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O funk e a criminalização da cultura periférica jovem no Brasil

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A história da música do Brasil é repleta de bairros e cidades que inspiraram canções clássicas. Existe a Ipanema de Vinícius de Moraes e Tom Jobim, o Capão Redondo dos Racionais MCs, a Mucuripe de Belchior, a Recife de Chico Science, a Bahia de Dorival Caymmi e outros muitos. No verão de 2019, a música popular brasileira cartografou um outro território. Não era uma cidade ou bairro inteiro, mas um baile funk realizado às margens de qualquer tipo apoio institucional na Vila Cruzeiro, uma das favelas do Complexo da Penha, uma das áreas onde mais ocorrem tiroteios no Rio de Janeiro. Os hits “Tu Tá na Gaiola”, “Vou Pro Baile da Gaiola”, “Vamos Pra Gaiola” (de Kevin o Chris), “Me Solta” (de Nego do Borel) e “Hoje Eu Vou Parar na Gaiola” (de Livinho e Rennan da Penha) reconstruíram o imaginário do Rio ao cantar o baile, que se transformou em um símbolo de diversão e felicidade máxima.

Cinco meses depois, a Gaiola virou um fantasma a pairar sobre a música brasileira. Kevin o Chris participou do show de Post Malone no Lollapalooza cantando “Vamos Pra Gaiola” e até artistas de outros estados — como os MCs pernambucanos Daninho e Troia, que nunca pisaram no Rio — passaram a fazer músicas em homenagem ao baile funk da Vila Cruzeiro. No entanto, desde março o Baile da Gaiola encontra-se fechado e seu criador, o DJ Rennan da Penha, preso ilegalmente, sem provas e sem previsão para ser libertado. A festa, que reunia semanalmente de 7 mil pessoas até 25 mil e era epítome da alegria, foi extinta e seus tambores silenciados pelo Estado e pela Justiça brasileira.


Assista ao nosso documentário sobre o 150BPM, o ritmo frenético que dominou o Brasil:


Uma história de criminalização

Rennan da Penha foi condenado a seis anos e oito meses de prisão acusado de “associação para o tráfico”. Contudo, não há nenhuma prova material de seu envolvimento com o crime. A evidência mais alardeada é um vídeo da Polícia Militar que mostra o DJ cumprimentando um traficante na rua — o que prova apenas que ele conhecia um traficante, morador de sua comunidade, e não uma associação de trabalho para traficantes.

O caso Rennan desponta como um das agressões mais violentas contra o funk, mas não é o único. Para entender essa história e a importância de Rennan, é preciso dar uns passos atrás. Oriundo de negros das favelas cariocas dos meados anos 1980, o funk é vítima de um processo histórico de criminalização que vive se atualizando. Ao analisar 125 artigos sobre funk publicados nos principais jornais do país entre 1990 e 1996, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Micael Herschmann identificou que essa associação do funk como extensão do crime ocorre na origem, logo quando a imprensa passa a tematizar o funk vinculado aos arrastões ocorridos em 1992 nas praias da Zona Sul do Rio de Janeiro. Para se ter uma ideia, entre 1990 e 1991, apenas três artigos sobre funk haviam sido publicados. Após os arrastões, o número cresce radicalmente: são 19 artigos publicados em 1992, 15 artigos em 1993, outros 31 em 1994, mais 40 em 1995 e 17 em 1996.

O professor aponta ainda que, nos anos que se seguiram aos arrastões, as matérias feitas pelos jornais constantemente traziam informações destacadas em boxes que lembravam aos leitores a origem social do funk e muitas vezes a inclinação supostamente criminosa de seus integrantes. “Cada vez mais, o funkeiro foi sendo apresentado à opinião pública como um personagem ‘maligno/endemoninhado’ e, ao mesmo tempo, paradigmático da juventude da favela, vista, em geral, como ‘revoltada’ e ‘desesperançada’”, escreve Herschmann no livro “O Funk e o Hip Hop Invadem a Cena”. “Nos artigos dos principais jornais –– nas matérias e seções de ‘Cartas dos Leitores’ –– e nos depoimentos colhidos na pesquisa, a constante presença de qualificativos como ‘bestas’, ‘hordas’, ‘animais’ e ‘monstros’ indica que, tanto no enunciado jornalístico, quanto no imaginário coletivo, certas atitudes dos funkeiros são tratadas quase como expressão de um ‘mal absoluto’ que deve ser ‘reprimido’ e ‘extirpado’”.

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Frequentadoras do Baile da Gaiola dançam até o amanhecer. Foto: Matias Maxx/VICE.

Além da esfera midiática, a criminalização ocorreu também no campo jurídico e político. Em 1999, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro instituiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito “com a finalidade de investigar os ‘bailes funk’, com indícios de violência, drogas e desvio de comportamento do público infanto-juvenil”. Caracterizando os bailes como um assunto de polícia — e não de cultura e lazer —, a CPI resultou na promulgação em 2000 da Lei nº 3.410, que restringia os bailes funk com uma série de burocracias. Entre elas: a instalação obrigatória de detectores de metais nas portarias dos bailes, presença de policiais militares durante todo o evento, permissão escrita da polícia para autorização da festa, interdição de locais onde se realizem “atos de violência incentivada, erotismo e pornografia” e proibição da execução de “músicas e procedimentos de apologia ao crime”.

Em 2008, a Lei nº 5.625 estabeleceu normas ainda mais restritivas. Segundo esta nova legislação, para ser realizado um baile funk era necessário solicitar uma permissão com antecedência mínima de 30 dias mediante apresentação de uma série de documentos, como contrato de empresa autorizada pela Polícia Federal a responsabilizar-se pela segurança interna do evento e comprovante de instalação de detectores de metal, câmeras e dispositivos de gravação de imagens — essa burocracia limitava-se apenas aos bailes de funk.; outros tipos de festa não precisavam desse trâmite. A situação só foi revertida um ano depois, quando a foi publicada a Lei nº 5543, que definiu o funk como “movimento cultural e musical de caráter popular”. Ainda segundo a lei, os assuntos relativos ao funk deveriam ser tratados prioritariamente pelos órgãos do Estado relacionados à cultura, sendo proibido qualquer tipo de discriminação ou preconceito.

Apesar da instauração da “Lei Funk é Cultura” (como ficou conhecida), o funk do Rio de Janeiro sofreu um golpe violento que praticamente extinguiu os bailes em novembro de 2010. As Forças Armadas e as Polícias Federal, Civil e Militar invadiram a favela Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão para a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Celebrada na imprensa nacional como “vitória contra o crime”, a operação não prendeu nem o chefe do varejo de substâncias ilícitas da Vila Cruzeiro (Fabiano Atanazio da Silva, o “FB”) nem o do Alemão (Luciano Martiniano da Silva, o “Pezão”). Mas cinco dos principais MCs da cidade (Frank, Max, Tikão, Dido e Smith) tiveram ordem de prisão decretada e foram presos ilegalmente em dezembro.

Implementadas desde 2008, as UPPS baseavam-se na supressão de garantias constitucionais individuais — as chamadas cláusulas pétreas — sob a tutela de uma autoridade policial. Na prática, foi uma atualização dos mecanismos legais que restringiam os bailes, desta vez nos territórios das 13 favelas “pacificadas”. Após as invasões, instaurou-se por tempo indeterminado um estado de sítio não declarado que culminou em 2010 com a invasão da Vila Cruzeiro e do Alemão e os bailes ficaram proibidos. Os funkeiros não se calaram. Se o MC Dido não podia cantar “UPP Filha da Puta Sai do Borel e do Andaraí” ou se MC Tovi não podia cantar “O Jeito é Não Entrar Aqui a UPP”, suas vozes e de outros relíquias do proibidão foram se espalhando por centenas de gravações remixadas por DJs. É o caso da coletânea “Unidos Contra a UPP”, que reunia vários MCs em músicas de protesto contra a nova política de segurança.

CD Unidos Contra a UPP:

“Quando as UPPs se instalam, a gente pode dizer que a primeira iniciativa era acabar com baile funk. Evidentemente não era só funk, eram as diversões de rua em geral, mas o funk era particularmente perseguido. Tanto o baile quanto as pessoas”, diz a antropóloga Adriana Facina (UFRJ), que escreveu sobre o assunto. “Uma vez eu tava na Cidade de Deus e tinha uns meninos ouvindo funk num bar e a polícia mandou tirar. Conforme foi ocorrendo a decadência das UPPs, os bailes foram voltando em alguns lugares, embora não na mesma dimensão. Mas agora a gente vive uma criminalização muito forte. Não só invasão policial em baile, mas também a criminalização dos realizadores e dos artistas e a tendência é a diminuição da realização dos bailes”, conta.

Rennan e a importância da Gaiola

Ao mesmo tempo em que faz parte deste contexto, a prisão de Rennan da Penha representa o grau máximo da criminalização. Guilherme Pimentel é advogado participou da fundação da Associação de Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) e coordenou o Defezap, rede de denúncias de violência de Estado no Rio. Para ele, o caso tem uma nível de violência inédito. “Rennan é o número um da atualidade do funk carioca em termos de alcance, de repercussão, de movimentar as bases. É verdade que a criminalização do funk atingiu alguns artistas famosos. Mas atingir o mais famoso, na crista da onda, com esse grau de intensidade jurídica é a primeira vez, o que torna o caso um simbolismo de ataque ao funk como um todo”, analisa.

Rennan da Penha foi um dos responsáveis por movimentar o underground e colocar o Rio de Janeiro novamente no centro do funk como principal representante do movimento 150 BPM. De uma pequena festa no Bar da Gaiola (porque era fechado com grades), o Baile da Gaiola se transformou na maior festa do estado e acontecia na rua, de graça.

Combinando diversão, humor e crítica social, a Gaiola foi palco de importantes protestos contra Bolsonaro no período eleitoral, sendo o palco inclusive de um show e discurso histórico de Mano Brown. Em janeiro deste ano, Rennan ainda cutuou indiretamente o governador Wilson Witzel (notório homofóbico e incentivador de snipers em operações policiais nas favelas) ao promover a primeira parada LGBTI do Baile da Gaiola.

Para além do seu trabalho como DJ, produtor musical e radialista, Rennan se destacou pelo talento de para reunir e agregar pessoas. É o caso de Iasmin Turbininha, primeira DJ mulher do funk. Para ela, Rennan foi um incentivador: “Sofri muito preconceito no começo. Diziam: ‘Vai lavar a casa’, ‘vai lavar calcinha’. Mas teve gente que me apoiou e o Rennan foi uma delas. Assim consegui ter mais amizade [com pessoas do funk], consegui me inspirar mais. Tinha lugares que eu não tocava e agora toco”, afirma Turbininha.

A DJ acredita que o legado de Rennan — preso há quatro meses — permanece vivo por ter aberto os caminhos para uma nova geração de funkeiros do Rio. “Vários DJs estão ganhando dinheiro hoje porque o cara conseguiu levantar o funk e esse novo ritmo do Rio [150 BPM]. Ele bateu no peito e defendeu quando as pessoas preferiam falar mal antes de conhecer. Com a exposição e a atitude dele, o Rennan conseguiu mudar isso”, ressalta. E acrescenta: “Estou com ele até o final. O moleque vai sair dessa, vai dar outra volta por cima e vai quebrar tudo".

Apesar do otimismo de Iasmin Turbininha, o quadro de Rennan é complicado. Após a condenação em segunda instância, só lhe resta recorrer às mais altas cortes do País, em Brasília: o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF), sendo que este último analisa apenas as questões constitucionais — isto é, se o processo seguiu as “regras do jogo”.

A família de Rennan prefere não comentar mais o caso na imprensa. Em junho, a namorada do músico contou que ele não quer mais tocar no Baile da Gaiola — embora não pretenda encerrar a carreira de DJ. “Ele não precisava mais fazer o baile. Fazia porque se sentia em casa, gostava e encontrava os amigos. Mas, apesar de ser a raiz dele, não quer mais [tocar]. Tenho certeza que vão continuar querendo prejudicá-lo”, disse Lorena Vieira em entrevista ao jornal O Dia.

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Rennan da Penha. Foto: Matias Maxx/VICE.

Novo capítulo da perseguição ao funk e ao funkeiro?

Lorena Vieira, namorada de Rennan da Penha, foi profética quando disse ter “certeza que vão continuar querendo prejudicá-lo”. Mas com Rennan preso, o alvo parece ser outro. No dia 26 de julho, Iasmin Turbininha e Polyvox, DJs residentes do baile da Nova Holanda, no Complexo da Maré, foram intimados a prestar depoimento na delegacia. Outros 3 DJs que preferiram se manter anônimos também foram intimados. A intimação foi expedida pelo delegado Flávio Almeida Narcizo, que nada tinha a ver com o caso de Rennan. É, portanto, um novo caso, o que levanta suspeitas sobre uma nova “caça às bruxas” contra o funk.

Como o inquérito está sob sigilo, não se sabe ao certo sobre o que é o caso. Segundo informações da produção de Turbininha e o advogado de Polyvox, José Estevam Macedo Lima, a polícia quer saber como é financiado o baile da Nova Holanda e convocou os DJs para prestar esclarecimentos.

“Após obtermos acesso ao procedimento investigatório, inferimos que se trata de uma investigação preliminar, ainda sem tipificação penal, sendo considerada, nesse momento, como fato atípico pelos investigadores, sem qualquer indício ou provas da prática de qualquer ilícito penal por qualquer pessoa”, afirmou o advogado ao Portal KondZilla.

Para Guilherme Pimentel, o próprio foco de investigação sobre os bailes já indica um ímpeto criminalizador. “O baile nada mais é que um baile. Uma reunião de pessoas com fins pacíficos, onde o moradores, vizinhos, jovens vão lá curtir. Qual o crime que existe nisso?”, questiona o co-fundador da Apafunk. “Esse tipo de foco do aparato de repressão nos eventos culturais é resultado de uma generalização, de uma ideia de que os criminosos e perigosos estão nas favelas. E, portanto, formam o perfil daquele que é construído como inimigo: o jovem negro de favela com baixa escolaridade que tem na sua cultura, nos seus modos de vida, o hábito de frequentar bailes funk. O funk está no centro disso porque é a expressão cultural de massa desse setor da sociedade.”

Mas, afinal, como os bailes são financiados?

No início dos anos 2000, após todas as restrições impostas pela lei para realização das festas de funk, os bailes passaram a se concentrar nas favelas. Nessa fase, acontece uma aproximação entre as facções e o funk e cresce a vertente “proibidão”, que reflete sobre as benesses e os dramas da vida no crime e os dilemas da guerra às drogas. No entanto, sempre houve uma fronteira bem definida entre as atividades — um MC não é traficante e vice-versa. É nesse período que traficantes de algumas comunidades passaram a financiar bailes direta ou indiretamente.

O modo mais difundido de financiamento indireto — ainda presente em certos bailes — é aquele conhecido como “arrego”, que consiste em acordos entre lideranças da facção local e policiais militares mediante pagamento de taxa para garantir a paz em dia de baile. No caso do Baile da Gaiola, boatos dão conta de uma quantia entre R$ 50 mil a R$ 80 mil pagos semanalmente pelo Comando Vermelho à PM. O compositor Praga definiu a situação nos versos da música “O Crime Tá Aí”: “A paz vira negócio onde a guerra prevalece”.

Autor de clássicos do proibidão como “Vida Bandida” e “Visão de Cria”, Praga discorreu sobre a relação entre os bailes e o tráfico em longa entrevista concedida ao pesquisador Carlos Palombini em 2013. “O FB [chefe do tráfico na Vila Cruzeiro preso em janeiro de 2012] fazia o que o Estado não fazia. Porque se este visse o funk como geração de emprego, o FB não promoveria o baile. A favela está aí, já não há a desculpa do tráfico: a UPP não está aí? Por que não botam baile? Ao contrário, proíbem”, critica. “A importância do FB consiste em ter feito o que o governador deveria fazer: aproveitar esse espaço e essas pessoas e esse trabalho e empregá-los, ao invés de desempregar, qual fez. O FB dava emprego fora do tráfico, indiretamente. Não éramos traficantes, os MCs não pertenciam ao tráfico. Eles cantavam porque alguém dava oportunidade. A oportunidade que outros deveriam ter dado vinha de um traficante”.

Ele completa: “Ele não era um líder comunitário, era um traficante. A única coisa que me beneficiou foi o baile, porque foi através dele que as músicas foram divulgadas. Foi onde surgimos, onde havia equipe de som, barraqueiro, MC. Onde todos faziam parte. Não precisaria ter sido promovido por um traficante, mas foi”.

Mas esse cenário descrito por Praga mudou muito. Autor da tese de doutorado “Bastidores do baile: técnica, produção e circulação musical no funk carioca” (UFRJ), o antropólogo Dennis Novaes afirma que bailes já foram parcialmente financiados pelo tráfico, mas que atualmente essa contribuição é cada vez menor. “O que temos vivido desde os anos 2000 (quando os bailes de favela passaram a ser o centro do funk carioca) até hoje é um crescimento da independência dos barraqueiros no financiamento da festa. Hoje em dia os barraqueiros são responsáveis por financiar maior parte do baile. Em alguns bailes eles financiam tudo”, informa.

Barraqueiros são os comerciantes informais que vendem bebidas e comida durante a festa. “São pessoas que moram na comunidade e que dão um jeito de ganhar um dinheiro ali, um sustento com um baile que rola na favela. Pedem uma tenda emprestada, muitas vezes compram fiado para vender no baile, conseguir pagar a dívida e botar comida na mesa”, define Iasmin Turbininha.

