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Aqui está um vídeo inédito do Kendrick Lamar se apresentando com o Prince

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Bom, vai demorar muito pra gente superar a morte do Prince. Mas, pelo menos, estão surgindo algumas coisas inéditas para podermos matar um pouco a saudade desse ícone do pop. Uma delas é esse vídeo que a página do The Prince Museum compartilhou nesta terça-feira (3), em que o nosso eterno Purple One aparece performando com ninguém mais ninguém menos que o Kendrick Lamar.

A gente sabia que o Prince e o Kendrick Lamar tinham uma relação. Os dois até tinham trabalhado juntos em uma música que não foi terminada a tempo para o To Pimp a Butterfly e o Kendrick admitiu que Prince serviu de inspiração para o lançamento do untitled unmastered. Porém, até hoje, pouquíssimas pessoas sabiam que os dois tinham tocado juntos num showzinho na Paisley Park, gravadora do Prince. E eles presenteram para plateia com uma bela sessão de improviso, com o Prince conduzindo a banda e o Kendrick mandando umas rimas por cima. 

Agradeça à Paisley Park e ao Yahoo, porque agora nós, meros mortais que não estávamos presentes naquela noite, podemos assistir a essa performance. Veja abaixo:

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Pare de reclamar dos serviços de streaming: hoje em dia é mole demais ouvir música

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Para alguns fãs de Beyoncé, a espera por Lemonade foi interminável. Passado um ano e meio desde seu último disco, a diferença de mais ou menos 24 horas entre a estreia do disco no Tidal e sua disponibilização no iTunes foi insuportável para quem não havia assinado a plataforma de streaming do Jay Z. Outra crise aconteceu com a chegada do Views, de Drake. Após sua estreia no Beats 1, o disco ficou disponível apenas no iTunes. Assim como com Lemonade, Twitter, Facebook e qualquer outra prede social, recebeu uma enxurrada de reclamações de consumidores, lamentando a ausência destes discos de sua conta gratuita por tempo indefinido no Spotify — ou seja lá qual o serviço de streaming de sua escolha que não ofereceu disco x ou y.

Dá pra entender a chateação das pessoas. Elas assinaram o Spotify, se acostumaram com sua interface esquisitinha, ficaram obcecadas de levinho com as playlists de “Concentração” e finalmente se comprometeram emocionalmente com o serviço premium de forma a por fim naqueles anúncios horríveis — que sempre aparecem na pior hora, matando a vibe toda com algum maluco gritando sobre remédios pra gripe. Então a vida ficou boa. Mas só até Rihanna lançar no Tidal. E pudemos ver toda a dor nascer de novo. Agora seu celular tem dois aplicativos, um para ouvir música e outro para ouvir Rihanna. Daí alguém sai no Apple Music. Daí cancelam o Tidal e assinam a Apple Music. Então o Prince morre e a única forma de refletirmos sobre sua genialidade é por meio do Tidal. Enfim, quando isso acabará?

O lance é que não é nada complicado sentir como se fôssemos crianças mimadinhas no Natal, gritando e fazendo manha porque aquela montanha de presentes chegou numa embalagem meio feia. Uma assinatura mensal do Apple Music, Spotify ou Tidal custa menos que uma pizza média e dá acesso ilimitado a um sem-fim de música. O Spotify dá descontos de 50% para estudantes, ao passo em que audiófilos detalhistas podem pagar um preço modesto no Tidal, garantindo assim streaming de maior qualidade para seus ouvidos de ponta. Em teoria, nunca houve época melhor para ser fã de música, independentemente de gênero musical.

Deixando de lado as variações de preços, a simplicidade pura e simples do modelo  cobrança pelo streaming deveria ser o suficiente para impedir reclamações. Por um valor não tão absurdo, podemos assinar os três dos líderes do mercado de streaming — Apple Music, Spotify e Tidal [17 + 14,90 + 28,90 = R$ 60,80] — sem desculpa para perder quaisquer exclusividades como Lemonade, Views ou Anti, contando ainda com vastos catálogos, listas feitas por curadores e conteúdo adicional. Pagando um valor que não se equivale ao preço de três CDs novinhos há uma década, nem mesmo hoje. Vivemos em uma era de ouro para consumo de música, em que o acesso e a disponibilidade de música custa menos que uma noite de bebedeira. Logo, por que todo mundo reclama?

Gastar uma quantia relativamente pequena para acessar praticamente tudo que se gostaria de ouvir não deveria parecer injusto, especialmente numa época em que tantos pagam serviços como o Netflix. Mas com música o buraco é mais em baixo. Da chegada do Napster em 99 e dali por diante, as pessoas simplesmente tinham a opção de não pagar nada pela música. Ao longo dos 17 anos que se seguiram, você, na maior parte do tempo, escolheu a pirataria — por meio do Limewire, Mediafire, Pirate Bay ou simplesmente escarafunchando o Google mesmo. Por um tempo, grandes gravadoras, artistas e grupos na indústria resistiram à mudança, tentando de ações judiciais a até mesmo avisos de utilidade pública sem qualquer resultado na tentativa de preservar ou, ao menos, tentar salvar algo de um modelo de negócios já antiquado.

A pirataria tem sido boa para os fãs, lhes dando a chance de ouvir todo o catálogo antigo de um artista, um disco novo ou uma série de lados-b em questão de minutos, por vezes antes de seu lançamento. Mas certamente foram os próprios artistas que sofreram mais com esta decisão. Serviços como o Spotify e Apple Music parecem estar coagindo fãs de música a pagarem por ela novamente, só que levando em conta o estado terrível da compensação recebida pelos artistas, faz bastante sentido que grandes artistas e suas gravadoras usariam de influência de forma a maximizar os benefícios destes serviços rivais. E por que fariam diferente? Perdemos o direito de opinar na maneira a qual esta música lançada quando escolhemos, coletivamente, não pagar por ela. É por meio desta ilusão que nos sentimos no direito de ter acesso a um enorme catálogo pagando quase nada.

Desde que estes serviços de streaming foram lançados, “lançamentos-surpresa” deixaram de ser atos de provocação à indústria e viraram lugar-comum para a maior parte dos grandes nomes do setor. Depois de um começo meio complicado, o Tidal segue como competidor da exclusividade diante deste novo paradigma de lançamentos, fazendo acordos seguidos de acordos para ser sempre o primeiro lugar para se ouvir um disco em especial ou mesmo assistir a um novo clipe. Discos como Free Weezy do Lil Wayne e a colaboração de Big Sean com Jhene Aiko Twenty88 são apenas alguns exemplos de conteúdos exclusivos do Tidal, sem contar os grandes lançamentos deste ano vindos de Kanye West, Rihanna e Beyoncé (até aqui).

Estes períodos de exclusividade de alguma forma deram a artistas específicos uma nova fonte de renda, mas também ajudou aos músicos a lutarem contra a pirataria de outra forma: essas plataformas de música provam ser um mecanismo eficaz para evitar vazamentos. Os maiores lançamentos do ano – inquestionavelmente Lemonade, The Life of Pablo, Anti e Views resistiram aos vazamentos que afetaram outros arrasa-quarteirões. No passado, estes discos caíram em sites de torrentes com semanas ou meses de antecedência, tornando obsoletas grandes campanhas de marketing e afins. Até certo ponto, a exclusividade no streaming deu jeito neste problema, ao menos para artistas de grande porte. Dito isso, estes exclusivos também tiveram o efeito imprevisto de rejuvenescer uma cultura pirata que parecia estar se retraindo. De acordo com a Forbes, apesar de ter evitado vazamentos, The Life of Pablo de Kanye West foi pirateado mais de 500 mil vezes assim que foi lançado. E dentro de 24 horas, Lemonade de Beyoncé foi pro topo dos downloads do Pirate Bay e Kickass Torrents. Downloads, suspeita-se, daqueles que achavam que não valia o esforço de experimentar qualquer serviço gratuitamente ou gastar um troquinho todo mês.

Para os fãs de música, nada parece ser o bastante. Queremos que os artistas sejam pagos de forma justa, mas pirateamos seus discos. Metemos o pau nos serviços de streaming por não pagarem os músicos direito, mas ainda assim nos recusamos a pagar mais por um bufê infinito de música nova. É aquela barganha faustiana pós-millennial em que acabamos sacrificando nosso poder de compra enquanto consumidores, trazendo junto um novo poder para o pessoal da indústria. De diversas maneiras, todos provavelmente precisamos reconhecer nosso papel na criação e sustentação da exclusividade destes discos. Nossas ações geraram os tipos de acordos multimilionários que Drake tem com a Apple, garantindo que o primeiro lugar em que poderemos ouvir Views seja via Beats 1, a Apple Music sendo o primeiro lugar a receber o streaming, e o iTunes sendo o primeiro lugar onde você poderá compra-lo.

Suas próximas reclamações sobre o próximo exclusivo do Tidal serão ignoradas, como deveriam. A solução para todo o drama de Lemonade não estar no Spotify custa bem pouco. Você vive em uma época extraordinária para ser fã de música. Então gasta essa grana e aproveita.

Tradução: Thiago “Índio” Silva

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O Projetonave faz 20 anos na ativa convidando beatmakers a repensar a sua música

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Foto: divulgação

Em 2017 o coletivo musical Projetonave, conhecido por se aventurar num caldeirão de ritmos que inclui rock, jazz, rap, dub, funk, MPB e eletrônica, completará duas décadas na ativa. Para marcar a data, a banda já está preparando um álbum especial, que apresentará influências e vibes de todas as fases, prometido para o início do referido ano. As comemorações, no entanto, começam neste mês e vão até a data de lançamento do disco. O primeiro produto desta celebração é o Projetonave Remix, que consiste em duas mixtapes, disponíveis nos formatos digital e k7. A banda abriu as pistas de suas faixas e liberou as sessões para que DJs, MCs, beatmakers e produtores as desconstruíssem e propusessem novos rumos sonoros.

Num total de 48 faixas, 45 convidados assinam remixes e re-edits. Só manos de responsa, entre eles Emicida, Seixlack, Cybass, SPVic, Grassmass, Elo da Corrente, Síntese, Sants, Cesrv e MJP. Segundo o vocalista Akilez, idealizador e produtor executivo da empreitada, cada convidado recebeu carta branca para fazer o que achasse melhor com a faixa. “Fomos criteriosos na escolha justamente para não ficar dando pitaco no trampo dos caras”, diz. “Na real, quase todos os nossos trabalhos funcionaram dessa forma. E esse é um tipo de disco que possibilita muito mais essa experiência, pois a característica é totalmente assinada por quem produz. Acho que faz mais sentido a liberdade.”

Antes que alguém estranhe: a obra não sairá nem em CD nem em vinil. É que os caras do Projetonave têm um apreço especial pelo k7, e justamente nisso mora o conceito da parada. “O K7 entra no quesito da nossa geração. Quando penso em mixtape, demo tape, a fitinha já vem na cabeça automaticamente. Quantas tapes de amor já não foram feitas?! Não consigo pensar numa mixtape em CD. É natural”, defende Akilez. Além disso, eles acharam que não faria sentido querer tirar lucro de um trabalho comemorativo. “Acredito que seja mais democrático o acesso digital grátis pra todos e, a K7, pra quem pira no formato.” Então é isso: a partir da próxima segunda (9) já será possível baixar as duas partes da mixtape no site do Projetonave.

O Akilez dá a letra de que a banda está com muito material pronto na gaveta pra soltar. Fora os remixes, há um EP de instrumentais, um álbum de dub em parceria com o Victor Rice e alguns singles do Nasbase. “Vamos soltando esse material enquanto nos internamos na caverna para criar nosso próximo disco. A nave voa rápido, bate algumas vezes, mas não para!”, garante ele.

