que você acha essencial pra uma banda achar a sua identidade?
Tem que pegar a estrada. Não como regra. Mas é recomendável lapidar as músicas ao vivo, você começa a sentir, a ter uma troca com a plateia. A gente toma muito cuidado. Todo disco que lançamos, as músicas são tocadas ao vivo antes, pra poder sentir a vibe. O Concreto Já Rachou foi feito em 16 canais, cara. Ou a gente tocava ou não tocava, não tinha edição, nada. O lance do punk de Brasília é muito simples: não deixar as suas limitações te definirem como pessoa. Estávamos limitados lá, não tínhamos acesso a muita coisa, e olha só o que essa geração conseguiu fazer nacionalmente. E até hoje ela ecoa. Faça você mesmo, né?

Vocês meio que domaram as suas limitações e transformaram numa estética, isso foi muito positivo. Nem sempre a erudição no executar faz de um músico um bom compositor, não é?
Você vê o The Edge, nunca fez um solo na vida. E ele mudou a história da guitarra. Venceu as suas limitações. A limitação não precisa ser uma coisa ruim, é só você saber usar. Essa faísca não é o produtor que vai te fornecer, ela tem que estar na banda. Infelizmente nem toda estrela foi feita pra brilhar, nem toda banda tem isso. E, quando aparece, temos que valorizar. Esse é o grande mal dessas escolas de guitarra, o cara vai, aprende a tocar mil notas por hora, mas na hora de compor, não vem. Um dos melhores guitarristas que já gravei, na hora de gravar a base no disco, teve que parar durante duas semanas, porque empacou na base. E olha só, 95% da música é base. Tirando o Yngwie Malmsteen, no caso dele é o contrário [risos].

Rola a mesma coisa com letra?
A grande decadência dos letristas brasileiros eu atribuo a uma coisa: quando a tevê educativa infantil foi pro saco. Programas como Sítio do Pica-Pau Amarelo, que eu assistia quando era moleque, poxa, era mitologia grega, tinha o Minotauro. Eu assistia aquilo. Aí foi substituído por Xuxa e Angélica, empurrando seus produtos goela abaixo. Essa geração cresceu com pouca leitura e muita televisão. Não é à toa que as letras brasileiras andam péssimas. E o Renato falava, “Vamos cuspir de volta o lixo em cima vocês”. Na Plebe, as letras são bastante trabalhadas, mas é coisa de ferramenta. A gente sempre leu bastante, via cinema arte, curtia as ideias e tudo.

Você acha que a Plebe teria estourado se tivesse surgido em outro contexto?
O que é sorte? É o encontro do momento com o preparo. E quando começou a explosão do rock nacional, a gente estava ali em ponto de bala. O primeiro disco da Plebe, que foi o Herbert [Viana] que produziu, ele só guiou a gente no estúdio porque o disco estava praticamente pronto. Ele fez um trabalho primoroso, mas ele trabalhou com uma puta de uma matéria-prima. Como produtor, eu trabalho com uma porrada de bandas, mas eu preciso de uma boa matéria-prima. Se você me der uma farinha vagabunda e uma água suja, eu não consigo fazer um bom pão.

Quão importante foi a atuação do Herbert Viana pra achar o som da banda no estúdio?
O Herbert foi fundamental. As músicas já estavam prontas. Pouca coisa a gente fez lá, em termos de arranjo. É que em estúdio a gente era completamente verde, né. E teve duas coisas que sugeriu lá, que ele falou, “E se fizermos isso”, que fizeram toda a diferença. Uma entrou pra história do rock brasileiro, o cello, na abertura de “Até Quando”. Ela não abria assim. Só que quando a gente estava equalizando um cello e colocando um leve delay e tal, soou. Aí o Herbert veio e falou:, “Vem cá, por que não usamos isso na introdução?”. E olha só a precariedade, não era só dar copy e paste. Tivemos que isolar o cello, gravar em fita, e depois passar dessa fita de volta pra outra pra colocar no começo da música. Se por acaso o Jaques [Morelenbaum – que tocou violoncelo na Plebe como músico de apoio entre 1985-89] tivesse usando o headphone mais alto e vazasse o som da base no microfone do cello, já não daria pra usar. E o rock brasileiro teria perdido um riff tão emblemático. E “Proteção” são quatro versos, né, e é uma paulada só. Só que no terceiro verso o Herbert falou, “Deixa eu fazer um negócio”, apertou quatro botões e tirou as guitarras. Aí ficou “Para sua proteção”, só baixo e batera. E esse baixo e batera virou meio que a característica da banda.

E as tretas com o Ameba e o antigo batera?
Tem umas picuinhas lá, mas não chega a ser igual o documentário do Raul Seixas, que só tem mulher brigando com mulher. E é a primeira vez que eu falo a respeito, nunca tinha falado. Mas teve um problema de abuso de drogas na banda, não da minha parte nem do André, e que afetou. Eu nunca falei disso, mas num documentário sobre a história da banda tem que explicar, e afetou. Tem que explicar.