Em muitos bailes de favela atuais é comum também que os DJs não cobrem cachê. O baile funciona como uma plataforma para construir público, um nome e uma reputação para então tocar (com cachê) em festas e produzir músicas para MCs.

Polyvox organiza desde junho de 2018 o baile da Nova Holanda. Numa entrevista concedida em dezembro do ano passado, ele me deu detalhes do realização. “Hoje a gente não tira grana do baile porque todo dinheiro que é gerado no baile é pro barraqueiro pagar seu aluguel, sustentar a família dele. O nosso dinheiro a gente ganha por fora com show. Eu faço o baile porque quero fazer e é pela comunidade. Eu não tiro um real do baile da Nova Holanda”, ressalta.

Ele detalha ainda: “Pegamos os dinheiro com o barraqueiro. São 15, 20 barracas. Cada um dá uma certa quantia — R$ 200, R$ 300 — e paga o som. Aí se tiver uma atração extra, tipo um grupo de pagode, a gente junta dinheiro e paga o cachê. Às vezes trabalha duas, três semanas para na outra semana botar um pagode, um palco melhor. Todo baile da Nova Holanda é sustentado pelos barraqueiros”.

E o que os DJs ganham com isso? “Ganhamos nome para tocar fora e estourar música. A gente explode música e temos uma opinião muito sinistra lá dentro. Somos formadores de opinião na comunidade. O que tá acontecendo lá dentro, nós colocamos pra fora”, explica.

Turbinha reforça o relato de Polyvox. “Nunca cobrei para tocar em favela. O baile funk é aquela distração para comunidade que só tem stress, problema. É o momento de tirar tudo da mente. E é a comunidade que leva onde a gente tá hoje, é a pessoa que divulga teu trabalho”, destaca.

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Foto: Matias Maxx/VICE.

A importância do baile para as comunidades

Num país em 75,5% das vítimas de homicídio são negras, os bailes funk têm uma relevância dupla. O primeiro nível é quanto a geração de empregos na favela de maneira orgânica. “Ouvi falar que cada barraqueiro contribui num baile grande como o do aniversário do Rennan da Penha [que reuniu 24 mil pessoas] cada barraqueiro contribui com R$ 5 mil. Mas em compensação alguns barraqueiros chegam a lucrar R$ 10 mil numa noite. Numa comunidade que convive com os revezes do sistema capitalista — a miséria, a precariedade —, ter essa quantidade de dinheiro, esse fluxo de renda circulando é algo incrível”.

Novaes observa ainda que essa renda é mais bem distribuída. “Diferente do que acontece em outras manifestações, eventos ou festivais culturais em que a renda tende a ser concentrada em poucos produtores, a economia do funk carioca — e isso é o mais incrível — beneficia muitas pessoas. É uma rede muito grande de gente envolvida na produção não só das músicas mas da produção do próprio baile”.

Para além desse aspecto mais visível e imediato da renda e empregos, outro ponto fundamental para entender a importância do funk é pensar em como ele constrói a autoestima dos moradores de favela. Sobre este aspecto, Dennis Novaes menciona os ideias do geógrafo Milton Santos, que defendia que a facilitação do acesso aos meios técnicos e informacionais possibilitam uma “revanche” da cultura popular sobre a cultura de massas.

“Se a cultura de massas sempre foi destinada a obliterar as manifestações culturais locais, quando você tem essa facilidade para produzir uma música no computador, no celular e isso virar um sucesso global — como é o caso de ‘Bum Bum Tam Tam" e é o caso de outros funks —, o que você faz é transformar a cultura popular local em uma cultura de massa”, explica o pesquisador. “Desde a década de 90 até hoje, o que a gente vê é isso. As favelas cariocas foram colocadas no mapa do Brasil para o Brasil inteiro. Apesar de toda precariedade, da violência que os moradores de favela convivem, das incursões policiais, do genocídio, o que a gente tem é esse outro mapa que o funk fornece e que o Brasil inteiro quer saber o que é a Gaiola. E a partir daí saber o que é o Complexo da Penha; quer saber o que tem na Cidade de Deus ou o que tem no Complexo do Lins, onde rola o Baile da Colômbia e o que tem de tão incrível que transforma esses lugares em centros de produção cultural para o Brasil inteiro. Essa importância é impossível de ser quantificada porque ela tem um valor simbólico que só pode ser minimamente mensurado com o tempo, para gente entender o que é essa transformação no imaginário, na vida e na cultura das favelas cariocas”.

Marginalizado desde o início, o funk é uma cultura de sobrevivência que driblou diversos ataques. Mas até quando será possível sobreviver assim? Até quando os tambores eletrônicos do Baile da Gaiola continuarão ecoando? A criminalização do funk é fruto da combinação do racismo institucional com a falida guerra às drogas mais a criminalização da pobreza. Por que a população carcerária do Brasil quase dobrou nos últimos dez anos e é 64% negra? Por que atacar somente o varejo de substâncias ilícitas, justamente a parte menos lucrativa, que acontece nas morros? E por que se considera que moradores de favela como cidadãos de segunda classe, passíveis de ter suas casas invadidas e direitos violados? O Brasil prefere ignorar essas perguntas. E os funkeiros vão levando como podem, improvisando suas própria formas de existência.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #131

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Fala galerinha.

Finalizando mais um mês aqui, já tamo quase no final, muita força que a gente consegue chegar lá, apesar de não saber o que vamos encontrar “lá”. Mas enfim, vamo que um dia melhora.

A nível de lançamentos, que vem a ser o tema dessa coluna, foi uma semana bem fraquinha em quantidade & qualidade. Muito popzinho que tanto faz a existência, muito funk que legal, mas tem de monte igual, então nem tem muito o que destacar, enfim um grande volume de sons que semana que vem a galera vai esquecer que existiu. Complicado, mas faz parte também, num é toda semana que a galera tá altas performance.

Aí você pergunta “mas o que que teve então?” Teve foi isso aqui, resumidamente:

----AS TOPZERA DA SEMANA----

Lana Del Rey - Norman Fucking Rockwell!
É um bom ajuntadão de baladas folk muito lentinhas. O lado negativo é que você tem que tar na vibe da baladinha folk lentinha, senão algum momento vai ficar cansativo, já que é 1 hora de disco, e nóis que ouve disco somos exceção, já que a onda da galera é o playlist feito por algoritmo. Mas assim, todas as músicas estão muito bem produzidinhas, melodia show, o vocal dela cabe bonito nas músicas, mas no finalzinho eu num tava mais querendo ouvir baladinha. Queria dar um grauzinho, e a Lana não dá grauzinho. Não bota o dedinho pro alto, não faz o “iiihuuuuu”. É só lentinhas que fala ao coração. Enfim toda essa enrolação é pra falar que o disco é bom bem bom, porém recomenda-se ir preparado, que a viagem é longuinha.

Xande de Pilares - “Meu Pitel”
Samba top total. Com isso eu acho que já praticamente expliquei o que é a música. Animou demais, gostei bem. E pode ver aí no histórico que não é sempre que eu boto um samba entre as top.

----AS BOAS DA SEMANA AÍ----

Charli XCX - “Warm”
Vou dizer que é som maneiro. Segue a onda do pop-eletrônico bom que ela faz, mas também soa meio “tá, mas cê já fez isso aí”. É bom, mas no momento eu estou nesse conflito aí de ela já ter feito som bom assim que soa quase igual os outros sons bons. Tem que tar tomando cuidado com isso aí ela e o A.G. Cook.

!!! - Wallop
Há uns 15 anos essas onda discopunk, DFA Records e etc era muito modernão, muito descolex. Eu nem curtia muito o !!! à época, mas vá lá, eles tavam dentro. Hoje esses sons soam apenas algo de 15 anos atrás. Um bom albúm de 15 anos atrás, qualquer faixa desse disco taria tocando na pistinha do Milo Garage, mas que de fato é bem difícil reconhecer como algo atual de tão datado que ficou o discopunk. É bom? É bom. Mas tem isso aí que eu falei.

Four Tet - “Anna Painting”
Eu já até falei aí com uns dos meus #seguimores sobre a minha total incapacidade em escrever sobre música eletrônica, o que acaba até mesmo afetando a quantidade de lançamentos do gênero que vem parar nessa coluna. Então assim, baita som mas fiquei por vários e vários minutos empacado sem saber como descrever esse som de pistinha aí. Aí realmente o que eu posso falar é que é um baita som e aí vocês acreditam e isso basta. Se não bastar, aí ferrou.

Miranda Lambert - “Way Too Pretty for Prison”
Countryzinho muito do show. Animadinho tipo “Sheryl Crow só as melhores”, caipiraço de tudo, bem do legal. Gosto bem.

----AS MENOS BOAS DA SEMANA AÍ----

Pabllo Vittar - “Sente a Conexão”
A parte positiva é a produção, os timbres da batida e a melodia, que fica quase um PC Music brasileirinho. Mas a música em si é fraquinha de tudo, Deus do céu. Um duetinho que num vai pra lugar nenhum. E dava pra ir. Só não foi. Dessa vez não deu, mas o caminho é esse aí, galera.

Tarja - In The Raw
Estou bem surpreso que dei play nesse disco e não foi uma experiência desgraçante, por incrível que pareça PORÉM calma, que eu também não falei que é bom (meio que é, sim). Primeiramente isso aí é pop rock. Podia num ser antes, mas hoje metalzinho melódico com vocal “going under” (riiisoooss) é tão pop rock quanto o U2. Aí fica nessa já conhecida ondinha de feira medieval no parque com os cara brincando de lutinha de espada e beber hidromel no chifre, o que é meio cafona, mas até que divertido de ouvir. Em resumo, não foi ruim de ouvir. É só cafona só, mas de boa.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #132

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Fala minha turminha.

Tá aí minha listinha dos lançamento que teve nessa semana de frio, de chuva, de conservador cristão perdendo a linha em rede social, enfim só coisas chatas. Então vamo tar ouvindo um som pra dar um UP pra dar um pique totale nesse animo aí, próxima semana vai ser menos ruim, mais de boa de encarar.

Obs.: Alguns sons podem na verdade te deixar mais pra baixo ainda de tão chato que é. Mas aí eu aviso quais que são. Ouve, mas ouve com cautela.

OUTRA Obs.: Tô ouvindo o disco do Post Malone só agora só e não vai dar tempo de ouvir tudo pois, enfim, a coluna é essa aí que você está lendo. Está pronta. Temos prazos. Fique ligado nos canais oficiais Rica Pancita que se pá depois eu falo qualquer coisa sobre o Post Malone (spoiler: é trap).

De resto vamo que vamo que vamo.

----AS TOPPER DA SEMANA----

Sampa the Great - “Heaven”

Baita som que usaram de base, suingadão maneiro. Aí junta o flow da mina aí e fica tudo top. É som bom.

Mahalia - Love And Compromise

O disco começa muito bem, mas logo dá uma rápida despencada, que vai aos poucos se recuperando pra no final ficar meio que na qualidade do início do disco. Ou, resumindo, seria um EP incrível. Como disco ainda é bom, mas seria melhor sem umas 3 aí. O som é um pop-R&B, às vezes mais pro pop EDM de tecladinho, às vezes mais pro R&B com base sampleada. A imensa maioria é muito da gostosinha de ouvir, rolou legal exceto pelo despenquinho do início. Fica aí nas recomendações.

Danny Brown - “Dirty Laundry”

Gostei demais demais da base e da batida usada. Não faço ideia de onde veio, mas ficou bonita demais nesse loop aí pro rapper fazer as rima de rap dele (pois é rapper). Som top.

----AS OUTRA BOAS QUE TEVE----

DJ Lindão & Ludmilla - “Olhei Gostei”

Funk bem padrãozão, sem nada de grandes destaques a não ser o trecho “E aí Che Guevara / É tcheca na cara”, que não consigo fazer ideia de onde saiu isso mas enfim, saiu.

Foster The People - “Pick U Up”

Aqueles indie pop pra cima, som pra pistinha, muito tchubaruba. Enfim, uma grande bobagem. Porém uma grande bobagem agradável de ouvir até. Boba, mas boazinha.

Bob Rum - “Por Perto”

Funk Melody noventa, muito noventão mesmo, na intro você pode acabar puxando um “só love, só love” involuntariamente. É boa, mas pega mais pelo saudosismo mesmo, porque fora isso soa até meio cafoninha. Além disso quero destacar que essa semana ele também lançou o disco Greatest Hit’s, que não só chama Greatest HIT’S, como tem exatamente quatro faixas. Precisava destacar a grandiosidade de um artista que de fato só coloca hits no disco de hits (hit’s), ao invés de encher linguiça com um disco de 15 músicas que a maioria nem pegou nada. No somatório fica tudo bom, lá em cima.

Tove Lo - “Really Don’t Like U”

Popzinho bem de qualidade, batida top, e uma melodia de tecladinho besta de simples mas bem boa de ouvir, e o #feat da Kylie Minogue dá um tchans pra faixa. Boa.

----AS QUE MEU DEUS DO CÉU----

Camilla Cabello - “Liar”

Popzinho que realmente num vai pra lugar nenhum, não. Uma base muito do Ace Of Base, só que com toquezinho bem de levinho no latino, pra dar uma diferenciada. Mas é noventão num sentido bem desinteressante. Bem mediana.

Steve Aoki & Backstreet Boys - “Let It Be Me”

Pop EDM muito do padrão, mas também sei lá o que eu esperava que ia sair de diferente ao juntar essa turma. É uma base pop tão TÃO padrão, que deve dar pra achar equivalente “royalty free” pra trilha de canal de youtube, se é que eles não fizeram isso já. De resto a voz dos senhorzinhos Backstreet continua boa. Mas a música é chatinha.

Iggy Pop - Free

Talvez não seja tão ruim quanto pareceu, ouvindo as 8 horas da manhã, dia nublado, morrendo de sono, mas nossa senhora como foi difícil ir até o final com esse disco. O Iggy Pop fazendo crooner com essa voz de Seu Peru num rolou legal pra mim não. Fora os trompetinho de trilha de filme de suspense dos anos 80. A única exceção, positivamente falando, foi “Sonali”. O resto foi só dureza.

Death Cab for Cutie - The Blue EP

Então… É aquele indie rock deles de sempre, que já não era muito a minha, só que aí cê puxa o freio de mão, pro pouco de animação que tinha despencar de vez. Virou um Snow Patrol esse bagulho aí hein. Enfim, umas musica muito fraquinha, com muito esforço dá pra rolar o “To The Ground” e, se muito, o “Kids in ‘99”. O resto é Snow Patrol isso aí.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #133

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Fala turma

Hoje é coluna especial discos. Então é muito disco e pouco single. O que é bom, porque gosto de disco, mas é ruim porque quando é single dá pra falar de mais gente. Enfim, são as decisões que a gente faz na vida.

Fora isso teve também o Stereolab soltando uma pá de edição especial de seus discos, com demo, b-sides e a porra toda, que recomendo demais caso haja algum motivo para que você ainda não tenha ouvido Stereolab na sua vidinha.

Bora lá então, ver os lançamentinho? Bora lá então.

----OS DISCOS TOP----

Charli XCX - Charli

Nem sei muito o que falar de novo agora que o disco saiu, pois a impressão é que todas as faixas já haviam sido lançadas como single anteriormente, desde “1999” no ano passado. Então é um grande compiladão de pop PC Music — acho que todas as faixas foram produzidas pelo A.G. Cook — mas sem muita doidera, que é pra tocar legal nas rádios, e aqui estou dizendo que não é nenhum VROOM VROOM EP, e acho importante pontuar isso. Mas tudo bem também, são músicas bem da agradáveis de ouvir na sequência. 50 minutos bem gastos.

JPEGMAFIA - All My Heroes Are Cornballs

Esse é top. Bota o selo “esse é top” aí, porque esse é top. Começa com as mais de brabo que tem, vários berros e base distorcida, aí aos poucos vai dando a acalmada, porém ainda com distorção rolando, mas os cara fica menos brabo, chegando a versão de “No Scrubs” no finzinho do disco. Essa aí vou guardar pra depois, porque tá coisa boa mesmo.

----O DISCO E O SINGLE BONS----

Céu - Apká!

Ouvi o disco sem nenhum foco, perdendo a concentração pra qualquer coisa que acontecesse ao meu redor. E aí que nesse contexto ele funcionou legal. Talvez até fosse a ideia original, trilha pra ouvir enquanto tá fazendo qualquer coisa, imagino ser uma boa trilha pra varrer a casa ou qualquer outra tarefa doméstica a escolha. MPBzinho Nova Brasil FM que cês já manja, com arranjos bem construidinhos, timbres na grande maioria bem suavinhos pra destacar bem a voz mesmo. É bonitinho, nada de muito destaque mas, ao menos, é bonitinho.

Kero Kero Bonito - “When the Fires Come”

Depois do disco mais de rock indie do ano passado, essa música volta pro eletrônico de tecladinho, meio chillwave meio jpop. É bom, mas acabei pegando apreço pela versão roquinho indie da banda. Podia ter mais daquilo lá.

----OS DISCOS E O SINGLE NÃO MUITO BONS----

Elza Soares - Planeta Fome

Com máximo respeito a artista, hein. Máximo respeito. Tá um disco bem abaixo dos dois anteriores. Não sei o que mudou na turma envolvida no disco porque nem procurei, aqui não tem informação, só análise rasteira. Mas a produção desse disco tá muito fraquinha, umas melodias sem muita criatividade, uns dub bobinho, uns “rock com eletrônico” que parece de disco infantil do Saccomani (“País do Sonho” parece jingle de campanha). “Libertação” é uma faixa boa BOA mesmo, agora o resto não tá muito bom não, viu.

