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Conhecendo e Fazendo Piadinhas Sobre o Bom Gosto Musical do Senador Delcídio

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Você pode não ser milionário, ter vencimentos de R$ 33 mil e um Mini Cooper 2011/ 2012 como o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), mas pelo menos você não está preso na carceragem da Polícia Federal por pensar numa rota de fuga para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, detido  acusado de saquear um dinheiro público e irrigar políticos. Ah, você - por mais que tenha ficado com umas moedinhas a mais do troco - também não ofereceu uma mesada de R$ 50 mil para a família do delator dos olhos de ressaca e foi pego com a boca na botija.

Sim, o senador está bem encrencado. Os colegas de Brasília, que votaram pela manutenção da prisão do político nesta quarta-feira (25), agora devem decidir de cassam ou não o mandato do egresso de Corumbá, eleito em 2010 para o mandato 2011-2019.

Com isso em mente, curiosos que são, nossos amigos da Avalanche Tropical aproveitaram a histórica circunstância política do dia 25 de novembro para ir lá fuçar sem miséria na conta que o senador mantém na rede social de mini blogadas e indiretas Twitter. E, olha, o perfil do excelentíssimo senhor é Muito top, como também perceberam os colegas do site de jornas-listas Buzzfeed. E, dentro frases motivacionais do Steve Jobs, trechos da Bíblia e indiretas que parecem ser direcionadas para ele mesmo e a sempre boa tática de marketing político que é lembrar quando é Dia do Carteiro, Dia do Engenheiro Eletrecista, dentro outros, o senador se mostrou um pleno entusiasta do mundo da música pop, não deixando passar show do David Guetta, novas do Calvin Harris, preferência por Lady Gaga, dentre outras estrelas do cosmo pop global.

Aproveitamos que o Buzzfeed fez uma lista “mais geralzona” para fazer uma seleção mais específica para compreender e, de quebra, fazer umas piadinhas, sobre o gosto musical do agora encralacrado senador. Curta a nossa playlist “Del$ídio Hits”:

Lady Gaga feat. Beyoncé - "Telephone"

Ironicamente o senador foi detido após o áudio de uma conversa com o filho de Cerveró chegar à Justiça. O bate-papo foi gravado num celular escondido.

Paralamas do Sucesso - "Melô do Marinheiro"

Em tempos de Petrolão, Delcídio do Amaral entrou pelo cano.

Slipknot - "People = Shit"

O senador não curtiu muito o som do Slipknot, banda encapetada que tem como um dos principais hits é “People=Shit” . Bons cidadãos com auto-estima e impostos em dia que somos, modificaríamos a música para POLITICS = SHIT. 

David Bowie - "Young Americans"

O petista é um grande apreciador do camaleão do rock, como comprovam esses tuítes e recomendações de som/exposição.

Até fala dos artista para os outros britânicos, como revelou o embaixador na rede social. Aliás, Delcídio é apontado como alguém de bom trânsito em várias esferas políticas e econômicas, conforme apontado pelo tucano Aloysio Nunes Ferreira durante sessão no Senado para manter o colega de Congresso na cadeia.

Madcon feat. Ray Dalton - "Don't Worry"

Qual será a reação do senador ao ouvir “Don’t Worry” (“Não Se Preocupe”) no radinho de pilha do chilindró?

Calvin Harris & Disciples - "How Deep Is Your Love"

How Deep Is Your Trouble? Bem grande.

Calvin Harris feat. Ellie Goulding - "Outside"

Delcídio do Amaral é um cara que se divertiria no Tomorrowland sim ou com certeza?

Madonna - "Express Yourself"

 
Madonna deu um conselho para todos nós não sermos altivos com as coisas alheias nos versos desta música recomendada pelo senador. “Você não precisa de anéis de diamante/ Ou ouro de 18 quilates/ Carros bonitos que andam muito rápido/ Você sabe que eles não duram para sempre”

Ricky Martin - "Livin’ La Vida Loca"

Quando o assunto é latin lover, o Senador claramente pinta a cara de verde e amarelo e fecha com o mais cigano dos amantes brasileiro, Magal.

Adele - "Hello"

Aparentemente, o senador sofrerá na prisão por não conseguir comprar “25”, o novo disco de Adele sumido das plataformas de streaming. 


Como Exibir Seu Excelente Gosto Musical com Uma Lista de Fim de Ano Perfeita

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Com o fim do ano chegando, é hora de mergulhar na atividade anual favorita de todos os geeks de música: compilar uma lista de final de ano. Seja para um status de Facebook, um post de Tumblr ou publicação num respeitado blog de música, listas de fim de ano são a melhor maneira de informar ao mundo sobre os seus discos prediletos que saíram nos últimos doze meses. Parece uma tarefa bem simples, não? É só fazer uma lista dos discos que você mais ouviu e dos quais mais gostou, certo?

ERRADO.

Listas de fim de ano não se tratam de quais músicas você gosta, o objetivo delas é provar ao mundo que você tem um paladar cultural refinado! O bom é exibir seus ecléticos gostos musicais e sua paixão por novas músicas de modo que o mundo respeite a sua opinião acima de todas as outras. Já que essa pode ser uma tarefa intimidante, montamos uma checklist a ser repassada antes de dar os toques finais na sua lista de fim de ano. Siga essas orientações e você sairá por aí criando listas como um John Cusack em Alta Fidelidade.

Sua Lista Deve Ser Equilibrada em Matéria de Raça, Idade e Gênero

Diversidade é a chave. Não é bom que a sua lista pareça o público de um show do Wilco. Arranje um equilíbrio perfeito entre todas as raças, idades e gêneros. Para fazer esse cálculo, atribua um número a cada músico com base em sua afiliação étnica, gênero e idade, concedendo uma vantagem de 0,34 a qualquer um que pertença a uma minoria. Divida então quaisquer artistas cisgênero do sexo masculino por 1,18. Depois disso, calcule a média de idade dos artistas, e compense as amostras mais elevadas e mais baixas usando o modelo padrão da desigualdade de Jensen, onde X = o número de discos em sua lista. Então, neste caso, coloque dentro desse modelo:

Ou, caso você prefira reverter a desigualdade onde φ é côncavo:

Lembrem-se, aficionados da música! A igualdade se mantém no caso, e somente no caso em que x1 = x2 = ... = xn ou quando φ é linear.

Inclua Pelo Menos Um Disco de Cada Gênero

Lembre-se, você está tentando parecer um apreciador de música culto e sofisticado. Não dá pra colocar só dez discos de rock ou dez discos de rap, se não quiser ser rotulado como um simplório. Inclua no mínimo um disco de cada gênero musical – uma banda de black metal da moda que você ouviu na NPR, um cantor de country não-tradicional, uma banda de indie rock de que andam falando muito e que você viu #destruindo no SXSW. Mas não pare por aqui. Você precisa de discos que representem todos os microgêneros: folktrônica celta, chill-gothwave, glamashups assexuais, speed house mórmon, rock DIYatch instrumental, acid violence, metal de marcha militar, e assim por diante.

Adicione Um Artista Consagrado na Mistura

Algum artista icônico relançou um disco clássico esse ano, contendo duas faixas inéditas? Saiu alguma edição especial de aniversário de discos do Bob Dylan ou do Neil Young ou do Leonard Cohen? Meta um desses na lista, entre duas bandas novas de que todo mundo anda falando, de modo que as pessoas leiam e digam: "Nossa, uau, eu não fazia ideia de que essa pessoa sabia tanto sobre história da música. Ela sozinha está resgatando a relevância dos clássicos, nesse contexto novo e cool!"

Certifique-se de Que Nenhum Artista Listado Por Você Tenha Passado Por uma Humilhação Pública Este Ano

Talvez você tenha gostado da música de um artista esse ano, mas o tal artista foi condenado como "não aceitável" pelo tribunal da revolta internética? Esse artista fez ou disse alguma coisa, fora ou dentro do contexto de suas músicas, que as pessoas podem ter interpretado como "ruim"? Algum pop star se apropriou culturalmente de alguma coisa? O nome de uma banda foi visto como ofensivo por uma ou mais pessoas? Um músico do sexo masculino usou a palavra que começa com "b" (b-ceta) em sua música? Algum artista entrou numa discussão de Twitter com um blogueiro de música ou com um colega de profissão, ou tentou expressar suas opiniões de alguma maneira? Faça uma pesquisa rápida no Google pelo nome do músico junto com a palavra "problemático". Se aparecer algum resultado, deixe essa pessoa fora da lista, senão você também será trancafiado no Sótão Problema junto com ela.

Acrescente Artistas Estrangeiros

Pense na sua lista de final de ano como se fosse a sua conta no Instagram. Não é bom postar 20 fotos em seguida da mesma loja do Starbucks, correto? O bom é que os outros vejam você como um experimentado viajante internacional. Acrescente alguns artistas que você ouviu na estação World Music do Pandora. Aí as pessoas verão sua lista e se lembrarão de que você é um Peregrino do Mundo. "Nóóó, aposto que ele descobriu esse músico enquanto mochilava pela Tailândia", dirão.

Não Repita Nomes das Listas de Fim de Ano Anteriores

Claro, você gostou do disco de estreia de uma banda. Mas isso já faz dois anos completos. Hoje eles são velharia. O ideal é mostrar que seus gostos estão em evolução constante, então evite incluir qualquer nome que você já tenha louvado anteriormente. Assim, quando alguém incluir aquele disco na própria lista, você poderá soltar uma indireta venenosa do estilo: "Ah, é bom mesmo esse disco? Adorei o primeiro deles, mas parei de seguir faz um tempo."

Inclua a Banda do Paulo

Sejamos sinceros, a banda do Paulo é uma merda. Todo mundo odeia a banda do Paulo. Mas é tipo, aff, se você não a puser lá, ele vai ficar todo esquisito contigo na festa de Natal, e você vai ter que falar tipo: "Ih, esqueci de colocar o seu disco? Pô, devo ter esquecido completamente que ele foi lançado este ano, porque ouvi tanto que ele parecia mais antigo!" E como a mãe do Paulo é amiga da sua mãe, sua mãe vai telefonar e passar o sermão sobre como a Laura ficou muito chateada de você não ter incluído o disco do Paulo. Não vale a pena. Melhor enfiar logo o disco do Paulo lá na última colocação.

Invente Um Disco

Em matéria de listas de fim de ano, ser obscuro é crucial. Então vamos dar uma dica: invente um disco! É a melhor maneira de fazer com que seus gostos sejam 100% originais. Invente alguma coisa, qualquer coisa. Ninguém precisa saber. Na verdade, a maioria das pessoas ficará tão desesperada para dar a impressão de estar "por dentro" que vai aceitar a deixa e fingir que ouviu falar do disco também. Imagine quantas novas amizades não serão facilitadas por essa mentira deslavada!

Nada de Foo Fighters

Zero.

Ignore os Top 40 Lançamentos

Claro, você pode ter adorado aquele disco que fez um mega sucesso e que você ouvia diariamente, mas o resto do mundo também ouvia. Não é bom chegar na festa usando a mesma camiseta que todo mundo. Ignore os discos populares a todo custo. Se possível, compile uma lista de outras listas de fim de ano, coloque todos os itens numa planilha do Excel, calcule quais discos são mais populares e faça um ajuste na curva acrescentando destaque aos mais vendidos. Aí, quando tiver os dados brutos em mãos, converta-os em uma função de Gauss, utilizando a função quadrática côncava. Exclua quaisquer entradas que fiquem no topo da curva. Isso não deve tomar mais do que duas ou três horas. Vale total o investimento.

Pensando Bem, Inclua Alguns do Top 40 Lançamentos

Na verdade, talvez seja melhor fazer uma jogada inesperada e incluir alguns discos de sucesso. Então as pessoas verão a entrada e dirão: "Eita, cá estava eu desprezando esses pop stars como se fossem idiotices ocas produzidas para o consumo das massas e criadas por uma equipe de marketing, mas essa pessoa dedicou seu tempo a olhar mais fundo na alma desse pop star, e encontrou um sentido mais profundo do qual eu não fazia ideia. Que poptimista notável!"

Insira Sorrateiramente uma Demo

Para mostrar como você está Por Dentro das novidades da música, inclua a demo de uma banda novinha em folha. Introduza essa entrada dizendo "eu sei que é trapaça mas...". E, sempre que for possível, sugira, como se não fosse nada, que você curte essa banda há muito mais tempo do que todo mundo.

Vá Contra a Corrente e Inclua um Disco Do Qual Ninguém Gostou

Solte uma bomba aqui, algo de que ninguém jamais suspeitaria. Dê às pessoas um motivo para cuspirem seus cafés. Faça com que digam: "Hein?? Esse disco? Mas a crítica detonou tanto! Ninguém gostou dele. Caramba, essa pessoa deve pensar sobre música de um jeito que a maioria não pensa."

E é isso! É só seguir essas 13 regras fáceis para determinar quais foram suas músicas favoritas deste ano. Você será oficialmente dono da opinião correta, e a de ninguém mais terá qualquer importância. Boa sorte com suas listas, musicófilos!

Dan Ozzi está no Twitter e ADORARIA guiar seu processo de construção da lista! – @danozzi

Tradução: Marcio Stockler

 

A Página do Facebook do Minor Threat É Cheia de Soft Porn

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O Minor Threat ficou junto durante três anos e não existe mais como banda desde 1983, mas sua influência no hardcore tanto sonoramente quanto eticamente é fenomenal. O lance todo straight edge pode não ter colado (por motivos de: chato), mas o Minor Threat segue como um dos marcos ainda relevantes da história punk. Agora, as redes sociais podiam não existir nos anos 80, mas se existissem o único engajamento que a banda teria com elas seria com entrevistas em que perguntariam ao Ian MacKaye se ele achava que eram um tipo de droga – e ele responderia “foda-se”.

Mas agora tudo no mundo tem uma página no Facebook, assim temos em mãos a fanpage do Minor Threat, com suas 140.000 curtidas. Se a banda sabe da existência desta é algo questionável, mas seja lá quem for que toca o barco, essa pessoa manda mal pra caralho porque a página está lotada de mulher pelada desde outubro e ninguém se ligou.

Rolando timeline abaixo se vê muitos posts clássicos de blogs punks: um fã com uma ovelha tatuada na panturrilha, fotos de hardcore das antigas, pôsteres, fotos p&b do Henry Rollins pensativo com emojis edificantes – tudo isso entre links sobre mulheres, suas bundas e quão incríveis suas bundas são. Você sabe como é: conteúdo um tanto quanto apelão, mas não a ponto de ser retirado do ar por ser ofensivo, criado para ficar na espreita em sites de torrent para chamar a atenção de homens tristes e com tesão que surfam pela internet de pau na mão; chamadas que contam pelo menos com umas das palavras a seguir: amadora, russa, novinha...

Então a página do Minor Threat foi pro pau?  O responsável por ela chegou lá por conta de erro no autocorretor? Seria um experimento social? Ou o Ian MacKaye só curte mesmo uma bunda? Vejamos as evidências.

Mas e aquele shortinho! E tem muito mais de onde saiu. Tipo uns 10 posts por dia desde meados de outubro. Por quê? No mínimo isso prova que bandas velhas na internet são como idosos na estrada. Talvez o Minor Threat não faça ideia de nada disso. Talvez eles estejam fora de compasso com a era digital. A coisa toda me deixou estupefata?  Em meus olhos? Tá mais pra LONGE DA MINHA VISTA, CERTO?

Para mais papo de bunda, siga Emma no Twitter.

A Nova Mixtape da Erykah Badu Tem uma Música com o Andre 3000

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Algumas semanas atrás, Erykah Badu nos surpreendeu com um ótimo remix de "Hotline Bling", do Drake. Como ela conseguiu fazer "Hotline Bling" ficar ainda melhor? E a surpresa estava numa sutil referênia ao "forever ever; forever ever!" que Andre 3000, ex de Badu, canta em "Ms Jackson", do Outkast - uma música que supostamente é um pedido de desculpas para a mãe dela. 

Esse remix já tinha atiçado nossa curiosidade, aí ela foi e lançou "Phone Down", deixando todo mundo ansioso pra ouvir a mixtape But You Caint Use My Phone. E agora cá ela está, um disco de 11 faixas sobre a interconectividade por nossos telefones. E uma dessas músicas é "Hello", com uma participação de Andre 3000. Isso mesmo. E ele manda bem demais.

Ouça But You Caint Use My Phone abaixo e leia nossa entrevista com Erykah Badu aqui.

A M.I.A. Fez um Clipe Ferrenho sobre a Crise dos Refugiados

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M.I.A. usou a crise dos refugiados como tema de seu novo clipe "Borders", que ela mesma dirigiu. O vídeo, particularmente, é uma crítica ferrenha à maneira conservadora com que o Estados Unidos e a Europa reagiram à entrada de sírios no Ocidente. Com corpos escalando cercas enormes - que, em um momento do clipe, formam a palavra "LIFE" ("vida", em inglês) - a rapper do Sri Lanka nos faz refletir sobre: fronteiras, política, relações entre Oriente e Ocidente, privilégios ocidentais e basicamente sobre tudo associado à nossa vida moderna com a que estamos acostumados a viver sem questionar quase nada. 

Assista abaixo:

Siga a Emma no Twitter.

Por Que 'Jovens Bruxas' Continua Sendo um Filme Foda

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Adolescentes — as garotas, especialmente —  sempre estiveram ligados à magia e à bruxaria. Em Massachusetts, nos anos 1690, não eram homens de meia idade que tinham sua urina misturada à receita de um bolo mágico, que depois era servido a um cachorro, para que a cidade descobrisse se eles eram ou não escravos de Satã (sim, isso aconteceu de verdade). O poder de uma jovem mulher descobrindo a si mesma e a sua força sempre foi considerado uma ameaça: a outras mulheres, aos homens consternados pelos seus sentimentos em relação a essas mulheres e à sociedade em geral. Basicamente, o mundo não consegue lidar com os nossos seios e com a nossa menstruação, então nos chamam de bruxas. Ironicamente, em vez disso afastar as adolescentes de qualquer coisa relacionada à bruxaria, elas se sentem atraídas por ela — "Nós somos as esquisitas, senhor", rosna Nancy para um motorista de ônibus perplexo. 

Às vezes, essa devoção por feitiços aparece em um contexto adocicado na cultura pop, como em Sabrina – Aprendiz de Feiticeira, O Poder Mágico e A Feiticeira. Às vezes, ela assume uma forma mais sombria e perigosa, como em Carrie – a Estranha, e, é claro, Jovens Bruxas.

Quando era adolescente, fiz meus próprios livros de magia e os enchi de feitiços inventados — o que é estranho e tosco, ao mesmo tempo — mas, olhando-os agora, vejo que estavam muito ligados à uma falta de autoconfiança. Tinha um mantra que eu repetia antes de dormir que eu tinha decidido que ia fazer as meninas da escola gostarem mais de mim. Eu sabia que ele não funcionava, mas na verdade ele meio que funcionou, porque à medida em que fui ficando mais velha, adquiri essa autoconfiança que não tinha. Comecei a acreditar na minha forma particular de magia.