As drogas foram uma faca de dois gumes para o rock. Porque tem o lado decadente, mas também o lado de expansão da consciência e o hedonismo que se expressou musicalmente e criou novas vertentes do rock...
Drogas é uma coisa de escolha pessoal, mas que afeta a gente. Tem uma estatística no Brasil que mostra que existem 20, 25 milhões de pessoas afetadas por drogas. Mas não estou falando de quem é viciado, são amigos e família, mais família, aqueles que convivem com alguém drogado. Ou alguém abusando de alguma substância, álcool, seja lá o que for. E naquela época eu me senti assim, porque não era só banda, era roadie, técnico de som. Pô, a gente teve um roadie que traficava, cara. Esse cara uma vez levou dois quilos de maconha pra dentro do estúdio. Eu nunca tinha visto algo assim. Imagina se um cara desse vacilar? O outro, o técnico de som, só depois que eu fui saber, viajava com a cocaína dele dentro do meu case. Eu vi ele mexendo no case antes de embarcar, de longe, aí depois fui olhar e tava lá um pacotinho. Imagina a polícia parando, o cachorro farejando, vai pensar que é de quem? Eu fiquei muito mal, sabe? No auge da banda eu era muito infeliz. Pô, cara, é a única vida que eu tenho, entendeu? Eu merecia mais, saca? Mas aí quando o Clemente entra você vê a diferença no astral.


Os caras da Plabe com o Herbert Vianna. Divulgação

Você estava sempre insatisfeito nessa época, então?
Era estranho, eu morava no Rio, não me identificava com a cidade, nem com as bandas. Eu me identificava com as bandas de São Paulo, Cólera, Inocentes, Ira!, era muito mais a nossa praia. Queria muito ter me mudado, não pro Rio, mas pra São Paulo. É que a gravadora ficava no Rio, talvez fosse mais fácil. Não chegou a ser oferecida uma opção pra gente.

Qual é a faceta da história no documentário que você mais gostou de que ver revelada?
O filme foca muito na amizade e na cumplicidade minha e do André. O meu irmão mais velho foi embora do Brasil e ficou a vaga. E quem preencheu essa vaga foi o André, como irmão mais velho, e, logo em seguida, como companheiro de banda, quando ele me chamou pra formar a Plebe. Eu tive três mentores dos quais me orgulho muito, que fizeram muito bem pra mim: o André, claro; o Renato. Eu nunca vi o Renato usando droga na minha frente. Eu era o mais novo da turma, né. Ele era muito carinhoso, muito preocupado comigo; e quando a gente começou a despontar e descer pro Rio mais vezes e eventualmente se mudar pra lá, aí o Herbert tomou conta. O Herbert era muito preocupado com a carreira da Plebe, com a percepção das pessoas.

A Plebe Rude está no Facebook, no Twitter e no YouTube

Siga o Noisey nas redes Facebook | SoundCloud | Twitter

Saiu o disco novo do Metá Metá!

$
0
0

O trio paulistano Metá Metá — formado pelo guitarrista Kiko Dinucci, o saxofonista Thiago França e a cantora Juçara Marçal — foi bem misterioso quanto ao lançamento de MM3. Já há algumas semanas, o grupo vem nos provocando com notícias sucintas sobre as gravações e finalizações do seu terceiro álbum de estúdio, lançaram dois sons inéditos na terça (24), e, finalmente, nessa quarta (25), postaram o disco no site oficial da banda e divulgaram no Facebook, como quem não quer nada.

Pode-se dizer, porém, que a discreta maneira com que o Metá Metá lançou seu novo disco é inversamente proporcional ao barulho e agressividade com a qual MM3 trabalha. O projeto é, sem dúvidas, o resultado de uma trajetória de lançamentos que foi acentuando o lado caótico do trio, já bastante presente em MetaL MetaL (2012) e no EP que a banda lançou no ano passado.

Quem conhece Juçara Marçal pela voz rasgante e afiada que ela apresenta no seu disco solo, Encarnado (2011), pode levar um susto com o tom doce que a cantora invoca já na primeira música do disco, “Três Amigos”, complementando o instrumental lento e suave que Dinucci e França compõem. Mas não se engane: o caos que dita o resto do disco já surge na segunda metade da faixa, moldado pela agressividade da percussão e do sax.

Os picos de intensidade de MM3 ficam por conta da ligeiramente ska “Angoulême”, cujos gritos de Juçara e inspiração noise fazem lembrar a colaboração da cantora com o músico Cadu Tenório no disco Anganga, do ano passado; e a mais jazzística “Corpo Vão”, uma das faixas que já haviam sido divulgadas pelo grupo.

Em entrevista à revista Rolling Stone, o grupo revelou que gravou o disco em apenas três dias, no estúdio da Red Bull. Canalizar energia para nove faixas em três dias é tarefa difícil, mas tenho a impressão que o combustível do Metá Metá em MM3 duraria pra mais alguns discos. Baixe o álbum aqui (se tiver fora do ar, dá pra baixar pelo blog do Thiago França também).

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter


Rimas e Melodias é o grupo de cypher só de mulheres

$
0
0

No melhor do estilo cypher — o encontro de MC's em rimas conjuntas, como as rodas de freestyle, com versos que podem (ou não) ser de improviso —, algumas das minas conhecidas do rolê hip-hop no Brasil, como a DJ Mayra Maldjian e a rapper Tatiana Bispo, sentiram que estava na hora de desacelerar o flow e cantar mais próximo do ouvido e coração.

Foi com essa ideia e a partir desses encontros que nasceu o coletivo familiar das minas chamado Rimas e Melodias, que reúne num casting de peso nomes como Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie, Tássia Reis, Alt Niss além da Tatiana e da Mayra.

"Sempre curti muito R&B e estou envolvida com as mulheres no rap”, diz Mayara. “Tínhamos um grupo com outras DJs, e sempre achei legal esse rolê de uma mina ajudar a outra, principalmente no hip-hop no Brasil". E se a sororidade já estava rolando, foi fácil pras minas criarem um projeto.  "Pensamos em criar umas "live sessions" com as meninas cantando e algumas rimando. Começamos a agitar isso entre nós.  Só vemos as minas rimando e nenhum projeto onde as minas que cantam "neosoul", decidimos nos juntar pela música. Não é só o rap pelo rap", completa Mayara.