Pixies - Beneath the Eyrie

Primeiramente teria que perguntar pra eles se estavam muito afim de gravar esse disco, porque às vezes pode ter sido naquele dia que ninguém tá muito afim de trabalhar e preferia estar fazendo outra coisa da vida, aí na hora sai um negócio sem muito interesse, só pra cumprir o ponto. A sensação ouvindo foi essa aí, porque é um rock muito cansado. Dá até pra visualizar o cansaço que tá esses rock. O bloquinho final dá uma melhorada considerável, talvez seja o caso de ficar só nas quatro últimas mesmo, porque o resto não foi das melhores audições não.

Weezer - “The End of the Game”

Ah mano. Som pegando pro hard rock oitentista, vindo de uma banda que se alimenta de meme de internet faz um tempo já. Não é das piores coisas que ouvi hoje, mas também tanto faz esse som aí.

Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #134

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Fala turma.

Foi uma semana de muito som ruim. RUIM. Ruim mas bem ruim mesmo. O que eu ouvi hoje que nem coloquei aqui, vocês num fazem ideia o trabalho que foi pra filtrar o que teve de mais interessante dessa vez, tal qual um garimpeiro revirando o lodo pra achar umas pedrinha minúscula de ouro, porém arregaçando o rio com mercúrio (o rio no caso é a minha cabeça depois de tanto som ruim).

Feito a explicação, também temos como indicação a coletânea tripla em comemoração ao aniversário de 15 anos do maior grupo de J-Pop entre todos os grupos de J-Pop que teve. Quase 4 horas de Perfume e Yasutaka Nakata, que guardarei com muito carinho.

Dito isso vamo ao tema central da coluna que no caso são os lançamentos musicais que teve nessa semana. Vamo.

----A TOP----

Wilco - “Everyone Hides”

Folkzinho lá pra cima, com variações suficientes para dar a impressão de ser mais longa do que o que de fato é (3 minutinho só). Wilco nessas mais animadas é bom demais, fala ae. Top.

----AS OUTRAS BOAS TAMBÉM----

Zeca Pagodinho - Mais Feliz

Disco de samba que imenso respeito pelo artista, mas empolgou muito pouco. Ao menos funciona como trilha de churrasco ou feijoadinha com a família, que num tem erro mesmo. Mas agora no madrugadão ouvindo, sóbrio, sem churrasquinho, soou só “é, legal, bonzinho”. As últimas dão uma levantada e tal, mas essa produção limpíssima, que mete uns metais no meio, flautinha, isso aí eu acho que não precisava não. Fica como bonzinho.

Princess Nokia - “Sugar Honey Iced Tea (S.H.I.T.)”

Rap bem do maneiro, com uma base de trompetinho show. É curtinha, não cansa, batida muito simples, tudo na moral. Boa.

Emicida - “Libre”

Que o som tá bom ele tá mesmo, isso aí fiquei com zero dúvidas.A base tá com produção foda foda, que juntou com a batida sambafunk e ficou fera. Num entendi muito a letra ser um juntadinho de frases soltas mas até aí nem é tanto problema assim. Tá qualidade.

Irmão Lázaro - “Eu Me Prostrei”

Axé gospel de altíssima qualidade. Com melodia e produção samba-reggae lembrando os melhores hits noventistas baianos. Eu até meteria numa playlist de carnaval, caso tivesse uma. Bem bem boa.

Liam Gallagher - Why Me? Why Not.

Sinceramente sou muito mais o Liam fazer o mesmo basicão de sempre, do que o irmão que quer ser o “artistão completo” e falha miseravelmente. Obviamente não tem nenhuma no nível “as melhores do Oasis”, mas o que tem não tá tão abaixo assim, dá pra aproveitar muita coisa do disco. Claro que tem que tar na vibe de ouvir uns Oasis, mas aí deu sorte que eu tou nessas vibe desde ontem. Digo que é bom disco, sim.

Hanah Diamond - “Part of Me”

Clichêzão PC Music, som de caixinha de música, o timbre de teclado de sempre, etc etc. Ainda funciona comigo, mas com menor impacto. A galera precisa dar um capricho melhor nessas músicas. Mas vá lá, boa.

----A MEDIANINHA----

Blink 182 - Nine

É os tiozão do rock querendo falar com os jovens, tal qual um coach. Aí vem o HC pop-rock de antes, com uma inexplicável necessidade de meter bateria eletrônica e basezinha de EDM radiofônico em uma ou outra faixa. Um ponto positivo é que a produção conseguiu disfarçar bem a voz de cansadaço do Mark porque se, além de tudo, ainda tivesse que ouvir voz cansada, aí seria foda. Okzinha, talvez tenha melhor aceitação entre pré-adolescentes.

----A RUIM, MAS NÃO RUIM O SUFICIENTE PRA DESGRAÇAR MINHA CABEÇA. É RUIM ACEITÁVEL----

Keane - Cause And Effect

Duas palavras: mudou nada. Meu Deus, tô na nona faixa já sofrendo bem com esse soft-brit-rock só baladinha caída de tudo. Se brit rock já é um problema, baladinha brit rock então… Tá na mesma onda de antes, quando já não dava mais. É isso que eu tenho pra comentar.

O desespero avassalador de 'Ready to Die' do Notorious B.I.G

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Num momento no meio de Ready to Die, Notorious B.I.G começa a parecer um palestrante motivacional de rua. O primeiro verso de “Everyday Struggle” é “Sei como é acordar fudido”; dá pra imaginar o microfone do estúdio, ouvir os moleques rindo do palavrão. Big se solidariza com o público. Ele entende porque eles estão tão estressados, sabe o peso de acordar e sentir o espectro dos boletos a pagar. “Eu me lembro quando eu era igualzinho a você”, ele rima. Ele não queria um diploma, ele queria grana. Então ele fez esse corre – desde as endolas em Bed-Stuy até levar as cargas grandes pra Raleigh. A história tem um arco que geral pode se identificar, acenando pra redenção e desembocando na sagacidade.

Mas não é só isso que o Big traz. O segundo verso da música termina com os amigos dele assassinados ou presos, o terceiro com ele aterrorizado, resignado a travar uma guerra com a polícia que sabe seu primeiro nome. O único momento em que ele exala algo parecido com alegria é quando ele rima sobre escapar de uma acusação de agressão. O refrão é o fundo do poço dessa viagem ao clima ruim: “Eu não quero viver mais”.

A morte sobre a qual Big rima em seu álbum de estreia – aquela a que ele sucumbe no final – não é a morte mítica que Tupac parecia cortejar em seus próprios discos. Big chega a esse ponto mais tarde: a última música de Life After Death se chama “You're Nobody ('Til Somebody Kills You)”. Mas em Ready to Die, o fatalismo não é elevado ou desafiador – muito menos mítico. É pequeno, feio e inevitável. Na canção final, antes de puxar o gatilho, ele diz que não quer ir pro céu, porque Deus provavelmente não vai deixar ele ficar na cama o dia inteiro.

Ready to Die foi gravado em dois períodos diferentes. Na primeira sessão, Big era um moleque voraz que tinha assinado com a Uptown Records através de um jovem A&R chamado Sean Combs. Em suas primeiras demos, Big tinha um timing quase sobre-humano, um carisma que sangrava pelo microfone, uma intuição de como fazer uma palavra ou frase parecer musculosa, ameaçadora ou algo saído de um programa humorístico de rádio. Mas durante 1993, ele rimava num registro ligeiramente mais agudo do que você lembraria por “Hypnotize”, parecia que ele estava procurando pelas bordas mais esfiapadas de sua voz. Ele inquestionavelmente estava no controle, mas num tipo diferente de controle. Esse momento é quando Big gravou músicas como “Gimme the Loot” – uma pequena e intrincada obra-prima que soa, vocalmente, como um dueto com uma versão mais maníaca dele mesmo.

Essas músicas de 1993 são repletas de crime – crimes pequenos, crimes violentos, crimes que não são catalisadores de algum crescimento pessoal ou que colocam a narrativa em movimento. É o tipo de crime que existe porque homens famintos precisam comer. Crimes brutais (como a anedota infame sobre roubar um colar “#1 MOM” de uma grávida em “Gimme The Loot”) e até constrangedores (roubar um trem porque a mãe não o deixava andar com dinheiro). Ele rima animadamente sobre essas coisas. Ele é vívido, detalhado, podendo ser malicioso ou histericamente engraçado. Ele conta exatamente onde guarda a Mac-10 no Land Rover. Como um todo, essas vinhetas pintam a vida de Big como perigosa e materialmente difícil. Elas também mostram o dom incrível dele para narrativa: nenhuma história tem o mesmo ponto de entrada ou saída, o mesmo mecanismo para fazer os personagens interagirem, a mesma energia. “Loot” tem um amigo insano que se gaba de “roubar filhos da puta desde os navios negreiros”, enquanto “Warning” joga com uma série de rumores, filtrados por ligações cortadas em telefones fixos talvez grampeados.

A primeira rodada de sessões acabou quando Combs foi demitido da Uptown. Isso jogou Big num tipo de purgatório onde muitos trabalhos em desenvolvimento acabam perdidos pra sempre. Foi aí que ele foi pra Raleigh, fazendo seus corres ilícitos por lá. Seus amigos na cidade o conheciam simplesmente como “Fat Chris”. (Big mais tarde cantaria em “Everyday Struggle” sobre fazer viagens para o sul com ajuda de carros baratos conseguidos na “Toyota Dealathon”.) Mas claro, Combs intermediou um acordo com a Arista para lançar seu próprio selo, Bad Boy, e começou a se metamorfosear na visão que ele chamava de Puff Daddy. Em 94 ele arrastou Big de volta para o norte para terminar o disco. Foi aí que a voz de Big ficou um pouco mais grave, um pouco mais rouca, sua rima mais suave e mais contida. Combs/Puff também estava deixando sua ambição correr solta: o ato de atirar em policiais na “Machine Gun Funk” não precisaria ser contrabandeado pro rádio, porque ele colocaria o Big rimando em cima de Mtume e Isley Brothers mirando diretamente as paradas de sucesso.

O que dizem sobre essas sessões de gravação é que Big se incomodou com o direcionamento mais comercial, mas no disco ele soa completamente comprometido: “Juicy” consegue ser pra cima ao mesmo tempo em que é dolorida, da satisfação pueril em poder pagar uma conta de telefone de US$ 2 mil, dos brincos caros que ele dá para a filha, até o jeito como ele diz pra mãe “sorria toda vez que minha cara aparecer na The Source”. O som pop obrigatório enfiado no meio dum disco de rap dessa época em geral era só isso mesmo – o som obrigatório pras rádios, uma concessão. Essa parece ter saído direto das veias de Big.

Mesmo assim, no contexto do disco, as duas músicas podem muito bem ter vindo como uma espécie de fuga, separadas do ciclo de terror em que Die se baseia. (“Foi tudo um sonho” não podia ter um tom mais sombrio.) Onde a primeira leva de músicas era equilibrada pelos rap sexuais diabólicos de Big (“Friend of Mine”, a original “One More Chance”), “Poppa” e “Juicy” soam vindas dum homem do outro lado de uma divisão intransponível. O Biggie de “Gimme the Loot” não iria nem fudendo num wine bar. Se liga na sequência. Logo depois de “Big Poppa” vem “Respect”, onde descobrimos que Big nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço, depois de “Juicy” vem “Everyday Struggle”. Ninguém aqui foi iludido que existe alguma saída.

Ainda assim, Ready to Die terminava com uma cortina de fumaça: o DJ Premier vendeu a batida de “Unbelievable” para Big por US$ 5 mil só, porque eles já tinham estourado o orçamento e esse foi o último som antes da masterização. Method Man – um dos maiores rappers dos EUA na época – recebeu só metade disso por sua contribuição em “The What?”, e teve que correr atrás de Puff para conseguir ser pago. Tem também a famosa história de como roubaram a ideia de uso de sample em “Juicy”, que Pete Rock acusou Puff de ter ouvido em sua casa, aí fez sua equipe recriar mais barato. Mas o dinheiro entraria logo e todo mundo seria pago: Puff previu corretamente um futuro luxuoso para ele e seu astro.

Mas o lance importante e diferente no disco de estreia do Biggie é que, tirando os dois singles mencionados acima, ele não soa como o desejo dessas mansões e Mercedes. Na real, leva o ouvinte pra bem longe disso aí. Na famosa música de encerramento, “Suicidal Thoughts”, ele afirma que sua mãe – aquela que abre um sorrisão quando vê ele na The Source – não o ama mais, e certamente se arrepende de não ter feito um aborto. Seja porque ele já roubou grana até da bolsa dela, ignorou seus pedidos para sair das ruas e da vida do crime, e até gritou, em certo ponto: “Que se foda o mundo / Que se foda a minha mãe e a minha mina”. O que “Suicidal Thoughts” deixa cuspido e escarrado é que Ready to Die é um produto do medo e do desespero que são tão esmagadores quanto autossuficientes – tão poderosos que mesmo seu maior documentarista não ousaria reivindicar vitória sobre eles.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #135

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Alô galera.

Vamo dando fim a mais um mês enquanto recebemos a grande celebração do rock de firma, com esfirra a 10 reais e apresentações artísticas em uma favela cenográfica muito colorida, pois foi isso aí que sobrou mesmo.

Queria eu ter boas notícias para dar para esse meu povo sofrido mas enfim porém entretanto não será essa semana não. Essa semana foi meio ruim de novo. Mas aí acho que todo mundo também meio que se acostumou com esse ano também, né. Vamo torcer pra 2020 vir altas vibe, que 2019 tá complicado.

Depois desse show de otimismo por minha parte, apresento os lançamentos mais PÁ da semana. Only the best.

Bora.

----AS MELHORES QUE TEVE NA SEMANA----

Twice - Feel Special

EP padrão de atualização de repertório de grupo de kpop. 80% pop EDM de festinha, e 20% baladinha romântica de ouvir no quarto. De 7 faixas, tem pelo menos 2 bem boas. As outras são boas também, mas cansam mais rápido.

Battles - A Loop So Nice They Played It Twice

Uma faixa de rock cabeçudo de 5 minutos, mas que eles dividiram em duas faixas, pra ficar mais de cabeçudo ainda. A primeira parte é instrumental só, aquela bateria de math rock moendão servindo de base pros timbres de tecladinho. A segunda parte é mais legal porque é praticamente a mesma coisa só que com um vocal feminino dando um #tchans no som, além da bateria estar mais moendão. É bom. Não tenho intenção de ouvir novamente, mas faz parte também.

----AS OUTRAS QUE TEVE NA SEMANA QUE TÃO BOAS TAMBÉM----

Miranda Kassin - Submersa

MPB com synths e uma produção levemente moderninha, mas que porém em grande parte do disco (há exceções) ficou bem longe de ser cafona. Tudo bem que a nível de melodia não tem lá grandes inovações, mas foi uma boa audição. Bem produzido, boa voz, as letras eu não quis dar muita atenção não. No somatório tá tudo bom.

Tricot - “Afureru”

J-rock meio que emo meio que math-rock. Eu gostei, mas tô ligado que é bem de nicho e também num vou querer sair empurrando isso pra você que tá lendo. A não ser que você se interesse por qualquer coisa que eu falei na primeira frase, aí sim vale dar uma tentativa. Se não, não.

Calcinha Preta - “Não Tem Explicação”

Mais uma boa inclusão ao repertório 2019 do Calcinha Preta. Forró de tecladinho na onda do romântico, com o cativante dueto da banda. Toca direto no coração. Boa, espero que faça sucesso suficiente para ir parar nos aparelhos de karaokê de todos os bares do Brasil.

----AS MAIS OU MENOS DA SEMANA PORÉM NÃO DISSE QUE TÃO RUIM----

Opeth - In Cauda Venenum

Prog-metal tá muito longe de ser a minha, mas vá lá. O disco até começa que bem, que é bem progzão mesmo, vários Dream Theater rolando. Aí ok, tava rolando até que bem. Porém já pra metade final é muito menos prog e muito mais metal, aí realmente já não rola pra mim. Por mim ficava nas quatro primeiras faixas, e tá bom já. Mas pra quem for do prog-metal deve agradar. Eu digo que é okzinho.

Tegan and Sara - Hey, I’m Just Like You

Disco de indie-pop que é bonzinho de ouvir até, porém podia ser menos adulto pra ficar bem no nível “primeirão da Avril”, que eu ia preferir. Esse disco aí ficou na beiradinha do pop-punk, mas tava cheio de balada também, aí uma hora eu acabei parando de prestar atenção no disco. Medianinho.

Pitbull - Libertad 548

Um grande compiladão de reggaeton e cumbia e o que mais tiver de som latino pra meter batida eletrônica. Ou seja, algo que você já ouviu de monte. Eu pelo menos já ouvi de monte. Aí mesmo que as músicas estejam bem feitinhas e tudo, chega um momento que esses 44 minutos de disco se tornam insuportáveis. Acredito já ter falado sobre o tema algumas vezes nessa coluna. Minha recomendação então, caso você queira muito ouvir reggaeton, é ouvir uma faixa diferente do disco por semana. Aí num cansa.