É fácil para uma mulher rebelde se identificar como bruxa. Quando não levamos desaforo de ninguém para casa, quando temos um grupo de amigas pelo qual somos apaixonadas, quando vestimos o que bem entendemos e decidimos que nossos corpos são nossa propriedade e de ninguém mais, seguimos os passos de mulheres fortes e rebeldes que vieram antes de nós. Seja essa mulher Alse Young, de Windsor, Connecticut, enforcada em 1647 por bruxaria, ou Kathleen Hanna, de Portland, Oregon, que, graças a Manon, ainda está bem viva, essa é a nossa linhagem. Adoro o Halloween porque o outono é muito bonito, e também porque tem essa crepitação fresca e enfumaçada no ar. Talvez sejam apenas as fogueiras, ou talvez sejam algumas bruxas de Salem fazendo algo muito foda no meio do mato.

Com isso em mente, quero analisar a música (como você vai ver, a maior parte é de covers) e o estilo do filme que tem o melhor coven do cinema — diga olá para Nancy, Sarah, Bonnie e Rochelle.

NANCY

Nancy é TUDO. Ela é puro ódio, uma massa enorme de fúria aprisionada em um corpinho pequeno. Interpretada por Fairuza Balk, ela alimenta um rancor profundo por qualquer um que  cruze o seu caminho, incluindo seu padrasto, às vezes sua mãe, mas acima de tudo, sua pobreza. Ela é uma excluída que foi maltratada pelos garotos toscos da escola porque ousou usar um sobretudo de vinil, pintar as unhas de preto e ter opinões firmes. Mas ela não vai mais levar desaforo para casa. Quando somos apresentados a ela, não temos certeza de que lado ela está, especialmente quando ela é hostil com a recém-chegada Sarah.

Nancy está quase sempre vestida de preto. No começo do filme, ela penteia o cabelo para trás, usa sempre um batom escuro e um lápis de boca mais escuro ainda. Ela gosta de couro e meias arrastão, e acho que teria calafrios com a ideia de ser vista usando uma estampa floral. Na verdade, ela provavelmente faria uma cara assim:

Favor reparar no piercing no nariz, nas sobrancelhas finas estilo anos 90 e na coleira de spikes.

É apropriado que a trilha sonora de Jovens Bruxas seja repleta de artistas mulheres, já que esta é essencialmente uma narrativa feminina. Fico feliz que "Spastica", do Elastica, tenha entrado na trilha, porque a Justine Frischmann me faz lembrar muito a Nancy. O cabelo curtinho, a atitude "argh, que seja" e o bom gosto para jaquetas de couro delas são iguaizinhos. Caso você não saiba — que vergonha! — o Elastica é uma banda inglesa de pós-punk/new wave/britpop dos anos 90 que fez um disco absolutamente incrível. A letra de "Spastica" inclui o trecho: "Os monstros do presente são os monstros do passado/Dei uma olhada nas suas letras, você só olha para o seu rabo". Tenho certeza de que Nancy aprovaria isso.

Passado um tempo, Nancy convida Sarah para o grupo e as quatro se tornam poderosas, graças à boa vontade de Sarah em dividir suas habilidades naturais. Muitos dos rituais retratados no filme são baseados em ritos verdadeiros da Wicca — a equipe tinha uma Suma Sacerdotisa Diânica para orientá-los no set. E, depois das filmagens, Fairuza comprou a loja wiccana que ela visitava frequentemente enquanto pesquisava para a sua personagem. Ela não é mais a dona, mas a loja ainda existe.

Embora a união das quatro signifique que as suas três melhores amigas finalmente vão conseguir o que querem, Nancy continua vivendo a mesma vida triste que odeia. Olha só pra ela, sentada em frente ao seu altar no seu deprimente quarto pré-mágica, usando esse kimono foda, rezando desesperadamente para que as coisas melhorem.

Mas então, graças a um incidente bizarro — e, você sabe, mágica — ela e a mãe dela ganham um monte de grana. Olha pra ela agora, no seu quarto pós-mágica! Olha só essa vista! Olha esse conjuntinho incrível que ela está usando, olha como a vida dela é foda agora!

Mas isso não é suficiente. Velas e um apartamento com uma vista bacana não tornam uma pessoa feliz. Ela quer mais, precisa de mais, então procura o figurão dessa história.

Acho que essa é uma boa hora para falar do Tripping Daisy, a banda de pop neo-psicodélico (palavras deles, não minhas) cujo cover de "Jump Into The Fire", do Harry Nilsson, foi usado na trilha sonora. Depois da morte do guitarrista Wes Beggren por overdose, em 1999, os membros do Tripping Daisy montaram a banda The Polyphonic Spree, basicamente em reação à morte do seu amigo. Uma espécie de catarse musical. O Tripping Daisy era conhecido pelas projeções nos seus shows, em que usavam óleo e água para criar efeitos espiralados e viajantes inspirados nos anos 60. Queria que as pessoas ainda fizessem coisas assim.

Nancy percebe que a única maneira de ganhar habilidades mágicas de verdade é invocando Manon, a entidade que as garotas cultuam, em uma praia ventosa à meia-noite (onde mais?). Manon ouve o seu chamado sincero e responde concedendo a ela poderes bastante assustadores, além de montes de baleias, tubarões e golfinhos (muito gentil da parte dele).

Depois disso, as habilidades de Nancy se tornam descomunais, e ela começa a usá-las de um jeito que assusta Sarah, a única bruxa natural do grupo. Nancy muitas vezes tem boas intenções, mas é intimidadora. O estilo dela também muda para refletir sua evolução interior; o seu cabelo fica mais rebelde e solto, ela passa a usar vestidos com mangas boca de sino e nunca é vista sem os seus coturnos. Ela parece uma Stevie Nicks (muito) do mal.

Então as coisas ficam muito, muito sinistras. Nancy começa a pensar calmamente o tempo todo, mas com uma viradinha de cabeça do mal, assim:

Olha só esses terços e esses brincos de cruz que ela usa. A escola delas é católica, mas não acho que ela seja católica. Na verdade, sei que ela é manônica, então isso é subversivo? Sabe de uma coisa? Ela está começando a me assustar, acho que é hora de falar de outra menina.

SARAH

Ah, Sarah. Ela se mudou de outra parte do estado, e acho que a mãe dela acabou de morrer, ou morreu há muito pouco tempo. Enfim, a garota carrega uma bagagem pesada, e não estou falando da mochila Jansport que ela usa. No primeiro dia de aula, ela ainda não tem uniforme, então usa um casaco de capuz bege bem normcore com uma camisa pólo e segura seus livros como se fossem bóias salva-vidas.

UMA CURIOSIDADE: Robin Tunney, que interpreta Sarah, usou uma peruca no filme porque seu cabelo ainda estava crescendo depois dela raspá-lo para Império dos Discos. Além disso, como a sua personagem naquele filme, Sarah tentou cortar os pulsos, o que na verdade é parte do que a liga a Nancy, Rochelle e Bonnie.

Como você pode ver, Sarah faz umas bruxarias muito loucas com esse lápis durante a aula —  o que eu acho meio irresponsável, para ser sincera — mas Bonnie vê e se dá conta de que elas finalmente acharam o seu "quarto elemento". Sarah tem dúvidas em relação a essas párias sociais, e tenta se encaixar com o resto da turma antes.

Gosto de como ela usa a saia kilt e o blazer com meias soquete e All Star.

A música de Sarah provavelmente é "Under The Water", da Jewel. Sarah é uma alma sensível que passou por muita coisa. Consigo imaginá-la no seu quarto, olhando fixamente para aquela foto da mãe dela usando um chapéu de praia enorme, ouvindo Pieces of You repetidamente. Você se lembra desse disco? Lembra do sucesso que ele fez? Lembra de todas as outras cantoras chatinhas, num nível quase rock cristão, tocando violão, que surgiram na cola dele? "Who Will Save Your Soul", o primeiro single do disco de estreia da Jewel, estava em tudo quanto é lugar, e aquele clipe em preto e branco gravado em um banheiro público deve ter aparecido um milhão de vezes no Pop Video em 1996. Não que Sarah seja o tipo de garota que assiste ao VH1, ela está muito acima disso. Mas sabe de quem ela não está acima? Chris Hooker, interpretado por Skeet Ulrich.

Ela se apaixona por ele e concorda em ir num encontro duplo com ele, a gostosona/racista da escola e o namorado dela. Ele diz a Sarah que o formato da cabeça dela é legal e ela está usando meias 3/4 pretas — o que pode dar errado? VOU TE DIZER O QUÊ! Ele espalha um boato escroto de que ela deu pra ele. Mas ela não deu. Essa mentira leva Sarah para os braços de Nancy, que também foi maltratada pelo mentiroso da escola, e logo o coven que conhecemos e amamos está andando pela lanchonete da escola assim.

Adoro que elas estão fazendo algo que amigas fazem seguidamente, que é se vestir de forma parecida. Já fiz isso e é um laço que dura para sempre. Até hoje tenho amigas que não vejo há séculos e, quando nos encontramos, nossas roupas combinam da cabeça aos pés. Nossos estilos evoluíram juntos. E, para essas meninas, isso significa blusas brancas, sutiãs que deixam os mamilos à mostra, coletes e suspensórios.

A música perfeita para nos lembrarmos da amizade delas é o cover da Juliana Hatfield para "Witches' Song", da Marianne Faithfull. A letra é sobre se encontrar com as suas irmãs no topo de uma colina e invocar espíritos — perfeita para a playlist de um coven. A versão original é muito mais tranquila do que o cover agitado de Hatfield, com um efeito sinistro de sintetizador que parece um vento uivando sob o vocal rouco de Faithfull. É muito melhor.

Sarah se diverte com sua transformação de estilo inspirada na Wicca. Ela pega uma sombra preta emprestada, começa a usar blusas rendadas e o seu cabelo ganha mais volume. É um visual bacana para ela. (Gosto do chanel curtinho com presilhas da Nancy).

Diferentemente de Nancy, Sarah é mais aberta a usar estampas florais e parecer bonitinha. Ela usa muito blusas de manga comprida com vestidos por cima, um visual que era foda nos anos 90 —  especialmente quando a sua melhor amiga colocava uma faca no seu pescoço.

Sarah também tem essa habilidade incrível de mudar sua aparência passando as mãos sobre o rosto e o corpo. Elas chamam isso de "glamour". DÃ. Mataria para saber fazer este feitiço, me arrumar seria muito mais fácil e eu poderia mudar de cabelo quando desse na telha. Ou me transformar no Donald Trump e sair por aí dizendo que o casamento gay e a imigração são incríveis.

Depois do seu grande encontro com Manon, o comportamento de Nancy se torna violento — e, vamos encarar, ilegal — e Sarah começa a se distanciar de sua agora inimiga. Ela também volta a usar o uniforme da escola, abandonando os coletes. Aham, como se isso fosse te salvar, querida.

Sarah só descobre mesmo o seu visual no final do filme. Ela é aparentemente inspirada por Lirio, a bruxa mais velha que as garotas encontram na loja esotérica que frequentam.

Na última vez em que a vemos, ela está fazendo a coisa mais anti-Nancy possível, usando seda e tons pastéis.

Nancy vai ficar MUITO PUTA!

BONNIE E ROCHELLE

Vou falar dessas duas juntas porque elas são inseparáveis, o que na verdade se estende à vida real — Rachel True e Neve Campbell se tornaram melhores amigas no set, e aparentemente são próximas até hoje. Então parece cruel separá-las.

Bonnie é muito tímida e, graças a cicatrizes horríveis, está sempre toda coberta.

Meu Deus, parece muito quente aí, sob o sol da Califórnia, e Bonnie está usando meias de lã,  a parka mais comprida que já vi na vida e uma blusa de gola alta sob a camisa do uniforme. E depois tem a Rochelle. Acho que ela tem o melhor estilo das quatro. O sapato boneca de camurça, o cardigã curtinho de gola V, as mangas da camisa dobradas e a saia kilt a fazem parecer, de alguma forma, meio patricinha e super descolada ao mesmo tempo. Gosto muito do cabelo dela também.

E olha só como ela está bonitinha aqui, de macacão jeans, enquanto suas amigas usam seus poderes para fazê-la flutuar no ar.

Você também pode notar nessa foto que Bonnie já não está mais tão coberta. Sim, algo acontece com ela. Não quero estragar a surpresa, mas basicamente, um dia ela entra na sala de aula com esse visual.

De repente, ela é a garota mais atrevida que você poderia conhecer. Gosto da trança embutida e da maneira como ela arrasta o casaco pelo chão. Então ela se espreguiça no sol feito um gato e você sabe que Bonnie chegou.

O cover da Heather Nova para o clássico "I Have The Touch", do Peter Gabriel, é a melhor música-tema para Bonnie depois da transformação, porque de repente ela está ali. No mundo, procurando uma conexão, querendo chamar a atenção. Ela vai na frente das amigas, caminhando pela cidade e assobiando para os caras bonitos — essa garota precisa de contato.

Acho que ela emprestou sua velha parka para Rochelle, trocando-a por uma jaqueta de couro e colares muito bonitos. Diga oi para Sarah também, com a sua boina preta e a sua blusa de gola alta, parecendo uma bruxa existencialista.

Essas garotas adoram presilhas.

O estilo da Rochelle é um meio termo entre o das outras meninas. Como Sarah, ela usa vestidos florais sobre blusas de manga comprida, mas seus vestidos vão até os tornozelos, e ela parece um pouco mais fodona. Com o passar do tempo, ela usa cada vez mais preto, para refletir suas ações sombrias e a maneira cruel como trata uma menina em particular.

Adoro a roupa que ela usa na invocação de Manon na praia. Lembro como era incrível ter blusas que amarravam na frente, e esse cardigã é da mesma cor do vestido dela. O segredo é combinar o seu vestido de jersey com as suas peças de malha, pessoal.

Agora, não sei se você sabe disso, mas o cover do Letters To Cleo para "Dangerous Type", do The Cars, está na trilha de Jovens Bruxas. Não quero dar uma de Ben Wyatt, mas tem uma banda mais foda do que o LTC? É uma banda que os melhores personagens de ficção curtem — Ben, obviamente, mas também Kat Stratford, que aparece pirando no som deles no Club Skunk, em uma cena de 10 Coisas Que Eu Odeio Em Você. Eles tocaram na formatura de ensino médio dela! E no telhado daquela escola ridícula! A vocalista, Kay Hanley, tinha o cabelo mais legal do final dos anos 90, não importava se estava curtinho e pintado de dois tons de vermelho e loiro ou preso em marias chiquinhas espetadas. E quando ela cantou o hino nacional para o New England Patriots eles tiveram uma vitória de oito a zero! E ela também faz a voz da Josie quando ela canta em Josie e as Gatinhas! No fundo, se a vida não tivesse dado algumas rasteiras nelas, acho que Bonnie e Rochelle só iam curtir ir aos shows delas e ouvir Save Ferris e acabariam montando uma banda ou algo do tipo.

Mas, em vez disso, estão fazendo esse tipo de coisa usando meias rendadas e colares com crucifixos. Adoro mesmo essas presilhas.

Quando vemos Bonnie e Rochelle pela última vez, elas estão chegando na casa de Sarah usando umas roupas muito esquisitas, e a amizade delas está por um fio. Bonnie, em particular, fez uma escolha esquisita com essa camisa. Por que as mangas são tão compridas?! E por que diabos as mangas do casaco da Rochelle também são tão compridas?! 

Acho que a lição é: tenha cuidado com magia. Não só porque ela pode acabar com o seu grupo de amigas e com a sua vida amorosa, mas porque, pelo visto, quando você perde os seus poderes, subitamente perde também a noção de como se vestir.

Nancy, Sarah, Bonnie e Rochelle. Amo todas elas individualmente, mas temos que admitir — elas eram melhores juntas.

Elizabeth Sankey colabora regularmente com o Noisey e se veste como se estivesse em um filme dos anos 90. Além disso, é vocalista da Summer Camp. Siga-a no Twitter.

Tradução: Fernanda Botta

Um Sobrevivente dos Ataques ao Bataclan em Paris Conta Sua História

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A foto que Rodrigue Mercier postou no Facebook na manhã de sábado para informar à família e aos amigos que ele estava bem.

Uma semana e meia atrás, você provavelmente estava conversando com amigos pelo celular e arrumando alguma coisa para fazer na noite de sexta, vendo quem topava, onde se encontrariam, a que horas – e nem por um instante poderia imaginar que estava prestes a cair, com o resto do planeta, em um mundo feito de horror, histeria e incompreensão. Eu passei a última noite de sexta no Café De La Danse, uma casa a poucos passos de distância do show do Eagles of Death Metal no Le Bataclan, onde ocorreu um dos atentatos em Paris. Ao final da noite, 130 pessoas haviam sido assassinadas. Perdi amigos, colegas e conhecidos.

Por esse motivo e muitos outros, decidi não falar sobre os ataques em Paris no Noisey França. Eu estava sofrendo, mas as famílias e amigos das vítimas estavam literalmente devastados, e nada parecia ser relevante e nem mesmo decente naquela hora. Não queria acrescentar mais uma camada de ruído aos sons estridentes das mídias sociais.

Compreenda que esse evento terrível aconteceu em casa, em meio às ruas em que todos nós passamos incontáveis noites e madrugadas. O silêncio parecia ser nossa única opção – ao menos por enquanto. Até que Rodrigue Mercier entrou em contato comigo.

Sobrevivente do ataque ao Bataclan, Mercier é um engenheiro de som de 26 anos que muitas vezes encontro em shows em Paris. Ele queria contar sua história, uma semana após o acontecido, examinar o que aconteceu e como sua vida mudou, longe do frenesi midiático. Ele me disse que recusou dezenas de pedidos de entrevistas e queria conversar comigo. Fui encontrá-lo na noite de quinta (19), uma semana após os ataques, e, naquele momento, ainda não tinha certeza de se publicaria um artigo. Voltando para casa, nossa conversa foi tão poderosa que sabia que precisava contar a história dele. Não porque ele esteja contando parte do que aconteceu naquela noite, mas porque é a história de alguém para quem a música é um trabalho, alguém que acabou de superar um desafio que o esmagou; que não quer abrir mão da vida e de sua paixão, e que gostaria que as coisas seguissem em frente. Assim como todos nós.

Veja o que o Eagles of Death Metal contou sobre os ataques terroristas de Paris

Noisey: Oi, Rodrigue. Você poderia se apresentar?
Rodrigue Mercier:
Sou um engenheiro de som de 26 anos e moro em Montreuil [uma cidade colada à divisa leste de Paris]. Ouço rock alternativo desde criança, e já faz um bom tempo que acompanho o EODM. Vi um show deles pela primeira vez em 2005, no Le Trabendo, e devo ter comparecido a tipo uns nove shows deles desde então. É uma das minhas bandas favoritas.

Então você estava no Bataclan sexta à noite para ver o show deles, não para trabalhar.
Total. Já trabalhei algumas vezes no Le Bataclan, mas trabalho principalmente no La Mecanique Ondulatoire, e, desde setembro deste ano, no Le Klub. Passo a maior parte do meu tempo em casas de show.