A proposta, conta Karol Souza, é reunir em vídeo as cantoras e MCs que têm carreira solo mas que já fizeram parcerias. Nos encontros, que rolam sempre com um roteiro aberto, como uma jam feita na garagem e o microfone aberto, cada uma traz seu repertório sempre fortalecendo os beatmakers nacionais, como na faixa “Remember the Time”, remixada pelo DJ Duh, som que pertencente ao EP Michael Jackson Vive, lançado em 2013. "O cypher começa com a Drika, depois cola a Karol e eu fecho, cada uma com uma leitura desse som. Essa track me traz boas memórias, tanto que minha parte escrevi pensando nos meus pais e na história deles." conta , emocionada, Tássia Reis. "As letras são de conteúdo particular, mas é comum que uma se identifique com as questões retratadas pelas outras, já que somos todas mulheres e pretas vivendo de arte no Brasil." completa, MC Karol de Souza. 

Em uma semana de cypher, o Rimas e Melodias já colocou no ar quatro vídeos e as minas terminam esse primeiro ciclo do coletivo com um EP e uma série de shows, algo que estava longe dos planos iniciais. "A ideia agora é a gente fazer alguns shows. No começo não imaginamos, mas surgiram alguns convites e o que mostra que o rolê está dando certo numa velocidade que não esperavámos" diz Mayra.

Gravado por Moah Buffalo, um grande apoiador do projeto, o coletivo Rimas e Melodias comemora nesta sexta-feira (27), o lançamento deste primeiro compilado de refêrencias embebidas em empoderamento feminino na festa que rola na Casa Brasilis, em São Paulo. Aproveite e conheça um pouco mais do trampo de todas elas, porque o lance só começou, IMBICA!

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Veja O Rappa ganhar um balanço nordestino na parceria com RAPadura

$
0
0

O "rap de chapéu de palha" do cearense RAPadura roubou a cena ao se apresentar durante a gravação do novo CD e DVD acústico d'O Rappa, que aconteceu na Oficina Francisco Brennand, no Recife. Segundo o guitarrista Xandão, esse sempre foi o plano: "Quando começamos a pensar no DVD e nas participações especiais que teríamos, o nome dele foi o primeiro da lista. Achamos que o que ele faz tem tudo a ver com o projeto."

A faixa apresentada pelo rapper foi "Nordeste Me Veste", sua ode à cultura do Norte e Nordeste foi engenhosamente unida à "Reza Vela", faixa d'O Rappa. Apesar do flow originalmente parecido das duas tracks, "Reza Vela" ganha um novo balanço: além de acústica, a escaleta também dá um sabor nordestino à faixa. "Sempre nos provocamos a sair do lugar comum e a buscar novas abordagens para as nossas músicas. Costumo dizer que se tocarmos a mesma música no show três vezes, elas serão completamente diferentes", conta o guitarrista.

O Rappa – Acústico Oficina Francisco Brennand que está disponível antecipadamente no Google Play sai no restante das plataformas na sexta que vem, dia 3 de junho, e conta com uma mistura de clássicos e faixas inéditas d'O Rappa. "Nos dedicamos bastante, não só no sentido de ensaiarmos e de compor músicas novas, mas também em termos conceituais, foi desafiador em muitos sentidos. É sempre difícil dizer o que esperar, mas esperamos que curtam o trabalho", conclui Xandão.

EAssista ao medley "Nordeste me Veste/Reza Vela":

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Lessa Gustavo se junta a CAUÊ e SE7E do Morlockz em novo single, "Pontos"

$
0
0

“2016 e ainda não ouvi o rap de vocês”, provoca SE7E no verso que nos introduz a “Pontos”, novo single do taubateano Lessa Gustavo. Segundo Lessa, o que o inspirou a começar a conceber a track, que também conta com um verso afiado de CAUÊ, companheiro de SE7E no coletivo Morlockz, foi uma “decepção e consequentemente sarro em relação ao atual cenário rap nacional”. 

Sobre uma batida eletrônica e inquieta assinada por [beatmasta.oknd], o flow vai num papo sobre uso de drogas, descompromisso com a música e gana de muitos dos atuais rappers. O beat foi escolhido a dedo por Lessa, que já conhecia e admirava o trabalho do produtor: “Quando eu ouvi esse [instrumental] que foi utilizado em ‘Pontos’, isso já pro final do ano passado, falei, ‘opa, separa aí, é esse’ [risos]”. Já a colaboração com os meninos do Morlockz rolou numa visita da dupla ao Rio de Janeiro. “Nos reunimos na Fantástica Fábrica de Hits e eu botei uns instrumentais pra rolo, juntamos letra nesse e tá aí pra ser escutado.”

Então, bora escutar. Ouça ‘Pontos’, que sai pela RWND:

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O Haikaiss embarcou numa parceria com o Niko Is e o Thanks Joey, produtor do Talib Kweli

$
0
0

“Shinobi”, faixa produzida pelo norte-americano Thanks Joey, colaborador do Talib Kweli, é o resultado de um experimento entre os paulistanos do grupo Haikaiss e o rapper Niko Is. Niko é meio brasileiro, meio norte-americano. Atualmente reside em Orlando, na Flórida, e faz parte do selo do Talib, o Javotti Media. A ideia de fazer música em parceria pintou antes da galera toda se conhecer pessoalmente, mas foi durante a vinda do Talib pra São Paulo no ano passado que a proposta se consolidou. “Assim que eles chegaram no Brasil, nós fomos pesquisar o que já tinham de material lançado, e a parceria rolou naturalmente”, desenrola SPVic, o homem das letras e do microfone do lado de cá, que no som versou sobre os beats do DJ Sleep.