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Planet Help: Autoramas e Planet Hemp fazem show beneficente

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Nos gloriosos anos 90 o Circo Voador era o palco mais cobiçado de toda uma geração de bandas underground do Rio de Janeiro, como Planet Hemp, Gangrena Gasosa, Chatos e Chatolins, Acabou La Tequila dentre muitas outras, como é o caso Littlle Quail que era de Brasília, mas sempre estava tocando lá. Em 1997, o prefeito Cesar Maia fechou o Circo, mas nem isso foi capaz de frear a cena — tanto que algumas bandas como o Planet Hemp bombaram, terminaram e depois voltaram, outras como o Chatos e Chatolins mudaram de nome para MCsHCs e o Acabou La Tequila se desdobrou em várias outras bandas e projetos solo. O Littlle Quail, por sua vez, foi uma das bandas que chegou ao fim na vera, e cada integrante foi pra um lado, o que fez o vocalista Gabriel Thomaz fundar o Autoramas, por exemplo. E ainda na esteira das transformações da cena, o Circo Voador foi reaberto em meados dos anos 2000 e continua sendo o palco mais cobiçado da cidade.

Dito todo esse interlúdio histórico-musical, o lance é que nesta quinta, dia 5 de maio, os cariocas vão ter a oportunidade de se transportar novamente pros anos 90, no HardCuore Fest, que reunirá o Planet Hemp, MCsHCs, Autoramas e o DJ Marcelinho da Lua — mas desta vez nem adianta ligar pros amigos de nenhuma dessas bandas ou da produção do Circo, porque já mandaram avisar que não vai ter VIP nem lista amiga, o motivo: trata-se de um evento beneficente.


Reprodução do Facebook.

A beneficiada em questão será a Layana Thomaz, irmã do Gabriel do Autoramas. Layana sempre foi figurinha carimbada na cena carioca, começou a trabalhar aos quinze anos como modelo e depois tornou-se estilista, a marca que levava seu nome desfilou por vários anos no Fashion Rio e hoje em dia ela ela toca o projeto itinerante ALoja. Mas nem tudo é glamour na vida de Layana, ela nasceu com um problema congênito no coração, e já passou por três cirurgias cardíacas. Em meio a ações na justiça contra o ministério da saúde, o SUS, e seu plano de sáude — que não custeou nenhum centavo do processo — a saída de Layana foi realizar o tratamento na marra. “O tratamento que inicialmente foi orçado em 160 mil reais e até agora, mesmo ainda não tendo terminado tudo que preciso para ficar zero bala de novo, o tratamento já chegou a mais de 450 mil reais”, me conta Layna. “Uma grande parte dessa dívida absurda já foi paga, graças a uma vaquinha feita entre amigos e família, alguns bazares beneficentes e um show em São Paulo, mas ainda não foi o bastante. Diante das ameaças agressivas do hospital, alguns dos meus incríveis amigos cariocas resolveram tomar uma atitude e montaram uma noite com a renda toda arrecadada para mim.”

B. Negão, um desses amigos, explica: “O hospital tá em cima, se pudessem , os caras tiravam a operação e o tratamento de volta...” O Circo Voador encampou a ideia e apenas os técnicos receberão meio cachê, e as bandas abrirão mão, sendo assim o grosso da bilheteria revertido para o tratamento de Layana. Então, conhecendo ou não a Layana, sendo você ou não um orfão dos anos 90 trata-se de uma oportunidade única para conferir algumas das bandas mais legais que já passaram pelo Rio de Janeiro tocando em seu habitat natural. E se você conhece a Layana ou qualquer uma das bandas, não vai pagar aquele mico de pedir entrada gáatis por favor e garanta já seu ingresso.

Hardcuore Fest 
Planet Hemp + Autoramas + MC's HC + MARCELINHO DA LUA 
Quinta, 05/05 // Abertura dos Portões: 20:00
Circo Voador

Ingressos:
R$ 50 (meia-entrada para estudantes, menores de 21 anos e maiores de 60 anos)
R$ 50 (cliente Odeon que apresentar ingresso de algum filme do cinema ou cliente Clube Sou + Rio)**
R$ 50 (ingresso solidário válido com 1kg de alimento)
R$ 100 (inteira)

Ingressos a venda na bilheteria do Circo e na Ingresso Rápido

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Mar, caranguejo e tosqueira são os três acordes básicos do rock de Vila Velha

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Fotos por Renata Henriques.

Subindo as escadas do estoque de um pub no centro de Vitória, no Espírito Santo, eu me sentia exatamente o que era: um repórter forasteiro levemente alcoolizado usando coque masculino enquanto perguntava a Fabio Mozine, fundador da Läjä Records, qual o tipo de música que seria a cara daquelas redondezas. “Um hardcore surf music podre, uns cara tocando de chinelo havaiana, bermudinha jeans com patch do Crass, camisa florida e um bonezinho escroto”, me disse ele. “E eu to levando pro estereótipo Läjä de Vila Velha. Mas se você perguntar isso pra minha mãe pode ser que ela te responda Roberto Carlos”.

Não é como se o jeito de se vestir fizesse diferença em Vila Velha, levando em consideração que a palavra “rock” no dicionário capixaba se refere a muito mais que o gênero musical em si. Rock, para eles, é sinônimo de rolê, festa, balada (and I think it’s beautiful). E naquela noite quente de sexta-feira, os plurissemanticamente rockeiros do Muddy Brothers fariam a primeira apresentação em sua terra natal desde o lançamento do disco Facing The Sky (Backwards) – que saiu aqui no Noisey em março deste ano. Também era o primeiro dia deste repórter na inóspita cidade. “O Renato e o Will são de Aracaju, mas quando se mudaram pra cá, adotaram o estilo Vila Velha rapidamente. Com certeza se você cavucar ali no Muddy Brothers, vai encontrar um vilavelhismo nos caras” me dizia Mozine, que faria mais tarde a abertura da casa com sua gangue d’Os Pedrero. E era isto que eu procurava: os picos, histórias e roques mais vilavelhistas que pudesse encontrar.

 
Nem se eu pudesse prever o futuro imaginaria que passaria um fim de semana inteiro aprontando em um motel de Vila Velha. Foto por Renata Henriques.

O vilavelhismo sobre o qual Mozine se refere pode ter tido início em meados dos 1990, quando a onda era ir à praia, beber e tocar punk. O Mukeka di Rato, banda em que Mozine é baixista, estava em seu ápice na cidade naquela época. Aliás, foi justamente este ápice, somado à decadência das grandes gravadoras, que deu o gás que faltava para Mozine assumir o espírito empreendedor e criar a Läjä Records, na intenção de gravar os próprios discos e vender os merchs de banda. Hoje, graças ao trabalho próspero do patrão, a “empreza” expandiu os horizontes alcançando gêneros completamente diferentes do hardcore punk, como o black metal do Bode Preto, o stoner rock do Muddy Brothers e a lambada brega do Figueroas. João Lucas, vocal do Muddy Brothers, acha que o que uniu as tribos não foi o Norvana, mas o mar: “A gente tem uma relação forte com o mar, talvez por sempre termos morado aqui. E tem o detalhe da água gelada ser um poderoso cura-ressaca”.

Isto é o que eu descobriria horas mais tarde, já que aquela sexta feira começou cedo. Por volta de 9h30 da manhã o ônibus estacionava no Terminal Rodoviário de Itaparica, depois de uma viagem de 15 horas desde São Paulo. João Lucas me surpreendia com seus cabelos esvoaçantes emaranhados em sua longa barba perguntando: “E aí, vamo tomar uma?”. Aceitei, mas não sem um café antes.

Pedi uma média e a garçonete respondeu “só temos café pequeno ou grande”. Me lembrei que não estava em São Paulo. Enquanto isso, João tomava uma Stella Artois e me dava uma triste notícia: “É capaz que a gente não consiga comer caranguejo. Eles estão na época da andada, e fica proibida a comercialização”. É popularmente conhecido como “andada” o período em que os caranguejos saem de suas tocas para se reproduzir e ficam muito vulneráveis à caça. São sete períodos ao longo do ano, desde fevereiro até abril, e o sexto (de 8 a 14 de abril) coincidiu com minha passagem pelo estado do Espírito Santo. O estabelecimento que servir caranguejo durante este período pode ser interditado, segundo a lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Lamentei dando um gole em sua cerveja.

[embed do instagram terceira ponte]

Depois de um breve tour por pontos lendários de Vila Velha (a terceira ponte, a ilha da Xuxa e a praia de pescadores em que a perna de Lars Grael apareceu boiando), deixamos as coisas no quarto e fomos encontrar Lorran, amigo de João e meu fiel escudeiro durante toda a viagem, na praia de Itapoã. Enquanto isso, munidos de cerveja e um fino, João me contava a história de uma banda de hard rock chamada Lion Heart, que tocava no saudoso Entre Amigos, lar de bandas como Dead Fish e Mukeka di Rato, e fazia um som livremente inspirado em Kiss e Van Halen, cujas letras do hit “A Noite Me Chamou” diziam coisas entre “em qualquer lugar a diversão vai rolar” e “com rock na veia ninguém me detém”, e deixavam todo mundo incerto sobre ser uma banda séria ou de brincadeira.


João Lucas Ribeiro demonstrando seu porte físico de leão da montanha para Lorran. Foto por Renata Henriques.

Depois de um delicioso bobó de camarão, profanado por uma porção de batata palha, Lorran e eu acompanhamos João até o estúdio Sabotage, onde a banda faria seu último ensaio antes do show, contando com Pedro Moscardi (do Mango/Single Malt) tocando baixo e teclados. Como o estúdio não comportava tanta gente, Lorran e eu esperamos do lado de fora, tomando xixa e conversando sobre todas as coisas do mundo. “Xixa é legal porque não te deixa bêbado, ela te nocauteia”, disse ele. Aproveitei pra reparar no rótulo da bebida: uma índia de peitos desnudos oferecendo a cuia de um líquido misterioso. “Isso tem cara de cilada”, pensei. Recordar os detalhes do fim de semana não é uma tarefa fácil quando se está em Vila Velha.

A noite nos chamou para a passagem de som no Liverpub, aparentemente a casa mais rock do famoso Triângulo, a Vila Madalena de Vitória. Foram 24 long necks de Heineken para esta tarefa. Logo depois disso, a xixa fez efeito e eu não me lembro de mais nada a não ser alguns flashes de situações aleatórias, como o copo de Jack Daniels na mão de João ou a longa fila que eu deixei Lorran cortar para entrar comigo no banheiro. Por sorte trombei a fotógrafa Thaís Carletti, que me descolou umas fotos bem maneiras do evento.

***

Na manhã seguinte, acordei de cueca no chão do quarto de João, com uma manta enrolada por cima de mim. Lorran dormia com ele em sua cama. “Até que acordamos cedo pro nosso padrão”, disse João, olhando no relógio do celular. Era meio dia. Tínhamos mais doze horas de sábado para aproveitar antes de João pegar o avião de volta para sua casa em São Paulo e eu seguir meu rumo. Começamos pela praia, novamente, para curar o bode e a ressaca que atingia nossos corpos. O mar em Vila Velha é gelado e as ondas são violentas. Dois minutos ali dentro já são suficientes para te deixar novo em folha.


Flagra do momento em que eu e Lorran levamos um sacode da onda enquanto João pega um jacaré com a maestria de Poseidon. Foto por Renata Henriques.

Dali fomos ao Três Irmãos, bar famoso por seu delicioso caranguejo. Lá encontramos Igor Pellegrini, baterista do Colt Cobra. Ainda tínhamos esperanças de conseguir comer aqueles deliciosos crustáceos, mas fomos rapidamente desiludidos pelo garçom, que mais uma vez salientou a andada dos bichinhos. Pô, bem que eles podiam se reproduzir parados né? De preferência, dentro da panela. Ficamos chateados e acabamos pedindo uma porção de peixe frito. E dá-lhe cerveja.


Quando não tem caranguejo a gente fica #chatiado. Foto por Renata Henriques.

Então descobrimos que o patrão Mozine também estava evitando a ressaca (mantendo-se bêbado) num bar ali perto. O Nando’s Frango vende frangos assados inteiros e em pedaços. Ele também tinha um pernil do tamanho de um travesseiro. Chegando lá, Igor flagrou o frasco de melatonina na mesa de Mozine e, indelicadamente, mandou: “Só assim pra dormir hein Mozine?”. O patrão, com um palito na boca e pernas arreganhadas, saudou a todos dizendo: “Ó os petistas aí! Fala mal do PT agora, Nando, quero ver!”. Mozine bebia com Alexandre Mignone, um agitador cultural famoso em Vila Velha, e quando não estavam falando sobre música, arranhavam um portunhol debochado para ter um ar revolucionário. “Antes que eu mande vocês tomarem nos seus ‘cuelos’, tá aqui a conta”, disse a atendente do Nando’s.