E como transcorreu aquela noite?
Comprei meu ingresso no último minuto: seis da tarde de sexta-feira, na página do evento no Facebook, de uma garota que estava vendendo o dela. De início, a ideia era eu ir com alguns amigos, mas só eu acabei indo. Durante o show da banda que estava abrindo, fui ao bar que fica ali do lado para tomar uns drinques. Pensando agora, uma coisa esquisita aconteceu – é só um detalhe, mas achei marcante: durante toda a hora que antecedeu o ataque, eu ouvi repetindo direto uma faixa do primeiro disco do Soulsaver, "Longest Day". A letra diz: “This must be the door to take / I’ve nowhere left to run / I wanna run / I better run now / Run / As far as I can.” ("Deve ser essa a porta / Não tenho mais para onde correr / Quero correr / Melhor eu correr agora / Correr / O mais longe possível.")

Então eu cheguei no Le Bataclan minutos antes do EODM começar o show. Tudo estava indo bem. Eu estava na primeira fileira, super feliz. Em alguma hora lá, eles tocaram uma faixa do disco mais recente da qual eu não gostava muito, então saí para pegar um drinque. Na outra extremidade do bar, vi alguns amigos conversando. Não queria interromper, e achei que, de qualquer forma, toparia com eles novamente aquela noite. A banda então tocou uma outra faixa da qual eu não gostava muito, então fiquei no fundão, perto da cabine de som.

E aí eles começaram a tocar "Kiss the Devil", uma das minhas músicas prediletas, o que me fez ir correndo lá pra frente. Um instante depois ouvi... um barulho, eu não sabia o que era, e pensando com cabeça de profissional, imediatamente me ocorreu que fosse um defeito na caixa de injeção direta (que é usada para equilibrar a impedância de um instrumento elétrico numa mesa de mixagem) no palco. Barulhos de estalo, muito breves e nítidos. A primeira coisa que me ocorreu foi virar e olhar para a cabine de som pensando tipo "que porra é essa, camaradas?" Mas também estava sentindo pena do engenheiro de som, porque é muito ruim quando isso acontece.

Do nada, a banda parou de tocar. E o ruído continuou. O que senti na hora, e nunca vou esquecer, foi o silêncio absoluto que se fez. Não sei se isso foi só a minha percepção ou se de fato foi o que aconteceu, mas esse silêncio foi aterrorizante. Ninguém gritava, ninguém dizia uma palavra. Não havia som nenhum, exceto pelos estalos. Achei que fossem fogos de artifício, porque parecia os que a gente costumava soltar na infância, que tinham som de metralhadora.

Olhei para trás de novo, tentando entender o que estava acontecendo, mas ainda estava tudo escuro. Então, de repente, religaram as luzes. Me virei e vi um monte de pessoas caídas no chão da pista. Eu ainda estava em pé, e, por reflexo, me encolhi – não dava para deitar no chão, não havia espaço. Na mesma hora, me dei conta de que havia alguém disparando uma arma de fogo. Ainda havia silêncio. Mas comecei a ouvir o impacto de balas. Eles estavam matando pessoas. Ao acaso, não miravam em ninguém.

Eles estavam literalmente soltando rajadas por todo o auditório. O sujeito ao meu lado foi baleado. Eu não o conhecia, mas tínhamos passado a maior parte do show perto um do outro. Em algum momento, ele tinha acendido um cigarro lá dentro, o que me deu muita vontade de fumar também, então acabei acendendo um. Lá estava eu, imóvel, mas entendendo que a coisa não ia parar, pensando que eu tinha que fazer alguma coisa se quisesse sair vivo dali. Olhei para cima e vi a luz da saída de emergência, pertinho de mim, a tipo uns sete ou oito metros. Aquela era a única saída.

Como você conseguiu chegar à porta?
Estava todo mundo no chão, mas eu não sabia se estavam rastejando para sair dali ou se já estavam mortos. Tinha muito sangue. Era impossível saber. Como eu não queria empurrar ninguém e as pessoas já estavam no chão, literalmente pulei pela porta de um impulso só, saltando por cima das pessoas. Perdi os meus óculos e pousei do lado de fora, na rua Amelot. Até agora não voltei a ligar a TV, e desde sexta não sei das notícias. Então, para ser sincero, não sei o que aconteceu depois disso, mas tenho quase certeza de que os caras começaram a disparar as armas deles em direção à rua.

Foi isso mesmo, eles começaram a atirar na rua. Nessa hora, você tinha saído. O que você fez? Começou a correr imediatamente?
Saí andando, confuso e desorientado, e aí olhei para trás e vi aquele cara que tentava sair do prédio ser abatido a tiros. Então comecei a correr em zigue-zague, mais rápido do que nunca. Não sei se foi porque corri incrivelmente rápido ou se só por causa do medo, mas senti mesmo que estava prestes a ter um ataque cardíaco. E ainda me considero uma pessoa em forma. Atrás de mim, eu conseguia ver as pessoas parando e ficando por ali, achando que estavam em segurança. Gritei dizendo que não parassem, que tentassem chegar às ruas em volta, e se escondessem onde possível. Cruzei a rua Amelot, saí no boulevard Beaumarchais, e lá meu primeiro instinto foi chamar um táxi para que eu pudesse levar comigo o máximo de gente. E aí me dei conta de que tinha perdido meu celular também, e estava sozinho. Depois de alguns segundos, um casal apareceu, e entramos num restaurante ali perto. Lá, um monte de pessoas, que estavam jantando à luz de velas, num ambiente chique e aconchegante, me viram entrar todo esbaforido, vestido igualzinho estou agora, todo de jeans e com boné de time de beisebol – desde sexta não troco de roupa, para falar a verdade – com mais um casal. A garota estava ensopada de sangue; ela carregava o namorado, que tinha levado um tiro. Uma bala passara de raspão por sua têmpora, e outra atravessara o lóbulo. Ele literalmente estivera no meio de duas balas.

As pessoas do restaurante entenderam o que estava acontecendo?
O proprietário e os funcionários nos deixaram entrar sem nem piscar o olho, mas também não pararam o que estavam fazendo. Ficamos todos lá na cozinha, encolhidos, aterrorizados, enquanto eles gritavam "costelas de cordeiro para a mesa quatro, pronto!" e coisas do tipo. Eles não faziam a menor ideia do que estava acontecendo.

Era uma noite de sexta em Paris. Provavelmente acharam que fosse só alguma briga ou assalto.
Com certeza. Alguma hora, aquela cliente do restaurante, ela devia ter uns 20, 22 anos, com cara de aluna exemplar, começou a fazer um monte de perguntas absurdas: "Ah, houve um atentado a tiros", "Tiros como? Tipo com armas de verdade mesmo?" E daí virou um Carnaval, com as perguntas mais idiotas do mundo. A gente só desejava uma coisa: que eles deixassem entrar outros sobreviventes, fechassem a porra da porta, e descessem as portas de metal.

Quanto tempo levou até a polícia aparecer?
25 ou 30 minutos. Primeiro vieram os bombeiros, e levaram o Will, o cara que estava ferido. Fiquei lá com Morgan, a namorada dele, um garoto que não falava nada, e uma mãe que procurava a filha, que estava no show e lhe mandara uma mensagem de texto, dizendo que escapara mas também que vira sua melhor amiga morrer na sua frente. E, à nossa volta, todas aquelas pessoas sem a menor noção do que estava ocorrendo.

Você não teve vontade de ir embora?
Sim. Mas a Morgan estava entrando em pânico, aquele cara estava incapaz de falar qualquer coisa, e a mulher estava petrificada. Senti que precisava continuar sendo objetivo. Disse para mim mesmo: "Não entre em pânico". No fundo, eu estava aterrorizado, mas não podia ceder. Minha primeira reação foi pedir aos cozinheiros que me arranjassem alguma bebida forte para acalmar os nervos. Também disse a mim mesmo que, se os atiradores voltassem para me matar, melhor que eu estivesse bêbado. [Risos]

E você ficou assim por muito tempo?
Não me lembro. Eu percebi várias coisas. [Ele tira do bolso um caderninho preto.] Ainda tenho o meu diário comigo, e escrevi algumas coisas conforme o tempo ia passando. Escrevi frases... coisas que não queria esquecer. Primeiro, houve o momento horrível em que o dono do restaurante quis nos expulsar de lá.

Sério?
Sim. Mas ele não foi muito peremptório. Era tipo como se estivesse prestes a fechar. Outra coisa que ficou na minha cabeça foi que nas redes sociais as pessoas começaram a falar que estava tudo acabado no Bataclan às 00:20. Estávamos a cerca de cem metros de lá, e vimos que os policiais estavam ficando inquietos. Não parecia que tinha acabado, que estávamos em segurança. Foi nessa hora que tive vontade de sair.

Para onde você quis ir?
Eu tinha amigos no 18º arrondissement. Tinha marcado de encontrar com eles depois do show. De repente, essa era a única vontade que eu tinha: ir me encontrar com eles. Mesmo que para isso tivesse que ir a pé até lá, eu tinha que sair dali. Peguei um celular emprestado, loguei no Facebook e avisei para eles. Foi aí que vi que eu tinha tipo 170 notificações e 50 mensagens. Só mandei uma mensagem para eles dizendo: "Esperem por mim, estou indo". Também avisei aos meus pais que estava tudo bem comigo; pedi que minha mãe postasse alguma coisa no Facebook para informar todo mundo. Então eu saí.

Tipo, saiu e pronto?
Foi isso que eu imaginei que faria, o que foi um pouco ingênuo da minha parte. A Morgan queria ir para o hospital Lariboisière, que ficava no caminho: era lá que estava o namorado dela. Achamos que simplesmente iríamos para lá. Só quando saímos nos demos conta do que estava acontecendo. As forças de segurança tinham montado o centro de operações perto da gente. As ruas estavam lotadas de policiais, e assim que botamos o pé para fora, um deles nos mandou voltar. Dissemos que o proprietário estava querendo fechar. Ele só respondeu: "Ainda não acabou, voltem para dentro". Não parecia real aquilo. Por um lado, o chef quer colocar você pra fora, por outro um policial diz que você pode tomar um tiro a qualquer momento. Estávamos abandonados mesmo. Foi só às 2:45 da manhã que nos disseram que podíamos sair; a polícia nos escoltou de volta ao prédio da prefeitura do 11º arrondissement. Lá, a Cruz Vermelha cuidou da gente. Foi nesse momento que entendi que tinha tido muita, muita sorte; conversando com aquela gente toda que tinha escapado, e cujos rostos eu vira nas ruas ou durante o show. Algumas delas tinham perdido pessoas próximas, ou foram feitas de refém, ou ficaram trancadas atrás de uma porta.

Você ainda queria ir encontrar seus amigos?
Sim, mas me disseram para ficar. Finalmente saí para fumar um cigarro num lugar reservado, e vi tipo umas 50 câmeras e uma porrada de fotógrafos virando na minha direção. Eles ficaram chamando "ei, queremos falar com você." Mais tarde, na mesma noite, táxis e ambulâncias nos levaram de volta para casa, dependendo de onde cada um morava. A primeira coisa que fiz depois de chegar foi ligar para minha mãe e pedir que ela viesse me buscar.

Uma semana depois, como você está se sentindo?
Minha sensação é de que hoje ainda é sexta, como se o tempo tivesse parado.

É meio como eu me sinto também. Quando decidi largar as redes sociais e retomar o trabalho, tudo foi voltando ao normal. Você está no set hoje para a gravação de um clipe – quando foi que voltou ao trabalho?
Não demorou muito. Quarta-feira agora, no Klub. Estava marcado de trabalhar num show na noite de domingo, e se não tivessem cancelado, acho que teria ido. Sábado foi um dia horrendo; eu literalmente não conseguia sair. Só andamos de carro – e só quando havia uma porta por perto. Teve uma hora em que eu tive um ataque de pânico, na frente de um mendigo que pediu dinheiro. A mesma coisa aconteceu depois, quando vi um soldado com a arma dele. Hoje parece um pouco ridículo, mas na hora foi um pesadelo de verdade.

Você também me contou, antes de começarmos a entrevista, que foi ao Trabendo ver o Kadavar na noite de terça. Como foi lá?
Foi bom, exceto por duas coisas. Primeiro, quando vi que havia uma câmera da televisão pública lá dentro. Gritei com eles, perguntando o que estavam fazendo. Explicaram que estavam seguindo o The Shrine por uma semana, e que não estavam presentes quando os ataques ocorreram. Segundo, ao final do show, quando acenderam as luzes, eu não parava de olhar para a saída de emergência e para quem estava à minha volta. Basicamente, eu me sentia feliz de estar ali, porém não estava lá por inteiro – ao menos não na minha cabeça. Porém, fico contente de ter ido.

Você falou da reação que teve diante das câmeras. Como você reage quando vê tudo o que está acontecendo na mídia, nas redes sociais? Quando você me contactou, foi uma das primeiras coisas que mencionou.
Eu me recuso a assistir ao noticiário. Com as redes sociais, é diferente; preciso entrar de tempos em tempos para falar com os meus amigos, já que não tenho mais um celular. O que acontece lá está além do que eu poderia imaginar. Topei com uma fotografia do Bataclan... Não tive palavras para expressar o que senti. Se os jornalistas usam, é justo, embora seja uma decisão questionável. Mas as pessoas compartilharem aquilo no Facebook, aqui na França... Ou um vídeo que fizeram dos tiros. Eu estava lá, e não quero voltar. Não vejo por que alguém quereria.

Estamos em um ponto em que simplesmente fazemos algum ruído, mesmo que não tenhamos nada que valha a pena ser dito.
É exatamente assim que eu me sinto. As pessoas são afetadas, claro. Gostaria que parassem de falar do assunto desse jeito. Outro dia eu estava num táxi, e o motorista, que era muçulmano, me falou de como os muçulmanos eram rotulados de fundamentalistas. Eu respondi: "não se preocupe, as pessoas não são imbecis", embora, por dentro, eu sentisse vontade de berrar: "Cala essa porra dessa boca. Para de falar sobre isso. Cala a boca, porra. Todo mundo cala a boca."

Por que você quis falar do assunto hoje?
Porque senti que era o momento de colocar tudo pra fora. Cheguei num ponto em que isso estava quebrando as minhas bolas, e preciso superar isso.

O que você vê acontecendo nas próximas semanas?
O show em que trabalhei na noite de quarta foi de uma banda brasileira. [n. da E.: era o Boogarins, em turnê europeia] O empresário de turnê deles veio me ver quando a banda subiu no palco, para dizer que o engenheiro de som dele tinha ficado no hotel, nos subúrbios, e não queria chegar nem perto de Paris. Foi nesse momento que eu disse a mim mesmo que 1) Vir trabalhar fora a coisa certa a fazer e 2) Não queria que ninguém pensasse de mim o que eu estava pensando daquele cara naquela hora, ele lá trancafiado no hotel. O que eu digo para mim mesmo – e posso estar errando muito feio – é que o que aconteceu comigo pode acontecer a qualquer um, em qualquer lugar. Todos os dias, as pessoas perdem entes queridos em acidentes de trânsito. A melhor amiga da minha amiga acabou de cometer suicídio, mas ela está aqui trabalhando comigo hoje. Fiquei só com um hematoma grande por conta do salto até a saída de emergência. Tenho sorte de estar aqui, de continuar trabalhando. Meu trabalho é estar numa casa de shows e tomar conta do som, então é isso que eu vou fazer. Precisamos seguir em frente. É disso que todos precisamos.

Lelo Jimmy Batista é o editor do Noisey França. Siga-o no Twitter.

Ouça "FloriDada", a Nova Música do Animal Collective

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Depois de estrear o seu novo disco no aeroporto de Baltimore, na última quarta-feira (25), o Animal Collective anunciou a data de lançamento oficial de Painting With, décimo álbum do grupo. O sucessor de Centipede Hz vai sair em 19 de fevereiro de 2016 pela Domino. Panda Bear, Avey Tare, Geologist e Deakin aproveitaram para lançar um novo single "FloriDada", trazendo o animado pop experimental do Animal Collective que já conhecemos. Ouça abaixo:


Veja o A$AP Rocky Tocando uma Nova Faixa, "Yamborghini High"

Tijuana É a Capital Indie do México

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Vaya Futuro, em sua viagem para gravar na Islândia.

Este artigo foi originalmente publicado no Noisey México.

A Cidade do México não é o único lugar em que coisas interessantes estão acontecendo na cena de música independente mexicana. De fato, a capital está começando a ficar para trás em termos de novos movimentos e sons, ou de lançar coisas realmente grandiosas. Falemos a verdade: se analisássemos os nomes que compõem as playlists de "bandas mexicanas", veríamos que, mesmo que 90% delas tenha residência na capital, 85% não têm suas origens lá. São de cidades como Monterrey, Cancún, Zacatecas, Mérida e Guadalajara, entre muitas outras. Dentre essas outras cidades e regiões, há pelo menos uma que se destaca especialmente. Sua presença talvez ainda não seja tão forte quanto a da Cidade do México, mas vale a pena acompanhá-la de perto para não perder o que promete ser um futuro incrível.

Estou falando, é claro, de Tijuana, uma quente cidade de fronteira cheia de lendas urbanas ("O Asno e a Noiva", alguém conhece?), uma cidade que muitas pessoas logo menosprezam com piadas sobre como é suja e miserável. Mas, se você conseguir ignorar as piadas velhas e tediosas, vai perceber que ela hoje é provavelmente uma das cenas mais relevantes do país, com bandas conhecidas como Dani Shivers e San Pedro El Cortéz – cada uma seguindo um caminho próprio e diferente, mas ambas tema de muita discussão – e também de um conjunto mais novo de bandas que estão só começando a fazer barulho.

Para entender por que a cena de Tijuana está passando por um revival, temos que mergulhar no início dos anos 90, quando uma banda local chamada Staura dava seus primeiros passos. Staura era composta de Gaby Spica, René Soberanis (mais conhecido pela Loopdrop, outra banda essencial da cena) e Omar Foglio, que mais tarde se tornaria o maior promoter independente de Tijuana e lançaria o Swenga Fest em 1995. Foi durante as carreiras de Staura e Loopdrop que o público local começou a voltar seus olhares e prestar atenção no que estava rolando nas poucas casas de espetáculo e bares que disponibilizavam espaços para que bandas se apresentassem naquela época. E foi através dessas iniciativas, e com esse apoio, que outras bandas, como Ibi Ego e Shantelle, começaram a ganhar vida no início dos anos 2000.

Assim como o Staura e o Loopdrop ajudaram a criar um terreno fértil para Ibi Ego e Shantelle, essas duas ajudam a explicar a chegada da onda seguinte de bandas, como Celofán (depois conhecida como Vaya Futuro), Mint Field, Policías y Ladrones, Grenda e até mesmo Dani Shivers. Ibi Ego e Shantelle não foram tanto uma influência direta sobre o som das bandas que apareceram a seguir – estavam mais para uma outra espécie de pioneiros. Além de, por seus próprios méritos, darem à música independente de Tijuana um segundo fôlego, inspiraram esses músicos novatos a não procurar influências só em bandas estrangeiras como The Strokes, e sim a seguir o exemplo de Ibi Ego e Shantelle e estourar na cena local soltando projetos de sua própria lavra.