Além da música que o Noisey solta hoje com exclusividade, SPVic revela que eles contam com mais duas produções saídas dessa experiência, mas nenhuma delas fora pensada para figurar no álbum de algum dos envolvidos. “Shinobi”, ao contrário do que se possa crer, nasceu durante a estadia dos caras por aqui mesmo. Nada ficou para ser definido pela troca de arquivos on-line. Os manos alugaram uma cobertura na Vila Mariana e, ali, trabalharam nas composições. “O produtor Thanks Joey comprou os discos aqui, sampleou, e produziu os instrumentais nesse período. Só com material nacional”, detalha SPVic.

O mesmo vale para a letra, feita em cima das ideias trocadas entre eles durante a estadia e composta de uma vez. Eles adiantam que outras criações conjuntas virão pela frente, inclusive com o Talib, por sugestão do próprio. SPVic aponta que “a qualidade e semelhança entre a nossa música e a desses artistas é o atrativo principal para que essas parcerias aconteçam.”

O Haikaiss está no Facebook, no Twitter e no Instagram

Siga o Noisey nas redes: Facebook | Twitter | Instagram

O maquinas abraçou a imperfeição humana em ‘lado turvo, lugares inquietos’

$
0
0

​Arte por Helena Lessa, do coletivo Osso Osso.

Parte de jovens músicos e artistas brasileiros vêm, há algum tempo, fazendo das suas faixas e projetos um retrato da juventude que soa muito representativo de toda uma nova geração. Bandas como Amandinho, gorduratrans e, principalmente, Lupe de Lupe, têm bem representado temas comuns como paixões à distância, imaturidade e certo deslumbramento, tudo com uma dose de insegurança e impotência. Desde que ouvi “zolpidem”, primeira faixa divulgada do disco de estreia do quarteto cearense maquinas, porém, tive a impressão de que todos esses sentimentos foram por eles levados a um outro patamar de profundidade.

“Acho que a vontade de expulsar sentimentos negativos, ou falar de temas como solidão, repulsa, e autodepreciação era comum pra todo mundo da banda”, diz o guitarrista Roberto Borges. A densidade emocional foi a primeira coisa que me ficou clara, mais tarde, ao escutar o primeiro álbum do grupo, lado turvo, lugares inquietos. Isso porque, talvez, nada seja muito tangível na música do maquinas — fazendo juz à descrição “noise romântico”, o quarteto mergulha em sonoridades profundas e barulhentas no seu disco de estreia.

E a sensação é que, nesse mergulho, você está sendo também lentamente puxado para baixo; durante as “quarto mudo” e “mal-agradecido”, o vagaroso instrumental construído pela banda e os vocais um tanto ininteligíveis — que vez ou outra emergem com frases tão desoladas quanto honestas — o introduzem ao disco. É quando a angústia do quarteto atinge seu auge na faixa mais bela do álbum, “contramão” — talvez pelo sax tocado por Gabriel de Sousa, membro do trio de música eletrônica de Fortaleza Chinfrapala, ao final da faixa.

maquinas: Allan Dias, Ricardo Guilherme Lins, Samuel Carvalho e Roberto Borges. Foto por Taís Monteiro. 

Apesar de admitir a influência do meio na concepção do disco, o maquinas parece se afastar um tanto da atuação dos conterrâneos cearenses: “Fortaleza tem influência direta com a sonoridade final dessas músicas, mas com uma interpretação diferente porque falta aquela pegada regional e litorânea que a maioria das bandas daqui buscam. Acho que gira mais em torno de um sentimento de desilusão e desconforto”, pondera Roberto. A influência da terra natal talvez se faça mais presente em “drive by”, faixa mais longa do disco, em que o grupo emerge da escuridão em que esteve afundado. Um grande respiro antes da volta à melancolia na última música, “heitor”, eleita a favorita do quarteto.

A experimentação é intrínseca ao som do maquinas e se prova indispensável ao grupo em diversos momentos do disco, seja no noise ao final de “mal-agradecido” ou no instrumental ligeiramente reggae que termina “drive by”. “As nossas maiores inspirações sempre nos mostraram esse caminho da experimentação do tentar algo fora da curva, ser o outlier, então meio que foi natural que a gente também tentasse algo”, diz o baixista Allan Dias.

lado turvo, lugares inquietos é um disco extremamente ambicioso às suas próprias maneiras; que fala sobre e interage com a imperfeição humana não só em seu conteúdo, como também em sua construção: “Gostamos de como podemos transformar o erro em algo que é parte da música em si. Sei lá, apenas entender que a música é um processo de criação que não deveria prezar pela perfeição, pelas produções caras altamente maquiadas, acho que elas devem ser mais humanas, aceitar que você é imperfeito e logo o que você cria também será”, conclui Allan.

Ouça lado turvo, lugares inquietos, que sai pela Bichano Records:

O maquinas está no Facebook | Bandcamp.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

O Alambradas alçou voo pra fora do quarto em seu novo EP, ‘Cíclica’

$
0
0


Foto por José Patrício

O Alambradas está criando asas. As melódicas canções de Nicole Patrício, a frontwoman da banda, já não cabem em seu quarto. O EP Cíclica, que você ouve antes aqui no Noisey nesta segunda (30), marca esta nova fase da vocalista, tecladista e compositora. Como uma mãe, Nicole acredita que seus filhotes sonoros não têm mais a mesma ingenuidade de antes e agora quer que eles se desenvolvam como música de gente grande mesmo.