Um repertório infindável de impropérios no Nando’s Frango. Foto por Renata Henriques.

Peguei carona no carro de Mozine até a sua casa, o QG da Läjä Records. Os meninos foram a pé. Chegando lá, fui direto xeretar os discos do chefe da casa. João havia me dito que ele tinha uma pá de discos do Belchior. “O Mote e Glosa tá por aí em algum lugar”, me avisou. Quando encontrei o bolachão, me emocionei e lasquei um beijo na capa. Inauguramos a tarde de música na casa de Mozine com “Todo Sujo de Batom”.


A coleção de discos de Mozine tem brega, hardcore e muito Belchior. Foto por Renata Henriques.

Ainda sóbrio, Mozine me mostrou o escritório da Läjä, com seu estoque de discos, bonés e camisetas. “Sempre trabalhei em casa. Daqui sai mercadoria pra todo canto do Brasil, e o trampo aqui é 24 por 7”, me disse Mozine, organizando os produtos. Ele ainda contou que o que mais gosta de ouvir trabalhando é brega. “O foda é que dá vontade de beber”, confessou. 


Mozine me mostrando a Läjä Golpes, seu “império podre”.Foto por Renata Henriques


Adquiri uma camiseta do Crackinho e já vesti na hora. Ficar seminu no escritório da Läjä foi meu sonho por muitos anos​. Foto por Renata Henriques.

Mas foi quando João chegou com uma jarra de margarita que seguimos o protocolo de amar, beber e chorar largado. Mozine foi mostrando discos clássicos do brega, como Raimundo Soldado, Alípio Martins e Adelino Nascimento. Notei a riqueza de significado do verso “eu contava com a despesa/ foi somente tristeza que você me deixou”, da música “Não Tem Jeito Que Dê Jeito”, de Raimundo Soldado.


Aquele abraço sincero e carinhoso que só existe entre patrão e funcionário. Foto por Renata Henriques.


Agora um retrato posado para registrar o momento. Foto por Renata Henriques.

Quando a margarita acabou, fomos para a tequila e Igor me mostrou o hardcore niilista do FYP, o disco Dance my Dunce, com suas letras desbocadas como “Dum Coz I Say So” e “Fuck You And a Half”. De longe uma das bandas mais toscamente porcas que eu já ouvi – e isso é um elogio.


Muddy Brothers na Läjä Records: total respeito. Foto por Renata Henriques.


João ainda incrédulo no som da banda paulistana de Rock-Samba Lee Jackson. Foto por Renata Henriques.

Foi então que Mozine surpreendeu a todos com um disco chamado Rock Samba, de uma banda paulistana da Jovem Guarda chamada Lee Jackson. Na capa, ninguém menos que Bill Haley apresentando os brasileiros. O disco é exatamente o que o nome indica: uma fusão do rock clássico 12 compassos com o mais quente samba brasileiro, e fez com que, a partir daí, a banda abrisse todos os shows de Bill Haley e Seus Cometas no Brasil. Um dos pontos altos do LP é uma gloriosa versão de Rock Around The Clock com Brasileirinho, que faz você pensar estar em uma festa de carnaval dentro da estátua da liberdade. Eufórico, Mozine provocava: “Sambô é o caralho!”. 


Além da caixa de feira, tem mais discos na estante. “Aqui em casa ficam só os meus preferidos”, conta Mozine. Foto por Renata Henriques.

Depois disso, seguimos com mais Belchior, mais hardcore e encerramos os trabalhos com o Uah-Bap-Luh-Bap-Lah-Béim-Bum, um dos últimos discos de Raul Seixas. Ouvindo “Canceriano Sem Lar”, refletimos sobre o estado de saúde de Raul poucos anos antes de sua morte graças ao uso excessivo de álcool e drogas – não que isso tenha influenciado em nossas decisões a partir dali.


Uma bela selfie-ostentação para deixar claro que na vida o que importa são as coisas simples. Foto por Renata Henriques.

Varados de fome, seguimos ao Alcides – Carnes y Tragos, hamburgueria recém-inaugurada na região do centro de Vila Velha. Alcides, o dono, me contou que às vezes organiza algumas apresentações de cantores de folk e blues para embalar o preparo dos deliciosos hambúrgueres: “É evento que fecha a rua”. O carro chefe é o Bruce Leroy, que tem esse nome baseado no filme O Último Dragão, tipo aqueles kung-fu/comédia que passava na sessão da tarde. Ele é feito com carne de bacon moída e temperada com maionese caseira e molho barbecue. É de lamber os beiços.


O famoso sinal do Ronaldinho para saudar o hamburgão do Alcides. Tá tranquilo, tá favorável. Foto por Renata Henriques.


Depois de comer, tive que ser arrastado. Foto por Renata Henriques.

O Alcides foi apenas um pit stop rápido para o que viria a seguir, a noite de karaokê numa casa chamada Canto Livre, que mais parecia um buffet de festa de debutante. O salão era hermeticamente fechado por paredes de vidro e tinha mesas e cadeiras de plástico e cheiro de fritura em toda sua extensão. As luzes coloridas e o globo de espelhos davam o ar glamuroso que todo karaokê precisa, e as pessoas cantavam clássicos do sertanejo e pagode 90. Foram poucos os que tiveram a honra de ouvir João Lucas brilhar cantando “I Have Nothing”, uma das músicas mais bonitas de Whitney Houston. Em seguida, acompanhei Lorran em “Fanatismo”, do Fagner, e “You and I” da Lady Gaga, com a fotógrafa Renata Henriques, que teve as manhas de nos acompanhar o rolê inteiro.


João Lucas Ribeiro e seu olhar penetrante, cantando a música mais bonita de Whitney Houston. Foto por Renata Henriques.

No retorno pra casa, passamos pelos cantos mais obscuros de Vila Velha, onde João tinha uma surpresa para todos. Em um terreno baldio perto de um córrego poluído, algum maconheiro junkie pichou “Muddy Brothes” na parede – assim mesmo, sem o R. “É a homenagem mais Vila Velha que já fizeram pra gente”, comentou João, lisonjeado. 


Mesa de plástico, hambúrguer na sacola e porta garrafas escrito “beer” – precisa falar mais alguma coisa? Foto por Renata Henriques.

Terminamos o rolê comendo outro hambúrguer — a famosa larica dos muleke — que, na antípoda do Alcides, era um podrão de 14 reais que vem embrulhado num saco plástico, cujo dono havia morrido há poucos dias. Chegamos em casa às 5 da manhã com a certeza de que Vila Velha é uma cidade bastante subestimada, e parada obrigatória de quem gosta de um passeio pela tosqueira.

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A humanidade não tem salvação no novo single do Statues on Fire

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Foto por: Jaqueline Militão

Formada em 2012 por dois remanescentes do Nitrominds, o André Alves (vocal, guitarra) e o Lalo (baixo), a banda de punk/hardcore melódico Statues on Fire se prepara para soltar o segundo álbum. A estreia do grupo de Santo André, São Paulo, foi com energético Phoenix, de 2013, que rendeu uma turnê de duas semanas pela Europa no ano seguinte. “No Tomorrow”, single que o Noisey lança com exclusividade nesta quinta (5), é também a faixa que batiza o próximo trabalho. O disco, prometido para 20 de agosto, sairá em vinil na Alemanha pela Rookie Records e, nos Estados Unidos, pela Dang! Records. Em CD, a prensagem é da Cold Alone Records, com distribuição simultânea no Japão. A banda retorna à Europa para mais uma série de shows em outubro, divulgando o novo álbum.

É certo que o tipo de hardcore ao qual o Statues on Fire se dedica, na onda das melhores e mais clássicas bandas do gênero como Propagandhi, Down by Law e Husker Dü, não tem meio termo. Quando não é muito bom de ouvir acaba sendo genérico demais. E o lance é que os caras produzem um som de irretocável qualidade, com um instrumental muito bem gravado e executado e um vocal convincente. Na ideia, o papo continua sendo o radicalismo político, assim como na estreia. “No Tomorrow”, como entrega o nome, aborda a total falta de esperança dos integrantes com o futuro da humanidade. Pelo menos, segundo o André, “enquanto as grandes corporações continuarem a nos fazerem de palhaço”.

A nova fase da banda poderá ser conferida ao vivo no próximo dia 13, no Circo Voador/RJ, quando rola show ao lado do Menores Atos e Dead Fish. Saiba mais.

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O French Montana lançou o clipe de "Figure Out It", com o Kanye West e o Nas

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Você já quis dar uns rolês de moto no meio do deserto e ficar literalmente em cima das asas de um avião, mandando uns raps com os seus amigos? Não? Bem, mas é o que você vai ter vontade de fazer depois de ver esse clipe que o French Montana soltou pra "Figure Out It". Pra melhorar, ainda tem o Kanye West e o Nas no vídeo. Fala sério, é o tipo de coisa que você um dia já sonhou em fazer quando era criança. E parece que as coisas tão cada vez melhores pro French depois que ele assinou com a Bad Boy Records. Então, podemos esperar mais hits e motos daoras no futuro:

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Três novas músicas do James Blake e o disco novo sai logo menos

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Foto via Instagram.

James Blake, homem que dispensa apresentações, foi ao BBC Radio 1 nessa quinta (5) para contar o que ele esteve fazendo durante os últimos anos. “Eu gravei um disco. Acho que é o que fiz de mais importante desde então.”

E estamos prestes a escutá-lo. Além de tocar duas músicas novas, “Radio Silence” e “I Need a Forest Fire”, ele anunciou que o disco sai à meia-noite UTC (21h, horário de Brasília). Como anunciado previamente, ele se chama The Colour in Anything. Foi gravado parte em Londres e parte com Rick Rubin no estúdio Shangri La, na California, onde ele achou que foi legal “deixar alguma outra pessoa no controle por um tempo.”

Ele também falou um pouco das músicas, explicando que “Radio Silence” era originalmente a faixa-título do álbum. Ele já tinha a tocado ao vivo antes. Aí o disco mudou de título, e “se tornou meio que uma piada interna que eu estive muito silencioso no rádio.”

Enquanto isso, “I Need a Forest Fire” foi feita em parceria com o Justin Vernon, do Bon Iver, com quem Blake trabalhou no passado sob a alcunha Fall Creek Boys Choir. “Ele canta maravilhosamente, e faz isso rapidamente e sem esforços, é o tipo de pessoa que ele é”, disse Blake sobre a parceria.

Na entrevista com a apresentadora do programa, Annie Mac, ele também falou sobre o artista visual Quentin Blake (que não é parente dele), que fez as artes e outdoors para promover o disco, dizendo que “minha mãe é uma designer gráfica e me apresentou o trabalho dele.” Annie Mac também perguntou sobre suas aparições no disco da Beyoncé, Lemonade (nas canções “Pray You Catch Me” e “Forward”), sobre as quais ele disse: “ela é tão maravilhosa pessoalmente quanto eu achei que seria. Eu cantei a coisa certa, não sei. Eu não sabia o que ia acabar acontecendo com a música.”

E o resto, bom, o resto é que vamos ouvir um novo disco do James Blake em mais ou menos quatro horas. O resultado? “Eu acho que nós crescemos uns anos e, com esperança, ficamos um pouco mais espertos e aprendemos e documentamos isso. É a minha vida que mudou, não o processo [de fazer o disco], necessariamente.” Bem colocado, James.

Escute “Radio Silence”, “I Need a Forest Fire” e uma terceira nova música que o artista disponibilizou no Spotify, “My Willing Heart”, e veja a tracklist de The Colour in Anything abaixo:


O Fotógrafo Steve Schapiro fala sobre a magia de fotografar David Bowie

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David fora do personagem. Uma das minhas fotos prediletas dele. Gosto particularmente das mãos dele nesta fotografia. Los Angeles, 1975.