O resultado? Uma nova onda que – sem falar de bandas como San Pedro El Cortéz, que vêm fazendo coisas há anos – agitou os esquemas num curto espaço de tempo, em alguns casos já um ano depois da criação das bandas. Essas são as novas bandas que estão redefinindo Tijuana e provando que o México tem músicos em todos os lugares, trazendo coisas que são mil vezes melhores do que os americanos que tendemos a idolatrar:

Mint Field

No final de 2013, o shoegaze começou a varrer todo o México, com bandas como Bleak Boys, de Aguascalientes, Hexagrams, de León, Pure Morning, de Sinaloa, e Los Mundos, de Monterrey e Cidade do México. Contudo, o foco sonoro de todas essas bandas era soturno, tendendo para tons sombrios que se baseavam no punk e davam a impressão de que estavam interessadas em temas tristes e melancólicos. Talvez seja por isso que, com a chegada de uma banda como o Mint Field, as coisas começaram a ir para um lado mais alegre. Primeras Salidas, o EP de estreia do trio, cujos membros são Amor Amezcua, Estrella Sánchez e Andrés Corella, mostra um lado mais feliz e colorido desse gênero, e também acrescenta um toque de noise pop.

O Mint Field é uma banda jovem que está começando a se descobrir, mas o talento ali é grande. A direção que vão tomar no futuro está lentamente tomando forma, e 2016 será um ano importante para ver como o som deles muda, e como se transformarão em uma banda mais forte.

Late Nite Howl

A música de Pablo Dodero, também conhecido como Late Nite Howl, passa a sensação de tristeza e nostalgia que vem ao final de uma festa, quando sua casa está cheia de amigos e todos eles começam a ir embora, criando um tipo de vácuo desolado e cinzento. Sua bonita música folk não se apoia em acordes felizes ou palavras adocicadas, e sim busca prestar homenagem à sua própria tristeza, e compreendê-la através de letras poéticas cantadas numa voz grave sobre arpejos suaves. Está se sentindo triste? Late Nite Howl é a melhor trilha sonora para sentir essa tristeza, dar vazão a ela, e seguir em frente.

Vaya Futuro

De todas as bandas que atualmente estão na Cidade do México e, ainda por cima, conseguindo verdadeiro sucesso nos níveis nacional e internacional, Vaya Futuro provavelmente é o ponto de referência mais importante para Tijuana.

Lembra de quando mencionei anteriormente a importância do Ibi Ego e do Shantelle? Luiz Aguilar, o vocalista do Vaya, foi um daqueles fãs mais antigos, que viram essas bandas ao vivo, e se sentiram inspirados a alcançar o mesmo patamar. Inspirado não só por bandas estrangeiras mas também por essas bandas locais queridas, o grupo, composto de Miguel Ahuage, Aldair Cerezo, Armando Aguilar e Lou Ross, desde então teve vários sucessos inesperados, incluindo uma viagem à Islândia para gravar no mesmo estúdio de Damon Albarn e Björk, com o incrível Ben H. Allen, o produtor de Fading Frontier, do Deerhunter.

Vaya Futuro é uma banda que tem o potencial de acabar sendo mais do que um favorito cult. Eles poderiam estourar internacionalmente, algo no nível de Lorelle Meets The Obsolete. Enquanto isso não acontece, mergulhe no disco que eles lançaram há pouco tempo, Perro Verde y Triste, uma das melhores coisas a sair do México este ano.

Grenda

Outra coisa interessante sobre a nova onda de talento independente no México é a idade precoce com que muitos músicos e produtores estão começando não só a experimentar com a música, mas de fato a conseguir grandes feitos e se tornar conhecidos de um público considerável.

Grenda, cujo nome verdadeiro é Eduardo Amezcua, é um exemplo. Com apenas 17 anos, ele já conseguiu subir, de degrau em degrau, de shows pequenos na série audiovisual MEEP (Música en el Patio) para o show de aniversário do CyberWitches em Guadalajara, e depois até o festival MUTEK Mexico deste ano.

Sua música mescla uma gama de ritmos e sons que, embora não exatamente se encaixem em um conceito concreto, certamente sugerem um progresso em direção a um Grenda mais maduro. Ouvi-lo dá a sensação de fazer parte de sua jornada de autodescobrimento. Talvez o mais empolgante seja o fato de que ele oferece um show ao vivo totalmente profissional. Como acontece com artistas tipo Norbert Duke of Forecast In Rome, de Guadalajara, o show é imperdível para quem quiser entender plenamente o seu som.

Policías y Ladrones

O estilo garage no México tem duas faces. Há a velha guarda de bandas como Los Explosivos, Los Chicos Problema, Mustang 66, e Los Monjes, que se firmaram como os ancestrais do gênero nos anos 60. E há a nova escola de bandas que se embrenham por milhares de ramos diferentes dentro do gênero, como Los Blenders, O Tortuga, Dinosaurios Surf Club e muitas outras.

Cerca de 70% do que faz o Policías y Ladrones está dentro dessa nova onda, mas nos outros 30 os vemos flutuar por aí à procura de um conceito melhor, que não é exatamente o toque clássico do Los Monjes ou do Los Explosivos, e tampouco é o estilo de dedilhar veloz e acelerado de Los Blenders e O Tortuga. A geografia talvez ajude a explicar: sua cidade lhes proveu de muitos sons que vieram do lado de lá da fronteira. Há uma vaga qualidade punk na maneira com que eles usam distorções pesadas; contudo, também não deixam de lado as nuances de um pop doce que fazem você querer colocar as músicas no repeat.

No final das contas, este grupo, composto por Alonzo, Iván, Luiz e Andrés Corella (que também é membro do Mint Field), oferece um retorno a um som punk mais sujo, pelo qual muitas das bandas da lista tendem a se interessar menos. Ao lado de grupos como San Pedro El Cortéz, eles carregam a responsabilidade de criar rodas punk e estourar os alto-falantes dos palcos improvisados de Tijuana.

Entre Desiertos

Do outro lado do espectro em relação a essas bandas com sons distorcidos (quer sejam de garage, noise ou shoegaze) está o Entre Desiertos, que tende mais para o lado do pop agradável. Mas isso não significa que devamos considerá-los menos experimentais.

Esse jovem grupo não está junto há muito tempo, e a música deles tende para o rock alternativo. Mas eles não se recusam a tocar diferentes instrumentos para dar vida às músicas um pouco mais conceituais. Lançaram há pouco seu primeiro disco gravado em estúdio, e ascenderam rapidamente no Bandcamp. Esse projeto nos mostrou como é o som do Entre Desiertos, mas também nos provocou a perguntar como poderia ser o som da banda. Cada música parecia sugerir um som distinto, que a banda poderia alcançar caso optasse por seguir aquele caminho, mas por enquanto temos só um gostinho de qual ele poderia ser. Tenho a impressão de que o Entre Desiertos tem muito mais coisas a provar, mas, em matéria de primeiros passos, eles não começaram mal.

Ramona

Reserve uma tarde para apertar o play e não preste muita atenção no que está rolando ao redor. O Ramona causa a sensação de estar ouvindo alguma coisa que você já ouviu em outro lugar, muito tempo atrás. Eles não necessariamente oferecem algo de muito novo, mas são mais um dos projetos notáveis de Tijuana que se mudaram para a Cidade do México e estão a caminho de se tornarem grandes.

Jesús Guerrero e companhia faziam parte de uma série de bandas como Jandro, do selo Discos Intolerancia, de Roberto Orozco, que conseguiram atrair alguma atenção da mídia. Não tenho certeza de por que, desde então, o Ramona não conseguiu estourar mais, exceto que parece claro que os gostos das pessoas da cena da capital tendem mais para projetos mais ruidosos. Suas músicas bobinhas não exatamente acertam na mosca com a opinião pública. Mas, ainda assim, como já disse, eles continuam a dar pequenos passos adiante, e não parece haver qualquer plano de parar.

CL Vai Conquistar o Mundo com seu Primeiro Clipe Solo, "Hello Bitches"

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Se você está por dentro nas novidades musicais, já conhece a CL. A superstar sul-coreana de 24 anos cantou e rosnou em faixas recentes de nomes como Skrillex e Riff Raff, sem contar sua participação na turnê de Mad Decent Block Party de Diplo. Ela é onipresente em fashion weeks e ensaios fotográficos há anos, criando laços criativos com estilistas como Jeremy Scott e Alexander Wang. O inegável hino de seu grupo 2NE1“I Am The Best”, cantado inteiramente em coreano, até chegou nas FMs norte-americanas, três anos após seu lançamento, na esteira de uma campanha da Microsoft no ano passado.

Para um certo tipo de pessoa – diversos, na verdade – tem sido difícil não notar CL, e adivinhe só, a visibilidade da Srta. Chaelin Lee está prestes a tornar-se intergaláctica. “Hello Bitches” é a casual primeira onda de uma dignitária viajante de nosso futuro cultural pop, um single para as ruas feito para bombar novos e velhos fãs enquanto ela aprimora seu disco de estreia sob a batuta da jovem lenda Scooter Braun (sim: o agente de gigantes pop como Bieber, Grande e Jepsen). Abaixo você confere o poderoso primeiro clipe solo da artista, com uma CL coberta em couro dançando pra cacete, mandando uns trechos em coreano com a característica batida porrada de seu produtor Teddy.  A rainha da coreografia Parris Goebel, que dirigiu o clipe, foi da Nova Zelândia junto com sua equipe ReQuest para encontrar CL em Los Angeles, onde amigos e colaboradores de longa data se soltaram como nunca antes.

Crescendo e ascendendo à fama em uma rede mundial que continua a romper as barreiras do último século, CL é um símbolo vivo da era de ouro vindoura do pop. Falamos sobre como é estar em meio a encruzilhadas culturais, a criação de “Hello Bitches” e o que significa ser a mais malvada.

Noisey: “Hello Bitches” é ousada do início ao fim, mas o lance mais foda nela talvez seja o trecho em coreano. O que te fez querer manter a faixa bilíngue?
CL:
Não é exatamente um single oficial, mais uma coisa pras ruas. Queria lançar um clipe-surpresa pros fãs que esperam meu disco solo. Já que sou coreana, é uma boa maneira de me apresentar e assim todos do mundo vê de onde sou e mantenho tudo autêntico.

Você já trabalhou com Parris Goebel coreografando antes, mas essa é a primeira vez que você dança em vídeo com ela e o resto da turma da ReQuest. Deve ter sido uma loucura.
Na verdade eu comecei na dança e foi assim que me tornei uma artista. Foi ótimo porque nunca tinha dançado tanto em um clipe. Criar e passar um tempo com Parris e as meninas da ReQuest foi divertidíssimo.

Você fez muitos clipes nos EUA no passado. O que rolou de novidade na sua experiência desta vez?
Foi bem diferente. Era só um câmera, Parris, as meninas e eu. Não havia muito orçamento, então foi tudo bem simples e feito bem rápido. Não importa tanto onde filmamos, mas sim o tipo de clipe que queríamos. Foi tudo bem cru. Foi tudo de ouvido e só tínhamos seis horas pra filmar. Foi um desafio e uma experiência bem diferente mesmo.

A cultura de convergência tem ganhado destaque – vemos muitas colaborações internacionais em comparação ao que rolava há alguns anos e sinto que os fãs ocidentais estão se acostumando à ideia de música pop que não é toda em inglês. Pra onde você acha que a cultura pop irá?
Com o YouTube e a internet, meus fãs podem me encontrar e não existem barreiras. É incrível como artistas como eu podem se conectar com pessoas do mundo inteiro pela internet.

Recentemente você falou do seu background musical eclético, crescendo ouvindo pop britânico dos anos 80 e rock japonês da coleção do seu pai, se apaixonando pelo hip-hop na escola, quando morou na França e Japão. Você lembra de alguma música que tenha te deixado uma marca naquela época?
São tantas que é até dificil escolher só uma. Atualmente estou ouvindo Foxy Brown, Da Brat, Missy Elliott, Lil’ Kim, Eve e rappers mulheres do final dos anos 90 e começo dos 2000. Ouvia naquela época e isso me inspirava.

O que tem te inspirado recentemente?
Voltei a Seul e a manter contato com amigos e gente com quem amadureci no início da carreira. Também tenho feito muitas fotos, o que me inspira. Basicamente tenho vivido minha vida e me lembrando que tenho sim uma vida pessoal.

O que significa ser “a mais malvada” pra você?
É como diz a letra de “The Baddest Female”: “Não má no sentido de má, mas má de um jeito bom”.

Você passou bastante tempo em Los Angeles trabalhando em cima das suas novas músicas. Como é isso em relação ao que você fez na indústria asiática?
Não fiz muito trabalho promocional, mas gravei em LA, bem diferente do que rola com a equipe que tenho na Coreia. É desafiador, mas divertido.

Fala pra gente do material novo. Tem algo com o qual você esteja mais empolgada?
É meu primeiro disco solo e algo que sempre quis fazer, então estou empolgadíssima. Tenho boas pessoas que me apoiam e confiam em mim. Sinto-me abençoada. Isto é só o começo. Queria fazer algo para os fãs e amei como a música saiu. Queria compartilhar para que as pessoas curtissem, então é música gratuita... Um presente para os meus fãs.

Ao longo do ano você fez vários shows na turnê Mad Decent Block Party. O que você tirou daquela experiência? Com certeza faz tempo que você tocou pra um público onde nem todos te conheciam.
Na maioria das vezes eu entrava no meio do set do Jack Ü ou Diplo, então não era bem um público novo com exceção de um dos shows em que fiz meu set. Chegando lá, não tinha muitas expectativas, mas queria fazer aquilo com meus amigos, Diplo e Skrillex. Também porque sentia falta de tocar e foi bom ver meus fãs. Foi tudo bem simples, só eu e os DJs, foi algo novo e legal. Espero mesmo fazer mais disso.

Muitas vezes te perguntam o que você gostaria que acontecesse com seus fãs na Ásia por conta de sua carreira nos EUA. Por outro lado, o que você espera que role com o público ocidental?
O que estou tentando fazer não é começar do zero. Sou a mesma e sempre serei. Tinha a mesma imagem, mas cresci e aprendi mais a cada ano. Continuarei a fazer a mesma coisa, mas para outra galera.

Há pouco você participou de “Doctor Pepper” com OG Maco e Riff Raff – um puta lineup. Como foi isso? Como você reagiu ao sacar que aquilo tava rolando mesmo?
Segui a visão de Diplo e rolou tudo meio naturalmente. Foi bom trabalhar com eles.

No passado você falou sobre as diferenças entre CL, a superstar, e Chaelin Lee, que é você longe dos holofotes e câmeras. Você ainda vê uma distinção aí?
Sim, mas ambas são eu. Certamente sou um pouco diferente no palco – mais forte e minha voz é mais alta. Mostro um outro lado, mas ainda sou eu.

Jakob Dorof é jornalista em Seul. Siga-o no Twitter. 

Tradução: Thiago “Índio” Silva

Ouça a Primeira Música Inédita do Glassjaw em Quatro Anos, "New White Extremity"

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Já faz 13 anos desde que o Glassjaw lançou seu último disco cheio, Worship and Tribute. Mas nesta terça (1) eles lançaram a primeira música de seu terceiro álbum, ainda sem nome. "New White Extremity" mostra o ritmo frenético pelo qual a banda é conhecida, usando efeitos e sons estranhos para reforçar seu tipo de hardcore, e mostra no que os caras estavam trabalhando desde o EP lançado em 2011, Coloring Book

A Karol Conká Tá sem Paciência pra Hostess no Clipe de "Lista VIP", do Boss in Drama

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Se existia alguma dúvida de que a Karol Conká é a pessoa mais estilosa da música brasileira contemporânea, agora não tem mais. Depois da poderosíssima "Tombei", ela surge mais maravilhosa do que nunca no clipe de "Lista VIP", (mais uma) parceria com o Boss In Drama. 

Com looks à la disco anos 70, o vídeo ainda tem a Jana Rosa como hostess. E muitas perucas cor-de-rosa dignas de Nicki Minaj. Pode se preparar pra arrasar na pista com mais esse estouro da Karol. Aproveita, ao ver o clipe abaixo, pra decorar a dancinha. 

Lembrando que, na semana passada, a Banda Uó soltou um clipe super vaporwave com a rapper curitibana para o feat "Dá1Like". Bom, Karol Conká nunca é demais, né?.   

As Pessoas Gritam Coisas Estranhas pra Tei Shi

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Fotos por Eric White/Divulgação

Em um ano com grandes e significativos lançamentos – e em que Adele saiu da toca  Tei Shi conseguiu seu espaço na música pop (aquela mais alternativa, claro) com um “modesto” EP, Verde. Aos 25 e com muita energia, a cantora aparece com uma sonoridade mais concreta em no sucessor de Saudade, de 2013, fazendo sua auto-denominada “música de sereia”. 

Seu som tem certa homogeneidade, mas ao mesmo tempo traz uma mistura enorme de influências. Não é por menos, já que a argentina morou na Colômbia e Canadá e, atualmente, vive no Brooklyn. Na maioria das vezes, os vocais de Tei Shi são sussurrados, lembrando um pouco o estilo de fka Twigs – "Can't Be Sure" é um exemplo disso. No entanto, dá para conhecer um pouco de seu domínio vocal durante as cinco faixas do disco:  "Basically", uma baladinha com forte influência dos anos 80, traz um tom feroz; enquanto "Go Slow” soa como uma mistura de Imogen Heap e the xx.

No disco, a cantora se mostra mais decidida sobre seu estilo e mais ambiciosa. A produção bastante minuciosa ficou mais uma vez nas mãos de Luca e Valerie Teicher (nome de Tei Shi, quando chamada pelos pais), que também escreveu todas as músicas. Conversamos com essa fofíssima sobre seu processo criativo, inspirações, experiências com fãs e sua relação com o Brasil.

Noisey: Quais foram suas grandes inspirações para este EP?
Tei Shi:
Acho que não houveram artistas em particular ou algo que eu sinto que foram como inspirações diretas para o EP. Estava testando influência de diversos lugares diferentes. Algumas músicas são mais inclinadas para o R&B, tem um pouco de D'Angelo nessa questão de ser mais vocal, tem um pouco de soul, mas ao mesmo tempo têm influências da música eletrônica. É meio difícil dizer, porque passei um ano e meio trabalhando nele e durante esse tempo ouvi muitas coisas diferentes. Acho que não tem nenhuma influência que o abranja como um todo, mas uma combinação de tudo que estava ouvindo durante a época.

E o que você geralmente escuta?
Geralmente muda.... Ultimamente tenho ouvido uns álbuns ótimos lançados este ano, tipo o novo do Tame Impala e o do Jamie xx. Tem também o do Sean Nicholas Savage. Ele é de Montreal e lançou recentemente um álbum que eu tô obcecada.

Estive escutando também muita música em espanhol. Eu meio que tenho fases em que escuto as músicas que gostava quando era mais jovem, na Colômbia. Este ano também estou ouvindo muito música latina. Na verdade, cantores brasileiros, tipo o Gilberto Gil e Gal Costa.

Como você entrou em contato com a música brasileira?
Quando era pequena meu pai gostava de cantores latinos de jazz, que eu não gostava nem um pouco. Mas acho que subconscientemente ouvir aquilo influenciou meu estilo vocal. Com o tempo fui começando a gostar desse tipo de música, fui pesquisando sobre e descobri que tinha muita música boa no Brasil pelas décadas de 60 e 70. Ainda estou me aprofundando na música brasileira, porém ela sempre esteve ao meu redor e eu nunca tinha dado muita atenção até recentemente.