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Como o novo funk proibidão reflete a crise de segurança do Rio

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No último fim de semana, o Marlon Brendo Coelho Couto Silva, mais conhecido internet afora como o MC Poze do Rodo, foi preso em Sorriso, interior do Mato Grosso, acusado, entre outras coisas, de fazer “apologia ao crime” durante a sua apresentação na cidade. Poze, que segue preso, é talvez o mais famoso representante de um estilo temático do funk que tem passado por um intenso ressurgimento no último ano: o proibidão.

Em 2010, o MC Tovi tomava emprestado a melodia da “Fugidinha” de Michel Teló para criticar o governador do Rio de Janeiro e combater o projeto de Unidades de Polícia Pacificadora em “Não Entra Aqui a UPP”: “Eu tô revoltado com Sérgio Cabral/ Sem o baile aqui não vai ficar legal”. No mesmo ano, o MC Dido também deixava claro o seu repúdio com “UPP Filha da Puta Sai do Borel”. Em “Bala na Dilma Sapatão” (2011), o MC Vitinho atacava a ex-presidente, o governador Sérgio Cabral e ainda desafiava a Força Nacional: “Não vamo entregar assim, desentoca o arsenal/ É bala no viado do Sérgio Cabral/ Tomaram o nosso quartel general, que era o Complexo do Alemão/ É bala na piranha da Dilma sapatão”.

Músicas como essas dos MCs Tovi, Dido e Vitinho indicavam uma transformação no proibidão, o subgênero do funk que reflete sobre as benesses, os dilemas e o sofrimento na vida do crime e as consequências sociais da política de guerra ao tráfico. No ano da invasão do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro (na Penha), o proibidão refletia o acirramento do embate entre o Estado e facções nos morros cariocas. Diminuíram as letras com ataques às facções inimigas, substituídas por críticas ao Estado. “A partir de 2010, os ataques a agentes do Estado se tornam mais diretos e, às vezes, nominais. Essa mudança está menos associada à Chacina do Pan ou ao Massacre do Alemão (2007) do que à Guerra do Rio (2010)”, indica o musicólogo Carlos Palombini, pesquisador do proibidão carioca.

Na sequência, o proibidão foi perdendo força devido a uma combinação de motivos, entre eles a guerra do Estado contra o Comando Vermelho, a suspensão dos bailes nas comunidades, os processos sofridos por alguns MCs e prisões ilegais de outros, a transferência do centro econômico do funk para São Paulo e a emergência da ostentação e expansão do pop funk. “Embora ainda se encontrem vozes, letras e produções musicais à moda antiga, mudam, do “Rap do Parapapá”, em 1994, aos dias de hoje, os meios de produção e distribuição; mudam os bailes; muda o mercado. O proibidão perde prestígio, visibilidade e, sobretudo, consistência estilística”, contextualiza Palombini.

Rebelde e contra-hegemônico por definição, o proibidão tem discurso eminentemente político. Se em 2010 os MCs cantaram o enfrentamento direto da favela com agentes oficiais do Estado (representado pelo BOPE, exército, PM e políticos), em 2019 o proibidão reflete a complexificação dos problemas de segurança pública e da guerra às drogas no Rio de Janeiro frente à expansão das milícias — que passaram a disputar o tráfico e o domínio territorial de favelas ao lado das facções.

Quase dez anos depois das invasões do Alemão e Vila Cruzeiro, o proibidão está conquistando destaque novamente. Preso no último sábado (28) por apologia ao crime e associação ao tráfico, o MC Poze do Rodo estourou na internet em outubro de 2018 com “Homenagem Para os Irmãos do Rodo”, música que exalta a memória dos que “morreu metendo bala pelo Comando Vermelho” e que “na favela do Rodo fez o seu papel”. Hoje o som bate oito milhões de visualizações no YouTube. Ex-traficante, Poze passou a cantar a partir do sucesso inesperado dessa música, construindo uma carreira. Atualmente canta não só no Rio, mas também em cidades como Minas Gerais e Natal. “Comecei [a cantar] recente. Era da vida errada, aí perdi uns amigos e fiz essa música de homenagem e bombou. Então tô há um ano rodando o Brasil todo como MC”, revelou em entrevista ao KMT Funk. Desde então, ele vem acumulando hits e colocou o proibidão novamente em alta. Só a sua apresentação na Roda de Funk ultrapassou os 3,5 milhões de views, tornando-se o vídeo mais visto do canal, referência do funk na favela.

O sucesso de Poze impressiona, mas não é um fenômeno isolado. Ele está na ponta de um ressurgimento do proibidão, que se atualiza e volta a tomar vitalidade com artistas de uma nova geração, como o trapper Meno Tody, o MC Pele Johnson, o MC PQD e o MC Urubuzinho. Espécie de “Poesia Acústica” do proibidão, o Proibiza consolidou este movimento ao reunir os novos talentos Poze e PQD com os veteranos do subgênero Vitinho, Orelha e Juninho da 10.

Cria de uma comunidade historicamente dominada pelo Comando Vermelho que foi dominada pelas milícias (a favela do Rodo, no bairro de Santa Cruz), Poze é o MC que mais ataca milicianos em suas letras, como “Ai Nosso Fuzil Tá Demais e os Milícia Sai Correndo”, “Avisa Que a Tropa é Comando Vermelho” e “Elenco do Batô”. Nesta última, ele desafia explicitamente: “Nós tem AK, meiota e G3/ Milícia, se brotar, nóis vai matar vocês”. Filiado ao Terceiro Comando Puro, o MC Urubuzinho é o “rival” de Poze, mas suas músicas também retratam as milícias como um dos principais inimigos.

Outros artistas, embora não toquem explicitamente no tema das milícias, expõem aquilo que artistas e militantes das favelas como MV Bill, Celso Athaíde, Praga e José Junior (do AfroReggae) chamam de “narcocultura”. Isto é, como o comércio de drogas ilícitas atua como elemento da identidade social das favelas, especialmente da juventude — independentemente da participação ou não no tráfico. Classificando-se como “trapstar do CV” na música “Bailão”, com 7 milhões de views, Meno Tody fala sobre a rotina de um trabalhador do tráfico, entre plantões, armas, rivalidades com facções, preconceitos, a necessidade de sustentar a família, as táticas de sobrevivência no cotidiano violento, a sensação de poder e, enfim, a esperança de que “a música me tira disso ainda” e realizará o sonho de “mudar de vida”. Já o MC Pelé Johnson evidencia a escalada da violência na linha de frente na guerra ao tráfico em letras como “Joguei Granada”, uma versão de “Cansei de Farra”, do Dilsinho. Tudo isso toma um outro contexto diante da relação incestuosa entre o Estado e o poder paramilitar das milícias, que vem aumentando seu poder bélico e influência política nos últimos anos.

O CRESCIMENTO DAS MILÍCIAS

Em 2009, o cenário de segurança pública do Rio de Janeiro registrava uma inversão. Naquele ano, as milícias passavam a ocupar mais favelas do que o Comando Vermelho, a maior facção da cidade. Dados levantados pelo Núcleo de Pesquisa das Violências da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) mostravam que quadrilhas de policiais, bombeiros e militares controlavam 400 áreas no Rio, contra 393 do Comando Vermelho — apenas 27 das comunidades da cidade (2,8%) estavam livres do poder de traficantes ou milicianos. Nessa disputa por territórios, o mais atingido pelas milícias foi o Comando Vermelho, que viu seu domínio de metade das favelas do Rio cair para 40,8%.

O governo, no entanto, ignorava o crescimento das milícias. Das 13 Unidades de Polícia Pacificadora instaladas até dezembro de 2010, apenas uma estava em área de influência de milicianos. A maior parte fora instalada em áreas do CV, que já havia perdido territórios para a expansão das milícias. Questionada sobre essa disparidade, a cúpula da Secretaria Pública avaliou que o combate às milícias não dependia das UPPs, bastando apenas investigar e prender os líderes dos grupos paramilitares para enfraquecê-los. “Essas pessoas têm endereço, família, responsabilidade familiar. Com investigação, liberando a polícia dessa guerra do tráfico, a gente controla as milícias talvez sem a necessidade de ocupação física da polícia”, afirmou o superintendente de Planejamento Operacional da secretaria, Roberto Alzir, à Folha de S. Paulo.

A secretaria parece ter esquecido que o tráfico de drogas é um mercado e, como em todo mercado, existem concorrentes. Se o Estado atacava com muito mais agressividade uma firma específica do varejo de substâncias ilícitas (o Comando Vermelho), era presumível que outras firmas concorrentes iriam se beneficiar. Em um texto profético publicado em 2011, a socióloga Vera Malaguti Batista, especialista em criminologia e política criminal, questionava: “Se as UPPs não vão acabar com o tráfico de drogas, quem vai dominar a venda de drogas no Rio de Janeiro?”. A resposta está bem clara hoje: as milícias. “Se a milícia já tinha algumas atividades como venda de gás, gato net, transporte alternativo, por que as pessoas achavam que a polícia não ia entrar para o tráfico? É óbvio que a milícia ia acabar disputando com o tráfico e é o que está acontecendo, com algumas resistências de algumas firmas ou outras”, explica a antropóloga.

No dia 14 de maio de 2008, um repórter, um fotógrafo e um motorista do jornal O Dia que realizavam uma reportagem sobre o tema foram torturados por 7h30 em Realengo. Em resposta, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro instalou uma Comissão Parlamentar de Inquérito com objetivo de investigar a ação de milícias no estado. Presidida por Marcelo Freixo (PSOL), a “CPI das Milícias” indiciou mais de 200 pessoas e levou à prisão do deputado estadual Natalino Guimarães e do vereador Jerominho, acusados de chefiar o clã paramilitar então conhecido como Liga da Justiça. A CPI mostrou as conexões da milícia com a esfera política, mas até então não havia nenhuma menção ao tráfico de drogas. Anos depois, milicianos entraram no mercado, aproveitando o enfraquecimento do Comando Vermelho e estabelecendo aliança com outras facções — ou firmas do varejo de drogas, para usar um termo técnico.


Assista ao nosso documentário sobre o Funk 150BPM:



“Desde 2012 nós identificamos que a milícia estava se associando, na verdade tomando o tráfico de uma facção chamada Terceiro Comando Puro (TCP), que é inimiga do Comando Vermelho. Tivemos a apreensão de um carregamento de skunk prensado em que no invólucro estava o símbolo do TCP e o símbolo do Batman, que é o que caracterizava a milícia de Santa Cruz, então chamada de Liga da Justiça. O TCP tinha interesse em ter proteção da milícia contra o CV e, por outro lado, a milícia ganha muito dinheiro com venda de drogas”, diz Luiz Antônio Ayres, promotor de justiça do Ministério Público do Rio.

Por crença sincera ou má fé, políticos cariocas divulgaram a ideia de que as milícias eram um tipo de combate ao tráfico. Ou pelo menos um problema menor. Cesar Maia dizia que o tráfico havia transformado os morros da cidade em praça de guerra ao ponto em que os policiais não podiam mais morar lá dentro. Esses policiais ameaçados de despejo é que, segundo o prefeito, originaram as milícias. Em 2006, no seu terceiro mandato como prefeito, ele afirmou: “As autodefesas comunitárias são um problema menor, muito menor do que o tráfico”. No mesmo ano, o prefeito Eduardo Paes, candidato a governador, elogiou as ações da milícia de Jacarepaguá, dizendo que elas recuperaram “a soberania nacional” em certos territórios.

Acontece que milícias agravaram a crise de segurança pública do Rio de Janeiro. “As milícias têm a característica de um câncer”, define o promotor Luiz Antônio Ayres. “Um câncer são células do organismo que se rebelam e começam a atacar o próprio organismo. A milícia tem esse caráter. Policiais, agentes de segurança pública de dentro do próprio Estado começam a agir de forma dissonante de suas funções por conta própria e começam a atacar o próprio Estado e a própria sociedade. Em paralelo, eles têm uma característica viral: a capacidade de adaptação aos mecanismos de repressão, ao território, às circunstâncias. Isso torna as milícias um problema muito difícil de ser combatido”. A milícia de Santa Cruz, por exemplo, passou a enterrar corpos no cemitério oficial da cidade em vez de cemitérios clandestinos. “No cemitério clandestino, vamos com a escavadeira, abrimos e encontramos os corpos. No cemitério oficial, não dá para fazer isso. Não posso pedir um mandado de exumação coletivo. É muito mais evoluído que o cemitério do tráfico”, afirma.

A relação entre milícia e Estado transparece no levantamento do UOL que mostra que polícias do Rio mataram 881 pessoas no primeiro semestre deste ano — nenhuma delas em área de milícia, todas em zonas do tráfico e a maioria do Comando Vermelho. “É um indicativo de que a milícia conta com apoio de setores corruptos dentro da polícia, não há nenhuma dúvida. Isso quando não são policiais que estão nesse nível superior da milícia, nesse andar de cima que nós não sabemos ainda”, analisa Ayres. Já para Vera Malaguti Batista, a estatística revela “uma conivência entre as áreas de milícia e a gestão da área de segurança pública no Rio de Janeiro. “Mesmo que alguns personagens possam não ter se dado conta (não estou querendo sugerir nenhuma teoria da conspiração), a prática é essa mesmo: favorecer a ocupação e sempre focando no CV. O discurso é de que o CV é mais violento, mas as outras firmas têm uma relação maior com as milícias ou mesmo com a polícia oficial”.

RODO, ANTARES E CIDADE DE DEUS: GUERRA CONTRA O CV

O bairro de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, virou palco de um dos maiores conflitos entre a milícia e o Comando Vermelho. É lá que estão as favelas do Rola (que foi rebatizada por traficantes como Rodo) e do Antares, historicamente dominadas pelo CV e que recentemente foram tomadas pela milícia conhecida como Bonde do Ecko, antiga Liga da Justiça, que fora investigada na CPI de 2008. “A milícia invadiu a área de Santa Cruz em 2006 e conseguiu o domínio total de todas comunidades em outubro de 2018, logo após o primeiro turno da eleição”, diz Luiz Antonio Ayres.

O promotor do Ministério Público trabalhou durante 20 anos na Zona Oeste e explica que o bairro é um território importante em dois aspectos. O primeiro é simbólico. “Dominar Santa Cruz, especialmente Antares e Rola, era uma questão de honra. Tem um fator psicológico envolvido nisso. Aquela área não recebeu UPP e sempre foi muito forte do Comando Vermelho. Tomar essa região mostra o poderio bélico da milícia”, aponta. O outro aspecto que determina a importância de Santa Cruz é econômico e estratégico. “Ali é próximo do Porto de Itaguaí, é próximo da rodovia Rio-Santos, que liga o Rio de Janeiro, pela Costa Verde e Angra, até Santos. Ali é uma via fácil de escoamento de recebimento de drogas e de armas, sempre foi para o CV. Então dominar a extrema Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro dá acesso aos milicianos a esses dois pontos de escoamento e de recebimento de drogas e armas”, explica Ayres, que estima que a milícia de Santa Cruz fatura em média R$ 250 milhões por ano em suas atividades ilícitas — embora ele ressalta que este número seja difícil de calcular com precisão.

Em agosto, foi instaurada uma crise entre o poder executivo de Jair Bolsonaro e a Receita Federal no Porto de Itaguaí. O presidente criticou o órgão, dizendo que ele teria promovido uma “devassa” contra sua família. Poucos dias depois, o delegado da Receita no Porto, José Alex Nóbrega de Oliveira, disse a colegas que estava com o cargo ameaçado por “forças externas que não coadunam com os objetivos de fiscalização”. Oliveira comandava uma espécie de força-tarefa para reprimir o contrabando no porto, que é cercado pela milícia. Desde 2018, foram apreendidos mais de R$ 1 bilhão em mercadorias irregulares. Secretários ameaçaram entregar seus cargos caso o delegado fosse exonerado, mas ele ficou e o motim foi colocado de lado.

A tomada das favelas do Rodo e Antares pelas milícias teve trama cinematográfica. Segundo relatos de policiais, o pivô da guerra foi Sonic, um chefe do tráfico de drogas do Comando Vermelho na região que mudou de lado, passando a integrar a milícia conhecida como Bonde do Ecko. Sonic teria fugido do Rodo levando armas (incluindo fuzis) e dinheiro vivo, escondendo-se nas comunidades vizinhas Cesarão e Aço sob segurança de milicianos. Postado no YouTube em 30 de julho de 2018, o funk “Recado do Rodo pro Sonic” narra que Sonic levou cinco fuzis e dez pistolas glocks. A música ainda promete “picotar” o X9 e avisa: “Nós te pega qualquer dia”.

“O Comando Vermelho se sentiu absolutamente derrotado, amedrontado, enfraquecido quando a milícia tomou aquele território todo. Hoje não está mais havendo disputa, o que está havendo é o CV tentando manter seu território e a milícia tentando invadir o território do CV”, destaca Ayres. De acordo com reportagem do jornal O Globo, as milícias estão presentes em 14 cidades do estado do RJ e estabelecidas em 26 bairros da capital. Somente no município do Rio, acredita-se que cerca de 2,2 milhões de pessoas estão sob o jugo de milicianos, direta ou indiretamente.