Todas as fotos são da autoria de Steve Schapiro, tiradas do livro Bowie, lançado pela powerHouse Books.

Em julho de 1973, David Bowie anunciou para uma plateia chocada, em Londres, que o show daquela noite seria o último de Ziggy Stardust, o personagem que o transformou num superstar. Bowie escreveria depois em suas memórias que havia ficado "exausto e completamente entediado com todo o conceito de Ziggy". Com o lançamento de Aladdin Sane no mesmo ano, Bowie se empenhava para tomar um rumo diferente, mas a sua extravagante nova persona lembrava muito a anterior. Alguma coisa tinha que mudar, mas o caminho à frente ainda não estava claro. Para Bowie, o ano seguinte foi um período de intensa transição.

Naquela época, o fotógrafo Steve Schapiro já tinha uma reputação estabelecida por capturar personagens famosos durante momentos cruciais de transformação. Tendo começado sua carreira como fotojornalista na área política, Schapiro fotografou Martin Luther King Jr. na Marcha de Selma a Montgomery, em 1965, e Bobby Kennedy Jr. durante a sua campanha para ser nomeado candidato à presidência, em 1968. Em 1967, fotografou Jerry Garcia, Janis Joplin e Ravi Shankar em Haight-Ashbury. Ele ainda foi o fotógrafo de set de O Poderoso Chefão, retratou Cassius Clay um ano antes dele se tornar campeão mundial de boxe de pesos-pesados e mudar seu nome para Muhammad Ali, e quando a revista People foi lançada, em 1974, o seu retrato de Mia Farrow mordendo um colar de pérolas foi a primeira capa. Fascinado pelo conceito de "momento decisivo" do seu herói, Henri Cartier-Bresson, o perspicaz fotógrafo desenvolveu um talento para a coisa — fotográfica e historicamente.

Quando o empresário de Bowie, Michael Lippman, perguntou a Schapiro se ele fotografaria o rockstar, Schapiro concordou “antes que ele conseguisse terminar a frase”. O que se seguiu foi um ensaio fotográfico de 12 horas de duração, do qual emergiram diversas fotos icônicas de Bowie, incluindo a fotografia em que ele está usando uma roupa de listras diagonais brancas, que ele voltaria a usar 40 anos depois, no seu último videoclipe, “Lazarus”. Schapiro descreve uma afinidade fácil com o Bowie, que se encarregou ele mesmo da direção de arte — a ideia de pintar as listras foi toda dele — para a alegria do fotógrafo. Schapiro prefere sempre ser o mais discreto possível durante os ensaios para permitir que a personalidade do seu objeto apareça. E naquele dia, foi o que aconteceu.  

Naquela época, a questão de qual Bowie você iria encontrar não era uma preocupação à toa, mas segundo Schapiro, o Bowie que apareceu naquela tarde era afável, tranquilo e educado, e ficou feliz em saber que o fotógrafo já havia retratado Buster Keaton, um de seus heróis. Embora a maratona de fotos tenha envolvido inúmeras trocas de roupas e personas, o que Schapiro testemunhou foi a constância do homem tranquilo e pensativo por trás de tudo. Bowie “conseguia encarnar personalidades diferentes, como um camaleão”, diz Schapiro, “mas ele era essencialmente ele mesmo”. Essa dualidade harmoniosa era parte da genialidade de Bowie: ele era, integralmente, tanto suas criações quanto um homem fora delas, e isto foi precisamente o que Schapiro capturou naquele dia.

As fotografias do ensaio de 1974, além de muitas outras que Schapiro fez de Bowie ao longo dos anos — incluindo aquelas que se tornariam as capas do single de Golden Years e dos LPs Station to Station e Low —  agora foram reunidas em um livro, intitulado simplesmente Bowie. Ligamos para Schapiro, na sua casa em Chicago, para conversar sobre a experiência de procurar — e encontrar — o homem por trás do lendário performer.


David relaxado na sua casa em Los Angeles, 1975. Gostei particularmente das mãos dele nesta foto.

Noisey: Você soube logo no início da sua carreira que queria fotografar grandes artistas um dia?
Steve Schapiro:
Soube logo de início que queria tirar fotos que eu sentisse que, de alguma forma, iriam durar mais do que um dia ou dois. E as coisas que me interessavam eram muito variadas. Estava muito interessado em arte na época; estava interessado em música. Quando era adolescente, a maior coisa a que você podia aspirar, na época, era trabalhar para a revista Life. Então fiz meus próprios ensaios, fui para Arkansas e fiz uma série sobre os trabalhadores imigrantes e mandei para a Life. Havia uma revista pequena chamada Jubilee que te dava um portfólio de oito páginas, o que era ótimo. Não pagava nada, mas não importava. Ela te dava um portfólio de fotografias. Fiz um ensaio sobre o vício em narcóticos no East Harlem. Depois, a Riverside Records me contratou para fotografar todas as suas sessões de gravação, em 1961. Então tudo isso foi o começo mesmo, e cada vez foi uma tentativa de — sempre é uma tentativa — fazer fotos que transmitam o espírito de uma pessoa ou evento, ou algo do tipo. E a minha percepção se afiou. 

Logo que comecei, tentando emular Cartier-Bresson, voltava com copiões em que eu havia perdido o momento decisivo e eles não faziam o menor sentido. Mas gradualmente desenvolvi uma percepção do que realmente queria fotografar. Meu trabalho geralmente não é estiloso no sentido que Irving Penn é estiloso. Você olha uma foto dele e sabe exatamente que é uma fotografia de Irving Penn, e também tem uma boa noção de quem ele fotografou. Mas, na maioria das minhas fotos, eu me esforço muito para capturar a pessoa. Me preocupo com emoção, design e informação. E acho que todas essas coisas são relevantes numa foto. 

Qual era a sua percepção de David Bowie antes de conhecê-lo, e quanto dela se mostrou verdadeira quando você o conheceu?Antes de conhecê-lo, ele parecia ser um performer de rock’n’roll glamoroso, incrivelmente talentoso e criativo que conseguia se transformar em várias pessoas, parecia passar por mudanças. Acho que os Rolling Stones e os Beatles, a música deles é fantástica, mas as suas performances eram muito parecidas, ano após ano. Até hoje, os Rolling Stones, na sua performance, o jeito que eles se apresentam é basicamente o mesmo de sempre. Os cenários podem ter mudado, as músicas mudam, mas o aspecto das coisas parece muito estável. Mas Bowie parecia ter uma preocupação enorme em crescer. Ele ia de uma coisa a outra, e assim que esgotava o que podia fazer dentro de um gênero em particular, ou com uma persona em particular, ia fazer outra coisa. E continuou crescendo. E acho que isso aconteceu durante toda a sua carreira. É brilhante quando alguém tem essa preocupação em crescer, não só em termos musicais, mas em termos de toda a sua personalidade e toda a aura que projeta.


Do ensaio fotográfico para a revista People. Fizemos retratos usando um cenário verde pútrido, o que nós dois achávamos que era a pior cor possível para se usar como fundo de uma capa de revista. Los Angeles, 1974.


David fumando um cigarro durante uma pausa nas filmagens de ‘O Homem Que Caiu Na Terra’, no Novo México, em 1975. Esta foto se tornou capa da Rolling Stone e uma imagem famosa.

David numa moto, usando óculos de proteção. Los Angeles, 1974.

Parece que o espírito de mudança contínua também guiou o seu primeiro ensaio fotográfico juntos, não?
Ah, sim, em grande parte. Começou, sério, com Bowie pegando uma camisa emprestada de um dos meus assistentes, entrando no camarim e pintando ele mesmo essas listras brancas por tudo, essas listras diagonais brancas que aparecem de novo no clipe de “Lazarus”. E essas foram as únicas vezes em que elas apareceram. Então havia uma coisa muito espiritual rolando, e ele começou a desenhar uns círculos no cenário de fundo, o que era incomum de se fazer. Ao menos ninguém tinha feito isso comigo antes, e eu já tinha feito muitos ensaios fotográficos. Então ele desenhou um diagrama da árvore da vida, da Cabala, no cenário de fundo. E isso foi a primeira coisa que ele fez na sessão de fotos. Então, basicamente, ele estava pensando muito em espiritualidade no começo desta sessão. Eu esperava alguém que fosse mais voltado para o rock’n’roll, e que também, em termos do que queria do ensaio, usaria figurinos mais rock’n’roll, desse gênero ou dessa forma de experimentar. E senti que ele parecia estar mostrando mais de si mesmo em muitas das fotos. Não em todas elas, mas em muitas delas, onde não está fingindo ser um personagem. Ele está sendo ele mesmo. Isso, às vezes, é algo raro nas pessoas que eu fotografo.

Fotografei muitos atores que criam um personagem interna e externamente, e eles são aquele personagem. Então, quando você os coloca na frente da câmera, às vezes eles não sabem quem são e ficam muito perplexos. Não sabem que expressão te oferecer, porque são muito bons em criar alguma coisa, mas em termos de quem eles mesmos são, isto não está tão evidente para eles naquele momento, quando a câmera começa a disparar. Foi muito, muito tranquilo trabalhar com ele, e nós parecíamos estar na mesma frequência, que é a maneira ideal de se trabalhar com alguém. Às vezes você tem que se esforçar muito para entrar naquela frequência e deixar a pessoa relaxada para poder mostrar quem ela é nas suas fotos. A pior coisa é quando, numa sessão de fotos, alguém está falando com você o tempo todo, porque se eles estão falando com você, não estão sendo eles mesmos. Estão mais preocupados com a conversa e com você. E não é isso que se busca com as fotos.

Além das fotos de músicos e atores, você é muito famoso pelas suas fotos de figuras políticas. Muitas pessoas disseram que Bowie, para elas, teve uma importância política em função de como ele rompia com as convenções sexuais e empoderava as pessoas a serem elas mesmas. Você acha que ele tinha uma espécie de poder político?
Bem, eu o via como alguém muito atento ao mundo, e ele certamente gerou mudanças no mundo social. Eu diria que ele era uma pessoa que tinha uma enorme confiança em si mesma. Foram poucas as pessoas com quem trabalhei que tinham isso. Ele tinha confiança de que estava no caminho certo em termos de quem ele era como pessoa. Não sei se essa é a expressão correta. Mas ele tinha uma forte ideia de quem ele era e acreditava nela. Tem algumas pessoas que são talentosas, mas muito tímidas em mostrar isso porque não têm certeza de que o seu talento é real ou de como as pessoas vão julgá-las. Bowie só era uma pessoa muito consciente, atenta ao mundo, e atento para, na sua cabeça, como tornar o mundo melhor e mais aberto.


David sentado no chão, desenhando círculos e depois o diagrama da Árvore da Vida, da Cabala, no cenário de fundo. Los Angeles, 1974.

Você tem alguma foto predileta do livro?
Acho que há muitas fotos desse ensaio de que gosto muito. Tem uma foto no livro que eu chamo de Bowie Blue, que tem uns círculos azuis atrás dele. É da época em que O Homem Que Caiu Na Terra estava sendo filmado, e ele está com a mão no rosto, usando uma luva. Eu estava fazendo uma exposição no ano passado em Chicago, no Paschke Center, e a exposição era de fotos do Andy Warhol, do Velvet Underground e do David Bowie. Imprimimos muitas fotos do David Bowie, 30x40cm, 20x24cm, e eu gostava delas. Mas, quando olhei a exposição, pensei: “Gosto das fotos do Bowie, mas elas podiam ser melhores”. E olhei de novo todas as transparências dos meus ensaios, e achei esta transparência que tinha sido totalmente ignorada durante todos esses anos. É de 1975, e nunca havia sido impressa, nunca havia sido publicada, nunca havia sido editada. Então, na noite anterior à abertura da exposição, fizemos uma impressão 40x50cm dessa foto, e ela roubou a cena. Foi a imagem predileta de todo mundo. Então, sim. Também tem uma foto do Bowie segurando o livro do Buster Keaton, gosto dessa foto. Não é necessariamente icônica, mas é uma foto de que gosto muito. 