“Há uns 6 anos, eu gravava tudo como eu achava que era, sem me preocupar com corte, com efeito mal colocado, essas coisas. Conforme ia conversando com amigos que têm banda também, ia descobrindo o jeito deles gravarem, as placas, os softwares. Isso tudo ainda me dá um nó na cabeça; se eu for fazer, ainda não dá tão certo, mas consegui ter uma leve noção por conta disso”, conta.

Com ensolaradas linhas de piano e composições que variam entre português e inglês, o EP é uma revisão de sensações de épocas sortidas da vida de Nicole. “’Words/Gloves’ é uma versão madura de uma das primeiras músicas que compus na vida, e ‘Real First Step’ eu compus com o Bruno Vetz quando tínhamos entre 18 e 19 anos. Na época, eu escutava muita banda de fora e achava que minha música em português não faria tanto sentido. Acho que, conforme fui conhecendo e ouvindo mais bandas brasileiras, acabei sendo influenciada”. Para Nicole, o idioma falado é o que menos importa, porque a sonoridade pode expressar mais do que a mensagem propriamente dita: “Essa coisa da língua não é dos maiores obstáculos. Eu mesma escuto muita banda japonesa, mesmo sem saber um ‘a’ do que eles tão falando, e acho o instrumental incrível. Uma coisa puxa a outra, sabe? Se você gosta de determinada música, quer descobrir o que estão cantando nela.”

Nicole Patrício é uma entusiasta de música desde sua infância. De passagem por tediosos conservatórios, descobriu que aprender música em seu tempo podia ser mais divertido. Atualmente, seu tutor é o Felipe Faraco, tecladista de apoio do Jair Naves, mas ela sempre esteve em contato com instrumento, seja profissionalmente ou só de brincadeira: “talvez seja clichê dizer isso, mas nessas de ganhar um teclado de brinquedo quando era criança que a coisa toda começou (risos). Eu tirava música de ouvido, cheguei até a gravar umas K7s em casa com um monte de músicas improvisadas ou eu musicando um livrinho de contos de fadas. Fico triste por ter perdido elas com o tempo, essa é uma época em que eu adoraria escutar tudo de novo.”

Para gravar o Cíclica, Nicole contou com o apoio de bons amigos: Bruno Vetz para vocais de apoio, Lucas Felipe Franco na bateria, Mariana Yumi no clarinete, Rafael Carozzi nas guitarras e Victor Meira no baixo. O resultado pra ela é satisfatório e até alivioso: “Enquanto estava gravando, queria acrescentar um monte de coisa, um monte de gente, mas chegou uma hora em que pensei que não adianta emperequetar o disco com coisas que eu não conseguiria executar sozinha depois. Fui descobrindo quem realmente queria somar e todas essas pessoas são muito importantes pra mim, são gente que eu não quero perder contato nunca, nem ter relação meramente profissional. Então é um baita alívio”. 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Empolgou: o Palmeiras é o primeiro clube brasileiro a ter uma conta no Spotify

$
0
0


Divulgação

Você, assim como eu, torcedor palmeirense, ainda está sofrendo com aquele gol do Ganso (e com a falta não marcada no Dudu) no jogo entre o Palmeiras e o São Paulo pelo Campeonato Brasileiro deste domingo (29)? É, eu sei. Foi triste, principalmente porque parece que dois dos nossos mais temidos pesadelos estão se comprovando: 1) Tá difícil de a gente ganhar fora do Allianz Parque e 2) o Verdão é o verdadeiro EMPOLGOU.

Tudo bem, o Palmeiras pode não ser mais o primeiro na tabela de classificação do Brasileirão (a felicidade durou pouco), mas agora ele é o primeiro clube de futebol brasileiro a ter o seu próprio perfil no Spotify. 

A estreia do Verdão no serviço de streaming foi na última quarta-feira (25), no jogo contra o Fluminense, no qual pelo menos o Palmeiras ganhou. "Eles são verdes. Tem tudo a ver com a nossa marca", explicou Victor Assis, gerente de branding do clube. "É a nossa tentativa de aproximar cada vez mais o torcedor com o jogador".

Por enquanto, os únicos que montaram suas playlists foram o goleiro Prass, o centroavante Rafael Marques e o atacante menino bom Róger GuedesSegundo o Victor, todas elas foram feitas pelos próprios três. Então, é real que o Prass é muito roqueiro e só ouve, basicamente, três bandas: Oasis, Rolling Stones e Legião Urbana.

(Tudo bem, Prass, a gente te perdoa por ter perdido o pênalti na semifinal do Paulista deste ano, mas poxa colocar "Wonderwall" na playlist? Aí, já é sacanagem.)

A do Marques, tem vários sertanejos, e a do Guedes, uns hits mais topzera, tipo "Hotline Bling" e "Work" -- se pá é porque ele só tem 19 anos e deve estar mais ligado nos lançamentos do momento.

Ainda tem uma playlist da Torcida, montada com as sugestões que os torcedores deram num post no Facebook, uma playlist da TV Palmeiras, que tem músicas usadas na edição dos vídeos do canal do YouTube do time, e uma playlits com sete versões do hino do Verdão, pra você chegar afiado no Allianz.

Outros jogadores em breve vão colocar suas músicas preferidas pra todo mundo ver no Spotify e o Victor ainda me falou que o time vai lançar uma playlist pra comemorar os 65 anos do (controverso) Mundial do Palmeiras, o que eu espero que não renda muita zueira na internet. 