E não deve parar por aí. Atualmente, a milícia tenta fechar um “cinturão” de domínio na Zona Oeste para efetivar um projeto de expansão para outras áreas da cidade, em particular a Zona Norte. Desde fevereiro, moradores da Cidade de Deus — outra área forte do CV na Zona Oeste, que desde o ano passado não possui mais UPP — relataram tentativas de invasão por parte dos milicianos. No dia 12 de setembro, foi registrada uma fuga em massa de traficantes na comunidade e especialistas afirmaram ao jornal O Globo que a milícia está “substituindo os traficantes no local”. Em setembro, invasões policiais na comunidade tornaram-se frequentes. O Batalhão de Operações Especiais (BOPE) chegou a derrubar barracos de moradores com o caveirão. Em páginas ligadas ao Comando Vermelho nas rede sociais, comenta-se que as operações sucessivas são formas da milícia se instalar no local.

PROIBIDÃO E NARCOCULTURA

Cria do Rodo, o MC Poze deixou sua comunidade quando ela foi invadida pela milícia. Agora, vive na Cidade de Deus, que está na mira dos milicianos. Em suas letras, Poze retrata a milícia como o principal inimigo e a favela do Rodo como um território a ser retomado por direito — quase como as autoridades palestinas reivindicam Jerusalém Oriental. “Na CDD só tem bandido faixa-preta, tentaram vir pegar o homem e a bala voou/ Nós é Comando Vermelhão de natureza/ A meta é voltar pro Rodo e voltar pro Batô”, ele canta em “Na CDD Só Tem Bandido Faixa Preta”, como se estivesse falando de si próprio.

Além dessa, músicas como “Nosso Fuzil Tá Demais e os Milícia Sai Correndo” deixaram Poze conhecido também entre policiais e milicianos. Há dois meses, ele foi enquadrado pela polícia na saída de um show no baile do Manguinhos. Perdeu suas dedeiras de ouro, R$ 10 mil reais em dinheiro e foi obrigado a gravar um vídeo cantando em homenagem a um miliciano. A mesma coisa aconteceu com Urubuzinho, MC do Terceiro Comando Puro, rival de Poze. Mas continuar cantando sobre o Comando Vermelho (ou TCP) e sobre o lado certo da vida errada parece “uma questão de honra”, como o próprio Poze canta em “Nós Vai Voltar Pra Casa”. O CV perde territórios para as milícias, mas ainda possui uma força simbólica que perdura mesmo entre aqueles que não estão diretamente envolvidos nas atividades da firma.

“O legado mais importante do CV é um conjunto de símbolos, discursos e táticas que o grupo produziu”, observa o antropólogo norte-americano Ben Penglase, que morou em favelas do Rio e estudou como as firmas do tráfico carioca e violência policial moldam a sociedade brasileira. “O uso pelo CV de uma retórica de orgulho da comunidade local, de ‘defesa’ das favelas contra ataques de pessoas de fora e de enfrentamento aos abusos de autoridade tem sido crucial para a construção da autoridade do grupo”, defende o pesquisador no artigo “Comando Vermelho e o nascimento da narcocultura no Rio de Janeiro”.

Alguns artistas buscam se afastar dessa vertente, seja para alcançar públicos maiores, para evitar problemas com a polícia e/ou milícias ou por vontade artística mesmo. É o caso do Meno Tody, que depois de explodir com os clipes de “Bailão” e “Trapstar” — onde aparece com armas e drogas (fictícias) e rimando sobre a guerra e o dia a dia na boca — quer explorar outros assuntos em seu álbum que está por vir, como se nota no single “Ai Droga”. No caso de Tody, essa transição é facilitada pela aceitação social relativamente maior do rap. Outros MCs, de funk, com foco no público dos bailes de favela, radicalizam a ideia de combate e resistência. O MC PQD, do Complexo da Penha, em sua nova música, faz um desafio: “Desce do blindado pra fazer o mano a mano”. Já o MC Pelé Johnson, do Complexo PPG, ostenta o poder bélico: “Desde os 15 anos eu tô na boca, temos ponto 30, tem muita granada/ Avisa que nóis não tá de palhaçada”.

O compositor Praga é autor de clássicos do proibidão, entre eles “Vida Bandida” do MC Smith, e também escreveu “Nóis Vai Voltar Pra Casa” do MC Poze. Para ele, o proibidão — dos veteranos e da nova geração — é símbolo do que classifica como uma “narcocultura”, termo que extraiu do documentário “Narco Cultura”. “É uma forma de denunciar que a cultura do funk consciente ou proibidão é estigmatizada e ligada ao narcotráfico, pois é seu único lugar de fala possível. Na verdade, ele traz luz a um ponto de vista que é ignorado nos desdobramentos da guerra às drogas (que na minha visão é mais uma guerra aos pobres) e até mesmo na própria guerra das drogas entre as facções. São as únicas testemunhas oculares, reféns entre miras que se confrontam e disparam projéteis capazes de varar centenas de metros, entre barracos com menos de um metro nos espaços entre uns e outros, alguns até colados parede com parede. Portanto, somente quem vive nesses territórios de exceção têm a real noção desse sentimento”, explica Praga.

No cenário atual, esse quadro de violência se intensificou não só pela expansão das milícias, mas também pela brutalização das políticas públicas de segurança dos governos de Jair Bolsonaro (PSL) e Wilson Witzel (PSC). Segundo dados do Instituto de Segurança Pública, 1.245 civis foram mortos no Rio de Janeiro em decorrência de operações policiais apenas neste ano. Em nota, o Ministério Público Federal, através da Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional, afirmou que uma política de segurança pública com esses resultados “não pode ser considerada como eficiente e compatível com o Estado Democrático de Direito”.

“O presidente e o governador têm um discurso de nenhum limite à atuação das polícias. Tanto que a proposta que chega ao congresso no pacote anticrime, com excludente de ilicitude, está favorecendo e incentivando as mortes. Em qualquer local do mundo, você tem um manual da polícia. É uma coisa universal. A gente está vivendo uma barbárie”, comenta a professora Vera Malaguti Batista. Ela indica que a situação é ainda pior nas áreas pobres. “Você vê que quando tem um massacre numa favela a única discussão é se o pobre é inocente ou culpado. Mas questionar a política de matança como uma política de polícia, ninguém questiona”.

Praga também acredita que a situação está pior com ascensão de governantes conservadores. “Eles apostam na bala como única saída pra tudo e assinam um cheque em branco para a polícia preencher com quanto sangue quiser. Os resultados? Catastróficos. As comunidades estão inabitáveis, a arbitrariedade das polícias e do governo ultrapassam limites antes impensáveis. Witzel age como se não houvesse outras pautas a serem discutidas num estado tão complexo e problemático como o nosso. Não há nenhum abalo sísmico nas estruturas financeiras, mercadológicas ou de logística no mercado atacadista de drogas, que com toda a certeza não é operado por pessoas pobres e ignorantes. Lembrando do helicoca do deputado Gustavo Perrella, do carro que transportava dezenas de quilos de maconha do filho da desembargadora e por último o piloto da FAB que integrava a comitiva do presidente e foi descoberto transportando drogas nos aviões. Vejo apenas uma caça às bruxas no varejo das drogas, com snipers abatendo bandidos descalços, helicópteros jogando granadas próximo a prédios residenciais e escolas nas favelas e patrulhas do exército confundindo carros de família com de bandidos, e rechaçando sem pena com 80 tiros”, critica.

Para o compositor, esse ressurgimento do proibidão “vem da necessidade de expressar o que vem acontecendo no estado, dada a falência do Estado como um todo”. A explícita perseguição às comunidades carentes, incluindo a crescente mortalidade de crianças e adolescentes pegos no meio do conflito, e o governador sugerindo jogar um míssil nas favelas. Praga encerra a entrevista com um recado: “À toda a população carente do Brasil e das favelas cariocas que votou no Bozo e no ex-juiz: bem-vindos ao inferno governado pelos demônios que vocês elegeram”.

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Justiça manda soltar MC Poze do Rodo, confirma advogado

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Essa matéria foi atualizada à 15:32 do dia 4 de outubro de 2019.

Após ser preso no fim de semana em Sorriso (MT) e transferido para uma penitenciária de Cuiabá, o funkeiro carioca Marlon Brendo Coelho Couto Silva de 20 anos, conhecido como MC Poze do Rodo será liberado para responder as acusações de apologia ao crime, corrupção de menores e tráfico de drogas em liberdade, após ser detido em uma batida da Polícia Militar em um show onde foi contratado para se apresentar. Segundo seu advogado, José Estevam Macedo Lima, a juíza da 1ª Vara Criminal da Comarca de Sorriso aceitou o pedido de liberdade provisória.

MC Poze é conhecido pelos seus hits de funk proibidão e sua prisão gerou críticas sobre a atuação da Polícia Militar e a criminalização do funk. Segundo a PM, o show foi organizado por uma facção criminosa e por isso o MC estaria envolvido com ela ao ser contratado para cantar. Na segunda-feira (30), a prisão em flagrante do MC foi convertida em preventiva, cujo prazo máximo previsto pela lei é de 180 dias e pode ser aplicada quando o acusado representa um risco de fugir ou é um perigo para a sociedade.

"A juíza do caso entendeu que no pedido não estavam presentes os requisitos para aplicar a prisão preventiva," explica Lima. Agora, conta o advogado, resta aguardar o trâmite para o cumprimento do alvará de soltura. Assim, o funkeiro poderá responder o processo em liberdade. "Ele vai manter o juízo informado sobre a atividade laborativa dele. Ele precisa cuidar da filha recém-nascida e tem que continuar fazendo a atividade dele, mantendo o juízo informado do endereço dele para ser notificado a comparecer aos atos processuais."

Para o advogado de defesa de Poze, há uma clara tentativa de criminalizar o estilo de música. "Ele é um MC que foi contratado para se apresentar em um show. Ele não tem qualquer
ligação com a organização do evento, não é organizador do evento, então não resta outra hipótese a não ser a tentativa de criminalização do movimento funk," diz.

ATUALIZAÇÃO: Após a publicação dessa reportagem, MC Poze foi liberado do presídio na tarde de sexta-feira (4). Fotos do artista almoçando foram publicadas nessa tarde.


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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #136

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Fala turma.

Bem vindEs à primeira coluna de outubro, que também vem a ser a coluna de aniversário de três anos de coluna. Então primeiramente parabéns pra mim. Nada disso seria possível se não fosse eu.

Basicamente era só isso que eu tinha pra dizer. Dado os parabéns vamo pros lançamentos. Vamo vamo vamo.

Vamo.

----AS MELHORES QUE TEVE NA SEMANA----

Danny Brown - uknowwhatimsayin¿
Gostei. Não sei se esperava MAIS, talvez esperava mais mesmo, mas o que veio tá bom. Melodias de ficar batendo o pézinho e balançando a cabeça, e faixas curtas o suficiente pra não ter risco de enjoar. As mais jazzinho foram as minhas preferidas. Num teve nenhuma grande empolgação ouvindo, mas enfim, é boa e tals. Joia.

Wilco - Ode to Joy
Essa semana tinha aparecido no meu twitter algum site gringo falando que é o melhor disco do Wilco. Então primeiramente vamo segurar essa empolgação aí. É bom, é o já característico gênero musical folk-do-Tweedy, melodias muito da bonitinhas, e obviamente curti mais as mais empolgadonas pra frentão (“Hold Me Anyway”, “Everyone Hides”, essas onda). Dito isso, tá tudo dito já.

Angel Olsen - All Mirrors
Só não bato o martelo em ser baita disco porque sexta-feira eu num tô na onda das lentinha, quero batidão, dedinho pro alto, DJ metendo o phaser pra preparar a subida, essas farofagem. Então pro momento faltou a empolgação que eu necessito para o último gás antes do fim de semana (dale dale dale Ô). Porém músicas muito boas, indo do indie-folk-lembrou-a-Lana pro indie-eletrônico-lembrou-a-Lana. E aí cês realmente me desculpa, mas o disco da Lana Del Rey ainda tá muito recente na cabeça e não consegui fazer a dissociação. Lembrou demais em vários momentos. O que tá longe de ser um problema, mas rolou mesmo. Eu acho que tem potencial pra crescer no meu gosto ao longo do tempo, principalmente a segunda metade, que é onde eu acho que tá as melhores. Fica nas top mais como voto de confiança.

----AS OUTRAS BOAS QUE TEVE NA SEMANA----

Kero Kero Bonito - Civilisation I
É o Kero Kero Bonito “das antiga”. Pop eletrônico com um negocinho lá de anos 80 e 90 no meio. Gosto, mas depois que apresentaram o Kero Kero Bonito guitar no ano passado, agora eu prefiro mais quando é banda. Mas, de todo modo, tá aí um EP de 3 faixas bem bonitinhas. Boa.

Terror Jr - “9 2 5”
Popzinho meio que chillwave-arrumadinho que no fim das contas gostei bem de ouvir. Tem nada de novidade, é só batida e timbre que já ouço faz anos, mas enfim apesar disso tá tudo maneiro.

----R U I M----

Camila Cabello - “Cry for Me”
Popzinho latino que tanto faz como tanto fez. Podia muito bem tar naqueles discos pop do Santana, que é praticamente a mesma coisa com umas batida mais atual só. Bem mais ou menos essa.

The Black Eyed Peas & Anitta - “eXplosion”
CHATA PRA CARAAAAAAAAAAAIIIIIIIOOOOOOOOOOOO. Ow, pelo amor. Durou quanto tempo o “nóis voltou a ser rap” do BEP? 4 meses? Pop latino fraco, sem criatividade, DESANIMADO, como que faz um pop dançante com todos os vocais desanimados? Mas é tipo TODOS. Até o coral de “oooooooo” parece que não tava afim de estar no estúdio no dia. Ow, esse aí foi revoltante de ouvir.

Larissa Manoela - Além do Tempo
Obviamente a intenção era ser um disco pop infanto-juvenil, porém o som mesmo tá mais pra um disco gospel, mas com letras de amorzinho muito bobilda, mas um bobildo aceitável. Mas tá total som de disco gospel pra jovem. Várias com base violão-piano e batida eletrônica, uma ou outra EDM que não rolou, outra mais pro sertanejo, enfim no geral bem fraquinha, mas sigo na torcida pra rolar em algum momento.

Nick Cave & The Bad Seeds - Ghosteen
Foi desesperador de ouvir. Talvez fosse a intenção do Nick Cave. Se foi, então deu certo, porque desde a primeira faixa eu já tava “meu Deus do céu acaba logo isso aí”, e foi assim até a faixa 8 (de 11 faixas). Mas pra falar a verdade mesmo nunca foi minha onda o Nick não. Aí é mais pros goticão aí que tão na sintonia. Pra mim foi só várias lentaça muito mala.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #137

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Fala tu.

Vamo bem? Tamo conseguindo chegar no fim do ano e no 13º salário. Falta pouco, vamo acreditar. Minha cabeça, sinceramente, tá só focada nisso agora. Em acabar logo essa porra. Fé.

Lançamentos. Lançamentos OK, nenhum realmente WOW QUE FODA, mas também num passei raiva nessa semana. Então pra mim fica tudo certo. Segue aí o indicativo de sons para sua sexta (ou para o dia que você estiver lendo isso, caso não seja uma sexta).

----AS MELHORES QUE TEVE----

Big Thief - Two Hands
Alt-folk muito bem feitinho, com um vocal feminino que me lembrou muito algum outro vocal. Nossa, lembrou demais. Só faltou eu lembrar qual vocal que é, tava aqui ó, na ponta da língua. Mas num consegui lembrar o nome, tô com a Siouxsie Sioux na cabeça, que tem meio a ver, mas não é exaaaatamente ela. Aquele vocal que conscientemente dá umas desafinada de leve pra dar o toque de emoção que o folkzinho exige. É legalzinho, de grandes destaques mesmo acho que é só o vocal, mas pra quem curte um violão bem tocado, um som mais na moral, aí tá tudo certo.

FKA twigs - “home with you”
É uma música voz-piano bem boa, bem LANA, mas que soa uma boa faixa de abertura de disco. Mas ela isolada assim, ficou faltando um complemento, um plus a mais. O que é bom pra um disco, ficou uma expectativa aí.

Miranda Lambert - “Tequila Does”
Num tava gostando muito dos singles que estava vindo, mas esse aí sim tá um country-pop coisa fina. Esquemão tradicional corda de aço e slide na guitarra. Vocal top. Tá tudo show.

----OUTRAS BOAS QUE TEVE NA SEMANA AÍ----

Drik Barbosa - Drik Barbosa
Disco pop, bom, mas que tá bem na beiradinha de ir pra MPB “Nova Brasil”. Os ritmos variam do rap, trap, funk, R&B, mas naquele esquema muito produzidinho limpinho, pra rádio FM que OK, faz sentido ser assim, mas já me interessa menos. O vocal é muito bom e encaixa bem nesses estilos que tem aí no disco. Mas, produção muito limpinha pra mim. Mas enfim, bom.

Kim Gordon - No Home Record
É doidera. A maioria das faixas tem uma produção indo em alguma vertente da música eletrônica, mas aí dá um acabamento mais “experimental” pois artista e vamo respeitar. Então tem uma indo mais pro house doidera, outra no minimalismo doidera, a primeira faixa total Arca (mas aí não doidera suficiente pra ser do Arca). É no mínimo um disco interessante, que tem quase nada com Sonic Youth (tirando “Air BnB” que é SY demais demais). Achei bom.

Jónsi & Alex Somers - Lost & Found
Infelizmente é um disco do Jónsi sem a voz do Jónsi. Aí sobra só o som ambient lentinho, bonitinho e tal, mas que pra mim morreu a magia desde que começaram a postar versões “300x mais lentas” de músicas no YouTube, que aí qualquer uma do Fundo de Quintal vira ambient também se você botar o pitch lá embaixo. Enfim, a nível de ambient é um bom disco, mas aí tem isso aí que eu falei sobre o gênero ambient em si.