Você ficou surpreso quando ele usou de novo a roupa com as listras diagonais no clipe de “Lazarus”?
Totalmente surpreso. Totalmente, totalmente surpreso. Era algo que eu jamais esperaria. Mas o que isso me mostrou foi que a roupa, ou toda essa ideia espiritual, esta forte percepção da Cabala e tudo mais, que ele tinha quando começamos, em 1974, era algo muito importante para ele — e que espiritualmente continuava sendo, no fim. Nunca esperei ver aquela roupa de novo. E é emocionante para mim, no sentido que senti uma proximidade ainda maior dele, de certa forma, e certamente uma enorme tristeza. Uma tristeza que todos nós sentimos. 

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Tradução: Fernanda Botta

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O grunge anos 90 ainda vive no novo clipe do Deb and The Mentals, "Take It Away"

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Quase um ano depois do lançamento do seu EP de estreia, Feel the Mantra, o Deb and The Mentals está lançando nesta sexta-feira (06) o clipe do seu primeiro single, "Take it Away", que você vê com exclusividade aqui no Noisey.

Segundo a vocalista Deb Babilônia (a "Deb" do nome da banda), a faixa foi escrita por ela e pelo Bruno Peras (Running Like a Lions) e produzida e composta pelo Alexandre Capilé (Water Rats). "'Take it Away' é uma denúncia junto às manifestações que estavam rolando na época em relação ao aumento das tarifas de transporte público aqui em São Paulo", explicou. "É firme, direta e abrimos os nossos shows com ela. Tocamos mais rápido, uma porrada bem dada", completou o guitarrista Guilherme Hypollito.

Dirigido por Giovanna Zambianchi, o clipe é um compiladão de filmagens bem caseironas da banda dando uns rolês no metrô de São Paulo, comendo uns hamburgão e, claro, fazendo uns shows, o que reforçou o ar grunge meio Hole da banda."A Gi acabou registrando algumas imagens aleatórias nossas por um tempo o que resultou nesse vídeo", disse Deb.

De acordo com o Guilherme, a banda paulistanta, que ainda conta com o Stanislaw Tchaick (Water Rats) no baixo e o Giuliano Di Martino na bateria, está se preparando pra lançar o seu primeiro full álbum. "Estamos trabalhando nele e deve sair até o final de 2016", respondeu. Assista ao clipe acima.

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Criolo, Emicida, Justin Timberlake, Radiohead, Mahmundi e James Blake lançaram sons novos

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Desde o ano passado, as sextas-feiras são oficialmente o dia em que a indústria fonográfica solta o dedo do gatilho do canhão de lançamentos pop. A ideia é aproveitar que sexta é tradicionalmente o dia do pagamento e você, jovem, já acorda aquecendo os sentidos para uma possível chapação de final de semana.

Mas é meio bosta isso, porque acaba que na sexta, além de você ter que contornar a sua própria ansiedade em não fazer nada, ainda tem que administrar a gestão de um pacote extra de adrenalina musical. E hoje está especialmente difícil de lidar.

Porque saiu o novo do Criolo! Que na verdade não é novo, mas sim uma refeitura do seu primeiro álbum bem rap Zona Sul, o "Ainda Há Tempo". Bate cabeça com timbres foda e inclusive outro dia fizemos um belo ao vivo da "É o Teste", que abre o disco. Muito muito legal. Ouça onde quiser no link, ou no embed aqui embaixo:

Ainda no nacional, tem o debut em formato longo da Mahmundi, a nova-nova-nova-nova MPB. Tem Spotify aí embaixo, e outras plataformas aqui:

Saiu também clipe novo do Emicida, no clima de homenagem que o Dia das Mães já está evocando, com a faixa "Mãe".

Agora dos gringos, dia repleto também. Primeiro para dançar no alto astral, o Justin Timberlake voltou e, como sempre, com sucesso e vibes de trilha sonora de filme da Disney. "Can't Stop the Feeling" — que é mesmo trilha de filme, a animação 3D Trolls, da DreamWorks e com produção executiva e atuação de voz do próprio Justin — tá com cara de que vai ser a "Happy" de 2016. Um som legal para jovens legais e cheios de positividade.

E para quem é branco e gosta de tristeza sintética, saiu o novo do James Blake também, o The Colour in Anything. Ele já havia soltado três músicas do disco ontem, agora tem a porra toda:

E o Radiohead segue deixando os escritórios das agências de publicidade em chamas por todo o mundo. Acabou de pintar um clipe para um som inédito deles, "Daydreaming". A página no Facebook deles informa que o clipe foi dirigido pelo MESTRE Paul Thomas Anderson e o aguardadissíssimo disco novo dos ingleses sai neste domingo mesmo, dia 8.

Até mesmo o Death Grips que, pra quem lançava um disco por mês, andava meio sumido, soltou seu sexto projeto Bottomless Pit na íntegra no YouTube:

Pra fechar, os veteranos do hip hop De La Soul também lançaram um single novo, "Trainwreck", pra promover seu novo disco por vir ainda esse ano, And the Anonymous Nobody.

Isso aí tudo oficialmente. Mas quem é mais ligeiro e sabe circular pelos cantos escuros da internet já viu por aí outros importantes links para, por exemplo, o novo do Kaytranada, 99.9%, e pro do Skepta, Konnichiwa. Dá uma busca aí no Twitter que você acha.

Eeeeeepa. Erro nosso. O 99.9% do Kaytranada e o Konnichiwa do Skepta também saíram oficialmente hoje e já estão disponíveis no Spotify, assim como os discos dos estreantes Tourist e Anohni

Hoje é provavelmente um dia difícil de trabalhar para quem tem menos 25 anos e o costumeiro descomprometimento com qualquer coisa além de si mesmo.

Então vê se deixa pelo menos uma janela do Word aberta aí no computador para qualquer eventual visita surpresa da chefia.

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O novo álbum do Hellbenders é a trilha de um road movie pelo deserto da Califórnia

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Foto por: Thanira Rates

Faz uma cara que publicamos algo sobre o Hellbenders. A última foi tipo dois anos atrás, quando lançamos o clipe de “No Thinking”. Àquela ocasião, a banda stoner já tinha passado pelo Rancho de La Luna, no deserto da Califórnia, onde gravaram o segundo álbum. De lá pra cá a curiosidade só cresceu, e, com ela a expectativa. Findo o suspense, aqui está o produto da experiência, que ganha o mundo com o apropriado nome de Peyote.

Enquanto o primeiro álbum do quarteto goiano era uma compilação de tudo o que eles já haviam composto até então, este segundo trampo vem com músicas que transitam menos pelas diferentes praias do rock. O álbum, ao contrário, é marcado por riffs, andamentos e melodias que invocam uma potente unicidade. “A gente tem a sensação de que nesse segundo disco escrevemos num período de urgência e com influências não necessariamente diretas de artistas ou bandas que escutamos nesse tempo. Influências que transcendem a música”, diz o guitarrista e vocalista Braz Torres.

O Rancho de La Luna, vocês sabem, é o estúdio do David Catching, que fez parte do Queens of the Stone Age e do Eagles of Death Metal como guitarrista e que já gravou bandas como Kyuss, Foo Fighters e o próprio QOTSA. Parece clichê dizer isso, mas tendo o som do Hellbenders tudo a ver com a vibe de um roadie movie pelo deserto, o isolamento e imersão total dos músicos naquele ambiente só veio inspirá-los a registrarem a sua melhor performance. Nas palavras do Braz, “é como se você sentisse a presença de tanta gente que já fugiu da cidade pra fazer música naquele lugar, é bem inspirador. Com certeza se o disco fosse gravado no Brasil soaria diferente.”

Peyote foi quase todo composto em três meses no estúdio do grupo, em Goiânia. O estúdio já estava agendado e os caras só tinham alguns rascunhos, daí a questão da urgência que o Braz menciona. “A primeira coisa que fizemos questão de fazer foi gravar ao vivo”, conta ele. “Gravamos todas as ‘faixas-base’ de bateria, baixo e guitarra em cerca de cinco dias. Depois fizemos gravações adicionais de guitarras, alguns synths, efeitos, percussões e as vozes. O estúdio tem muito equipamento velho e muita coisa de butique, acho que isso foi o que definiu o som que tiramos lá. Nada muito moderno, nada muito hi tech.”

Algumas curiosidades interessantes do processo de gravação no Rancho: quando a banda chegou na Califórnia, o Mathias (engenheiro de som) disse que era uma tradição do Rancho que as bandas gravassem pelo menos uma faixa que tivesse sido feita do zero lá. Então nasceu “New Jam”. O nome que acabou ficando assim depois de tanto tempo sem um nome oficial. Outro lance: os vocais finais do disco foram quase todos as versões das vozes guias, que servem de referência para a gravação dos instrumentos.

“Quando fomos refazer as vozes acabamos percebendo que os ‘scratch vocals’, como eles chamavam, estavam do caralho. Refizemos poucas coisas”, conta Braz. E eles também conheceram um punhado de gente bacana e tiveram seu momento de realização total quando viram o Chris Goss (que já produziu discos do Kyuss, QOTSA, Stone Temple Pilots) bater cabeça curtindo o riff de “Bloodshed Around”. Segundo o guitarrista, “Tentamos usar o máximo do arsenal de guitarras e pedais do Dave Catching, mas era impossível conseguir testar tudo. É bem massa vê-lo tocando no Eagles of Death Metal com as guitarras que a gente usou no disco.”

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Fora Masterchef! O Tyler, The Creator fez o programa culinário mais legal do mundo

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O Tyler, the Creator não é o tipo de cara que vai ao mercado assim que o sol nasce, gasta 30 dinheiros em frutas e vegetais e passa o resto do dia preparando uma refeição deliciosa e balanceada. O Tyler, the Creator é o tipo de cara que acorda uma da tarde, joga uns Fruit Loops numa tigela e come assistindo Adventure Time. E agora que ele tem seu próprio aplicativo, o Golf Media, o Tyler começou um programa de receitas para “pessoas normais”, o The Great Cooking Show of All Time.

Estrelando Bonnie Lalich como uma hiper-exagerada entusiasta de culinária e Tyler como um cara chamado “Mawrk”, cujas principais características são gritar “ME CHUPA, AMÉRICA BRANCA” e fazer waffles nota 11/10, o programa contém muita hostilidade entre apresentadores, um sketch surreal que envolve uma torradeira, e expressões faciais que eu nem sei como descrever.

No primeiro episódio, nós aprendemos a fazer waffles de canela que têm gosto de “Nickelodeon no sábado” e vão com certeza provocar diabetes em você que é novo demais pra ter diabetes, inclusive.

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Integrantes do Forgotten Boys e do Sonic Youth saem em turnê pelo Brasil com o Riviera Gaz

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Foto: divulgação

Há dois anos, mesmo em um ano sabático em Paris, o Gustavo Riviera, integrante fundador do Forgotten Boys, não conseguiu ficar longe dos palcos nem da música. A urgência criativa bateu à porta e ele acabou compondo algumas coisas para se apresentar solo na cidade. Essa foi a gênese do projeto Riviera Gaz. Os sons até poderiam estar em algum disco do Forgotten, caso passagem pelo filtro mais visceral do hard rock e do proto-punk. Trata-se de um rock cheio de pegada, só que pendente mais para o lado dos anos 90, do glam e da psicodelia folk. “São fases”, comenta Gustavo sobre o período em que nasceram tais canções, “passo um tempão sem compor e aí, às vezes, fico com muitas composições surgindo na sequência. Tem músicas que pintam só como algumas ideias, que vou usar muito tempo depois, e músicas que são compostas um dia antes de gravar.”

De volta ao Brasil, ele convidou o multi-instrumentista Paulo Kishimoto, que também toca no Forgotten, a assumir o baixo e, vejam só, o Steve Shelley, baterista do Sonic Youth, que estava de passagem pelo país, para a gravação do primeiro EP. O play vem com cinco músicas. São basicamente os rascunhos que ele formatou lá em Paris, como a faixa-título, “Pere Ubu”, inspirada na peça de mesmo nome do francês Alfred Jarry, que estava lendo na época, e “Cowboy”, sobre The Connection, versão cinematográfica da Shirley Clarke para o texto de Jack Gelber, que andava em cartaz no cinema por lá. O show rolou no espaço La Maudite e contou com o camarada Wagner Morales na guitarra e violão.