Eu li na Marie Claire que você tem família no Brasil.
Sim, tenho uma tia por parte de pai, meu tio e primos morando em Campinas. Nunca estive lá, mas espero ir qualquer dia.

Como descreveria o seu processo de composição de músicas?
É bem isolado. Cada vez é diferente, às vezes vem a letra primeiro e depois a melodia, outras tenho a ideia da melodia e vou construindo em cima dela. Mas na maioria das vezes a letra e melodia vêm primeiro, depois os arranjos vocais. No instrumental e produção eu sempre colaborei com o Gianluca Buccellati, que participou em tudo feito por mim até agora.

Você morou em diferentes países durante sua vida. Qual foi o impacto disso em você?
Não sei dizer se foi bom ou ruim. Acho que se mudar bastante e não ter uma vida estável em um lugar pode ser difícil, mas acho que ajudou a me definir como pessoa. Cresci com meus arredores sempre mudando e absorvi muito disso. Tive a chance de me adaptar a diferentes culturas e ambientes. Isso me permitiu trabalhar com diferentes gêneros musicais com mais tranquilidade. Tudo aquilo moldou eu como sou hoje e sou muito grata por tudo.

Como você começou a fazer música?
Comecei a cantar desde que era pequena. Comecei a escrever músicas bem jovem, quando tinha seis anos ou quase isso. Eram músicas bem simples, escritas no meu diário. Sempre fiz isso como uma forma de me expressar e como um projeto pessoal.

Depois também entrei na universidade para estudar música e foi ali quando decidi que queria seguir carreira. Lá aprendi como começar a me gravar e comecei a gravar as músicas que mais tarde estariam no meu primeiro EP. Só senti que realmente estava fazendo música depois de me mudar para Nova York e gravar num estúdio adequado. Foi como um processo gradual.

Com quem você sonha trabalhar?
Ah, tanta gente! Amaria trabalhar com D'Angelo, James Blake...seria tão legal! Lana Del Rey também! Muitas pessoas, na verdade!

Você sempre está conectada no Tumblr, postando e falando com fãs. Como que é, para você, usar o site?
Sabe, na verdade o Tumblr é um mistério para mim, porque eu nunca tinha usado antes de postar sobre minha música. Parecia um mundo bem intimidador, que eu não entendia e levou um tempo para me acostumar. Nunca dediquei muito tempo para mexer direito, mas parece um mundo muito vasto e me perco nele. É bem legal, tem gente fazendo muita coisa boa por lá, como se fosse uma comunidade de pessoas criativas que antes não existia. Eu deveria usar um pouco mais, porque de todas as redes sociais é provavelmente a mais interessante.

Qual foi a coisa mais estranha que alguém já te disse?
Às vezes as pessoas gritam coisas bem estranhas durante os shows. Toquei em Portland recentemente e alguém falou "senta na minha cara". São coisas desse tipo geralmente. Na verdade, ontem alguém me fez um dos pedidos mais esquisitos depois do show. Ela disse que gostou muito da música que fiz com o Glass Animals e ficou muito triste por não ter tocado durante o show. Depois do show ela pediu que eu cantasse para ela, só nós duas num canto do MOMA. Foi meio "venha para um canto comigo e cante comigo". Foi bem legal, na verdade. Mas ninguém nunca tinha me pedido isso antes.

Você descreve seu som como "música de sereia". Como que você chegou a esse termo?
Estava fazendo minha página do Facebook e tinha um campo de descrição. Não queria colocar um gênero, não sabia como descrever. Então veio na minha cabeça "música de sereia". E eu amo sereias! Acho que meu primeiro EP era bastante etéreo, focado nos vocais, bem sereno, então meio que se encaixou no termo. Porém foi mais como uma brincadeira que me surgiu no momento.

O que você define como uma noite perfeita?
Depende do meu humor, mas eu gosto bastante de ficar em casa. Não sou muito festeira, gosto mais de ficar sozinha cozinhando, vendo filmes, tomando banho. Mas às vezes prefiro sair com amigos, ir a shows. Vou bastante a shows aqui. Não sou muito difícil de satisfazer!

Seu primeiro EP se chama Saudade. Por que você escolheu essa palavra, que é em português, para nomeá-lo?
Sempre conheci essa palavra, porque sempre a falavam para mim e sempre circulava por minha cabeça. É uma palavra muito bonita, que não é possível traduzir em nenhuma outra língua. É como se definisse esse sentimento que todos temos, mas não há palavra para o definir, a não ser em português. Quando estava fazendo esse EP, me pareceu que se encaixava no contexto, porque essas músicas foram escritas durante um período de isolamento e nostalgia. Queria que o EP passasse esse sentimento específico, mas que nós não sabemos definir ou categorizar.

O que você espera para o futuro?
Espero ficar cada vez melhor no que faço, fazer cada vez mais música e explorar cada vez mais o meu potencial. Eu gosto de pensar que o meu melhor está por acontecer. Acho que ainda há muitos desafios pela frente, trabalho duro, paixão, descobertas, criatividade. Espero fazer isso por muito tempo e me conectar mais com as pessoas e meus fãs.

Você está trabalhando em material novo?
Sim, estou trabalhando em um álbum. Não tenho certeza de quando será lançado, mas já comecei todo o processo. Ele vai tomar meu tempo pelos próximos meses.

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Fazendo uma Presença no Ensaio do Planet Hemp

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Adivinha Doutor, quem tá de volta na praça? Após mais um recesso, o Planet Hemp, a banda mais fumeta do país, volta para mais uma breve temporada de shows, em São Paulo (Espaço das Américas, nesta quinta dia 3), Porto Alegre (Pepsi On Stage, no dia seguinte), Rio de Janeiro (Fundição Progresso 18 e 19) e Guarapari (Pedreira Adventure Park 29/12).

Como a ex-quadrilha da fumaça tem memória jamaicana, marcaram uma série de ensaios num estúdio aqui perto de casa. Resolvi dar um confere em nome dos bons e sequelados tempos. Além de desenferrujar os acordes e lembrar das letras, o ensaio tinha finalidade também de passar as músicas para o novo guitarrista da banda, Bruno Pederneiras, o Nobru.

O Nobru toca muito, e segurou os solos do Rafael Crespo na moral. Pra quem não conhece, ele é o lendário guitarrista do Cabeça, banda de skate rock carioca clássica dos anos 1990, que em sua formação clássica era um trio composto também pelo Pedro Garcia, batera do Planet desde a saída de Bacalhau em 1998 e Fábio Kalunga, que toca na banda Seletores de Frequencia do B. Negão.

Na ocasião, eles estavam ensaiando também “A Crise é geral” do Ratos de Porão, para participar de um evento da Radio Cidade, e fizeram mistério se ia entrar no set list dos novos shows.

Até onde deu pra sacar, os shows devem seguir mais ou menos a linha da última turnê, dividido em três blocos, um para cada álbum de estúdio da banda. Parece que eles estavam querendo mudar, mas ainda a poucos dias do primeiro show eles ainda não haviam decidido nada — “Bem vindo ao Planet Hemp”, respondeu-me o B.Negão quando tentei arrancar mais informações, mas ele me garantiu que “Mão na Cabeça” e “Porcos Fardados” estarão no setlist.

Incorporei o Capitão Presença e soltei um Colombian Gold pra galera. O Marcelo também retribuiu com um homegrown de um amigo. Só coisa fina, man!

O negócio ficou louco, tanto que uma hora eu tropecei no cabo do amp de guitarra obrigando os caras a parar o ensaio. Ainda bem que os conheço há mais de quinze anos — “Foi tu no show do Metallica no Rock in Rio né?” zoou Bernardo.

Se liga em mais umas fotos dessa zoeira:

Turnê Planet Hemp:

São Paulo
3/12, no Espaço das Américas
Ingressos aqui

Porto Alegre
4/12, no Pepsi On Stage
​Ingressos aqui

Rio de Janeiro
18 e 19/12, na Fundição Progresso
​Ingressos aqui

Guarapari
29/12, na Pedreira Adventure
​Ingressos aqui


A Pussy da Peaches É o Poder no Clipe de "Rub" (NSFW)

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Não se meta com a vagina da Peaches! Pelo menos de acordo com o seu novo clipe (super NSFW), ela pode controlar a sua mente. O vídeo de "Rub" se passa num deserto, onde rola uma orgia lésbica que se transforma meio que numa cerimônia tribal. E todo mundo está com as suas línguas ocupadas, obviamente. Se, depois desse clipe da MC Mayara você ainda tinha ficado com alguma dúvida sobre o poder das pepecas, agora não tem mais. Obrigada, Peaches. 

Esse lance sobre sexualidade nas suas obras é clássico da Peaches, que lançou algumas das músicas mais subversivas sobre sexo, corpos e gênero nos últimos 20 anos. Aqui, uma palavrinha que ela nos deu sobre o vídeo: "Esse é o meu clipe mais ambicioso de todos os tempos! Todas as meninas do elenco e da produção ficaram no deserto durante três dias! Foi uma experiência única e intensa que todas nós tivemos com o nosso corpo!!!".

Assista abaixo, com exclusividade pelo Noisey: 

Como Transformar o seu Diploma Inútil em um Trabalho na Indústria da Música

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Imagem por Alex Cook

Parabéns, formandos! Vocês conseguiram seu diploma, saíram para jogar bola por uma última vez, cheia de melancolia, e completaram o último ritual de bebedeira insana. O futuro é seu. Vocês conseguiram. Estão prontos para a vida – ou, no mínimo, para encarar o abismo do tédio pós-formatura. Talvez estejam com um emprego engatilhado. Que bom, já metendo o pé na porta! Talvez tenham percebido, com temor cada vez maior, que nenhuma das muitas vagas para as quais mandaram currículo na Catho vai dar algum retorno. Talvez ainda não façam ideia do que desejam fazer da vida, porque a única coisa de que gostam é música. Mas não entrem em pânico; mantenham a calma. Há esperança.

Trabalhar com música talvez pareça um emprego dos sonhos, uma coisa inalcançável – afinal, parte do motivo de nos sentirmos atraídos pela fantasia de ser um pop star é exatamente isso: o fato de ser uma fantasia. Mas não é necessário ser o maior guitarrista do mundo para conseguir trabalhar com música; na verdade, você não precisa ter talento musical nenhum! Longe dos holofotes existem milhares de pessoas na indústria da música fazendo todo tipo de trabalho, que lhes permitem passar o dia inteiro girando em torno de música, shows, e dos artistas que amam. Desde procurar novos talentos como um A&R para gravadoras, passando por lidar com as relações de uma gravadora com uma startup de tecnologia até ser supervisor musical de um programa televisivo, ou trabalhar com assessoria de imprensa, ou ser um jornalista de música, há muitas maneiras de se ter um trabalho na música, em todos os níveis da indústria, sem ser um músico – empregos de cuja existência você talvez nunca tenha ouvido falar!

Quais são esses empregos, e como você, um aficionado por música, pode obtê-los? Ótimas perguntas! Entramos em contato com mais de 20 pessoas que têm empregos na indústria da música para descobrir o que elas fazem, e como chegaram aonde estão, na esperança de desvendar parte do mistério.

Talia Miller, Assessora de Imprensa e Administradora da Agência Brixton


Foto cortesia de Talia Miller

O que você faz no dia a dia?
Muita coisa. Reuniões para promover os artistas, atualização de relatórios, criar propostas de lançamentos inovadores. Mas também passo, no mínimo, 50% do meu tempo criando novos projetos e controlando as minhas expectativas! No momento, também empresario o Pity Sex e o Wildhoney. [Nota do Editor: Uma propaganda desavergonhada, a verdadeira marca de uma boa assessora de imprensa.]

Como conseguiu esse emprego?
Fundei a minha própria empresa! Isso depois de passar anos tocando em bandas (tenho a nossa primeira fita demo, posso te mostrar!), organizando festivais, trabalhando em casas de show, agendando shows, etc. Por fim, acabei trabalhando para amigos meus durante um tempo, numa distribuidora de discos independente, que me ensinou a lidar com imprensa. Depois que isso acabou, me mudei para o Brooklyn e acabei fundando a Brixton Agency com meu amigo Sean Rhorer, que foi quem me fez começar a trabalhar com assessoria de imprensa!

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Assistente de operações na Richmond Symphony. Eu agendava viagens e acompanhava os solistas quando estavam na cidade. Também ajudava a garantir que uma sinfônica inteira chegasse para o ensaio sem atrasos!

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Não tenho certeza... Talvez tocar baixo numa banda? Ou organizadora do Ladyfest DC 2002? Sem contar esses, em termos de trabalho pago, provavelmente ser a gerente de recepção do Toad's Place, em Richmond, Virginia. Foi um mix estranho de colocar as toalhas que o pessoal do New Found Glory tinha acabado de usar na máquina de lavar roupas e depois sair de carro com pessoas como Joan Osborn, enquanto cantarolava baixinho "what if god was one of us".

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não tenha medo de perguntar tudo sobre todas as coisas. Isso não faz parecer burro e, no longo prazo, você acaba conquistando mais aliados. Sempre é possível aprender coisas novas.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Não há como ensinar traquejo social. Sair é tão importante quanto ficar em casa e estudar. Suas notas, em última análise, não vão arranjar emprego, mas o traquejo social, sim.

Matt FX, Supervisor de Broad City, Man Seeking Woman, e Difficult People


Foto cortesia de Matt FX

O que você faz no dia a dia?
Como supervisor musical, ouço músicas novas e as organizo, trabalho na edição de faixas com o editor, e verifico se tenho como arcar com essas faixas. Como DJ, também presto atenção às músicas, mas enquanto procuro samples gratuitos como supervisor, quase me empolgo mais como DJ ao achar faixas maneiras com samples reconhecíveis. Como o "Big Scoot" da Scooter Island, trabalho com vocalistas, rappers e outros produtores em estúdios espalhados por toda a cidade (e às vezes pela internet), forjando os sucessos de amanhã!

Como conseguiu esse emprego?
Resumindo, eu sem saber plantei uma semente que vingou alguns anos depois, na forma do meu primeiro cargo como supervisor musical. Basicamente, arrastava uma asa forte por uma garota no ensino médio, e acabei mostrando a ela e às suas amigas a versão britânica (e original) da série Skins, tempos atrás. Uma das garotas às quais mostrei Skins acabou indo trabalhar como estagiária para o criador da série, e me levou à sala dos escritores, para o que eram essencialmente focus groups com gente mais nova. Logo de cara fiz perguntas sobre música, e o criador pediu que eu lhe fizesse uma mix. No dia seguinte ele me mandou largar meu emprego.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Depois que larguei o colégio, meu primeiro emprego foi como ambulante, vendendo comida na Highline. Era outubro e fazia muito frio. Nos meses que se seguiram, trabalhei em inúmeros empregos aleatórios: trabalhei em uma empresa de remessa de correspondência; como recrutador em NY, para uma firma global de pesquisas de mercado focadas nos jovens, e até tive uma época de trabalhar como babá em tempo integral, cuidando de um garoto de 16 meses de idade que se chamava "Atomic".

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Skins!

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não se isole, não pare de fazer novos amigos, e lembre-se de que praticamente nada acontece "da noite para o dia".

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Como fazer o imposto de renda? Larguei o colégio um mês e meio depois de começado o primeiro ano do ensino médio, então eles não chegaram a me ensinar nada, na verdade.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Rá! Queria saber que o nome do cargo era "supervisor musical". Na verdade, quando mandei fazer meus primeiros cartões de visita, coloquei o nome "curador musical", porque não sabia o nome certo!

Lauren Nostro, Editora de Notícias de Música, Complex Magazine


Foto cortesia de Lauren Nostro

O que você faz no dia a dia?
Na prática, meu trabalho é cuidar de todas as notícias de música – estreias, agregação, notícias divulgadas, matérias de destaque, etc. Mas, como sabe todo mundo que trabalha na mídia, você faz muito mais coisas do que as atribuídas ao seu cargo, especialmente no campo das notícias. As notícias de música têm suas próprias regras. É um trabalho que nunca para – e com lançamentos surpresa de discos, os seus queridinhos deixaram nosso trabalho insano pra caralho. Na Complex, nossa equipe de música é composta do editor adjunto, Damien Scott, da editora-executiva, Christine Werthman, do editor de social, Edwin Ortiz, e de mim e minha equipe de cinco redatores freelancers que me dão apoio e não deixam que eu perca a cabeça. Nos últimos meses, fizemos com que a Complex Music virasse um site de música que engloba tudo, e nossos freelancers e funcionários estão sempre em cima das notícias de música – além disso, estamos fazendo crescer diariamente a nossa TV, num ritmo veloz. Então grande parte do meu trabalho é também ajudar os produtores da Complex News com os roteiros, entrevistas, novos vídeos, etc.

Como conseguiu esse emprego?
Comecei a estagiar sob o comando do nosso editor-assistente Insanul Ahmed, enquanto fazia pós-graduação. Não foi fácil. Eu estava equilibrando bicos em restaurantes para pagar as dívidas da faculdade, e morava com gente demais no Queens, mas dei muito duro, errei feio em duas transcrições e depois nunca mais errei... Ou, pelo menos, consegui esconder melhor. Depois disso, fiquei de freelancer permanente do site – o que basicamente significa que eu estava fazendo posts e matérias para todos os setores. Fui contratada como assistente editorial pela Complex Music, em que o trabalho é basicamente fazer tudo, desde transcrições até notícias, matérias, entrevistas, ajudar os editores, etc. E aí eu saí! E trabalhei no Noisey (!) como editora convidada durante alguns meses, antes de voltar para a Complex e comandar o setor de notícias de música.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Depois de me formar, trabalhei em Jersey Shore, para o projeto fracassado da AOL de fazer jornalismo hiperlocal, no site Patch. Morava num conjugado pertinho da casa do Jersey Shore da MTV, meus editores só se comunicavam por e-mail, e acabei dando o fora dali quando alguém tentou arrombar a porta da minha casa às quatro da manhã, depois que eu tinha passado uma longa noite no Karma. Foi maneiro. Eu tinha um scanner que acessava o rádio da polícia, e basicamente aparecia em cenas de crimes e ia a reuniões de conselhos comunitários, que, apesar de serem uma coisa muito zoada, é algo de que muitos blogueiros não têm experiência. Também trabalhei em dois restaurantes em Nova York, como hostess – o que, para quem me conhece pessoalmente, não faz sentido nenhum, mas dinheiro de restaurante em Nova York é uma coisa fácil e que tem por todo canto.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Complex! Estou na indústria há pouco tempo, desde 2011, sou um bebê. Em 2011, eu queria muito estagiar na Vibe, mas eles nunca me deram retorno, então tentei entrar na Complex, na verdade não conhecendo muita coisa sobre a marca. Mas eu ficava acordada até tarde, lia as revistas, lia tudo o que podia. E diria que tudo deu bastante certo.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
São raros os trampos de tempo integral dentro do ramo de escrever sobre música que só requerem que você saiba escrever. Muita coisa do que aprendi na faculdade foi a arte de escrever – que, sim, não tem preço – mas o mais provável é que, se você estiver trabalhando em alguma publicação hoje em dia, vai precisar ter conhecimentos sobre vídeo, foto (no mínimo Photoshop), otimização de mecanismos de busca, mídias sociais, etc. Há um foco menor sobre as notícias na faculdade também. Há uma certa arte em ser redator e repórter que pode ser aplicada a todos os ramos, se você dominar o essencial, e, na minha opinião, isso é algo difícil de se ensinar na faculdade. Então, seja estagiário ou trabalhe no jornal da sua faculdade, pelo menos. Isso é útil.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Ninguém vai fazer porra nenhuma por você. As pessoas vão lhe ajudar, vão lhe orientar, você vai encontrar algumas pessoas firmes, que ficarão ao seu lado – isso tudo é excelente. Mas, a menos que você seja a sua maior cheerleader, não vai acontecer merda nenhuma para você. Acredite em si mesmo, e, quanto às mulheres, não esqueçam, homens são lixo – especialmente na indústria da música.