CNCO - Que Quiénes Somos
Pop latino que ficou alta qualidade. É aquela batida reggaeton de sempre que cê tá ligado, mas tá tudo muito bem feitinho, produção maneira e também é curtinho, 22 minutos, aí nem cansou. Pode ser também que como eu evitei reggaeton faz uns bons meses, ouvir isso hoje não incomodou em nada. Boa.

----AS QUE EU NÃO GOSTEI NÃO----

Camila Cabello - “Easy”
Pop EDM lentinho. Cê sabe qual que é, eu posso nem te conhecer mais tenho total certeza que pop EDM lentinho você conhece algumas já. Essa é mais uma. Às vezes meio que cansa esses som aí.

Green Day - “Father of All…”
Um pop-rock segurando na palminha. Pelo amor de Deus, pelo menos fingia um HCzinho aí, rock com palminha num dá não, sinceramente. Fraco, bem fraco.

Rashid - Tão Real (Temp. 2)
EP pop-rap que sei lá, viu. Tá longe de ser ruim, mas também num teve nada que me empolgou. A maioria tá numa produção pop que eu só penso “bom, tem que ver que tem essa demanda de mercado”. Programador de rádio faz a festa com esse EP, mas eu mesmo num curti muito não. A exceção fica com a faixa final, “Um Mundo de Cada Vez”, que tem uma melodia bem bonita. Mas de resto, tudo okzinho.

Humberto Gessinger - Não Vejo a Hora
Infelizmente é um disco que não rolou não. Faixas bem fraquinhas, melodia pop-rockBR que é aquilo lá de sempre mesmo. As acústicas com sanfoninha são as melhores que tem no disco, e mesmo assim são melhores naquelas. Médio médio.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #138

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Fala ae.

Semana até que razoável de lançamentos, acabei deixando passar algumas coisas por falta de tempo, mas também não teve nada MEU DEUS QUE MUSICÃO. Não. Quem sabe semana que vem. Mas o que teve também dá pra fazer uma graça, dá pra atualizar tua playlist 2019 aí, dá pra sextar legal.

Certo? Vamo? Se tiver faltando alguma coisa vocês me avisam depois.

Agora os lançamentos:

----AS MELHORES QUE TEVE NA SEMANA----

Becky G - Mala Santa
Reggaeton e vertentes eu já falei várias vezes o que eu acho, porque foi lançado som assim no Brasil várias vezes nos últimos anos, o que parece que GRAÇAS A DEUS, é uma tendência que tá perdendo força no país (revés: perdendo força pro Trap). Mas os sons da Becky G, sei lá por quê, eu gosto da grande maioria. Vocal top, há certa variação entre as batidinha ragga de faixa pra faixa, então ficaria zero cansativo o disco, não fosse o fato dele durar 52 minutos. Não precisava de taaanta faixa assim, podia dar uma enxugada. Mas de ponto baixo é só esse, é um disco que precisa de duas viagem pra ouvir. De resto, tudo top.

Beck - “Hyperlife” e “Uneventful Days”
As duas faixas dessa produção Beck&Pharrell tá o seguinte. A primeira faixa é linda, mas é uma intro, é um negocinho de 1 minuto e meio só pra dar um climinha. Mas aí com base na primeira, a segunda (“Uneventful Days”) já não é tão legal assim, o que é vacilo. Não digo que é ruim (até porque não foi o que eu disse), mas dá uma puta quebrada depois de ter ouvido o “Hyperlife”. No somatório há boas expectativas pro que vai vir no futuro.

Twice - “Fake & True”
Mó som maneiro e quem torce narizinho pra k-pop tem que tar revendo isso aí. O imenso resumo é esse. Produção pop eletrônico muito da maneirinha, vocal encaixando legal, ritmo dá umas variada, só sucesso.

----AS OUTRAS QUE ATÉ QUE TÃO BOAS TAMBÉM----

Clipping - There Existed an Addiction to Blood
Veja bem. Em resumo é um cara que faz umas rimas que é muito muito rápido o flow, em cima de bases eletrônicas, muita distorção e uns barulhinho, uns chiadinho, essas onda. Meio que Death Grips, mas também num é nenhum Death Grips. É só meio que. O disco em si é até que interessante por esse formato deles aí, mesmo que não tenha nenhuma faixa de maior destaque. Incomoda o exagero dos intervalos só com barulhinho, que os cara devem achar mó conceito, mas na verdade é apenas chato. “La Mala Ordina” tem 1:30 min de chiadeira distorcida, e a faixa final, “Piano Burning”, são DEZOITO MINUTOS de barulhinho de algo queimando. Talvez um piano? Talvez eu não me importe? Questões. Mas essas maletices só prejudica no final. Digo que é mediano, com uns momentos bons.

Pabllo Vittar - “Parabéns”
Agora que os jovens tão nessa de fazer festa de aniversário com decoração temática, bolinho temático, bem de festa de criança, tava faltando uma faixa pro parabéns que não fosse o “Parabéns da Xuxa”. Então tá aí a perspicácia em observar a demanda de mercado e fazer uma faixa pra atender o público alvo.

Conchita Wurst - “Under the Gun”
Europop muito do legalzinho de ouvir, tem um pouquinho assim bem pouquinho do electropop da década passada na produção, e o vocal da Conchita tem um belo #alcance. Meio farofa, mas gosto bem desse tipo de pop. Jóia.

Battles - Juice B Crypts
Talvez você possa imaginar o contrário disso, mas math-rock e cabecudices no geral é um negócio que me empolga beirando a zero. Ouço meio “é, tá aí ó… bacana, bacana… toca muito o batera aí né… legal…”, mas num me dá aquele tchans. Enfim, se esse não for o seu caso aí pode tar agradando mais esse disco. Quando tinha vocal, aí me agradou mais (“...They Played It Twice” e “IZM”), além do final “brincando de Yes 90125”. Só não é pra mim.

----AS QUE NÃO DEU NÃO----

Foals - Part 2 Everything Not Saved Will Be Lost
Ow… Imagine Dragons, hein. Eu num guento mais esses post-rock inglês, mas isso desde a década passada já. Se os discos anteriores eram melhores, aí eu num sei não. Esse aqui tô imaginando muito dragons enquanto ouço. Médio médio.

Caroline Polachek - PANG
Pop-EDM que, sinceramente, não rolou. Boa parte é melodia de baladinha pop de FM, com variações pro lounge de cafeteria ou um 80tinha beem de leve. Num incomoda, mas também num anima, fica no meião de tudo.

Katy Perry - “Harleys In Hawaii”
Putz, fraquinho. Pop fraquinho. Nem tem muito pra falar não, viu. Faixa que tanto faz a existência.

Marilyn Manson - “God’s Gonna Cut You Down”
Uma ideia de fazer um “country sombrio” que no final saiu só uma faixa muito ruim do Kid Rock. Aí cês tira uma noção.

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Uma história oral de 'Black on Both Sides' do Mos Def

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Um ano depois de lançar Mos Def & Talib Kweli are Black Starr, sua estreia com Talib Kweli, um pré-Yasiin Bey Mos Def soltou outro álbum lendário: o disco solo de 1999 Black on Both Sides. Era uma homenagem ao Brooklyn, onde ele nasceu, que de muitas maneiras foi o último grande álbum da era dourada do hip hop, numa época quando o gênero estava começando a se tornar ainda mais comercial. Def focou em criar um retrato cheio de nuances da vida nas ruas, um que o mostrava contemplando seus próprios sonhos de hip hop (“Love”), a vulnerabilidade de ser punido à vista de todos (“Got”), e corrupção do governo e no fornecimento de água (“New World Water”). Black on Both Sides era um ato de reverência ao lar, da perspectiva negra – um que simultaneamente se familiariza com questões de apropriação e as linhas tênues de gênero na música pop, como na faixa tingida de guitarras “Rock n Roll”.

Sobre samples de soul e batidas pesadas cortesia da equipe de produção de Nova York de curadoria de Def, o dinamismo verbal do rapper ainda ressoa 20 anos depois. A VICE falou com alguns dos principais envolvidos em Black on Both Sides – o coprodutor David Kennedy, o engenheiro de som John Wydrycs e os produtores de música Psycho Les e Ge-ology – que contaram a história da criação do disco e refletiram sobre sua influência duradoura.

David Kennedy (Coprodutor): Começamos gravando no Sony Studios, onde fiz The Love Movement [para A Tribe Called Quest]. Pegamos faixas de produtores como Etch-a-Sketch, Ayatollah e Diamond D. Depois, quando passamos para o Chung King Studios [para continuar a gravação], Ge-ology, 88 Keys, Ali Shaheed e Psycho Les começaram a trazer mais coisas. Alguns produtores acabaram não colando nas sessões de gravação, mas mandaram suas batidas e terminamos a produção nós mesmos. Outros, como Etch e Diamond D, estavam lá quase todo dia na primeira metade, aí o Yasiin entrou e começou a criar suas próprias faixas.

John Wydrycs (Engenheiro): Se me lembro corretamente, quando comecei a trabalhar com Mos, teve alguma confusão com as fitas que gravamos porque estava escrito “Black Star” nelas. Acho que ele já tinha escrito músicas que não entraram naquele álbum, que por sua vez ajudaram a acelerar Black on Both Sides. O que ele não disse em Black Star, ele economizou para seu disco solo.

Psycho Les do The Beatnuts (Produtor de “New World Water” e “Rock n Roll”): [Mos] sempre foi fã do The Beatnuts, e a gente também era fã dele. [Em 1999], também estávamos trabalhando no nosso álbum, Musical Massacre. Estávamos trabalhando com Chung King, e ele sempre aparecia só pra ouvir o que a gente estava fazendo. Um dia ele disse “Olha, se vocês têm batidas – bom, é só trazer”.

Ge-ology (Coprodutor de “Brooklyn”): Tinha uma sinergia muito pura em como as coisas se juntaram. A gente convivia em lugares diferentes. [O produtor] Overtime tinha um estúdio pessoal na Clinton Avenue, e todo mundo colava lá: Mos, Mr. Man Khaliyl do Da Bush Babees, Jean Grae quando ela ainda era conhecida como What? What?, Maseo do De La Soul. Muito do que estava acontecendo no Brooklyn na época fervia no O.T. Shawn J. Period morava na esquina da minha casa, e o Mos estava na casa do Shawn o tempo todo. 88-Keys vinha de Long Island – todo mundo era conectado.

Les: Na época não imaginávamos que, 20 anos depois, o disco seria um clássico. Você pode ouvir ele agora, e o Mos Def estava super a frente de seu tempo. Na época, só estávamos zoando, nos divertindo. Ele sempre foi pontual com suas coisas, sempre consciente do que estava rolando no mundo. Ver o Mos Def enlouquecendo com a minha produção foi tipo “Uau”. Mos Def tinha um flow muito louco. O jeito como ele juntava as palavras era incrível.

Kennedy: Tem muito mais coisa na produção que apenas composição. É colocar todos os elementos juntos e fazer funcionar. Como engenheiro num projeto como esse, tem muitas decisões para serem tomadas além de só a engenharia. A gente basicamente derrubava uma faixa a cada dois dias, se não todo dia. Levou quase um ano para terminar o álbum. Gravar e mixar com o Yasiin se mostrou um desafio às vezes, já que nunca é fácil compreender qual é a visão do artista. Você não pode entrar na cabeça dele, então tem que esperar a mágica acontecer.

Wydrycs: Atribuo o som as escolhas que Yasiin fez com Psycho Les e os outros produtores durante a produção – e a mixagem do David [Kennedy]. Sempre que gravava os vocais do Yasiin, eu tentava manter uma consistência com o que eu achava que o David estava usando, e para “Rock n Roll”, gravei a banda com um aspecto punk em mente, cru e enérgico.

[Mos] já tinha gravado o que seria os primeiros dois terços de “Rock n Roll”, e acho que ele queria subir o nível um pouco mais. Entro no estúdio, vejo que eles estão montando a bateria, e ele explica o que ele quer fazer. Como toquei em clubes de rock no meio dos anos 80, me ofereci pra tocar guitarra. Depois de alguns minutos dele tocando a parte que ele queria, fizemos algumas tomadas. A cereja do bolo, claro, é a linha no finalzinho.

Kennedy: [Durante as gravações] Yasiin começou a trazer sua turma de artistas e músicos – como Weldon Irvine, Talib, Vinia Mojica e Will.I.Am – para dar uma mão. Weldon foi uma grande fonte de inspiração e tocou em várias faixas. John [Wydrycs] gravou e mixou quando eu não era necessário. Tínhamos um bom orçamento de gravação, e tinha um fluxo constante de pessoas entrando e saído por várias razões. Alguns vinham comer, só conversar, tocar, e outros vinham trabalhar, mas tudo levava a um fluxo de energias criativas.

Ge-ology: “Brooklyn” originalmente era pra ser um maxi single que a Rawkus [Records] ia lançar. Era pra ser só eu e o Mos. O jeito como gravamos a faixa [originalmente] e como ela entrou no álbum – são duas faixas diferentes, na verdade. A “Brooklyn” original é o Mos cuspindo três versos diferentes com a minha batida. No álbum, ela tem três suítes diferentes. Minha batida é a introdução, mas isso não foi algo que aprovei.

Eu estava na casa do DJ Spinna um dia, e ele recebeu uma cópia adiantada do álbum. Ele disse “Yo, sua faixa é diferente. Eles mudaram algumas coisas”. Então ouvi e fiquei puto [risos]. Mos estava indo pra casa do DJ Spinna naquele dia, então basicamente fiz uma emboscada pra ele. Dante é um amigo meu das antigas, então éramos próximos. Ele podia ter me falado, em vez de eu ter que descobrir desse jeito. No final das contas, ele é um artista; esse era o álbum dele. O que ele queria que acontecesse com as músicas era a prioridade.

Kennedy: Fui uma surpresa pra nós que Yasiin quisessem misturar as três produções diferentes [em “Brooklyn”] numa composição, mas não questiono o gênio. Só segui o Yasiin e fiz as edições. Eu estava usando Pro Tools na época, então era simples colar duas coisas. Acho que o esforço de Ge-ology devia se destacar por si, mas não dependia de nós na verdade.

Ge-ology: Às vezes as pessoas classificam e colocam Mos ou Kweli na categoria “rappers conscientes”, sem entender quem eram essas pessoas e do que elas estavam falando. Muitas vezes as pessoas vão tentar te colocar numa caixa quando não entendem quão diverso você é a amplitude da sua conversa. Eles eram dois tipos diferentes, então as pessoas não estavam realmente entendendo essa conversa – elas podiam não ser tão receptivas pra isso. Em toda arte, você quer ir além e fazer algo diferente, às vezes leva tempo para as pessoas sacarem.

Matéria originalmente publicada na VICE EUA.

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A estranheza de Urias

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“Muito prazer, eu sou o oitavo pecado capital” - como um dos anúncios do apocalipse, vestida com uma roupa de correntes e caminhando com um dobermann na coleira, a cantora Urias se apresenta ao mundo nos primeiros segundos de “Diaba”, clipe do seu EP de estreia. Ao vivo, sentada para nossa primeira entrevista, Urias mantém o estilo e pose poderosa, adornada com garras afiadas, correntes de ouro e uma lente de contato diferente em cada olho, inventando uma heterocromia mas, contrastando com sua imagem, deixa escapar uma voz doce e quase calma. Quando perguntei se é tímida, Urias de imediato avisou que não. “Falo baixo porque tenho medo de ser inconveniente. Quando vejo já tô militando,” disse rindo.

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Fotos por Ênio Cesar/VICE.

Nascida e criada em Uberlândia (MG), Urias tem 25 anos e uma grande experiência com moda, arte e o backstage. Mais nova, arriscou por uma época ser uma drag queen alienígena, com uma cabeça gigante que tinha com a ajuda de uma estrutura e uma boa peruca em cima. No entanto, não era bem isso que queria. “Não me procurem nessa fase,” afirma durante uma entrevista para um canal de Youtube.

A fase drag, como a própria deixa bem claro, ela largou “faz um bom tempo” e mantém essa distância apostando em maquiagens mais neutras e naturais, evidenciando seu rosto angelical. Durante esse período, foi se descobrindo como mulher trans. “Passei pelos problemas que todas as pessoas LGBTQ passaram ao crescer,” conta. “Hoje em dia, olho pra trás e vejo que não cresci como uma gay afeminada, mas sim como uma mulher trans que ainda não tinha se descoberto. E é meio que colocado como natural você ser LGBTQ e sofrer. Por isso, me anestesiava das coisas ruins para não ficar muito triste, mas sempre tive amigos que deram força.”

Foto por Ênio Cesar/VICE.

Fotos por Ênio Cesar/VICE.

Dona de traços delicados, corpo esguio e lábios carnudos, Urias também trabalhou como modelo de passarela, participando de diversos SPFW e desfiles da Casa dos Criadores. Além disso, passou um bom tempo na estrada trabalhando para sua amiga de longa data Pabllo Vittar como assistente pessoal. No meio tempo, viu que a carreira de modelo talvez não fosse um investimento muito grande e começou a gravar covers despretensiosamente.

"O primeiro cover foi da música ‘Meu mundo é o barro’ do grupo O Rappa, foi uma coisa feita sem compromisso e deu certo. Não tinha como produzir uma música minha, não conhecia ninguém nesse meio e não botava muita fé em mim enquanto compositora, além do medo que tinha de passar vergonha,” conta.