Pere Ubu foi parcialmente gravado no estúdio Family Mob em um dia. No caso, as sessões de bateria, baixo e guitarra das cinco músicas, pelo esquema do Converse Rubber Tracks. O restante foi finalizado no Jalapeño Verde Studio, do Paulo Kishimoto, e a mixagem ficou a cargo do Fernando Sanches. Já o contato com o Steve Shelley se deu através de um amigo em comum que mora em Paris, o fotógrafo Matias Corral. Foi ele quem fez a conexão entre o Paulo e o Steve, quando este veio tocar pela primeira vez com o Lee Ranaldo. “Aí nos conhecemos e, quando ele voltou para outra série de shows com o Lee, combinamos antes e ele ficou uns dias a mais para gravarmos as músicas”, conta Gustavo. “Foi bem rápida a gravação, o Steve é um batera incrível, entende bem rápido onde queremos chegar no som.”

O motivo do lançamento da obra rolar somente agora tem a ver com a falta de tempo para se dedicar ao projeto e às diferentes formações que não vingaram, segundo o Gustavo. “Aí veio a ideia do Paulo de convidar o Steve e a coisa andou”, comemora o músico. O repertório do EP será apresentado junto com outros sons inéditos nos shows da turnê de lançamento, que começa nesta sexta (13). E as inéditas provavelmente também serão gravadas agora em maio. A turnê vai contar com Steve na bateria e tudo. Se liga aí nas datas:

13/05 – Serralheria (São Paulo/SP)

14/05 – Festival Bananada (Goiânia/GO)

18/05 – Célula Show Case (Florianópolis/SC)

20/05 – Cemitério de Automóveis (Londrina/PR)

21/05 – Tribos (Maringa/PR)

O Riviera Gaz está no Facebook e no SoundCloud

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Assista ao lyric video de "Rita", do Luneta Mágica

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Se você acha que a região norte do Brasil é rica apenas em diversidade natural e o Amazonas é só um estado cheio de açaí, índios e a zona franca de Manaus, você está muito mal informado. Por ali, não só o prato de comida é bem servido, mas também a nova MPB. Semana passada mostramos aqui o clipe de “Sim”, dos manauaras do Supercolisor, e nesta segunda (9) chegamos com seus conterrâneos do Luneta Mágica, e seu lyric vídeo de “Rita” o mais novo single do segundo disco da banda, No Meu Peito

Para a concepção de “Rita”, a banda diz que eles quiseram trazer à tona seu lado mais lúdico e criativo: “Esta foi a última música a ser gravada no disco e nela procuramos não nos tolher em momento algum. A construção desse som foi uma brincadeira de descobrir-se criando, como nós observamos ser o espírito infantil”. Tanto a música quanto o vídeo são uma homenagem ao gênero feminino: “Todo tipo de mulher está presente no vídeo. Mulheres que rabiscam o céu, mulheres que andam descalças pra sentir a terra nos pés, mulheres que adoram o mar... e é tudo muito abstrato”.

A banda convidou o videomaker Thiago Looney para dirigir o clipe. Usando inserts de imagens de domínio público, ele abusou do RGB para deixar os versos bem coloridos na tela. O resultado é um vídeo vibrante, alegre, e de cores pulsantes: “Como se fosse um karaokê numa TV antiga, a banda estaria dentro da TV com as imagens sendo projetadas em cima dela”, completam.

O Luneta Mágica ainda está se encontrando. Mas desde o lançamento do No Meu Peito, as coisas têm começado a dar certo demais para a banda amazonense. Com uma sonoridade já diferente à da estreia, é como se eles estivessem desabrochando: “Aprendemos a nos conhecer melhor como músicos. Esse amadurecimento é importantíssimo! Sentimos que a banda está bem perto de encontrar sua verdadeira sonoridade” dizem, confiantes.

E a julgar por suas apresentações ao vivo, esta sonoridade está próxima de se definir. Em março, a banda fez um prestigiado show ao lado do Boogarins no Teatro Manauara, em Manaus. Agora, eles são os novos integrantes do projeto Prata da Casa, do Sesc Pompeia. Eles estão animados e prometem novidades para o próximo show, que acontece nesta terça (10), às 21h: “Ao vivo, procuramos potencializar elementos orgânicos do disco. Algumas músicas ganharam versões estendidas e outras músicas foram completamente repaginadas para se adequar a configuração da banda atual”.

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“BH é o Texas”: O rock triste e a cena fantasma de Belo Horizonte

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Fábio Carvalho. Foto por Raquel Rodrigues.

Depois de uma certa música do Lupe de Lupe, virou clichê dizer que há algo de podre no reino de Minas Gerais. Mas não dá pra negar que a província de Belo Horizonte é conhecida por ter muitas bandas. "BH é o Texas". "Aqui as coisas acontecem orgânica e desordenadamente, desvinculadas umas das outras” diz Marcella Lopes, vocalista da recém fundada Mietta. Marcella tem razão. De uns tempos pra cá, o cenário musical de Belo Horizonte tem divergido muito entre si. Claudio Valentin, baixista do Lollipop Chinatown, concorda que o pensamento provinciano é maioria por lá: “As pessoas parecem estar vivendo um revival de Clube da Esquina o tempo todo. Todo mundo quer viver a Tropicália, quer fazer som parecido, e não veem que isso já foi”, explica.

Não vou mentir. De uns meses pra cá, a Geração Perdida de Minas Gerais me apresentou um punhado de bandas interessantíssimas, que me fizeram reencontrar uma identificação musical há muito tempo soterrado em novos lançamentos de música pop da internet. Então, munido de pouco dinheiro, mas muita vontade de conhecer uma das cidades mais ricas e interessantes do sudeste brasileiro quando o assunto é diversidade musical (e louco pra provar o melhor pão de queijo do mundo) visitei Belo Horizonte pela primeira vez.

Pois bem, acredita-se que o motivo pelo qual a maioria dos belo-horizontinos prefere investir na fórmula de seus antecessores é o sucesso de bandas como o Graveola e o Lixo Polifônico que, com mais de dez anos de estrada, já tem prestígio e reconhecimento nacional. Em uma entrevista para o jornal mineiro O Tempo, o vocalista José Luís Braga defende que a banda trouxe uma oxigenação para a música mineira: “Acho que a nossa importância foi ser uma espécie de chave para abrir um novo jeito de fazer música, depois da decadência das gravadoras”.

O que José quer dizer é que, em meados de 2005, o Coletivo Fora do Eixo chegou a Belo Horizonte tomando de assalto os nichos culturais da cidade, trazendo de Cuiabá ideias frescas para colocar as bandas em movimento. Dali saíram dois fortes coletivos artísticos independentes: o Fórceps e o Pegada que, graças ao conhecimento da chamada economia colaborativa e trabalho em equipe, conduziram os músicos pelos caminhos tortuosos dos editais e das leis de incentivo. O Graveola gravou assim seu primeiro e autointitulado disco, e isso fez com que muitos artistas independentes mineiros pudessem desbravar estas novas trilhas.


(“A Monno abriu pro show do Keane. Hoje em dia a gente sabe que o Lupe nunca vai abrir um show desses”.)

Porém, enquanto isso, em outro canto da cidade — mais para os lados da Zona Norte e da Lagoa da Pampulha, onde hoje rola umas jams ao pôr do sol movidas no binômio cerveja e amizade — meia dúzia de gatos pingados também tentavam seu lugar ao sol, só que com uma sonoridade um pouco diferente, que não se adequava a essa linha ~brasilidades~ da nova MPB graveolística. Vitor Brauer, vocal do Lupe de Lupe e idealizador da Geração Perdida explica: “Naquela época tinham umas bandas muito modinha, meio indie rock, que dava pra vender. Tinham uns eventos que eles se juntavam com o Graveola, que em BH também vende muito até hoje. Tinha a Monno, a Valv... O Lupe estava gravando o primeiro EP, o Recreio, e o sonho era ser grande igual essas bandas aí. A Monno abriu pro show do Keane. Hoje em dia a gente sabe que o Lupe nunca vai abrir um show desses”.

ACEITAÇÃO

Vitor sabia que havia muito trabalho pela frente: “O povo de BH é muito tradicional, a galera não é muito progressista. A maior vanguarda ainda é a do Clube da Esquina, pra se ter uma ideia. No começo, o Lupe estava num lugar esquisito entre o punk, o rock e o experimental. E nenhum punk ia no show, ninguém da galera experimental ia no show, então a gente teve que insistir muito. Daí tentamos transformar o show numa coisa divertida, pra todo mundo curtir e se identificar, não ser algo muito cabeçudo ou pedante. A gente percebeu que tinha que falar da gente mesmo, porque tem muita banda falando de forma criptografada, com letras todas trabalhadas nas palavras difíceis, que falam, falam e não falam nada. Daí começamos a ser aceitos, meio que por insistência”.


(“Triste e sem motivos, não tem coragem de desistir”)

O tempo passou, os coletivos se dispersaram, e tudo passou por uma refazenda: “Todo mundo que gostava de música assistia o programa Alto-Falante [da Rede Minas], e era assim que as bandas ficavam conhecidas. Hoje em dia, os meios como esse morreram, é tudo meio no ‘boca a boca’, isso influenciou na cena atual” pontua Vitor. Fernando Bones, baixista do Aldan, concorda: “Hoje não rola tanto espaço na mídia. O Alto-Falante sofre altos perrengues por ser de uma emissora estatal. Antigamente a gente tinha casa de show com capacidade pra mil pessoas enchendo direto, o que só foi diminuindo. Hoje a [casa de show] que tem capacidade para trezentas [pessoas] custa a encher". Como diz a música do Aldan, “a cidade de Jeca Tatu que torce pro Rogério Ceni” voltara ao seu marasmo.

 “O público roqueiro de BH ficou muito conservador. Hoje tem show de banda cover com mais de 600 pessoas. Daí a gente acaba tendo que ganhar relevância em cima da popularidade dos outros” conta André, ex-Cães do Cerrado e atual vocalista do Jota Quércia, um duo de rock zuera que faz música sobre o Eymael (o democrata cristão), paródia com o jingle do Itaú e fica de cueca no palco. Na mesma noite em que André me falou dessa cena cover de BH, eles fizeram um show n’A Obra, uma das casas mais famosas da capital, pra pouco mais de 20 pessoas.

INCONFORMISMO

Porém, foi seguindo os ensinamentos de persistência do Lupe de Lupe, somados com inconformismo e aquela sensação antiga de não-pertencimento que a geração indie mineira dos vinte e poucos anos tomou as rédeas do rolê com o autoproclamado Rock Triste: um tipo de post-hardcore com influências de folk e math rock que acende a chama do emo revival. Jonathan Tadeu, ex-Quase Coadjuvante, membro da Geração Perdida e um dos caras mais requisitados da cidade quando se trata da velha máxima do faça você mesmo, explica: “Eu tenho dificuldade pra falar que existe uma cena de rock em BH, porque são vários grupos que fazem coisas diferentes. É tudo muito fragmentado e as cenas não dialogam. Mas acho que, pela primeira vez está acontecendo um rock muito influenciado pela Lupe, pelo emo, pelos anos 90 e pelo experimental”.


(“Talvez seja melhor aprender a lidar com a própria solidão antes de viver a dos outros”)

Foi assim que Diego Arcanjo, baixista da El Toro Fuerte, sacou de prima esse deslocamento e começou a se mexer. Eles acabaram de debutar, em março deste ano, o elogiado single “Se A Gente Tivesse Se Conhecido”, pela Bichano Records, e isso o motivou a organizar “na tora” (que significa “na raça” ou “por conta própria”) o Bichano Fest BH, na Casa do Jornalista, que juntou a El Toro Fuerte e Fábio de Carvalho aos paulistanos da Raça e da Ombu, estabelecendo uma conexão MG-SP, com este repórter como testemunha ocular.