Então, bola pra frente, torcedor palmeirense, que quinta-feira (2) tem duelo contra o Grêmio e pelo menos desta vez a gente é mandante, o que aumenta bastante as chances de gritarmos EMPOLGOL do ALECGOL, se Gabriel Jesus quiser. Por isso, dê uma aquecida no seu coração alviverde e se prepare pro jogo, ouvindo as playlists abaixo: 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter


O BaianaSystem é a nostalgia do futuro

$
0
0


O coro comendo no show. Foto: Drago

A passagem de som do BaianaSystem já dava sinais de que a noite seria cabulosa. O grave batia pesado na choperia ainda vazia do Sesc Pompeia. Russo Passapusso, na pista, organizava os últimos retoques e pedia menos 20% de delay numa faixa. No palco, Seko Bass, Japa System, João Meirelles, Mahal Pitta, Roberto Barreto e Juninho Costa tocam entre uma carranca e um Cavalo do Cão, que faziam as vezes de protetores raivosos. “A carranca e o Cavalo do Cão são figuras que dão proteção, mas para isso elas assustam. A carranca fica na frente dos barcos pra abrir caminho. É o bem que é mal. Você deixa ela na porta da sua casa, mas nunca virada pra dentro de casa”, explica Filipe Cartaxo, um elemento surpresa do grupo. Ele é o responsável pelas fotos, vídeos e toda identidade visual.

Faltam poucos detalhes para o segundo dia do lançamento de Duas Cidades (segundo disco da banda) em São Paulo. As duas apresentações, dias 26 e 27 de maio, esgotaram-se como picolé no deserto em apenas um dia. E, pela primeira vez, o Baiana chegou à cidade como artista grande. “Das outras vezes que viemos pra São Paulo era um retorno com a Bahia, mas dessa vez tinha 70%, me ouso a falar, de gente de São Paulo que eu confundia com a Bahia. Aí me trouxe realmente uma raíz que eu procuro nas ruas quando, por exemplo, eu entro num táxi e o cara fala que a mãe é baiana, eu sou de lá, minha vó, minha mulher. Aí eu vejo que São Paulo realmente é um monte de hiperlink de formação do DNA brasileiro”, explica o vocalista Russo Passapusso. Ele explica também a mudança de postura - assumidamente mais combativa e política. “Antigamente a gente vinha aqui pra fortificar frente ao público, hoje é pra se reconhecer nesse público. Muda a perspectiva, você se reconhece dentro daquilo.”

Corria a boca pequena entre os funcionários da unidade. Esses seriam os melhores shows do ano mesmo com o mês de maio protagonizando no calendário. Enquanto o Baiana passava o som, algumas pessoas ainda buscavam aquele 1% de chance de conseguir um ingressozinho na bilheteria e algumas funcionárias do Sesc arriscavam passos de dança ainda tímidos.  “A gente está muito feliz com isso. Nós entramos de tal forma na bolha de trabalho que essas coisas são surpresas de verdade. É uma surpresa quando estamos num trio elétrico pequenininho e olhamos pra trás e tem um mundaréu de gente, é muito foda. É uma surpresa muito boa”, conta Russo.


O Cavalo do Cão, a carranca e o Baiana. Foto: Drago

O caminho, porém, nem sempre foi tão principesco. “O Baiana começa há três, quatro carnavais com fulano dando dedo (mostrando o dedo do meio), mandando embora, porque não era aquele tal. Ou então fulano do camarote nem olhava pra nossa cara, fazia careta. Todo tipo de repúdio na rua. Você ter o repúdio da rua é muito ruim, porque a rua é a rua. A verdade é aquela ali, quando fulano não quer ouvir seu som é uma merda”, explica Russo. O grupo começou a subverter a ordem no Carnaval de Salvador com seu pequeno trio elétrico, o navio pirata. Era treta com a polícia, com muita gente que não entendia a proposta. Era embaçado. “Quando a gente começa a sair nos trios furando o cerco dos blocos, já tínhamos essa atitude de contestação. O bloco pirata, a máscara. Era tudo muito denso”, diz Roberto Barreto, fundador do grupo e o cara que manda ver na guitarra baiana. 

No último Carnaval, no entanto, a história mudou. O Baiana passou a figurar o centro das atenções e até fofocas sobre o fato deles terem ganho camisas do Bahia, clube da cidade, e não terem usado. Chamados de estrelas pela imprensa local, a banda teve que lidar com o holofote e também com a falta de conhecimento que insiste em encaixá-los na prateleira do novo axé.

Tem axé no som? Pra caralho, mas tem Dorival Caymmi, Death Grips, tem Ramiro Musotto, Ratatat, Armandinho, Dodô e Osmar, tem Augustus Pablo, Olodum, Trio Tapajós, tem Lee Scratch Perry, Margareth Menezes, tem refereências aos blocos afros, tem as ruas de Salvador, tem um bocado de outras coisas, mas tem a sutiileza de soar único. Um nostálgico que aponta para a frente. “A gente de alguma forma repete elementos importantes. Brincamos um pouco com a nostalgia do futuro. Você vê coisas que te lembram algo que você não sabe o que é e no final das contas é um ciclo”, explica Cartaxo. E complementa. “Tem a ver com memória visual. As casas da Ilha de Itaparica são brancas com o peitoril pintado de azul. A própria Salvador é muito mais céu, é uma cidade muito azul."


Barreto, sua guitarra baiana, e Juninho Costa. Foto: Drago

Ele contextualiza a identidade visual nesse universo. “O carrinho de café é um soundsystem, o trio elétrico é esse grande carrinho de café. Os elementos gráficos se juntaram nisso”. O preto, azul e branco também tem origem histórica. “Olodum são três cores, o Ilê Ayiê são três cores e a gente assumiu isso”. O azul predominante vem de Iemanjá e pela coincidência cósmica. “A gente fez o primeiro show dia 2 de fevereiro [dia em que se homenageia a rainha do mar, orixá representada pelas cores branca e azul], então meio que justificou”, conclui Cartaxo.