Os covers deram certo e Urias começou a atrair muita atenção e curiosidade, até chegar em um ponto em os produtores musicais Rodrigo Gorky e Arthur Gomes, conhecido como Maffalda (que estão por trás de diversos hits pops nacionais, inclusive de Vittar) perguntaram se Urias gostaria de ser abraçada por eles. Foi assim que começou o processo de criação da sua carreira, e uma nova fase para a sua vida.

Foi um longo período para Urias conseguir ter confiança em si mesma e acreditar na sua capacidade como compositora e na sua voz. Um dos maiores desejos da artista mineira era lançar algo estranho, fugindo um pouco do que está sendo feito atualmente no mercado musical. “E muita gente me ajudou, inclusive no próprio clipe de “Diaba”. O Hodari me ajudou muito na letra, foi por causa dele que passei a entender e verdade como é escrever uma composição.”

A história por trás de “Diaba” foi criação de Urias, trabalhada em conjunto com Gorky e Maffalda nos arranjos instrumentais. Segundo Urias, ela imaginou a vinda do Diabo para a Terra, assumindo o corpo de uma mulher trans. No clipe, Urias tem apenas a companhia de suas companheiras de calçada até chegar em um boteco onde sua presença física causa uma comoção interminável. Os homens do bar querem tocá-la, seja para destruir sua figura mignon ou a possuir. “Queria ser a pessoa que causa um pouco de medo nas pessoas, pelo menos uma vez na vida,” explica Urias sobre a história contada no clipe. “O que eu quis dizer é que o corpo trans mexe com o sentimento de desejo, mas também toca num lugar de muita raiva nas pessoas que ainda não entendi.”

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Fotos por Ênio Cesar/VICE.

Há muitos paralelos possíveis de encontrar neste lugar de confusão e raiva que Urias menciona sobre o corpo trans. Um deles aconteceu três anos atrás e a quilômetros de distância de Uberlândia, quando Rosa Luz, artista, rapper e youtuber, documentou a reação de transeuntes quando ousou em exibir seu corpo em público na performance "Barraco da Rosa". Nua da cintura pra cima, Rosa parou em uma escadaria de grande circulação na Rodoviária de Brasília, exposta para mais diversas reações. Há desde o homem que apalpou seus seios e depois a repreendeu, a mulher que passou longos minutos pregando sobre o perigo de ser LGBT perante Deus enquanto outro homem falava que ela é linda até as pessoas que prestavam apoio e a abraçavam. Assim como Urias, Luz expõe o que é existir em um corpo trans na sociedade brasileira.

Após Urias se apresentar como oitavo pecado capital, ela continua no primeiro verso: ''Não consegue ver que da sua família eu sou pilar principal?". Segundo ela, a frase veio após uma conversa com a rapper Linn da Quebrada sobre os pilares escondidos da família brasileira serem o álcool e a travesti.

“Diaba” abre o EP e dá a letra para o ouvinte que Urias gosta de explorar bastante a música eletrônica. Por mais que a club music, especialmente as mais temporais dos anos 90 e 00, sejam ritmos bastante comuns usados por artistas LGBTQ, a voz grossa e agressiva de Urias ao cantar traz uma boa bizarrice para sua estreia. Nas faixas “Rasga” e “Frita”, a cantora lembra uma Mykki Blanco no pico da fritação bate cabelo ou uma Big Freedia (um pouco) mais contida.

A moda segue sendo um elemento forte na sua vida para buscar referências não convencionais. Muito disso veio de Lady Gaga. “Sou uma Little Monster. (risos) Era mais antes, mas depois que a Gaga começou a passar por vários problemas como a fibromialgia, decidi que não cobraria ela tanto assim. Porque o fã espera muito que o artista entregue as coisas, que seja o melhor, que a música tem que ser perfeita, o clipe tem que ter conceito. Isso é uma das coisas que tô passando agora com minha carreira. Acho que não podemos invalidar o artista e temos deixar ele trabalhar,” diz.

Urias pretende agora se dedicar para lançar seu primeiro álbum e fazer shows pelo país. A cantora lança sua carreira numa época importante em que artistas antes ignorados estão remodelando a Música Popular Brasileira e influenciando no que toca nas rádios e nas ruas. Ao longo do nosso papo, Urias citou com carinho artistas como Linn da Quebrada, Liniker, sua amiga Pabllo Vittar e a Mulher Pepita, funkeira carioca. “Nós temos que agradecer por viver na mesma época que a Pepita,” exalta.

“Acho que estamos recebendo um outro tipo de respeito por nosso trabalho. Quanto mais reprimido é essa comunidade artisticamente, tudo fica mais intenso. Sempre foi assim. Quanto mais reprimido, mas forte seremos artisticamente. E nós temos muito o que aprender ainda,” conta.

O EP de estreia da Urias está disponível em todas as plataformas.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #139

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Alô povo brasileiro.

Entrego-lhes a humilde lista de lançamentos da semana, um pouquinho atrasado porque tem que ver também que tem alguns artistas que não respeitam os prazos, e aí complica a vida do crítico musical.

Vamo agilizar então, pra todo mundo poder tar aproveitando a sexta melhor (ou o dia que você estiver lendo isso, ninguém é obrigado a ler só numa sexta). Introdução curta é a onda do futuro.

Beleza? Beleza.

----AS TOPS----

Ariel Pink - Odditties Sodomies Vol. 2
Lo-fi no máximo do lo-fi, as vezes exageradamente lo-fi no nível “eu não acredito que vou ter que aumentar o volume ainda mais pra entender o que tá acontecendo aqui”. Mas fora isso são ótimas músicas que parece demo de banda gotiquera dos anos 80, incluindo uma cover de “The Night Has Opened My Eyes” do Smiths, com um vocal muito de Smiths. Só sucesso. A não ser que você seja desses “audiófilos” que precisa de som muito limpinho, que só baixa FLAC, que se incomoda com som mais abafadinho. Aí pode num curtir tanto. Pra mim tá show.

Rufus Wainwright - “Trouble In Paradise”
Meteu um Todd Rundgren aí que tá bem bonito o som. Sinceramente não acompanho o respectivo senhor pra saber se sempre foi essa a onda dele, mas gostei legal. Melodia vocal com o corinho de fundo bonito demais, guitarrinha entrando só pra dar uma moral na base de piano. Tudo top.

----AS BOAS----

Anna of the North - Dream Girl
Pop muito muito bom. Só som animadinho, altas influências de R&B, produção de qualidade, vocal muito do bonitinho. Tem uma e outra que é muito clichêzona, com grande potencial de ser “pula-faixa” (o bloquinho final é muito pula-faixa). Mas na maioria gostei bem.

Ronaldinho Gaúcho - “O Segredo do Feijão”
Fui pesquisar, e o Ronaldinho anunciou essa música em março, em parceria com o Xande de Pilares e Ederson Melão. Mas enfim, saiu agora só. Baita pagodão, eu sinceramente não consigo notar quando que é o Ronaldinho cantando, porque parece que ele dá uma forçada na voz pra ficar mais grave, mas enfim. Gostei bem.

Selena Gomez - “Look At Her Now” e “Lose You To Love Me”
A primeira tem uma batida latina muito de leve, grudentinha, nada de grandes coisas mas é legal de ouvir esses barulhinho de boca “hum hum hum dabadabadaba”. Montaram legalzinho o som. A segunda é no piano. E aí artista pop no piano cê já se prepara pra vir a farofona na sua cara. Dessa vez veio pouca farofa, mas veio. Num dá pra ficar imune. Mas enfim, passa.

Courtney Barnett - “Keep On”
Rockzera, o famoso “calcado no blues”. Um tanto longa demais para uma rockzera calcada no blues, quando passou lá dos 3:30 eu já tava achando que já tava bom de rockzera calcada no blues, mas ainda tinha 1 minuto de refrão pra rolar. É bom, mas cabia um cortezinho aí, um radio edit.

Projota, Mario Bautista, Orishas - “Qué Pasa”
Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo aqui, mas achei um latin pop bem bem legal. E isso que eu (nós) sou bombardeado com centenas de latin pop toda semana. Tem uma base maneira, batidinha que num inventa muita coisa também, vai só no necessário, tem lá seu groovezinho. Gostei, parabéns para os envolvidos.

----AS NÃO BOAS----

James Blunt - Once Upon A Mind
É exatamente um disco do James Blunt. Aí como você interpreta essa informação aí é com você. Não tem nada “nossa, jamais imaginaria que o James Blunt iria fazer um som assim”, não. É só os sons que óbviamente o James You Are Beautiful iria fazer. Aquela batidinha de violão lá, o vocal homem sensível carregadíssimo em certas faixas, tamanha a sensibilidade, uma e outra com batidinha eletrônica dedinho pro alto, etc. Num é muito a minha não.

Coldplay - “Orphans” e “Arabesque”
Bem sucinto, a primeira faixa é aquele pop rock deles lá, incluindo coralzinho “uhh uhh”, coralzinho no refrão, bem farofa. A segunda faixa dá uma enganada por ser mais longa (5 minutos), então quase não dá pra notar a melodia basicona de tudo, porque tem um solo de sax que dá um tchans na faixa. Mas enfim, melodia basicona de tudo. Tudo mediano.

Mumford & Sons - “Blind Leading The Blind”
É quase um folk metal de banjinho. Eu sinceramente acho esses folk rock meio caído, mas tem lá o seu público né. Eu acho uma estrutura muito da manjada já. Tá bem feito, mas é isso aí que eu falei aí. Acho médio bem médio.

----O KANYE----

Kanye West - Jesus Is King
Então…. Obviamente não é a primeira vez que um disco do Kanye West aparece nessa coluna, então quem já viu antes deve ter percebido que eu não compartilho da mesma empolgação que boa parte da crítica especializadíssima em raps. Inclusive uma grande coincidência eles serem especializadíssimos em rap, enquanto eu só palpito sobre as coisas com base no meu conhecimento rasteiro acerca da música. Importante essa introdução acerca de mim mesmo pois:

Não compartilho da mesma empolgação de boa parte das opiniões que li (no Twitter) sobre esse disco. Não mesmo. Tudo bem que tem uns que emocionou demais, mas aí tá no direito também. Música é pra isso mesmo. Mas putz, li tanta opinião nessa última hora (faz 1h que foi lançado), que nem sei o que que sobrou pra falar.

Mas vamo lá, que eu tô aqui pra isso: é um bom disco, é bom também que é curtinho que aí num tem risco de cansar. A forma que foi organizada as faixas ficou legal também que é tipo louvor-coral-batida-discursinho-batida-um meio que barbershop-etc-etc. Pelo que chegava pra mim do Sunday Service eu tava esperando mais mass choir, mais música gospel, tipo o Bible of Love que o Snoop Dogg fez ano passado, só que com uma produção mais PÁ (o do Snoop num tinha umas batida pá). Logo as mais gospel foram as que eu gostei mais (“Selah”, “God Is”, essas onda). Também merece destaque a participação não-irônica do Kenny G, artista que é consumido ironicamente até pelo próprio Kenny G. Isso aí foi legal também. Disco bom, não tenho a menor vontade de ficar ouvindo mais vezes, aceito minha ignorância musical e é isso aí. Se eu não for cancelado, volto semana que vem.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #140

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E ae hiena.

Chega novembro e um momento muito desolador para o profissional da análise musical — no caso, eu — que é quando começa a pintar as músicas de Natal. Hoje já apareceu do Robbie Williams já. Daí pro mês que vem é quase proporcional o aumento de lançamento temático de fim de ano, com a redução de coisa que interessa mesmo. Já prepara tua listinha de melhores do ano, que chegamo no fim já. Sabe o que tá chegando no fim também? O período da Nova República. Mas aí é trabalho para os jornalistas e outros analistas. Eu aqui é só música só.

E é nesse clima super pra cima que anuncio os lançamentos mais show que teve na semana e vem comigo.

----AS TOP SHOW DA SEMANA----

Dua Lipa - “Don’t Start Now”

Disco-house, quando faz bem feitinho, é só sucesso. Faixa muito boa, dedinho pro alto, animação, força jovem. De novidade na produção ou mesmo sonoridade, num tem nada não. Mas também num tem nenhuma necessidade. E vocal show também. Tudo top.

White Denim - In Pearson

Rockão fudido. Riffs #inspirados, batera #moendo, solos #virtuosos de guitarra e de synth. Os cara fez que saiu bonito. Talvez um pouco mais longo que o necessário para os dias atuais. Tive que fazer uma curta pausa porque era muito rock atrás de outro rock…. Só depois que fui ver que era disco ao vivo, mas pega nada. Só alegria, hoje eu tô mais relax.

Michael Kiwanuka - Kiwanuka

Se fosse explicar pra alguém que não conhece esse cara — por exemplo eu mesmo, é a primeira vez que ouço algo dele — falaria que é tipo Thundercat, só que o baixo é “normal”. Jazz-soul com um pouquinho assim de afrobeat, e o som levemente sujo pra dar um ar mais de disco antigo. Mas num é antigo, lançou essa semana. E o baixo é normal. O vocal me deu muito a impressão de “parece alguém que agora eu num lembro”. De cabeça acho que é o Eagle-Eye Cherry, mas num fui confirmar a suspeita ainda. Mas lembra alguém, num tem uma “personalidade” nesse vocal aí. Mas as músicas todas muito bonitas, som de altos nível. Vai de top.

Dan Deacon - “Sat By A Tree”

Novo do Dan Deacon fazendo lá o pop eletrônico dele lá, divertido, animado, cheio de barulhinho, coralzinho, música de ficar feliz. Fique feliz. Agora.

Miranda Lambert - Wildcard

Depois do maravilhoso de tudo The Weight of These WIngs, de 2016, o novo disco da Miranda é bem menos tradicional e muito mais de country pop. Pelos singles eu não tava botando muita fé não, mas ouvindo hoje tudo juntinho ficou realmente discão show. Obviamente gosto das mais animadas, mais pra frentona, mas as baladinhas também tão bem boas, num tem faixa ruim no disco não. Gosto.

----AS BOA TAMBÉM DA SEMANA TAMBÉM----

Pabllo Vittar - 111 1

EP de 4 faixas em que 2 já haviam sido lançadas e, bom, são boazinhas sim (“Parabéns” e “Flash Pose”). Em alguma coluna aí eu falei delas já. Então vou pras outras duas: “Amor de Que”, forronejo eletrônico bem gostosinho de se ouvir, apesar da música ter cruzado a fronteira da ironia, que é algo problemático, mas que não chegou a tanto aqui. “Ponte Perra”, pop latino com boa produção, uns timbres muito bons, mas que não me interessou tanto assim. Mas juntando as 4 faixas sai um EP razoável. Então, tudo nos conformes. Bonzinho.

Hannah Diamond - “Invisible”

Assim ó, é bom. A Hannah é a mais “pop” dentro do cast da PC Music, de melodia mais fácil, e vocal muito bonitinho mas não lá muito afinado. Se cantasse no Raul Gil o jurado Régis ia ficar puto. Mas eu gosto inclusive por isso. MAS por acompanhar desde o início eu tô achando que passou da época de lançar o primeiro disco, mesmo com a estética AG Cook/PC Music virando cada vez mais mainstream ao longo dos anos. Hoje pra mim soa o mesmo de sempre, mas se você chegou agora no rolê pode soar interessante. Aí já é mais com você e seu interesse por pop eletrônico. Mas que o som tá bom, tá.

Dudu Nobre - “Tão Só”

Pagodão show. Talvez merecesse um pouco mais de ousadia & alegria na produção. Tem um potencial aí que não tá sendo aproveitado com essa produção padrãozona. Mas tá valendo também. Boa bem boa.

La Roux - “International Woman of Leisure”

A impressão que eu tenho aqui é que, ao contrário do senhor Kanye, não houve uma preocupação com a mixagem antes de lançar. Porque o grave tá tão escondidnho que não é possível que tenha sido proposital. Mas aí pode ser onde eu tô ouvindo também. De toda forma isso aí deu uma prejudicada na experiência, porque é um pop maneiro mas faltou o capricho aí na mix.

Haim - “Now I’m In It”

É boazinha, é. Pop bonitinho, vocal desses que tá tendo bastante nos EDM que a gente vê por aí, mas também nada de surpreendente a destacar aqui. É boa, mas empolgar não me empolgou não. Mas é boa.

Earl Sweatshirt - Feet Of Clay

Epzinho aí de 15 minutos divididos em 7 faixas. Aí sei lá, nem deu tempo de ter uma opinião. A produção das faixas é muito boa, a forma que editam os samples, mete efeito, mete mais efeito, o negócio é trabalhado, num é preguiçoso não. Aí já é um ponto a favor. Fica essa grande montagem de faixas de menos de 2 minutos que ok legal o som, mas não me despertou grandes coisas não. Mas enfim, é bom o EP aí.

Tindersticks - “Pinky in the Daylight”

Uma bonita baladinha, com orquestração, bandolim rolando de fundo, parece trilha de filme romântico. Talvez seja, não sei. Mas é boa, de toda forma.

----A DO EMICIDA QUE EU GOSTEI DE ALGUMAS SÓ MAS FAZ PARTE----

Emicida - AmarElo

Ó… num gostei muito não. Mas vamo lá com calma. A primeira faixa é MUITO boa. De juntar o rap com soul, R&B, música brasileira, e encaixa tudo perfeito num porradão que botou a expectativa lá no teto. Mas aí num teve outra faixa como “Principia”. O que veio a seguir foi esses rap no violãozinho com dueto feminino, outra mais MPB, e “Paisagem” que é um pop rockinho que simplesmente não dá. Daí pra mim só foi recuperar o interesse mesmo nas últimas faixas, mas essas já tinham saído como single antes. A intenção parece de ser um disco pra ficar mais de boa suavão mesmo, aí tem criança rindo, tem o cara lá do standup pose de quebrada contando historinha, num tem as braba. Eu prefiro as braba, Nova MPB acho meio farofa, mas tá tudo ok. Tirando “Paisagem”, que essa não dá mesmo.