David Castillo, Proprietário/Comprador de Talentos do Saint Vitus Bar


Foto cortesia de David Castillo

O que você faz no dia a dia?
O meu dia normalmente se divide entre conversar com os agentes encarregados de marcar os shows, com empresários e bandas, tentando marcar shows no bar via e-mail e fazendo reuniões. As noites passo indo a shows e pesquisando o que há de bom em música.

Como conseguiu esse emprego?
Eu agendava shows de forma independente, na região do Brooklyn, quando o Arty Shepherd, guitarrista da minha banda, Primitive Weapons, abriu um bar e pediu que agendasse shows para lá.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Tem um minuto para ouvir sobre o meio ambiente?

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Trabalhei como RP para uma gravadora e odiei com força. Pedi demissão e comecei a fazer mais das minhas próprias paradas.

Que conselho daria aos recém-formados?
Aprenda tudo o que puder sobre como as coisas teoricamente funcionam, mas nunca perca de vista o que você tem vontade de fazer, e como poderia fazê-lo melhor.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Você não precisa necessariamente arranjar um emprego; é possível criar um emprego.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Confie em si mesmo e não se deixe limitar pelas expectativas alheias.

Jeff Rosenstock, Músico, Produtor de Discos, Dono de Gravadora, Designer Gráfico e Editor de Vídeo


Foto cortesia de Jeff Rosenstock

O que você faz no dia a dia?
Depende. Às vezes só envio pelos correios um punhado de pacotes da Really Records, e fico de bobeira na internet. Dias como esse andam cada vez mais raros, mas, na verdade, meio que odeio não ser produtivo. O dia de hoje é exemplo de um dia um tanto cheio. Estou no meio da edição de um lyric video para o Chuck Ragan. Mais tarde, Chris Farren e eu vamos começar a trabalhar no próximo disco da dupla Antarctigo Vespucci. Vou terminar de agendar overdubs para um disco que venho produzindo nas últimas três semanas, e espero que dar os ajustes finais em mais alguns planos de casamento.

Como conseguiu esse emprego?
Acabei conseguindo esse emprego justo por não tentar fazer com que ele fosse o meu emprego. Sempre encontrei trabalho em outros cantos, fora dos "projetos do coração", por assim dizer, e no geral evitei tentar fazer com que eles fossem minha fonte principal de renda, porque não quero colocar pressão em cima das coisas que eu amo. Enquanto fazia uns bicos para amigos de bandas, fosse ajudando a gravar demos de discos ou fazendo projetos para discos, criei uma reputação de ser um sujeito razoavelmente decente e confiável, e agora estou trabalhando com essas pessoas em projetos maiores.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Tive a sorte de ser o diretor de arte em uma boate excelente em Long Island, chamada The Downtown. Depois de ajudá-los com o design de um punhado de filipetas, eles me contrataram em tempo integral, por US$8 a hora, e fiz todos os pôsteres, calendários, propagandas, micro-sites e até menus de restaurante, enquanto morava com meus pais em Baldwin. Mas com certeza foi sorte minha conseguir esse emprego. Eles simplesmente não tinham ninguém encarregado dessas coisas antes de eu aparecer por lá, e acho que precisavam de alguém com frequência, e eu era uma companhia divertida no escritório.

Depois que esse lugar fechou, começou a minha série de empregos de merda. Desses, meu favorito foi lavar pratos no Transmet, em Athens, Geórgia, e o que menos gostei era andar em círculos por uma grande firma financeira, garantindo que não faltasse refrigerante nas salas de conferência.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Enquanto estava na faculdade, trabalhei para um distribuidor de música EDM durante um dia, ligando para pessoas e tentando convencê-las a comprar o novo disco do Echobelly. Foi aí, acho, que percebi que não sou um vendedor.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Vivemos em uma sociedade que nos condiciona a pensar que cada emprego é uma carreira em potencial, mas isso não é verdade. Alguns empregos são só empregos, e não há nada de errado com isso. Se você não permitir que seu trabalho o defina enquanto pessoa, vai encarar muito melhor sua própria vida, e provavelmente as pessoas vão gostar bem mais de trabalhar com você. Aí, quando aparecer aquele emprego que DE FATO tem a ver com quem você é como pessoa, trabalhar duro e manter uma atitude positiva parecerá muito mais fácil.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Eu gostaria de saber como é muito mais importante ser um cara simpático e extrovertido do que ter um bom currículo. Todos os trabalhos temporários para os quais fui contratado se deveram a eu não estar nem aí durante as entrevistas, ficar relaxado e responder às perguntas com sinceridade (exceto pelos conhecimentos sobre design que eu mentia possuir). Os trabalhos para os quais outras pessoas tinham mais qualificação do que eu foram os que nunca me deram retorno depois da entrevista.

E também tem que 95% das vezes os empregadores não vão responder à sua excelente carta de apresentação e currículo. Isso desanima pra caralho mesmo. Mas uma coisa que eu gostaria de saber quando estava tentando conseguir aqueles empregos é que 95% das pessoas que procuram trabalho passam exatamente por essa experiência. Ninguém dá retorno para ninguém. Estamos todos juntos nesse mundo de merda.

Megan Ryte, DJ e Apresentadora do Meio Dia da Hot 97


Foto cortesia de Megan Ryte

O que você faz no dia a dia?
Resumindo, apresento e produzo meu próprio programa na Hot 97, das 10 da manhã até as 3 da tarde, de segunda a sexta, e sou DJ de shows de mixagem.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Personalidade Matinal da Rádio e DJ na WOWI, em Norfolk, Virginia.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não dê atenção ao que a pessoa do seu lado está fazendo. Com as mídias sociais, pode ser fácil comparar a sua vida e o seu sucesso com os das outras pessoas. Não faça isso. Cada pessoa tem algo de único para contribuir... ela mesma. Eu costumava pensar que tinha de fazer o que outra pessoa estava fazendo para conseguir vencer na vida. Quando parei de dar ouvidos aos comentários dos outros e comecei a ser fiel a mim mesma, as coisas foram entrando em seus devidos lugares.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Depois de descobrir em que área você quer trabalhar, aprenda cinco fatos importantes em torno dela. Sempre há mais de uma maneira de conseguir acesso, mas é preciso ser capaz de contribuir com a coisa de que os outros precisam. Uma vez lá dentro, é possível mudar de direção.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Como fazer o imposto direito. É mais uma coisa que ninguém ensina. Eu teria economizado muita grana!

Joe Armenia, Presidente Mundial das Relações com Artistas e Gravadoras da Rdio


Foto cortesia de Joe Armenia

O que você faz no dia a dia?
Fico falando ao telefone, o dia inteiro, todos os dias, 24 horas por dia. Mas falo sobre música, então não tenho direito a reclamar. O que faço é trabalhar junto de todas as gravadoras (as independentes, as de grande porte, distribuidores, agregadores) e de artistas e seus empresários por todo o mundo, para criar maneiras de trazer à tona os principais lançamentos a cada semana, através de programas de marketing de conteúdo, através dos departamentos editoriais e de publicidade, através das oportunidades de curadoria em nossa plataforma, e através da criação de conteúdo original, como no caso das Rdio Sessions. Não existe um dia normal, o que é maravilhoso.

Passo dias inteiros vasculhando datas de lançamentos em todo o mundo, compartilhando os lançamentos prioritários com nossas equipes globais, e criando planos em torno deles. Há um dia incrível todo mês, em que passamos horas só ouvindo músicas que foram lançadas no mês anterior, para montar a seção chamada "Rdio Recomenda". E com sinceridade. Recomendamos a sério aqueles discos e faixas. Esse é um baita privilégio. E há também os dias (e semanas) em que viajo para me encontrar com parceiros de gravadoras para fazer brainstorms de novas oportunidades de parcerias em torno de seus artistas principiantes e consagrados, e para aprender mais sobre como serviços como o nosso podem ajudá-los a crescer nos negócios, e ajudar o nosso a crescer ao mesmo tempo. Para finalizar, trabalho próximo à nossa equipe de marketing, de modo que possamos encontrar outros meios de destacar o conteúdo (através de parceiros em rádios, comunicados via e-mail, parceiros nas telecomunicações, releases de imprensa, eventos, etc).

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Meu primeiro emprego veio do meu único estágio, em que trabalhei numa estação de rádio durante a faculdade. Depois disso fui contratado por uma estação de grande porte para virar noites na programação ao vivo, e para ser assistente no departamento de promoções. Eu adorava. Até a hora em que comecei a odiar.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Ainda que o emprego na rádio conte como indústria da música, foi ele que me levou ao meu primeiro emprego de verdade, em que fui contratado por dois meses como assistente de meio período no departamento de marketing da MTV. Estiquei esses dois meses até que virassem 14 anos, e, quando saí, era vice-presidente de marketing de música.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Todos os velhos clichês ainda se aplicam: arranje algum jeito de entrar. Trabalhe no setor de correspondência. Use algum conhecido para entrar em algum posto a que você almeje. A partir daí, você pode criar seu próprio caminho. E, se você não sabe, faça uma lista de todos os lugares em que talvez gostaria de trabalhar, e tente entrar em cada um deles, pela ordem. Encontre algum meio... o vizinho do primo do pai do sujeito com quem você divide o aluguel conhece alguém que trabalha em algum desses lugares? Então dê algum jeito de falar com esse vizinho e entre lá. Use esse método para todos os lugares em que você queira entrar.

E também não tenha esperanças de passar de estagiário a CEO em um ano. Conseguir as coisas com o suor do rosto ainda conta, e ainda é preciso fazer por merecer todas as coisas que você deseja. Percebi, nesses anos como gerente de contratações, que esse conceito se desvirtuou um pouco, que os que procuram emprego passaram a acreditar que merecem alguma coisa. Tudo é uma oportunidade de aprendizado. Contenha as suas expectativas e aprenda o máximo possível, com tudo o que passar pela sua frente. Se você é um assistente enviando pacotes em nome de alguém, não deixe de se informar sobre o que há dentro do pacote, sobre porque ele está sendo enviado, e o que o destinatário vai fazer com aquilo. Paciência e aprendizado.

David Strunk, Agente de Talentos no Agency Group


Foto cortesia de David Strunk

O que você faz no dia a dia?
Desenvolvimento de carreiras. Os agentes cuidam de fazer evoluir os artistas, desde bandas recém-nascidas até que se tornem artistas fazendo turnê pelo país. A parte "física" do trabalho é organizar shows, passando inclusive por negociar quanto o artista vai receber e todos os detalhes do contrato.

Contudo, a parte mais importante de agenciar é a relação com o artista. Preciso ter certeza de que os meus artistas estão se sentindo à vontade (no dia a dia mesmo) com a evolução e o crescimento de sua carreira. Isso inclui compreender o que é ter expectativas realistas, e um crescimento realista. Em termos mais burocráticos, gerencio uma pequena equipe, cujos membros educo a virarem eles mesmos agentes, enquanto lidam com a manutenção interna diária de clientes e shows. Também lido e mantenho relações com empresários, gravadoras, assessores de imprensa, empresários de turnês, advogados e gerentes financeiros.

Como conseguiu esse emprego?
Na faculdade, trabalhei como estagiário no The Agency Group, que é onde trabalho agora, e passei de estagiário a assistente, e por fim a agente.

Que conselho daria aos recém-formados?
Que se engajem nas coisas e deixem de lado a ideia de que têm direito a alguma coisa. Já conversei com inumeráveis pessoas que querem trabalhar no mundo da música e "jogam a toalha" porque acham tudo intimidante, ou porque "têm direito a algo melhor". As pessoas criam suas próprias oportunidades e, ao permanecer ativo na música (literalmente de qualquer maneira possível): estagiando, sendo voluntário, ou tentando manter qualquer relação com alguém de qualquer setor do negócio, oportunidades se apresentarão.

Em segundo lugar, se você quer trabalhar, vai ter que suar. Raras vezes é uma atividade imediatamente lucrativa. O salário inicial em uma grande agência é uma coisa tétrica (repito: tétrica). Coloque seu ego de lado, engula os sapos e siga em frente. Tenha confiança em si mesmo, e lembre-se de que esse sacrifício inicial é passageiro.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Existe uma diferença entre "tentar concretizar um objetivo" e de fato "concretizar um objetivo". Vejo muita gente que se dá por satisfeita deixando uma mensagem de voz. Se você não falou com a pessoa no telefone, não fez nada. Talvez tenha a impressão de que fez alguma coisa, mas conversar de fato com a pessoa (e não deixar uma mensagem) foi o motivo da ligação.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Ninguém sabe o que faz quando está começando. A coisa mais importante é entrar em ação mesmo assim. Se você errar, aprenda com o erro, siga em frente e tente outra vez.

Jen Appel, Assessora de Imprensa Sênior da Press Here Publicity


Foto cortesia de Jen Appel

O que você faz no dia a dia?
Executo e administro as campanhas de divulgação de artistas de toda a indústria, incluindo Phoenix, Weezer, Local Natives, The Killers, Lykke Li, Best Coast, Sleigh Bells, Blood Orange, e muitos outros. Isso é algo que toma uma miríade de formas e formatos diferentes – tudo, desde conseguir e organizar entrevistas e sessões de fotos com os artistas, agendar o comparecimento deles a programas de televisão, escrever e enviar releases sobre lançamentos de discos e notícias sobre os artistas, posicionar itens – clipes e arquivos de áudio – na internet, confirmar e escalar resenhas de discos, ajudar os artistas através de campanhas de publicidade enquanto estão fazendo a turnê de um disco, resolver problemas, propôr ideias para a imprensa, dar seguimento a elas, ouvir música enquanto trabalho...

Como conseguiu esse emprego?
A música era – e continua sendo – tudo para mim. Curtir certas bandas e cenas foi uma coisa que me ajudou a me definir quando adolescente, então eu sabia que, de qualquer maneira, eu simplesmente TINHA de trabalhar com música, de algum modo. Quando tinha 17 anos, tive um orientador para escolha de faculdade que tinha um amigo que tinha uma irmã que era sócia gerente em uma empresa de PR de música. Ela me apresentou a uma mulher, Linda Carbone, que me contratou como estagiária, entre o primeiro e o último ano do ensino médio. Quando o verão acabou, ela me disse que, se eu fosse para Nova York, onde ficava a sede da empresa, para fazer faculdade, ela me daria um emprego de meio período.

Quando fui aceita e passei a frequentar a Gallatin School, da New York University, em 1999, ela foi uma das primeiras pessoas para quem telefonei. Trabalhei para ela em meio período durante os anos de faculdade, e em tempo integral, como assistente de assessoria de imprensa, durante os verões. Quando ela fundou a Press Here, com Chloe Walsh, em 2004, fui junto, e é nesse lugar que estou desde então, por causa dos artistas incríveis com que trabalhamos e da ética de trabalho espetacular de todos os meus colegas, que me inspira a me dedicar ao máximo e fazer o meu melhor. Então, basicamente, se eu não tivesse conhecido Linda Carbone, as coisas teriam sido muito, muito diferentes para mim.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Obtenha o máximo possível de experiência na vida real, o mais cedo que puder. Não espere chegar ao último ano de curso; não espere até se formar. Muitas das pessoas que conheci no primeiro verão em que trabalhei como assistente de assessoria de imprensa ainda são as pessoas que conheço e com as quais trabalho hoje, tanto na mídia quanto na indústria da música como um todo, e essas relações abrem muitos caminhos.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Que ser responsável por outras pessoas, ser responsável com elas, com gente além de você mesmo, é uma parte importante da cultura de trabalho, e uma habilidade que deve ser refinada e evoluída por si mesma. Grande parte da universidade se baseia no que VOCÊ contribui – se comparece ou não às aulas, se entrega os trabalhos, se estuda ou não para a prova, etc. Quando se entra numa empresa, a coisa deixa de girar em torno de você. O seu desempenho afeta a equipe em todos os sentidos.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Gostaria de saber que o iPod seria inventado. (E isso, pessoal, é um indicador maravilhoso do quanto a indústria da música mudou desde o início do milênio.)

Bryan Cullen, Produtor e DJ da Sirius XM


Foto cortesia de Bryan Cullen

O que você faz no dia a dia?
Depende de quem vai entrar ao vivo, ou do programa com que preciso lidar. Faço produções de rádio, trechos e músicas de paródia para o The Jason Ellis Show, na Faction. Também faço os promos do programa e edito o segmento de melhores para replay e on-demand. Produzo programas semanais de punk rock para Tim Armstrong e Marky Ramone. Uma vez por semana, produzo um programa ao vivo, de uma hora de duração, com o skatista profissional Tony Hawk. Tenho meu próprio programa das onze da manhã até as três da tarde, de segunda a sexta, em que enfio toneladas de punk, alguma coisa de metal, e às vezes um hip-hop clássico maneiro, como Wu-Tang. Também recebo artistas e os ajudo a apresentar o programa por mim, ou os entrevisto, dependendo de quem quiser fazer o quê. Também trabalho remotamente, às vezes em festivais, ou no X-Games, ou num evento de grande porte em Nova York. Saio por aí com um gravador juntando conteúdo, e tentando fazer com que o rádio valha o preço que cobra.

Como conseguiu esse emprego?
Eu fazia parte de uma banda de merda no ensino médio, que costumava ensaiar num estúdio. O chefe do estúdio fez de mim estagiário/assistente de produção na série Reverb, da HBO, em 1999. Eu chegava às seis da manhã, ajudava a carregar um caminhão com equipamentos de filmagem, dirigia até Nova York ou Pennsylvania, arrumava tudo, assistia às passagens de som, e depois trabalhava na série. Aí a gente desabava e ia pra casa. Às vezes era de seis da manhã até as seis da manhã seguinte para terminar o trabalho. Por esse trabalho, me pagavam 150 pilas. Parada séria! Também estava na faculdade e fazendo um programa de rádio. Peguei meu amor pela música e partes do meu trabalho na faculdade, e mandei para o programa do Howard Stern. Fui estagiário de produção para o Howard Stern durante seis meses, e aí fui contratado pela K-Rock pela quantia inacreditável de 13 dólares/hora. Mas nunca recusei trabalho. Às vezes era eu quem cuidava das seleções de "melhores momentos" do Stern Show que passavam no Natal ou no dia de Ação de Graças, às vezes virava a noite trabalhando, às vezes substituía alguém que estava doente, mas sempre dei duro.