A fórmula nem é tão complicada: Jamaica e Bahia são próximas musicalmente. O que parecia improvável — o agudo da guitarra baiana com os graves potentes dos soundsystems — deu certo. Adicione a isso uma performance explosiva ao vivo e um disco muito bem produzido por Daniel Ganjaman. Pronto, se tem algo surpreendente e disposto a não mais pedir licença com o matulão nas costas. É pé na porta. É ouro demais.


Russo Passapusso dando aquela alongada antes do show. Foto: Drago

Tudo pronto. Som batendo direito, ansiedade de camarim — diga-se de passagem muito comportado. Mas uma coisa era certa: o BaianaSystem estava preparado para São Paulo. Se você se impressionou com o peso do álbum e ficou em choque com a energia dos caras no Carnaval de Salvador, talvez também estivesse pronto para vê-los ao vivo.

Russo se empolga com uma sacola cinza que vai parar em suas mãos. Para a entrevista e anuncia. “Neste momento, galera. Acabou de chegar o original Mudei de Ideia, do Antonio Carlos e Jocafi, com a capa foda, que eu adquiri. Está registrado para a VICE e para o mundo inteiro que eu tenho esse disco. Chegou agora no segundo dia do show do Baiana pra batizar”. Seko Bass explica a euforia. “Ele tá faz tempo atrás desse disco. Tá numas de fazer a coleção completa dos artistas."


"Eu faço figa pra essa vida tão sofrida terminar bem sucedida." Foto: Drago

Pouco depois das 21h30 o BaianaSystem subiu ao palco com casa cheia e com o jogo ganho de lavada. Quem estava ali demonstrava, desde antes do show, disposição pra se jogar. Máscaras começaram a ser distribuídas, CDs vendidos, tudo nos conformes. Menos, é claro, a fila da cerveja, que ia quase até a pista e, diferente do Carnaval de Salvador patrocinado pela Nova Schin, não rolava umas Skols e Brahmas vendidas na clandestinidade.

O show foi uma pancada quase ininterrupta. A única acalmada foi em “Terapia” e na participação de Siba, que entra com sua rabeca em “Cigano” e Mestre Nico. Russo explica a presença pernambucana. “Eu sou muito agradecido ao movimento manguebeat, muito. Porque eles realmente trataram isso da forma que devia ser tratada mesmo. Eles falavam de pluralidade musical, não é só se tem maracatu que é manguebeat. Como o manguebeat se revela através de poética, de comportamento. A gente também trata a coisa assim. Graças.”


Siba, que tocou guitarra e rabeca. Foto: Drago

Uma coisa que vale ressaltar é a presença de pelo menos dois sons novos na lista de músicas. A coisa é tão orgânica, que ela vai mudando ao longo do percurso e as músicas vão sendo criadas em cima das bases de canções já existentes. Por exemplo, “Playsom” nasceu da base de “Terapia”, “Jah Jah Revolta Parte 2” é a sequência da Parte 1. “Barra Avenida Parte 2tem uma primeira parte e assim por diante.

Um dos vídeos que mais marcou o Carnaval do Baiana foi o do tal Cavalo do Cão. O sample anunciava “não consumir cocaína, na adrenalina, na adrenalina” e a massa ensandecida pula antes do refrão de “Playsom”. “Essa faixa se chama “Forasteiro” e rolou no Carnaval. É uma faixa instrumental e aí vem a energia de Russo fazendo a coisa de MC e a carga dela. É só energia essa música”, explica Beto.


Cavalo do Cão, Seko Bass e Russo Passapusso. Foto: Drago

O salto evolutivo do BaianaSystem do primeiro para o segundo disco é nítido. E ele está em todos os detalhes: na postura de palco e nas referências jamaicanas do Russo, na pesquisa e na guitarra de Beto e no baixo pesado de Seko, que o principal responsável pelos beats em Duas Cidades. “Quando a gente começou a fazer os dois singles: “Terapia” e “Amendoim Pão de Mel” eu ainda tava meio indeciso sobre a qualidade. Eu mandei pra Dudu Marote e ele falou: ‘porra, Seko, é isso aí velho’. Eu ia gravar batera e acabei desistindo, porque ele me incentivou a não colocar. A partia disso eu comecei a acreditar na minha onda do beat.”

O Pompeia, literalmente, ficou pequeno para o Baiana, que transportou a porra toda para uma Fresh! no meio do Pelourinho. Ainda desnorteado, o público saiu da choperia, voltou à realidade, ao frio paulistano, mas com a sensação de que a os funcionários do Sesc talvez tenham toda razão: Vai ser embaçado ter outro espetáculo tão impactante quando esse. 


Chuva, suor e cerveja. Foto: Drago

Se liga que tem mais fotos do Drago. 


Foto: Drago


Foto: Drago
 


Foto: Drago
 


Foto: Drago
 


Foto: Drago



Foto: Drago

 


Foto: Drago
 

O BaianaSystem está no Facebook, InstagramSoundcloud 

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

MV Bill vive o traficantão do WhatsApp no clipe de “Cêélouco”

$
0
0

Você dá um salve no dealer, ele cola na sua goma com a droga e você, no máximo, precisou sacar um dinheiro no banco bem de boa, de vez em quando rola até um cartão de débito ou crédito. Esse rolê não é lá uma grande novidade. O tráfico delivery tá aí há um tempão e funciona que é uma beleza. 

Esse é o papo que o carioca MV Bill mete no clipe, e também na letra, de “Cêélouco”, faixa do seu EP Contemporâneo de 2015, o oitavo trabalho de sua carreira musical. Dirigido por Tiago Simas, o clipe, muito bem resolvido e simples, é um lyric video com a telinha do WhatsApp e um monte de emojis simbolizando grana, cocaína e altas emoções. Parece um comercial do Itaú para maiores de 18 anos.