Entre latões de cerveja a seis reais (o preço mais justo que eu já vi), Diego me contou que só a vontade de ver suas bandas preferidas tocando era suficiente pra fazer dar certo: “O Jonathan [Tadeu] nos colocou em contato com a Casa do Jornalista e deu todo o suporte no que a gente precisava pra marcar a data e correr atrás de divulgação. Daí fomos atrás da Bichano Records e aí a recepção da ideia foi ótima. Com um mês e meio de antecedência começamos a divulgar. Fechamos com os meninos de SP e eu literalmente coloquei todo mundo na minha casa”. O show atingiu a marca de mais de 150 pessoas, lotando a casa — uma conquista ao levarmos em consideração que naquele mesmo sábado de abril (um dia atípico para shows indie) o próprio Graveola se apresentava gratuitamente numa praça da cidade.


(“Existe uma particularidade nas festas da juventude que nasceu no fim do século XX”)

Quem abriu o show foi o Fábio de Carvalho. Ele tem 19 anos e é uma das promessas dessa nova geração de rock triste. Suas letras melancólicas sobre dilemas existenciais que vão muito além de sua idade encaixam perfeitamente em suas melodias e lembram muito o Bob Dylan em seu ápice. Seu disco de estreia, Tudo em Vão, foi apadrinhado por Vitor Brauer: “Quando eu conheci a Geração Perdida, comecei a entender esse jeito meio confuso de fazer música. Foi ali que eu me encontrei e assumi que eu queria fazer isso. Em BH é tudo muito estranho, as pessoas não têm muito interesse nas coisas, todo mundo é muito fechado num mundinho. É muito fácil se alienar nessa cidade, parece um conformismo”, explica.

João Carvalho, vocalista da El Toro, também é fã de Lupe de Lupe e tem o mesmo pensamento de Fabinho: “Eu acho que o Lupe condensou as influências todas num lugar só, sabe? Pavement, emo, noise. Acho que eles foram a primeira dessas bandas que a gente não sabia explicar direito o que era, mas que, por conta disso, teve uma afetação emocional muito grande na gente. De alguma forma, isso uniu a gente, sabe?".

REGULARIDADE

Conectando tudo isso está a Bichano Records: um selo carioca fundado em janeiro de 2014, que serve como vitrine para bandas e artistas que têm esta cara de emo revival, como Gorduratrans e Nvblado — as meninas dos olhos do catálogo. Para Fred Zgur, um dos idealizadores, tudo está rolando bem demais: “Poder viajar pra colar em um rolê que leva o nome da Bichano, e que funcionou da forma que funcionou, é uma sensação de satisfação muito grande. Acho sim que de uns poucos anos pra cá a coisa tá cada vez mais alastrada, com mais gente ativa se organizando. O rolê está se tornando regular de fato, que é o sonho e o objetivo de todo mundo. A Bichano existe unicamente pra fomentar, integrar e tentar fazer isso tudo girar”.

Jonathan Tadeu acredita que a Bichano tem um futuro brilhante pela frente: “Eu me empolguei muito quando o Fred me falou que queria fazer esse rolê em BH. Eles têm um catálogo gigante e um público fiel. Até antes de eu conhecer os caras eu já ouvia o que aparecia por lá. Eles já criaram uma credibilidade e eu acho que a Bichano é um negócio pronto pra explodir”. Dá pra perceber. Porque tudo que motiva estes jovens é a pura vontade de ver acontecer. Então, mesmo prevendo tempestades à frente, eu não temo mal algum, porque pelo menos se tratando de som, é um tempo lindo para estar vivo.

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O Côro MC mostra de onde ele veio no clipe de "Insólita Sensação"

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Logo depois de ter seu visto negado pela embaixada dos EUA no Recife e perder a oportunidade de gravar no Sunset Studio, de Los Angeles, o Côro MC voltou pra Fortaleza e decidiu colocar sua frustração no papel. "É como se eu estivesse conversando comigo mesmo sobre várias fitas que rolam na mente de um MC em busca de reconhecimento", conta o rapper sobre a concepção de "Insólita Sensação", primeiro single do que viraria mais tarde seu EP Vem Desse Naipe, gravado em parceria com o projeto Converse Rubber Tracks Worldwide.

Pra dar o prestígio que o EP merece, o MC decidiu lançar quatro clipes para o EP — um pra cada faixa e um por mês, começando justamente pelo de "Insólita Sensação". O clipe se passa na Barra do Ceará, em Fortaleza, retratando o povo e o cotidiano do lugar onde Côro nasceu e cresceu. "Não posso negar que teve sim também um direcionamento político, decidi mostrar isso pra ver se de alguma forma eu traria alguma melhora pro meu bairro e pras pessoas daqui", conclui. 

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O mineiro Jonathan Tadeu registrou o honesto, o comovente e o cafona em 'Queda Livre'

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Jonathan Tadeu. Foto de divulgação por Flávio Charchar.

Queda Livre, o nome do segundo disco do mineiro Jonathan Tadeu, pode até sugerir um destino trágico, etc. Mas não pense que eu quero que você se jogue da janela, não! Ao contrário, espero que você, nosso emotivo e estimado leitor, ouça esse disco — que sai com exclusividade nesta terça (10), aqui no Noisey — pensando sobre suas escolhas olhando as estrelas e o horizonte.

Jonathan Tadeu, ex-Quase Coadjuvante e ex-Lupe de Lupe — e se você conhece essas duas bandas, sabe que a intenção ao ouvir esse tipo de som é ficar introspectivo —, acha que esse é seu trabalho mais íntimo: “Tem muita verdade no som. É aquela linha tênue entre o que as pessoas consideram honesto e comovente e o que cafona (risos)”.

Tudo que ele narra nas letras é baseado em suas experiências pessoais. Talvez daí que venha tanta identificação. “O disco é bem explícito, de várias formas. Eu pensei bastante antes de fechar essa tracklist do disco porque sempre rola esse medo de soar como um narcisista ou coisa do tipo, mas eu acabo sempre optando por fazer as coisas assim mesmo. Sei lá, até hoje deu certo”. Jonathan acha que essa auto-crítica excessiva tem a ver com seu signo, peixes, que ele até cita em “Sorriso Besta”. “Eu nem entendo muito de signo, mas sei quais são os que se encaixam no perfil da galera mais dramática. Peixes é o mais desgraçado de todos”, brinca.

Guitarras choronas com potentes e agudos dedilhados, oscilando com acordes limpos e vocal calmo de letras diretas compõem as características que marcam o rock triste de Belo Horizonte que tem chamado atenção ultimamente. Jonathan atribui estas características ao emo revival que testemunhamos: “O que eu mais ouvi na época que tava compondo as músicas foi o American Football e o Elliot Smith, que já é influência pra mim desde sei lá quando. Acho que tem uma galerona meio influenciada pelo rock mais arrastado dos anos 90, como Ombu, gorduratrans, Maquinas, El Toro Fuerte e o Fábio de Carvalho. Tamo bem demais!”.

E apesar da vibe tristonha, Jonathan espera não fazer ninguém se martirizar ouvindo suas músicas. Por isso, já virou praxe ele deixar um recado positivo no fim de seus discos, como é o caso da última faixa, que leva o título de “O mundo é um lugar bonito e eu não tenho mais medo de morrer”, uma tradução literal do nome da banda de Connecticut. “Além da banda, eu sempre gostei dessa frase. E na época que eu estava escrevendo essa música, a ‘Getting Sodas’ rodava muito na minha cabeça. Essa aí é muito sobre essa coisa de tentar seguir em frente e ver as coisas boas, apesar de tudo. É engraçado, eu me preocupo muito com isso. Na real, eu acho esse disco absurdamente otimista (risos) acho que é o mais próximo que eu consigo chegar de um disco sobre amor.”

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Na feira de São Cristóvão, o happy hour do proletariado é tudo junto e misturado

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Todas as fotos de Leonardo Coelho.

O leãozinho da RAF Electronic  — cujo design deve ter sido feito pela mesma equipe que desenvolveu o Dollynho, sem deméritos —  surge na velha tela da máquina de karaokê pedindo para digitar os números da próxima canção. As seis mil opções se encontram em um livreto tipo menu de restaurante popular, só que ainda mais úmido de cerveja, refrigerante e outros fluidos não identificados. Passado de mão em mão, esses livros são uma espécie de Bíblia das máquinas de karaokê da Feira de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. E com R$ 2 você pode louvar a quem quiser. A única diferença é que, ao contrário das jukeboxes paulistanas, na feira carioca, ao invés de ouvir Frank Sinatra cantando “My Way”, você pode escutar a mesma canção na voz rouca de um senhor que provavelmente tomou algumas cervejas a mais  ( não estranhe caso ele chore) e simplesmente entrou no boteco em que você e seu amigos íntimos estavam. Olhe pelo lado bom, o setlist que vocês fizeram provavelmente estava muito homogêneo, cheio de rockzinhos tipo Raimundos ou Los Hermanos e canções pop grudentas tipo Spice Girls. O senhorzinho fez um favor à noite de vocês. Ele sabe que o negócio em São Cristóvão é a mistura, inclusive no karaokê.

Durante uma andança pela feira durante um final de semana de abril, bebi muito Guaraná Jesus, comi sarapatel (e detestei), planejei a ida ao próximo show do Pablo, aka Homem não Chora, e tentei descobrir qual a música mais tocada nas máquinas de karaokê da feira.

O empresário do ramo das máquinas de karaokê, Luiz Paulo, dono do Bazar da Cantoria, possivelmente o bar de karaokê mais famoso —  e privativo para os mais sensíveis a infiltrações externas —  do local me avisa que há cerca de 38 máquinas espalhadas pela feira, cada uma com um livreto com cerca de seis mil músicas bastante desatualizadas. No bazar do Luiz, porém, o negócio é profissa. “Aqui temos 130 mil músicas atualizadas e o nosso próprio KJ, o VJ do Karaokê”. O bagulho lá é tão completo que até música do Estado Islâmico está no catálogo caso alguma vivalma tenha a moral de querer entrar no rol da ABIN, Polícia Federal e CIA por conta de três minutos de pura ironia. “Ninguém pediu até agora”, deixa claro Luiz Paulo. E sobre a música mais tocada? “Não acho que tenha uma mais tocada que as outras”, pondera.

A assessoria da GVK, empresa responsável pela divulgação do karaokê no Brasil, concorda com a afirmação de Luiz Paulo. “Por ter um público muito heterogêneo, não há na feira uma linha de preferência por uma canção ou outra”, pontuam os representantes da marca. “Não existe isso [de música mais tocada].”

Na tentativa de averiguar as infos, fui invocado enchendo a cara de Guaraná Jesus para essa importante missão de interesse público. Assim, partimos para um xaxado completo na feira.

Com a hiperatividade que o Guaraná Jesus me trouxe, descobri que na Barraca Já Disse, por exemplo, as canções mais lembradas pelos garçons são “Evidências”, “Caça Caçador” e “Deslizes”. Na Barraca do Primo, por sua vez, Sidney Magal com sua cigana “Sandra Rosa Madalena” aparentemente reina forte, seguida por SPC com “Depois do Prazer”. Na Raiz do Maranhão, Araketu, Renato Russo, Paralamas e, de novo, “Evidências”, ganham a memória dos funcionários e frequentadores. Nos próximos dois bares a canção de Chitãozinho e Xororó também foi a primeira música imediatamente lembrada.

Eis que, entre os corredores estreitos da feira, no meio de um furacão de som vindo de todos os lados, ouço os versos daquela que pode ser a canção mais tocada da feira. Ainda me sentindo meio exagerado, chego perto e começo a cantar de levinho:

Quando eu digo que deixei de te amar

É porque eu te amo

Quem cantava não era um vaqueiro ou um neo-sertanejo cheio de tatuagens de gosto duvidoso e calça mais apertada que a da época áurea da Gang, e sim duas meninas tipicamente classe média do Rio de Janeiro e…peraí….

Chega de mentiras

De negar o meu desejo

Eu te quero mais que tudo

Eu preciso do seu beijo

Eu entrego a minha vida

Pra você fazer o que quiser de mim

Só quero ouvir você dizer que sim!

Finalizada o êxtase, converso rapidamente com a dupla para saber por que elas escolheram “Evidências”. “Essa é A MÚSICA de karaokê” comenta Julia, de 26 anos. “Quando eu venho pra cá, quero cantar esse tipo de música.” Sua dupla, Mariana, de 20 anos, confirma o que eu imaginava: “Eu não ouço isso isso em casa. Não gosto de sertanejo. Mas essa música é diferente.”