Fui colocado em contato com outro DJ, chamado Sluggo, em LA, comandei o show dele em Nova York, e virei seu comparsa. Trabalhar com o Sluggo me ensinou muita coisa, e me ajudou a encontrar a minha voz. Era o melhor tipo de cara para o qual trabalhar, porque deixava que você corresse riscos em algumas partes, mas, se a coisa não ficasse boa, ele dizia. Ele me ajudou a virar um DJ melhor. Daí, me entregaram um punhado de turnos como DJ da madrugada ao vivo na K-Rock NYC. Então, em 2004, fui contratado pela Sirius, que mais tarde se fundiu com a XM. Venho trabalhando com a Faction na Sirius XM faz mais de dez anos, e já pude entrevistar e trabalhar junto com alguns dos meus heróis do punk rock, vi uma tonelada de shows, e falei quantidades extraordinárias de merda nas ondas de rádio.

Que conselho daria aos recém-formados?
Estagie o máximo possível. E aprenda, não fique só de bobeira perto das pessoas mais cool, cuidando do cafezinho delas. Aprenda sobre o equipamento, faça fitas ou vídeos, anote ideias, pegue mais no pesado do que o povo à sua volta. Essa indústria está encolhendo e mudando. Nunca recuse uma oportunidade de aprender coisas novas ou de trabalhar num projeto. E também se mantenha atualizado em termos de tecnologia. Antigamente era preciso ter um monte de pessoas para pegar a estrada e coletar material de um evento, e deixá-lo no ponto para ser transmitido. Agora são caras como eu, com um notebook debaixo do braço.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Tente ser o melhor no que faz. Se vê algum aspecto no qual ninguém está trabalhando, ou um caminho que se encontra aberto, vá fundo!

Rachel Bisdee, Diretora de Marketing Internacional das Gravadoras Republic Records, Island Records e Def Jam Recordings


Foto cortesia de Rachel Bisdee

O que você faz no dia a dia?
Ajudo a administrar a publicidade e a propaganda internacionais para os nossos artistas. O departamento internacional de uma gravadora cria e implementa campanhas globais de promoção de artistas. Nós fazemos o papel de intermediários entre os artistas e as gravadoras do exterior e a mídia internacional. Além das minhas responsabilidades de marketing, organizo e acompanho artistas em turnês promocionais pelo exterior, que incluem programas de TV, eventos em rádios, eventos de premiação, etc.

Como conseguiu esse emprego?
Levou mais de dez anos de trabalho duro, incluindo cinco anos de estágios não-remunerados em gravadoras, revistas de música e televisão dedicada à música. Entrei na Universal em Londres, em 2009, e passei para a Universal de Nova York em 2014.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Comecei com um emprego não-remunerado na NME, quando ainda estava no colégio, aos 16 anos, e depois na Rough Trade Records e em outras gravadoras independentes, do final da adolescência até os vinte e poucos anos. Também trabalhei de DJ em rádio universitária e em casas noturnas indies em Brighton, enquanto fazia faculdade na Inglaterra.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Um dos meus primeiros trabalhos mais importantes na indústria foi no departamento de Talento & Música Internacionais da MTV. Nesse papel, trabalhei com as equipes de produção da MTV, gravadoras e empresários de artistas na organização do MTV Europe Music Awards, em 2008, e também coordenei todas as bandas e artistas no dia do show. Foi esse trabalho que me colocou no caminho de uma carreira em um papel internacional, e me ajudou a desenvolver algumas amizades essenciais na indústria da música.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Relações são t u d o.

Jess Flynn, Empresária de Turnê, Fotógrafa de Turnês, Encarregada das Mercadorias, Motorista Responsável, Videografista


Foto por Eric Osman, cortesia de Jess Flynn

O que você faz no dia a dia?
Quando saio em turnê, meu dia a dia inclui as seguintes coisas: garantir que todos estejam acordados a tempo/que peguemos a estrada sem atrasos; mandar circulares diárias sobre o dia seguinte, ou os dois dias seguintes; fechar qualquer adiantamento para a semana seguinte, mais ou menos, através do e-mail, a caminho do show; coordenar entrega de mercadorias; parar isso tudo para tirar algumas fotos do pessoal dormindo na van de boca aberta; quando chegamos ao show, encontrar o promoter e me certificar de que eles têm tudo o que precisam de mim; ter certeza de que a banda sabe de tudo o que precisa saber a respeito do show; arrumar as mercadorias para a venda/contá-las; tentar encontrar a banda para tirar mais fotos escondidas; portas se abrem, vender mercadoria, e aí correr para tirar fotos ao vivo durante dez a quinze minutos do show de cada banda, voltar para as mercadorias; se ninguém estiver tentando comprar os produtos quando volto para a mesa, eu importo, edito e aí posto/envio fotos para a banda imediatamente; dependendo de para quem estou trabalhado, arrumar tudo o que for preciso no palco antes que eles entrem; contar os produtos, fechar as contas com a casa de shows, levar a banda até o hotel depois de convencê-los de que precisamos parar no Taco Bell (isso normalmente funciona, se estão bêbados); chegar ao hotel, arquivar todos os recibos do dia, e dormir.

Quando estou em casa, descansando das turnês, meu dia inclui as seguintes coisas: editar fotos da turnê de que acabei de chegar, postar essas fotos, ficar de bobeira com meu gato e com meu namorado, hibernando/assistindo coisas na Netflix, tentar viajar para casa e visitar minha mãe, frilas filmando shows ou casamentos ou etc., e preparar a minha próxima turnê.

Como conseguiu esse emprego?
Fotografei shows sem parar durante cerca de três anos na Filadélfia, antes de fazer muita coisa, além de uns promos aqui e ali. Fotografo para o JUMP PHILLY, o que me permitiu trabalhar com bandas que não necessariamente teria conhecido de outro modo (Modern Baseball, The Wonder Years). Mas acho que a maior fagulha de motivação foi quando o pessoal do The Menzingers pediu que eu fotografasse a capa de Rented World e as promos daquele lançamento. Passamos quatro ou cinco dias trabalhando coletivamente nisso, e ao mesmo tempo eu estava fotografando uma matéria de capa com eles para a revista. Depois disso, conheci e fiz promos para Beach Slang, com a qual acabei fazendo várias turnês. Conheci o PUP quando eles estavam em turnê com os The Menzingers e basicamente assediei eles até que me contratassem, e hoje saio regularmente em turnê com eles.

Para ser sincera, basicamente assediando bandas para que me deixassem trabalhar um pouquinho com elas (se for por apenas quatro ou cinco dias, eles pensam "mesmo que ela seja péssima, não tem muito problema"). E quase sempre essas bandas me chamam para voltar, para turnês maiores. Agora eu basicamente trabalho para Beach Slang, PUP, Modern Baseball e Cayetana.

Que conselho daria aos recém-formados?
Compreender o mundo que você está fotografando faz uma grande diferença. Não seja um babaca, um metido. É uma coisa muito irritante, e sempre chama atenção quando você está num show e vê um fotógrafo literalmente correndo em volta do palco ou sendo escroto com as bandas. A banda é muito mais importante do que você, e o show é muito mais importante do que você. Não compreender isso é o que dá aos fotógrafos de música uma péssima reputação. Teste o seu flash com a banda e com o engenheiro de som durante a passagem de som, para ter certeza de que não vai incomodá-los. E, ao abrir caminho por entre a multidão para chegar à frente, peça licença. Troque de posição, para não bloquear a visão do mesmo grupo de pessoas o show inteiro. Enfim, essa foi uma maneira bem longa de dizer: viva o que está fotografando, conheça o seu lugar, e não seja babaca.

Dan Lloyd-Jones, Vice-Presidente de A&R da Sony ATV Music Publishing UK


Foto cortesia de Dan Lloyd-Jones

O que você faz no dia a dia?
Contrato artistas e compositores para publicar música, organizo sessões e estúdios para projetos de disco, ajudo a desenvolver e cultivar o talento musical, tento inserir músicas em grandes campanhas publicitárias. Supervisiono uma série de artistas com quem assinei, incluindo Plan B, Knife Party, Nero, George The Poet, Gorgon City e PJ Harvey.

Como conseguiu esse emprego?
Fui dono de uma boate de sucesso, nas Proud Galleries de Camden, em 2006, chamada Another Music = Another Kitchen. Os caras que a administravam comigo e eu promovemos alguns dos primeiros shows de MGMT, Calvin Harris, Dev Hynes, Lethal Bizzle, Frank Turner, Chromeo, e Bombay Bicycle Club. Kenny Mcgoff, que era o chefe de A&R da EMI Music Publishing, aparecia toda semana, e ficamos muito amigos. Ele e Guy Moot, nosso presidente na Sony, me ofereceram um papel como gerente de A&R e me tiraram da Warner Brothers, para a qual eu trabalhava na época.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Trabalhei no KP Crisps Factory e na cozinha do McDonald’s, literalmente virando os hambúrgueres na chapa.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Assistente de imprensa na London Records/WEA Records, que acabou virando Warner Brothers.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não fique parado esperando surgir o emprego dos sonhos, vá atrás dele. É você quem controla o seu destino.

Lizzy Goodman, Editora/Articulista da Elle e Articulista Frequente de New York Times, New York Times Magazine, New York Magazine, e Billboard


Foto cortesia de Lizzy Goodman

O que você faz no dia a dia?
Varia muito. Normalmente estou trabalhando em um monte de coisas ao mesmo tempo – talvez esteja propondo um artigo para a ELLE ou pesquisando alguma coisa para um artigo futuro para o New York Times enquanto estou nos finalmentes de alguma coisa para a Billboard. No momento também estou concluindo um livro, então, de uma maneira ou de outra, lido com ele todos os dias. Mas o que isso quer dizer mesmo é que todo dia tento fazer avançar um pouquinho cada um dos projetos grandes em que estou trabalhando, e ao mesmo tempo manter minha sanidade. Nem sempre dá certo. Então acho que o que faço todos os dias é fracassar. Todos os escritores falam disso. Tem uma frase famosa do David Foster Wallace, que é tipo: ele passa oito horas por dia escrevendo – sete das quais se preocupando e só uma digitando mesmo. É meio que por aí. É labuta. É uma coisa que continua feia por muito tempo antes de ficar bonita. E alternar entre enfurecer-se contra esse processo e aceitá-lo é, na verdade, o que faço todos os dias.

Como conseguiu esse emprego?
Cheguei aonde estou me colocando numa posição em que portas pudessem se abrir para mim, e aproveitando a chance quando se abriam. Isso quis dizer estagiar na SPIN, o que levou ao primeiro artigo em que meu nome foi publicado, e depois trabalhar como freelancer enquanto dava aulas para a segunda série, e depois uma coluna na NME e um trabalho na PBS que me permitia continuar como freelancer, e depois um emprego de verdade na Rolling Stone, depois me mudando para a Blender e... diga sim. Experimente tudo.

Tenha objetivos gigantescos, absurdos, constrangedoramente ambiciosos, e nunca deixe os outros dizerem que são ridículos (as pessoas vão fazer isso o tempo inteiro, e estão erradas). Mas também se dedique com o mesmo vigor às coisas menores. Aceite com humildade e gratidão cada oportunidade, por menor que seja, de acesso a uma porta que leva a um corredor que leva a um elevador que às vezes para no andar no qual você acredita que finalmente talvez goste de trabalhar. Basicamente, ser humilde é a chave para ter grande sucesso.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Vender selas e arreios e outros equipamentos de equitação numa loja especializada, em Albuquerque, no Novo México. Sem sacanagem. Tem um universo paralelo em que virei jóquei profissional em vez de jornalista de rock.

Que conselho daria aos recém-formados?
Receba o fracasso de braços abertos. A coisa que mais me atravancou foi o medo. Medo de não saber o que eu estava fazendo. Medo que descobrissem que eu era a fraude que todo mundo, secretamente, sente ser. Medo de descobrir que não sou capaz, ou que todos se dessem conta disso. Esse medo é completamente normal e totalmente inútil. Você com certeza vai fracassar. Você com certeza não sabe o que está fazendo. Sem a menor sombra de dúvida, você é uma fraude, em alguns sentidos. Mas e daí? Todo mundo é assim. A única cura para isso é o trabalho. Não existe sensação melhor que a de enfrentar essas merdas todas e finalmente descobrir como resolver um problema num artigo, ou fazer uma ótima entrevista, ou, num sentido mais geral, exprimir o que você percebe do mundo. Receba o fracasso de braços abertos. É a única maneira de conseguir a liberdade necessária para descobrir até onde você pode realmente chegar.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
A vida não é meritocrática. Fui muito, muito bem na faculdade, e portanto fiquei chocada, depois de me formar, ao descobrir que, fora da academia, ninguém me dava pontos extra por ser bem-comportada e cheia de potencial. Desperdicei muito tempo ficando espantada com isso. Ninguém está nem aí se você foi uma boa menina. Isso não quer dizer que o bom é se comportar como um sociopata no ambiente de trabalho, mas quer dizer que é bom dar tempo para ajustar-se a um ecossistema completamente novo, com sua própria hierarquia e suas próprias regras. Não seja bem-comportada, seja respeitosa, mas não diga sempre o que pensa. O seu chefe não é seu professor. E também não faça "networking"; simplesmente seja útil. Na faculdade, a atenção está sobre você. O sistema é feito para servir à sua instrução. No mundo, o sistema é feito para servir àqueles que já estão no comando, então seja útil a eles. Isso vai ajudar você a avançar, e vai ajudar também a ver de verdade a que tipo de mundo eles têm acesso, no qual você quer entrar. Um amigo me disse, bem cedo, que "seu trabalho é facilitar o trabalho do editor". Essa ideiazinha provavelmente é responsável pela minha carreira.

Sarah Lewitinn, DJ e Diretora de Música da Aritzia


Foto cortesia de Sarah Lewitinn

O que você faz no dia a dia?
Sou a diretora de música da Aritzia, o que significa que programo as músicas para as lojas deles, Spotify e Soundcloud (somos a loja de moda número um no Soundcloud!). Também seleciono as músicas para todos os vídeos, e desenvolvo parcerias musicais com bandas e artistas. Dá uma olhada no vídeo do Haerts que produzimos.

Como conseguiu esse emprego?
Eu era a diretora de música da NYLON antes de entrar para a Aritzia. Meu trabalho na NYLON era principalmente centrado no marketing, em produzir os eventos musicais e turnês, selecionar bandas para eventos, e outras parcerias relacionadas à música. O ex-diretor executivo da NYLON, Luke Crisell, entrou para a Aritzia e me levou junto quando abriram um escritório em Nova York e lançaram a Aritzia Magazine.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Já trabalhava profissionalmente no meu ramo desde quando cursava o ensino médio (comecei como estagiária e articulista de música para o portal AOL, da ABC), e trabalhei como estagiária em uma dúzia de lugares enquanto cursava a faculdade, inclusive no portal da SPIN, no AOL. Comecei escrevendo para a revista SPIN quando tinha 19 anos, e entrei numa empresa de marketing de internet nesse mesmo ano, como coordenadora de marketing.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Eles na verdade nunca dizem como os cartões de crédito são perigosos. Também não dizem como é importante estagiar.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Queria ser melhor em gramática quando estava começando. Também queria ter bebido menos.

Griffin Lotz, Editora Assistente de Fotografia na Revista Rolling Stone

Foto por Jason Bergman, cortesia de Griffin Lotz

Como é o seu trabalho no dia a dia?
Meus deveres cotidianos incluem encontrar fotos para cada artigo da minha seção e para as páginas de Notas Aleatórias. Procuro agências de fotos, entro em contato com fotógrafos, pesquiso fotos dos arquivos e contrato e agendo fotógrafos para sessões.

Como conseguiu esse emprego?
Comecei como estagiária e fui contratada pela Rollingstone.com. Depois de dois anos lá, abriu uma vaga na revista, me candidatei e consegui. E ah, trabalhei pra caralho o tempo inteiro.

Que conselho daria aos recém-formados?
Se você sabe o que quer fazer, faça! Se você quer escrever, escreva, se quer tirar fotos, tire fotos. Faça o que deseja fazer bem e saia para o mundo. Ninguém vai contratar o cara que só fica falando de suas aspirações, mas nunca chega a tentar nada.

Ricki Askin, Chefe do Licenciamento e Arquivo de Músicas da Vice


Foto cortesia de Ricki Askin

O que você faz no dia a dia?
Ajudo a contratar, posicionar e liberar músicas e arquivar para todas as propriedades VICE, incluindo sua suíte digital de canais, a série de docs VICE na HBO, e um número crescente de Filmes VICE. Também supervisiono tudo de música e de materiais de arquivo para o nosso grupo interno de serviços criativos, o Virtue, e administro todos os pedidos de licenciamento que chegam para vender e sindicar programas VICE em diferentes telas.

Como conseguiu esse emprego?
Depois de três anos aprendendo o básico de supervisão musical dentro da divisão de Notícias & Documentários da MTV, fiquei sabendo de um cargo de supervisão musical permanente na VICE, o primeiro cargo desse tipo dentro da empresa. Tive uma excelente série de entrevistas que permitiram que meus pontos fortes e verdadeira personalidade meio tosca ficassem em evidência, e pelo visto gostaram.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Fiz parte do antigo programa interno de funcionários temporários da MTV, na esperança de obter uma posição permanente por lá, e, no fim, depois de uns poucos meses quicando entre diferentes lugares do prédio, consegui um lugar como assistente executiva do vice-presidente sênior da MTV Communications. Passei três anos aprendendo sobre o mundo de RP antes de me dar conta que não era a melhor opção para mim.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Fale com o maior número de pessoas possível que trabalham no ramo em que você deseja entrar; veja cada conversa como uma chance de descobrir se o caminho que você acredita desejar é mesmo o certo.

Famuel Rothstein, Empresário de Childish Gambino e Kari Faux


Foto por Jimmy Marble, cortesia de Fam Rothstein

O que você faz no dia a dia?
Limpo as cagadas.

Como conseguiu esse emprego?
Alguém me viu limpando uma pequena cagada, gostou do meu serviço, e então me chamou para limpar cagadas maiores.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Eu fazia bagels para idosos em Santa Mônica, Califórnia.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Você não precisa comparecer, só precisa ser amigo de alguém que compareceu. (Você está falando de faculdade como metáfora para a indústria da música, certo?)

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Todo mundo vai improvisando no caminho. Não passamos de crianças na escolinha tentando firmar o pé.

Luke O'Neil, Redator Freelancer


Foto cortesia de Luke O'Neil

O que você faz no dia a dia?
A bênção e a maldição da vida de freelancer é que você está sempre fazendo coisas diferentes. Pelo menos é isso o que me atrai nela – não ter que triturar o seu breve tempo no planeta em algum escritório vampiro de almas. E sim, todos são vampiros de almas, até mesmo os ostensivamente cool, como VICE e outros. Mas, falando em termos mais práticos, se você quer esse trabalho, é preciso passar os seus dias tentando convencer os outros de que tem um bom artigo na manga, e depois trabalhando nele. E com artigo me refiro a coisas que vão realmente surpreender o editor, e não o 500º artigo de opinião a respeito da mesma merda sobre a qual todos os babacas do mundo estão escrevendo naquele dia. Mais fácil falar do que fazer, claro. Fora isso, passo a maior parte dos dias vendo pornô e fumando um cigarro atrás do outro.