Siga o MV Bill nas redes Facebook | Twitter | YouTube

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Brutalidade e broderagem no Maryland Death Fest 2016

$
0
0


Samael. Todas as fotos pelo autor.

Viver em Baltimore no final de maio significa muitas coisas: é quando o restinho do persistente inverno finalmente resolve se transformar em verão, é quando caranguejos e laranjas tomam conta da cidade e é quando uma legião de fãs de metal aparece toda coberta de roupas pretas e de couro para o Maryland Deathfest

No seu 14º ano, o MDF continua cravado no coração do centro da cidade. E se no começo ele era um festival que só acontecia por um dia e em apenas um lugar, agora ele se extende por quatro dias em dois locais na região turística do Inner Harbor (o que sempre resulta em olhares desconfiados das famílias que foram pra cidade pro fim de semana), assim como também em um estacionamento, que virou um festival a céu aberto com dois palcos e várias tendas.

O que diferencia o MDF do restante dos festivais dos EUA, na minha opinião, é a broderagem que rola na multidão, os fãs de fora que vêm curtir os shows, a equipe de seguranças (vi que muitos deles sabiam as letras das músicas — isso porque a organização do evento se preocupa em só contratar seguranças que curtem metal) e a estratégia de curadoria, que colocou juntos tanto uns artistas já bem famosos na cena estadunidense quanto alguns que geralmente só fazem shows na Europa, como Paradise Lost e Samael. 

Neste ano, a maior surpresa foi o afluxo das bandas mais velhas — já se esperava que os headliners Mayhem, Venom e Testament fizessem um show super daora, o que eles realmente fizeram, mas foi ótimo poder ver outras bandas menores dessa mesma "era", como Satan, Hirax ou o Demolition Hammer, fazerem shows tão bons quanto. Pra mim, o show mais cheio de energia que eu vi na semana inteira foi o do Excel — o Dan Clements estava claramente se divertindo pra caralho.

Apesar de algumas bandas terem cancelado (particularmente, foi bem triste não poder ver o Discharge) e de uma chuvinha no último dia ter dado uma esfriada no clima, o festival deste ano aconteceu sem muitos problemas. Nos leve já pro próximo, deuses do Deathfest.


The Offering


Venom


Doom


Weedeater


Claudio Simonetti's Goblin


Afternoon Gentleman


Samael


Mayhem


Repulsion


Hirax


Testament


Infest


Incantation


Khold

Veja Daeneyrs Targaryen e Khal Moro curtindo um Tupac

$
0
0


Reprodução do Instagram

Como cada novo episódio da sexta temporada de Game of Thrones está sendo uma avalanche de revelações bombásticas, com alguns momentos "wtf" e outros bem tristes (principalmente os que envolveram a frase "segure a porta"). Então foi um presente dos velhos e novos deuses nós nos depararmos com esse vídeo da Mãe dos Dragões Emilia Clarke e o guerreiro dothraki Joe Naufahu curtindo felizes da vida o bom e velho rap. Mas não é qualquer rap, senhoras e senhores. É "All About U", porque, assim como eu e você, a Daenerys e o Khal Moro também sabem apreciar um bom Tupac. Clarke meio que força Naufahu a participar do vídeo, insistindo que "ele sabe a letra!". O que é meio estranho, já que a gente achava que todos os dothrakis eram metaleiros, mas tudo bem. Sabemos que não merecemos uma coisa tão boa quanto esse vídeo, mas obrigada, Emilia. Também vale falar que por causa dessa pérola podemos perceber que, claramente, Tupac e o Khal são praticamente a mesma pessoa, entrelaçados pelo mesmo destino cruel. Assista à festa abaixo:

Siga o Noisey nas redes Facebook | Twitter

Ouça o novo som do Pusha-T "Drug Dealers Anonymous", com participação do Jay Z

$
0
0


Foto por Jaimie Sanchez

King Push está para sair e, pra melhorar a nossa espera por esse disco, o presidente da G.O.O.D. Music resolveu nos presentear com o seu primeiro single, que conta com participação do Jay Z, na noite desta terça-feira (31). 

Pusha, no começo do dia, já tinha anunciado no Twitter que ia lançar música nova. 

"Primeiro single do #KingPush hoje à noite"

Produzida pelo DJ Dahi, a faixa é a primeira colaboração entre Pusha e o CEO da ROC Nation aka dono do Tidal aka marido da Beyoncé, Jay Z. E, como já era de se esperar, ficou sinistramente daora. Pra melhorar, ainda tem um trecho da crítica que a jornalista conservadora Tomi Lahren fez à apresentação do Superbowl da Beyoncé deste ano na música ("Your husband was a drug dealer. For 14 years, he sold crack cocaine", que em português é: "Seu marido era um traficante. Ele vendeu crack por 14 anos"). E, logo depois deste sample, o Jay Z entra dando uma resposta ( "Bitch I been brackin' since the 80s / Google me, baby", traduzido pra: "Eu sou foda desde os anos 80 / Pesquisa meu nome do Google").

É a segunda faixa que surge num intervalo de menos de uma semana com colaboração do JayZ (a primeira foi "All The Way Up", do Fat Joe). Se o disco dele com a Beyoncé vai mesmo sair, a gente não sabe. Mas que é bom ter ele de volta, isso é.

"Drug Dealers Anonymous" vai ficar exclusivamente no Tidal por uma semana. Ouça abaixo:

Siga a Andrea Domanick no Twitter.

Siga o Noisey nas redes Facebook | Soundcloud | Twitter

Viewing all 1388 articles
Browse latest View live