Em pelo menos mais quatro bares em que estive na Feira de São Cristóvão, a tendência “Evidência” se confirmou.

Com a baixa da glicose do Guaraná Jesus, me acalmo e começo a procurar os especialistas para tentar entender por que todos gostam tanto do hit de Chitão e do Xororó. O primeiro é o ser de cabelos onduladamente dourados chamado Johnnie, o KJ do Bazar da Cantoria. Com 27 anos, o DJ de karaokê confirma a alta procura da obra do cantor José Augusto e eternizada na voz da dupla sertaneja. Já sabe até de cor o número da música: 3094. “Me lembra tempos mais tranquilos, de infância.” me conta Johnnie.

Já Juarez Marques, costumeiro frequentador da feira e karaoteca , o mestre do karaokê (sim, isso existe) três vezes campeão de melhor apresentador de karaokê do Rio, não aguenta mais ouvir a canção. “Ela é boa, mas cantam toda hora” me escreveu por Whatsapp.

Já para a outra karaoteca Gláucia, advogada com 15 anos de karaokê, resolvi tentar uma abordagem diferente. Mandei uma mensagem inocente, perguntando qual era a música número 3094. Em menos de um minuto ela voltou com a resposta que você sabe qual é. “Essa música hoje é tocada quando tem grupo de jovens e não-viciados em karaokê. Depois do décimo chope o grupo vai para o palco cantar juntos. É um hino”, explica Glaucia.

Um hino, terminologia bastante específica. Um hino louva, adora algo ou alguém, e talvez seja essa a diferença entre “Evidências” e aquela que é, sem dúvida, a mais famosa música de karaokê de todos os tempos: “My Way”, do Frank Sinatra.

Digamos que “Evidências” é o “My Way” da feira de São Cristóvão apenas na quantidade em que é tocada, pois a essência das músicas são completamente diferentes. Como comentou a karaoteca Glaucia, o hit sertanejo é um hino a ser cantado em conjunto.

Talvez por isso, mesmo sendo o Brasil um país violento, nossa cena de karaokê não seja como a da Ásia, onde mortes relacionadas ao clássico do Frank Sinatra continuam acontecendo. Em alguns lugares o negócio é tão sinistro que a canção foi simplesmente retirada de circulação.

Enquanto “Evidências” é pagão, “My Way” é cristão. Se “Evidências” é novela, “My Way” é cinema. “My Way” sou eu, “Evidências” é nóis.

Nada representa melhor isso que um caso que ocorreu na China, em 2015, uma alma desafortunada apareceu no hospital com um microfone de 25 centímetros enfiado no cu por conta de uma briga provocado no karaokê. Até hoje não se sabe qual foi a música que catalisou essa cena dantesca e simbólica do poder penetrante do ato de cantar. Porém podemos concluir que  (provavelmente)   não foi “Evidências”. Se fosse, eles estariam cantando juntos em uníssono e abraçados uns aos outros. Manda eles virem aqui pra feira.

Leonardo Coelho não sabe cantar e tirou 63 cantando “Evidências”. Mostre sua nota para ele no Twitter

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Forçamos o Gene Simmons a ouvir o Skepta, o Death Grips, o Radiohead e mais

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Se alguém é famoso pela sua língua, é o Gene Simmons, do Kiss. Mas, no começo da nossa conversa, não consigo dizer com certeza se é com ele mesmo que estou falando. Ao ouvir meu sotaque inglês, ele começa a fazer um sotaque britânico ele mesmo, soando com algo parecido entre um órfão de Dickens e Danny Dyer na pantomima: É-sabe-o-que-quero-dizer? Estou aqui trabalhando feito um cachorro o dia inteiro". Há uma pausa. Ele continua, com o murmurar grave da sua voz normal. "O que achou do meu sotaque colonial?"

Em uma tentativa de ampliar nossa perspectiva, no passado, o Noisey pediu ao Tom Jones, ao Will Young, ao Idris Elba e até ao Cradle of Filth para resenhar os lançamentos mais comentados do mundo da música. Em parte só porque queríamos testemunhar coisas como o Tom Jones se sacudindo na cadeira ouvindo o Section Boyz e cantarolando "Escove os dentes!" quando a Lady Leshurr começou a cantar, mas principalmente porque queremos o respeitado ponto de vista de uma coruja sábia sobre os sons que escutamos hoje.

De todas as corujas sábias do mundo, o Kiss está no topo. Através de uma combinação de pintura facial, mais merchandise do que a franquia Toy Story e uma caralhada de pirotecnia, a banda manteve seu status de uma das maiores bandas do mundo, elevando-se de uma banda de glam-rock a um fenômeno, que se transformou em uma pequena indústria e, depois, num império.

Como Gene friamente me lembra, quando me refiro erroneamente ao final dos anos 70 como o "ápice" da banda: "O ápice é agora. Estamos sentados no topo do Monte Olimpo como a maior banda vencedora de discos de ouro de todos os tempos, em todas as categorias. Nenhuma outra banda americana tem mais discos de ouro". No dia 25 de maio, a banda estreia em cinemas de todo o mundo um filme de um dos seus shows, KISS Rocks Vegas. O filme é anunciado como possuindo chamas "mais quentes que o inferno".

"O Kiss é um show", Gene acrescenta, quando pergunto sobre o espetáculo no palco. "Eu diria que nunca percebemos quanto um disco que fizemos era bom porque nunca passamos tempo suficiente no estúdio, sempre fomos muito impacientes." Ele fala do legado moderno da banda menos como um projeto musical do que como uma franquia. "Temos um filme estreando no mundo inteiro, temos o KISS Kruise, campos de golfe do Kiss, superamos as vendas dos Beatles e dos Stones combinadas, fazemos coisas que outras bandas nunca conseguiram."

No passado, o Sr. G. Simmons contribuiu com críticas musicais tão brilhantes para o cânone da humanidade quanto "o rap vai morrer" e "o rock está morto", e por último, mas não menos importante, "o EDM é honesto". Então, que pessoa melhor para resenhar os últimos lançamentos que estão rodando na vitrola do Noisey e nos dizer sem rodeios o que sente sobre os hits de 2016? Em uma era pós-gênero musical, de hiperconectividade e conteúdo abundante, o que o Demônio diria sobre o Death Grips, o Skepta ou o último lançamento do Radiohead? Ou até mesmo sobre a nova música do Red Hot Chilli Peppers? Bem, aqui está o que ele diria.

RED HOT CHILI PEPPERS – “DARK NECESSITIES”

Noisey: Certo, achei que podíamos começar com algo que pode ser um pouco mais familiar para você. A nova música do Red Hot Chilli Peppers. Você gosta deles?

Gene: Sempre os achei originais e empolgantes, e o melhor dos Chilli Peppers é que eles sabem quem são, sabem qual é o seu DNA. Essa é a coisa mais importante que uma banda precisa descobrir sobre si mesma. Esta música soa como o Chilli Peppers clássico. Os fãs deles vão adorar. Eles são uma banda de rock, mas claramente decidiram seguir a batida do baterista deles. As guitarras nunca soam como uma banda de rock, nunca são muito altas, eles fazem rap, tem um baixista com uma pegada funk, Flea, que deve ser fã de James Brown. Não é rock clássico, mas com certeza é rock.

Então você gosta deles?

Ah, sim. Gosto muito.

Começamos bem. Certo, vamos em frente.

DEATH GRIPS – “EH”

O que você acha do Death Grips?

Não sou qualificado para falar sobre o gênero, então não posso mesmo comentar se o material é bom. Definitivamente não é rock. Recentemente tive meu momento N.W.A com o Ice Cube, com quem me dou muito bem, acho que ele é um cara legal, um ótimo pai. Mas o N.W.A não pertence ao Rock and Roll Hall of Fame, da mesma forma que o Kiss não pertence ao hall da fama do hip hop. Por definição, é isso que ele é. O rock é guitarras, bateria, amplificadores. Podemos ter começado no mesmo lugar, a música negra americana, mas evoluímos para lugares diferentes. E as pessoas sempre tentam dar a cartada do racismo, o que é tão idiota, só é útil, você sempre pode usá-la. O meu guitarrista preferido é negro. Jimi Hendrix. Ele não pertence ao hall da fama do hip hop. Ele talvez seja o o guitarrista de rock mais proeminente de todos os tempos. Então, resumindo, não sou qualificado para falar nada sobre o Death Grips, mas boa sorte para eles.

Não ficou intrigado a saber mais sobre eles?

Assim que ouço alguém falando sobre uma batida de bateria eletrônica, estou fora.

RADIOHEAD – “BURN THE WITCH”

E que tal o último lançamento do Radiohead, "Burn the Witch"?

É difícil para outras bandas tocar músicas do Radiohead, por causa da força da identidade deles. A identidade deles é essencial para a música, especificamente a voz do Thom Yorke. O Thom Yorke tem uma das melhores vozes do rock moderno. Ele poderia fazer o que quisesse com aquela voz. Poderia fazer rap, cantar pop, ser o novo vocalista do Four Seasons se quisesse.

Então você é um grande fã do Radiohead?

Sou muito fã do Radiohead. O engraçado é que o Thom Yorke, em particular, fica muito chateado quando falo sobre eles. Sou um grande fã, mas sei que eles odeiam tudo que fazemos – o visual exagerado, o licenciamento de produtos, o merchandise, adoramos tudo isso. Mergulhamos nisso. Isso não é algo que eles queiram fazer. O melhor do Radiohead é que eles nunca tentam se parecer com ninguém mais. Os fãs do Radiohead vão gostar de "Burn the Witch"? Ah, vão. O Michael Bublé conseguiria fazer uma versão de "Burn the Witch"? Não tenho certeza de que isso seria uma boa ideia.

Você tem uma música preferida do Radiohead?

Minha música preferida do Radiohead ainda é o single com que eles estouraram, "Creep". E a minha música preferida do Blur é aquele troço número cinco, "uhu!". Mas esse é só o meu gosto.

JUSTIN TIMBERLAKE – “CAN'T STOP THE FEELING”

E o que você acha do novo single do Justin Timberlake?

Justin. Quero dizer, você tem que dar crédito ao cara. Ele veio de uma boy band e decidiu arregaçar as mangas. Os críticos dele dizem que ele é só um Michael Jackson branco, mas também... O Michael Jackson também era. Viu o que fiz ali?

Sim, isso foi... Problemático.

Ah, já disse coisa pior.

Mas o que acha de "Can't Stop the Feeling"?

Essa vai ser um grande sucesso de verão, é muito bem escrita, com ótimas trocas de acordes, uma batida contagiante e o cara sabe cantar de verdade. É uma música bem escrita. Mas gostaria que o Timberlake e todo o resto parasse de usar a palavra "dance".

SKEPTA – “MAN (GANG)”

Certo, última, o que você achou do Skepta?

Me perguntar sobre isso é como perguntar para a minha mãe o que ela acha do Miles Davis. Não somos qualificados para responder.

Você não tem mesmo uma opinião sobre ele?

Não, mas isso que é legal na música. É como entrar em um restaurante enorme. Você pode não gostar de tudo que tem no cardápio, mas tem alguma coisa lá para o gosto de todo mundo. Só não é do meu agrado.

Algum tipo de rap ou hip hop é do seu agrado?

Minha música preferida de rap de todos os tempos é do Sir Mix-A-Lot, a música da 'bunda grande'. É tão contagiante que acabo andando pela casa mostrando minha bunda como se estivesse na cadeia. Sabe o que quero dizer?

Essa é uma imagem poderosa.

Desculpe, veio um vomitozinho na minha boca pensando nisso, é claro, preferiria vomitar um pouco na sua boca, mas isso é uma outra história...

O quê?

Você é um homem poderoso e atraente.

Valeu.

Certo, tchau.

Tchau.

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O novo filme do Kiss faz sua estreia mundial nos cinemas no dia 25 de maio. Para mais informações, acesse http://www.kissmycinema.com/www.kissmycinema.com

Tradução: Fernanda Botta

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