Como conseguiu esse emprego?
Comecei com alguns empregos na mídia, mas depois de um tempo percebi que ser editor não era algo que me atraía. O que significa que ser um administrador não me atraía. Os gastos e as reuniões e os telefonemas e as outras partes do trabalho que não são escrever/editar/fazer coisas interessantes no mundo e depois colocar no papel. Levei um bom tempo sendo garçom nas horas vagas para finalmente poder trabalhar somente como escritor freelancer, e é algo que recomendo fortemente, devido à flexibilidade de horários, quantidade de dinheiro que se pode ganhar, e pelo fato de não drenar a sua energia criativa, como pode acontecer no caso de alguns trabalhos tangencialmente relacionados na "mídia".

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Fui assistente editorial na Condé Nast. Chique! Foi uma merda. Isso na época em que as revistas ainda não sabiam que a internet ia ser ruim com elas, e muitas ainda não tinham qualquer tipo de presença real na web. Depois disso, fui fazer pós-graduação, estudar escrita criativa (rs). Não façam isso. Aí arranjei um emprego como editor de artes num semanário alternativo de Boston chamado The Weekly Dig.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não pague uma pós-graduação. Faça amizade com o máximo de pessoas do ramo que conseguir, porque ter relações é a única maneira que você vai conseguir trabalho. Ninguém quer lidar com uma proposta a frio. Mas, se puderem associar um rosto ao e-mail, há muito mais chances dele ser aberto.

Shira Knishkowy, Diretora de Imprensa da Matador Records

O que você faz no dia a dia?
Faço de tudo para não irritar os repórteres, e ao mesmo tempo convencê-los a ouvir minhas bandas e escrever sobre elas, e também manter os empresários e o pessoal das gravadoras atualizados a respeito do que está rolando com os seus artistas.

Como conseguiu esse emprego?
Quando fiquei sabendo que estavam contratando para o meu emprego dos sonhos, tive de ir atrás, depois de trabalhar para subir a escada de RP na música, na Big Hassle Media e na Partisan Records.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formada?
Fui assistente dos agentes encarregados de agendar shows na WME (também conhecida como William Morris Endeavor, antigamente William Morris Agency).

Que conselho você daria aos recém-formados?
Seu primeiro trabalho depois da faculdade NÃO é o último. Não desanime se precisar trabalhar num café para conseguir sobreviver enquanto tenta outras coisas. Todo mundo começa em algum lugar, e ninguém está acima de ser um prestador de serviços. Nem mesmo um formado em artes liberais todo chique como você. Espere trabalhar como alguma espécie de assistente, ou em algum papel de auxílio, durante no mínimo os primeiros anos pós-faculdade, e não reclame. Todo mundo teve que passar por isso, e é assim que se aprende.

Diga uma coisa que os professores não ensinam.
Não ensinam a enviar e-mails profissionais, como falar ao telefone, como colocar a conta de luz no seu nome, como fazer networking sem parecer desesperado. A faculdade basicamente só me ensinou sobre teoria crítica e como beber... a parte da bebida, contudo, se aplica à minha vida profissional.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Que o LinkedIn é caô.

Mike Fink, Diretor Sênior de Relações com a Indústria no Pandora


Foto cortesia de Mike Fink

O que você faz no dia a dia?
Ajudo a criar e manter relações com artistas, gravadoras e empresários, incluindo parcerias entre artistas, marcas e o Pandora em eventos, conteúdos patrocinados por marcas, publicidade e oportunidades de curadoria. No dia a dia, isso envolve uma tonelada de telefonemas (sim, as pessoas ainda falam ao telefone!), reuniões e e-mails, e também comparecer a shows e a eventos da indústria da música.

Como conseguiu esse emprego?
Durante a época em que trabalhei em rádio tradicional, comecei a interagir com gravadoras, no aspecto da programação. Algumas dessas relações de meados da década de 90 continuam a existir até hoje. Comecei a trabalhar com bandas nessa época, como empresário, e depois de deixar o emprego na rádio, fui um dos chefes de uma gravadora durante dez anos, e ajudei a produzir e dirigir shows no The Kennedy Center, em DC. Fui atrás de minhas paixões, e tive a sorte de ter encontrado um papel em que minhas experiências anteriores me prepararam para meu papel atual.

Qual foi seu primeiro emprego depois de formado?
Trabalhei brevemente numa mercearia gourmet, perto de Baltimore.

Qual foi seu primeiro emprego na indústria da música?
Assistente de promoções na WHFS-FM, uma estação de rock alternativo que abrangia dois mercados, Washington e Baltimore.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Preste atenção no que posta nas redes sociais. É verdade que lugares em que você pode querer trabalhar às vezes checam as suas páginas em redes sociais, quando estão avaliando para um cargo. Nada de timidez: networking, networking, networking. O pior que pode acontecer é a pessoa não responder ao seu pedido de tomar um café ou conversar pelo telefone. Esta é uma indústria em que a sua base de networking está sempre se mesclando e fazendo polinização cruzada.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Não deixe a gasolina acabar quando estiver dirigindo a van promocional da rádio.

Jessica Lehrman, Fotógrafa Freelancer


Foto cortesia de Jessica Lehrman

O que você faz no dia a dia?
Tiro fotos de pessoas. Edito fotos. Tento ganhar algum dinheiro com essas fotos. Bebo muito café, saio e tiro mais fotos, e aí vou a um show de rap e provavelmente tiro mais fotos ainda. Meu trabalho é focado principalmente em artistas que conheço e adoro, então há vários dias que sou escalada para fotografar meus amigos.

Como conseguiu esse emprego?
Todo trabalho de fotografia que pego é uma situação diferente, mas consegui ter clientes regulares por estar constantemente fazendo novos trabalhos, e por me empolgar com o trabalho que faço, e por concentrar minha energia em histórias com as quais me importo de verdade e que tenho vontade de compartilhar.

Qual foi seu primeiro trabalho na indústria da música?
Antes da faculdade tirei dois anos de folga, e no tempo em que morava em Los Angeles conheci uma mulher maravilhosa em uma venda de quintal, que acabou me arranjando um emprego em um jornal de Santa Mônica, como fotojornalista. Não era exatamente indústria da música, mas foi meu primeiro emprego na indústria da fotografia.

Que conselho você daria aos recém-formados?
Não baseie o caminho da sua carreira pós-faculdade em como todo mundo que você foi ensinado a adorar viveu a própria vida. Acho que é fácil se comparar, comparar a sua trajetória, aos que estão à sua volta, mas vejo que as pessoas que admiro na vida realmente criaram seu próprio caminho e fizeram coisas de um jeito criativo que funciona para elas. E também confie na sua intuição, e comece do começo, só trabalhando com pessoas com as quais se sente bem. Quando encontrar alguém que você adora no seu ramo, coloque essa pessoa no seu time. Comece a criar um time de pessoas fodas desde o início, e as mantenha sempre perto de si.

O que você gostaria de já saber na época em que estava começando?
Manter um diário. Sinceramente, esse é o meu maior arrependimento pós-faculdade. No instante em que as coisas ficavam difíceis, eu parava de escrever, e pensando agora, queria que tivesse dedicado um esforço maior a registrar minha vida naquela época, porque foi nela que as coisas foram mais interessantes e intensas e transformaram a minha vida.

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Tradução: Marcio Stockler

O Facebook Oficial do Grammy Está Bloqueado no País Por Causa da Inês Brasil

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Se você estiver no Brasil e tentar acessar o Facebook do Grammy Awards hoje, não vai conseguir. Aparentemente, a organização do premiação bloqueou o acesso da página no país depois da enxurrada de comentários em prol dessa rainha da internet brazuca sobre as indicações que ela recebeu na edição 2016. Clique aqui e confira você mesmo. Quando algum brasileiro tenta acessar a fanpage, a seguinte mensagem aparece: "O link que você seguiu por ter expirado, ou a página pode estar visível apenas para um público no qual você não está incluído".

Mas como aconteceu de a Inês ser indicada? No começo da semana, o perfil oficial do Grammy no Facebook fez um post para avisar que a lista de indicados para 2016 sairá em breve e perguntou  “quem deveria ser indicado”. Após inúmeras pessoas responderem "Inês Brasil" nos comentários, ela ganhou um perfil oficial na página da premiação e passou a concorrer na categoria "Grammy Amplifier", criada para a revelação de três novos talentos. Em poucas horas, ela recebeu mais de 100 mil votos e corria grande risco de ser uma das vencedoras.

Valeu, internet brasileira. O mundo realmente precisa conhecer essa coisa maravilhosa que é o clipe de "Make Love". Vocês são foda.

Mullets, Viola e 1 Milhão de Sucessos: Os 45 Anos de Carreira de Chitãozinho & Xororó

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A dupla no festival Brahma Valley. Imagens gentilmente cedida pela VICE Brasil e Brahma.

Na noite de 11 de dezembro de 1968, um grupo de artistas convidados por Mick Jagger, esbelto vocalista dos Rolling Stones, se reuniu em um estúdio de TV cuja cenografia imitava um picadeiro, na região de Wembley, em Londres. Na ocasião, o jovem guitarrista Tony Iommi foi convidado a dividir o palco com uma banda em grande ascensão na cena londrina (e internacional): o Jethro Tull.

Nessa que seria sua única filmagem ao lado da mítica banda de rock progressivo, Iommi está visivelmente tímido, usando um chapelão que o caracteriza não como uma lenda dos riffs pesados de guitarra, mas como um legítimo “mateiro”. Em sua biografia Iron Man: minha jornada com o Black Sabbath ele confirma: “Estava envergonhado demais e fiquei com a cabeça baixa enquanto tocava, para que as pessoas não conseguissem me ver”. Antes de se apresentarem com a música "Song of Jeffrey" (baita som!), músicos do Jethro Tull, The Who, Taj Mahal, John Lennon, Yoko Ono (é claro) e, certamente, dos próprios Stones tiveram de fazer poses e mímicas circenses para a filmagem, que só seria finalmente editada três décadas depois, em 1996, sob o nome de The Rolling Stones Rock and Roll Circus. Após o lendário show, o guitarrista abandonou a banda e voltou à sua banda de garagem anterior, o Black Sabbath, que viria a revolucionar a história do rock pesado no planeta Terra.

Poucos anos depois, já na década de 1970, outra revolução musical se iniciava também em um circo. Muito longe do subúrbio londrino, dessa vez em uma lona armada em alguma cidade do interior do Estado de São Paulo.

No palco, dois também cabeludos personagens encenavam uma história em clima de faroeste. Sob o título O pistoleiro da Ave Maria, o galã José de Lima Sobrinho era atazanado pelo algoz, vivido por seu irmão Durval de Lima, que se inspirava no comediante mexicano Cantinflas para viver um bêbado e atrapalhado vilão. Ao término da comédia, o final feliz dava início a uma nova etapa do espetáculo, dessa vez musical, em que os dois atores assumiam suas facetas de cantores, sertanejos, bem como seus nomes artísticos: Chitãozinho & Xororó.

A música que vinha em seguida era “60 dias Apaixonado” (composição de Constantino Mendes e Darcy Rossi) e, com o passar das apresentações, a porção teatral do espetáculo passou a perder o brilho. O público gritava e pedia o fim da encenação. A plateia queria mesmo era ouvir a música da dupla.

Jamais será esquecida a imagem bela de um anjo amado
Dois meses passaram logo, é num copo que eu afogo, 60 dias apaixonado

(trecho de “60 dias Apaixonado”)

“Graças a Deus, hoje, podemos olhar para trás e agradecer. Temos muito orgulho de tudo o que conquistamos”, disse Xororó, agora com 58 anos, ao Noisey, em entrevista feita por e-mail e que antecede o show de 45 anos de carreira da dupla, que será realizado no Citibank Hall, em São Paulo, neste sábado (5). Chitãozinho, 61 anos, conta que, apesar da narrativa inovadora, a apresentação no picadeiro não era uma novidade: “Naquela época a maioria das duplas sertanejas começou a tocar dessa forma, se apresentando em circos, inclusive, uma das precursoras dessa tendência foi Milionário e José Rico”.

Voltando um pouco no tempo, o embrião da carreira musical vem dos pais, que cantavam em casa, e incentivavam nas apresentações dos jovens talentos. “Começamos a cantar em festas juninas e clubes de Rondon, no Paraná, onde passamos nossa infância”, recorda Xororó.

Suas músicas tiveram divulgação mais restrita e regional até o início da década de 1980, para ser mais exato, o ano de 1982, quando a música “Fio de Cabelo” (composição de Darcy Rossi e Marciano, ele mesmo, da extinta dupla com João Mineiro), integrante do álbum Somos Apaixonados, estourou em âmbito nacional – lançado pelo selo Copacabana, alcançou a venda de 1,5 milhão de cópias.

“Temos muito orgulho em dizer que, com a música “Fio de Cabelo”, conseguimos romper as barreiras do preconceito ao gênero sertanejo, fomos projetados como artistas nacionais e tudo isso representou também um marco na história da música sertaneja”, afirma Chitãozinho. Para o cantor, a partir daí, o estilo passou a ser tocado em rádios FM e começou a ter espaço nos programas de televisão, algo que os sertanejos não faziam naquela época.

O cenário sertanejo no início da carreira da dupla já possuía nomes conhecidos como Tonico & Tinoco, Tião Carreiro & Pardinho e o próprio Milionário & José Rico, músicos que apresentavam um visual mais conservador e ligado à figura do homem do campo, de camisa e chapéu – à exceção, é claro, de Zé Rico, que morreu no início do ano, e cujas vestimentas deixariam com inveja até mesmo um astro do glam rock.

No entanto, com Chitãozinho & Xororó, as vestimentas passavam a ser assunto nas apresentações musicais. Bastante jovens, com cabelos longos e indumentária que flertava com a country music americana, a dupla chegou à TV esbanjando estilo – e até foram satirizados por essa irreverência, como na dupla Chitãoró e Xorãozinho, vivida no humorístico A Praça É Nossa pelos atores Marcelo Nóbrega e Arnaud Rodrigues.

Lembrando aqui também que os próprios Beatles tiveram sua sátira capitaneada por Eric Idle, braço do grupo britânico Monty Python, com sua banda fictícia The Rutles.

“Acho que influenciamos bastante o público com os cabelos mullet, calças justas, botas e chapéu também. Temos muito orgulho disso e nunca fomos criticados por sermos modernos demais. Isso mostra que somos bastante versáteis [risos]”, afirma Chitãozinho.

O MAIOR HIT DE KARAOKÊ DE TODOS OS TEMPOS

Faço tipo, falo coisas que eu não sou
Mas depois eu nego
Mas a verdade
É que eu sou louco por você
E tenho medo de pensar em te perder

(trecho de “Evidências”)

De terça-feira a domingo, Ionilton Barbosa Júnior, de 23 anos, chega às 19h30 no trabalho e vai direto para o aparelho de videokê profissional para mais uma noite gerenciando a cantoria da galera. Entre gritos desafinados, pronúncias em um inglês inexistente e aquela turma que insiste em tentar subir no palco carregando o copo de bebida, está a fiscalização de Júnior, o guardião dos microfones na Choperia Liberdade, localizada há 15 anos no bairro de mesmo nome, em São Paulo.

“Trabalho com karaokê há quatro anos, tanto aqui na Choperia Liberdade quanto em outras casas que o grupo possui na região”, conta o rapaz, que informa que, nos finais de semana, mais de 600 pessoas passam pelo curioso estabelecimento.

Misto de Tatuapé com Tóquio, visitar a choperia é uma experiência que envolve enfeites orientais, magníficos aquários com coloridos espécimes, um bar ao centro, restaurante japonês, duas mesas de sinuca aos fundos e, é claro, o rei do espetáculo: um karaokê com uma tela gigante à frente e monitores que reproduzem seu conteúdo nas ornamentadas paredes do local.

Sobre a dupla Chitãozinho & Xororó, as palavras de Júnior impressionam: “Nas sextas-feiras e sábados, das 130 canções que são executadas em média numa noite, fora de brincadeira, a música ‘Evidências’ é cantada mais ou menos umas 30 vezes”.

O diagnóstico, segundo o funcionário, não é uma exclusividade do restaurante da Rua da Glória, mas é uma proporção que se repete em todas as casas onde trabalhou, para homens, mulheres, turmas ou cantores solitários. “É uma música de José Augusto e Paulo Sérgio Valle que fez sucesso na voz de Chitãozinho & Xororó”, corrige o rapaz, que, além de apreciar o timbre de aspirantes a cantores do Brasil inteiro ao lado de sua banqueta, também lê todos os créditos de composição, exibidos em cada uma das faixas executadas no videokê.

“’Evidências’, sem dúvida, é uma composição muito importante na nossa carreira e uma das músicas mais tocadas na noite por todo o Brasil. O que achamos incrível é que o público jovem sabe a letra do começo ao fim nos nossos shows”, orgulha-se Chitãozinho. A reportagem brinca se vão acabar criando uma lei para que os aparelhos já venham, de fábrica, com essa composição. “Se vai virar lei, ainda não sabemos, mas imagine, bem que podia, né? [Risos]."

Com 45 anos de estrada e já pensando nos 50, a dupla está longe de desacelerar na carreira. Atualmente, percorre o Brasil com três turnês: Pura Emoção, que é a que estará na capital paulista no fim de semana, No Tom do Sertão, com versões especiais de sucessos do gênio da bossa nova, Tom Jobim, e o show em conjunto com os cantores Bruno & Marrone.

Do circo para a TV, das quermesses para apresentações de gala na Broadway, em Nova York. A carreira de José de Lima e Durval prossegue em alta, mas com uma leveza, uma simplicidade campestre que parece vir das aves que dão nome à dupla: o inhambu-xintã e o inhambu-xororó.

Que tal ouvir o canto dessas aves em uma imitação exclusiva de Ruy Valderramas, o “Passarinho de Bauru”? Na verdade, o repertório do nosso imitador trouxe apenas o canto do inhambu-xororó, mas vale a pena apertar o play, fechar os olhos e sentir o clima do sertão invadindo seu dia!

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Satisfaça sua Luxúria Satânica com a Nova Compilação do Sarcófago, 'Die...Hard'

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Tudo que é velho agora é novo, graças à internet e à mudança semi-anual que acontece toda vez que uma nova geração de metaleiros surge de suas tocas do Ensino Médio. Uma onda de relançamentos de metal não faz mal a ninguém, e a Greyhaze Records, em particular, vem fazendo um bom trabalho introduzindo velharias clássicas a novos ouvidos sedentos. 

Em parceria com o icônico selo mineiro Cogumelo Records, eles vão lançar uma compilação do Sarcófago obviamente voltada pra quem é muito fã, mas que também serve como um ótimo curso intensivo sobre a história de uma das mais influentes e importantes bandas do metal extremo. A compilação inclui as duas demos oficiais do Sarcófago —Satanic Lust e Christ’s Death— assim como versões demo de músicas dos outros discos e a até então inédita primeira demo da banda. O álbum também vem com fotos de todos os estágios que o grupo passou, e anotações do próprio Wagner Antichrist.

A gente precisa mesmo de três versões de "The Third Slaughter"? Claro que sim. Encomende Die...Hard aqui, e ouça a todas as três (e também versões cruas de clássicos imortais como "The Black Vomit" e "I.N.R.I.") abaixo:

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