Finalmente saiu o remix do Drake pro funk 150 BPM "Ela é do tipo" do Kevin O Chris

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Depois do Drake encher o saco de quase metade do Brasil por causa da sua apresentação no Rock in Rio 2019 e de seus caprichos, o rapper mais softboy finalmente lançou seu remix oficial de "Ela é do tipo" do Kevin O Chris.

A música "Ela é do tipo" é um dos sons mais importantes para entender o estouro do 150 BPM no país e no mundo, assim como "Hoje eu vou parar na gaiola" do funkeiro MC Livinho e DJ Rennan da Penha - que ganhou o prêmio Multishow na categoria de "Canção do Ano". O 150 foi o som do Carnaval brasileiro, e com a indústria musical cada vez mais olhando e investido no mercado da América Latina, a sonoridade renovação vinda do Rio de Janeiro fica cada vez mais em evidência.


Assista ao nosso documentário sobre o 150 BPM:



No começo do ano, Kevin O Chris fez uma participação no show do Post Malone no Lollapalloza e a rapper Cardi B já gravou stories ouvindo outro som do funkeiro carioca ao fundo. Além disso, Ludmilla já foi vista dando um rolê com a Megan Thee Stallion, a faixa "Malokeira" da cantora com o MC Lan tocou no desfile da Rihanna e houve até o funk constrangedor da Madonna com a participação da Anitta para o último álbum da cantora pop, Madame X.

Para não ficar pra trás nas tendências, em sua estada no Rio, Drake correu para gravar pela primeira vez com Kevin O Chris. E não ficou nada ruim. Drake embalou o hit com uns versinhos sobre um cara que gosta de uma mina que tem namorado e ainda arriscou um português safado de gringo. Ficou vibes.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #141

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Fala ae tu. Bem? Que bom.

Vem aqui comigo sacar o que que teve de lançamento essa semana. Ou até onde eu conseguir ir, antes de esgotar toda a minha capacidade de análise. O single do Frank Ocean (“In My Room”) que teve aí, por exemplo, quando eu fui ouvir a minha capacidade de raciocínio já desceu o prédio aqui e tá guardando o meu lugar no self-service, porque ainda não almocei. E é importante almoçar, galera, almoce aí você também, antes que o governo tire esse direito da gente.

E é com este importante recado que eu entrego a lista de hoje. Está entregue.

——AS TOP SHOW DA SEMANA—--

Beck - “Dark Places”

Caralho, bateu. Mas bateu demais. A junção do folk do Beck com a produção eletrônica do Pharrell é um negócio que eu nunca pensei no quão daria certo, mas até o momento está mostrando o quão daria certo. Essa faixa tá muito boa, parece um remix do NERD pro Sea Change. As expectativas pro disco acabou indo lá pro teto depois desse single. É bom não me decepcionar.

Rosalía - “A Palé”

Baita som. A produção eletrônica tá muito boa (muito foda). Gravão moendo, a montagem com os samples tá perfeitinha, aí junta com a melodia vocal e fica boa demais demais demais. Top mas muito top mesmo.

Tennis - “Runner”

Som fera. Indie pop eletrônico na moral, suingadinho, tem o momento subida-dedinho-pro-alto, o vocal é muito do bonitinho. Enfim, tá tudo bem montado. Gostei legal.

——AS OUTRAS BOAS DA SEMANA—-

Simply Red - Blue Eyed Soul

Foi um disco muito bom de ouvir. É o Simply Red, é a onda AOR/R&B-de-branco da banda, mas que soa contemporâneo sem ficar cafona. Muito longe do cafona, inclusive. Tudo bem que tem um ou outro ponto baixo (“Chula”), mas a grande maioria é como se fosse um blocão da Alpha FM que eu não conhecesse nenhuma música, mas tudo bem, porque a sequência tá maneira. Num tem um “Stars” né, mas também num dá pra sair um “Stars” todo dia. O disco em si tá bem bom, sim.

Mount Eerie - Lost Wisdom, Pt. 2

É folkzinho com vocal de dueto. E é isso, num tenho muito o que falar, não. Cê quer folkzinho, pá, na moral? Tá aí o folkzinho. Se num quer, aí vai pra outra. Eu gostei, pois é um bom folkzinho.

Best Coast - “For The First Time”

Ó… esperava um pouquinho mais. É um pop-rock que ok, animadinho, muito tchubaruba, vocal bonitinho, mas a melodia é muito simplona. Mas muito muito, de me incomodar um pouquinho. Mas vá lá, ainda é uma música boa. Meio boba, mas boa.

FKA twigs - Magdalene

Eeeeentão… No episódio de hoje de “discos JÁ aclamados pela crítica que eu fui ouvir e ééééé veja beeeem”... Mas num bateu não. Enfim, faz parte. As faixas são muito bem produzidas, que é aquele minimalismo que não é minimalismo, porque tem um monte de camada, um monte de coisinha uma em cima da outra, e o vocal dela é muito muito bom mesmo, vai do ASMR pro agudo longo afinadíssimo com uma tranquilidade que num é fácil não. Aí junta isso tudo numas faixas baladinha eletrônica viajandão, às vezes meio Kate Bush, às vezes meio trip hop, às vezes sei lá. É um bom disco? É um bom disco. Eu gostei? Na primeira audição eu gostei mais ou menos.

——AS MAIS OU MENOS (DA SEMANA)----

Francis Hime - Hoje

Mais sambinhas do Francis Hime, iguais os outros sambinhas do Francis Hime, só que feito agora. Aí tem os problemas de ser feito agora, como chorinho ser trilha de restaurante, como a voz do Francis já ter ido embora já, além de estar totalmente descolado dos tempos atuais, como em “Samba Funk” que, como o próprio nome da faixa diz, é um sambinha. De toda forma é um disco bem produzido, tem aquela limpeza em excesso que me incomoda um pouco, mas que é necessário pro estilo também, porém tem esses negócios aí que eu falei. Alguma faixa aí deve dar pra aproveitar na próxima novela do Maneco (se tiver uma próxima).

Iza - “Evapora”

Mais uma vez temos o Diplo com o Major Lazer pra fazer mais um som qualquer nota com uma artista brasileira. Legal Diplo, que bom. Produçãozinha senso comum total, que ok vai tocar bem nas rádios, mas se jogasse na mão do Rick Bonadio ia sair a mesma coisa também, e sabe qual é o nome disso? Preeeeeeguiiiiçaaaaa. Se liga aí, ô Wesley. Okzinho.

The Chainsmokers - World War Joy… Push My Luck

Num tenho nenhum interesse nessas baladinha pop EDM deles. É os mesmos negócios de sempre, batidinha de violão, dueto, bateria eletrônica muito na moral, putz sempre esse esquema. Ruim não é, mas não tenho muito saco não.

Ozzy Osbourne - “Under the Graveyard”

Bom, sei lá o que vai se esperar de uma música nova a essas alturas do campeonato. Saiu um hard rock bem bobildo, bem simplezinho, sem nada de grandes novidades. Ao menos na gravação o vocal do Ozzy ainda tá nos conformes. Num sei como, mas tá. Mas a música é bem fraquinha.

“Quero ser tipo o Childish Gambino com vagina”: um papo com a Ebony

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Dona de sons como "Ca$h Ca$h" e "BratZ", a artista fluminense Ebony surpreendeu rapidamente a cena do rap nacional ao mostrar talento para flow e rimas sem pretensão. Na sua segunda visita à capital de São Paulo, conversei com ela numa tarde quente ouvindo clássicos noventistas do gangsta rap da costa leste dos EUA. Esperando seu almoço chegar pelo iFood, elogio o seu primeiro clipe, "Glossy", dizendo que ela está belíssima. Ela me olha e responde, “sim, claro”, com uma face de obviedade e uma confiança enorme que só é possível esperar duma artista jovem e talentosa como a rapper de 19 anos e nascida em Queimados, na Baixada Fluminense.

Ebony começou a cantar rap quase que sem querer no final de 2018. Ela já havia assistido algumas batalhas de rima no Rio de Janeiro e um dia começou a brincar com o aplicativo Voloco, onde é possível cantar em cima de uma batida à sua escolha. Sua brincadeira improvisada e sem maiores pretensões passou pra trás muitas faixas de artistas marmanjos já consolidados no trap nacional e ganhou fãs assim que deixou de ser áudio de WhatsApp e caiu no mundo através do YouTube.

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Foto: Divulgação.

Poucos meses depois, Ebony passou a integrar o time de artistas da produtora carioca Blakkstar e foi uma das artistas entrevistadas no documentário do Spotify sobre trap brasileiro. Atualmente, Ebony faz parte da produtora Fresh Mind Co. e segue cantando sobre autoestima, boys lixos no geral e dona de linhas afiadíssimas ("tão lá na DM, quer foto de agora/Mandei das minhas arma, ele me deu block"), Ebony, com sua voz aveludada, se tornou uma das principais artistas no trap brasileiro.

Entretanto, Ebony não se reconhece inteiramente no rap e nem pretende focar só nesse estilo. "As coisas que consumo são muito diferentes das coisas que faço. Posso dizer que tenho a mesma maldição do Kanye West que diz que não gostaria de fazer rap porque é do Diabo. Eu não acho que rap seja coisa do diabo, claro, mas descobri sem querer que sou muito boa no rap do nada," conta.

Ao longo de 2019, Ebony participou de um som coletivo lançado pela Pineapple TV ao lado de revelações do trap como Meno Tody, fez uma participação em uma das faixas de Padrim, álbum novo do rapper mineiro FBC e também foi feat em "MARRA" do Aka Rasta.

Para o final do ano, a artista chegou a anunciar que iria lançar um EP, mas voltou atrás. ‘’Tinha divulgado que era um EP, mas não me senti artisticamente pronta para gravar um EP. Pensei nisso depois que assisti ao documentário da Nina Simone, e lembro a parte que ela diz que sempre que entra no palco a intenção é destruir, que as pessoas saíssem do show dela destruídos. Quero fazer um EP que as pessoas sintam, não vai ser algo triste, mas quero que as pessoas sintam," conta.

Sem pressa na música e na sua exploração artística, Ebony sabe que seu potencial pode ir além da música e do rap. Por isso, disse que pretende explorar a parte audiovisual e seu próximo clipe "XOXO" terá sua assinatura na direção ao lado do fotógrafo Felipe Larozza, responsável pelo documentário O Trap Nacional Mostra A Que Veio. "Artistas vão fazer arte, consigo me expressar através do rap mas também quero conseguir me expressar através de outras formas. Não gosto da definição rapper, porque não quero fazer só isso. Eu quero ser tipo o Childish Gambino com vagina," diz.

Ebony anunciou que o clipe de "XOXO" será lançado hoje às 19 horas em seu canal no YouTube.

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Rica Pancita analisa os lançamentos da sexta #142

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Bora lá turma, último gás galera.

Hoje eu fui deveras prejudicado pela tecnologia, tudo travava, tudo caia, era só sofrimento. Ainda assim deu pra fazer um bom juntadão das novidades mais novidades mesmo que teve. SEGUE O FIO (é assim que as pessoas falam hoje) que vem coisa boa aí.

Fora isso, o que eu saquei meio por cima que saiu hoje também foi um disco ao vivo do Animal Collective ( Ballet Slippers), e uma coletânea completíssima da Kylie Minogue ( Step Back In Time: The Definitive Collection), é quase 4 horas de Kylie Minogue sem parar.

Fora isso é mais o que eu escrevi logo abaixo. Se eu não escrevi é porque não faz falta também.

Vamo mengão.

----AS TOP DA SEMANA----

Beck - Hyperspace
Há dois discos nesse disco, a que foi produzida pelo Pharrell, e a que não foi produzida pelo Pharrell. A que foi produzida pelo Pharrell é excelente, a produção eletrônica encaixou perfeito com o folk do Beck, tal qual as baladinha mais topzera do NERD da década passada, mas de um jeito que, nossa, talvez o único ponto baixo esteja em “Everlasting Nothing”, que demora muito pra “acontecer”. Do que não foi produzido pelo Pharrell, “Stratosphere” e “Star” se salvam, mas tão levemente inferior. As outras duas tentam se enturmar no geral, mas soam apenas bobas. Num fosse essas duas eu talvez botava no Top 5 2019. Com elas vai pra Top 15-20. Mas top. Mas podia ser MAIS top.

Hannah Diamond - Reflections
Em resumo, foi uma boa audição. Segue a ideia de ser o mais próximo do pop eletrônico mainstream fofuchinho feito dentro da PC Music, mais ainda tem muita coisa fora do convencional na produção, que eu não tava esperando mais. O que é bom, não forçaram a mão para deixar mais “palatável”. Eu realmente, particularmente, honestamente, ainda fico achando que demoraram demais pra lançar esse disco e ele acabou perdendo o bonde. Pra quem não manja quase nada desse rolê, aí acredito que valha mais. Mas mesmo pra quem acompanha mais toda essa onda PC Music ainda tem umas boas faixas aqui que dá uma despertada no interesse. Bom disco.

Prettymuch - INTL:EP
EP pop legal mas de ideia bem malandrona, pegando artistas de diferentes partes do globo pra meter aquele #feat e ver se a banda engrena. Deu sorte que as 4 faixas tão boas mesmo, destaque pro “Up to You” com o NCT Dream, que foi a melhor mesmo. Inclui faixa com a Luísa Sonza que tá legal também. Tudo show. E a banda não vai engrenar mesmo assim.

Julieta Venegas - La Enamorada
Muito muito muito bom. Ainda tô no choque inicial de ouvir algo que não esperava que viria alguma coisa, e acaba sendo bem legal. São baladinhas pop acústicas, sendo que a primeira, “Alma Radiante”, chega a enganar, porque não é tão boa assim não. Fica esse ukulele de trilha de YouTube que cê fica “ih lá vem”. Da faixa 2 em diante é um salto na qualidade que Deus do céu, fica outra coisa. Canções bem das bonitinhas, ótimo vocal, se teve a porra do ukulele depois eu nem prestei atenção. É top.

----AS OUTRAS DA SEMANA QUE TÃO BOA----

Paul McCartney - “Home Tonight” e “In A Hurry”
Duas faixas boazinhas, mas nada de uou grandes sonzera também. A primeira é um pop rock bem pop rock mesmo, e a segunda já é mais bacaninha pra frente, cheio dos elementinhos (violinos, metais, piano) que lembram mais o Paul original, morto em 1966. Então gostei mais da "In A Hurry".

Alicia Keys - “Time Machine”
Discopop, pá. Sei nem o que dizer, é discopop. Bem cantado, porque é a Alicia Keys né, mas é um som tão basicão que nem tem muito o que falar aqui. É um discopop bonzinho.

Harry Styles - "Watermelon Sugar"
É ok, é ok, mas também não me empolgou não. Baladinha pop segurando no violão, melodia muito comunzona, cê fica esperando alguma coisa acontecer e nada acontece. Famoso padrãozinho.

Ozzy Osbourne - “Straight to Hell”
Hard rock mais classicão, que aí acho que já tem mais a ver com o que o público espera. Nenhuma novidade, mas riffs PESADOS, com batera MOENDO e solo VIRTUOSO. Acho que assim tá bom pra todo mundo.

Tinashe - Songs For You
Não deu pra ouvir o disco na sua totalidade, mas o que rolou até agora (um pouco mais da metade) é de um R&B bem do gostosinho, muitas vezes puxando um pouco pros 90. Tá legal de ouvir, duvido muito que a metade final consiga despencar tanto pra ser capaz de prejudicar. Então já digo que é tá maneiro o disco (no todo).

----AS MAIS FRAQUINHA DA SEMANA----

Coldplay - Everyday Life
Bom, para além da pretensão de tratar como duplo um disco de 52min, não tem grandes forçações aqui. O que torna a coisa mais razoável, mas também não torna algo bom em si, foi só algo que ouvi e ok, pelo menos não foi revoltante. O disco tem suas já tradicionais faixas rock-de-arena-do-Coldplay, de coralzinho felizinho, ritmo de bater na palminha (“Orphans”), a de tocar em casamento cafona, mas boa parte é uns pop-rock acústico que é como se alguém tivesse tocando o violão na sua frente aí cê fica “pô, legal…. É sua?”. É bem bem mediano.

U2 - “Ahimsa”
Uma baladinha pop roquinho que não faz a menor diferença pro mundo. Se eu não soubesse previamente que era do U2 nem ia reconhecer a voz do Bono. O som eu não iria reconhecer mesmo, de tão genérico. Fraco.

Kesha - “My Own Dance”
Infelizmente tenho que informar que num tá bom não. Pop com produção datadíssima, seja no violãozinho, seja nas vozes, e principalmente na batida. É coisa que já na década passada não seria grandes coisas, aí imagina agora. Bem fraca.

Rina Sawayama - “STFU!”
Baixou o Evanescence "Bring Me To Life" na moça aqui. Aí sei lá, tá no direito. Quando entra o pop fica daora, mas o pop dura 10 segundos se muito. De resto dá-lhe nu metal. Num curti muito não.

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